domingo, 30 de novembro de 2025

SOB A TREVA


Ontem de madrugada encontraram-se as duas,
A minha e a tu'alma.
Deserta rua entre as desertas ruas,
Era a hora mais calma.

Sem ver a minha que sozinha crava mãos trementes,
A tua ia de frente.
Súbito a minha súbito parava...
Ali passava gente.

Parado o olhar nas orbitas dormentes,
A minha reparou
Tinhas na tua as alvas mão trementes...
Meu Deus! hoje o que eu sou.

A verdade tão longe do meu sonho,
Eu sonhava e te via
O teu olhar, tão doce, tão risonho,
Eu sonhava e te via
O teu olhar, tão doce, tão risonho,
Para mim que sorria.

E agora és longe, e longe eternamente,
Para mim és perdida.
Baldado o sonho deste amor fremente...
Baldada a minha vida.

Não me valeu por toda a natureza
Por tudo prourar,
Provado o fogo da imortal beleza
Quiz o fogo de amar.

E do mundo tão belo, tão perfeito,
- A terra prometida,
Vi o céu da minha vida.

E por tudo do tudo divisado
Que se foi, que cresceu,
Alguma cousa houve  com meu brado...
Minha fé que morreu.

(João Lins Caldas)






quinta-feira, 27 de novembro de 2025

 DUROS GOLPES 


Teria eu tempo te massacrado?

Longe de mim toda primazia 

Brilho só do sol que irradia 

Atemporal vivo execrado 


Quisera ser papel laminado 

Útil, frágil, mas brilho teria 

O sendo, um pouco iluminaria 

Para depois ser fora lançado 


Nesse mundo de um faz de conta 

Conta o tempo e desconta 

Tudo aquilo que se plantara


A demência vem e esquecemos 

Bem ou mal, o que colhemos 

É tempo passando em nossa cara 


Edivan Bezerra

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Poema de MAURICE MAETERLINCK, com tradução de GUILHERME DE ALMEIDA:  



BUSQUEI TRINTA ANOS, IRMÃS...


Busquei trinta anos, irmãs,

Ele, onde estará?

Andei trinta anos, irmãs,

Sem nem o avistar.


Andei trinta anos, irmãs,

E meus pés feri;

Ele estava em tudo, irmãs,

Sem nunca existir...


A hora está tão triste, irmãs,

Tirai-me as sandálias;

Até a tarde morre, irmãs,

E esta alma está mal...


Tendes quinze anos, irmãs,

Parti para além;

Tomai meu bordão, irmãs,

E buscai também... 


(Tradução de Guilherme de Almeida)



No original:


 

J’AI CHERCHÉ TRENTE ANS 


J'ai cherché trente ans, mes sœurs:

Où s'est-il caché?

J'ai marché trente ans, mes sœurs,

Sans m'en rapprocher...


J'ai marché trente ans, mes sœurs,

Et mes pieds sont las;

Il était partout, mes sœurs,

Et n'existe pas...


L'heure est triste enfin, mes sœurs,

Otez mes sandales;

Le soir meurt aussi, mes sœurs,

Et mon âme a mal...


Vous avez seize ans, mes sœurs,

Allez loin d'ici;

Prenez mon bourdon, mes sœurs,

Et cherchez aussi...



 CAMINHOS


Em busca a ascender ao céu 

Encontrei- me em muitos infernos.

O meu céu cada vez mais distante 

Infernos que não busquei

Cada vez mais cativante.


Quase me perdi...

Mas quase não é perder 

Aínda bem,

Não estagnei 

Busquei, busquei, busquei.

Se não achei

Levei a vida procurando.

Procurando procurei

Quantas vezes me perdi

A vida toda procurei.

Procurei, procurei 

De procurar não parei

Quantos infernos outros

Em minha busca conquistaram-me 

Porém o céu ainda busco

E buscarei

Mesmo que equidistante,

Não o encontrei.

Porém, 


 A minha VIDA crucis 

Não desistirei - seguirei.

Buscando.

Buscarei, buscarei, buscarei.


F. A. Medeiros

 FALAS NEGRAS 


Negro no canto 

Não na senzala 

Voz de encanto

Negra não é fala 


Tua voz enebria 

No espaço voa 

Negro é poesia 

No mundo ecoa 


Negritude no tom 

Com toda altivez 

Barreira do som 

És voz, és vez 


Negro falando 

Preconceito caindo 

Negra gritando 

Mundo aplaudindo 


És navio gigante 

Nas águas do mar 

Amor flutuante 

Se dando pra amar 


Se a voz não tem cor 

Só o preto se instala 

Diz o pigmentador 

Não cala negro, fala!


Edivan Bezerra

terça-feira, 18 de novembro de 2025

domingo, 16 de novembro de 2025

AS VOZES DO SENHOR

As vozes do senhor nos tocam. Nós é que, nem sempre, tocamos as vozes do senhor...

As vozes do Senhor são nossas por toda a eternidade.

Nós é que, nem sempre, por toda a eternidade,

Queremos atender às vozes do Senhor.


(João Lins Caldas, poeta potiguar do Assu/RN)


"ROGÉRIO MARINHO BATE O PÉ E DIZ QUE É PRE-CANDIDATO A GOVERNADOR AO LADO DE ÁLVARO DIAS E STYVENSON VALENTIM"

 
 
Como o Blog havia comentado por diversas vezes, o senador Rogério Marinho (PL) confirmou sua pré-candidatura ao governo do Rio Grande do Norte nas eleições de 2026 e iniciará uma série de viagens por todas as regiões do estado como parte de sua pré-campanha.
 
Marinho já havia manifestado a intenção de disputar o cargo, e notícias recentes confirmam que ele decidiu “desfazer qualquer margem que ponha em dúvida” sua participação na disputa eleitora l de 2026.
 
O líder da direita potiguar vai percorrer o RN ao longo do período que antecede a eleição, com o objetivo de construir um projeto político sólido e viabilizar sua candidatura.
 
Marinho mencionou que seu grupo político inclui figuras como o ex-prefeito de Natal, Álvaro Dias, e o senador Styvenson Valentim, e que a chapa majoritária será definida a partir desse núcleo.



sexta-feira, 14 de novembro de 2025

 OUTONO


Teu olhar

De verde mar

E' um cristal humido e triste,

Lago perene onde existe

O meu sonho a se mirar...


Os teus seios

vivem cheios

Desse vinho embriagador

Dá-me o nectar dos teus seios:

Dessas amphoras de amor!


Dá-me os tepidos rosaes

desse rizoho pais,

Os perfumes virginais

Onde sempre a morte eu quis!


Que eu durma calmo, escutando,

As mortas falhas do outono

Caindo sobre o meu sono

Os teus beijos esfriando.


Américo Anthony, poeta carioca

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

 ALZHEIMER


Estou na idade que nem é bom falar

Em que o pinto murchou para os ovos irrigar

Ou os ovos subiram para ser irrigado

E nesta fase, resta o cheiro do velho mijado.


Que falho, não vou falar

Morro de falhar e não falo.


Numa sociedade injusta e elitista como essa

Que julga, ao seu julgo ninguém presta

Julga simplesmente por julgar.


Bela comunidade

Que fez da poesia sua melhor verve

Orgulho, voz e melodia,

Mas, do estilo cordelista

Nada professou


- É canto para quem esmola

Em feiras, chorando

Mesmo de Leandro

Sabedores do mando.


Ninguém praticou

Nem vão mencionar

É pura humilhação

Não hão de se humilhar.


O próprio Renato

Metido a cantador

Tendeu matutar

Cordel! Sem valor

Não quis cordelar

Até se calou.


Só o Chico Traíra

Um certo Wanderley

E Rosivaldo Quirino

Fizeram sua vez.


E,

Eu que tenho o corpo

Eu que tenho a mente

Frágeis, inábeis...

Tal qual as mãos,


Artista plástico não sou. (Não sei pintar)

Não dei para escultor. (Não sei esculturar)

No máximo,

Tento construir alguns poemetos,

Mas, 

Minha poesia:

É opaca

É torta

É morta.

Mesmo com tanto contrario

Cordéis, escrevi mais de trinta.


Louco para mim

Assim como sou

Teimoso que estou,

É quem chega ao final

De algo construído por mim.


Mesmo assim tenho fã

E não é do meu clã

Tenho fã normal

Nada de drogado

Hospício, hospital.

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(Clinica Santa Maria, do Assuense: Caldas. João Maria Caldas> O próprio me guiou numa visita às suas dependências. Enumerava eufórico e orgulhoso, os seus espaços. Momento do banho de sol, o astro esquentava a cabeça de alguns internos, suprindo sem gastos a vitamina D. Caminhávamos compenetrados, quando de repente um interno gritou: Abença Tijoão, um dinheirinho pra comprar um pão. O companheiro ao lado, ralhou, com voz lenta, muito lenta, de quem do baseado tivesse abusado:


Deixe de besteira, irmão

Não sabes que tio João

Mesmo tendo um dinheirão,

Não dar um pão a um doido.


Da tirado do doido

Quase morro de ri.


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Há meu Deus!

Ando esquecendo tudo,

Estava falando de quê mesmo?


FRANCISCO DE ASSIS MEDEIROS

SOB A TREVA Ontem de madrugada encontraram-se as duas, A minha e a tu'alma. Deserta rua entre as desertas ruas, Era a hora mais calma. S...