terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

A PRECE

Senhor, Tu me mostrastes todas as estrelas e me acenaste para mim todos os brilhos do Teu mundo celeste.
A teoria dos astros em revoada
Arcanjos de longas asas como brilhantes acesos numa noite
flamejante de eternidade.
Noite sem noite
Sóis demorados
Sóis acesos como um deus, o sol aceso numa noite flamejante de eternidade.
Noite sem noite
Sóis demorados
Sóis acesos como um Deus, o sol de todas as horas fulguramente inflamadas.
Senhor, Tu em mim Te derramaste como a essência imponderável de todas as cousas,
De todods os seres,
As cousas como a Verdade
A beleza
A razão
O amor de Deus como liberdade
Senhor, como o próprio Deus.
Senhor, Tu foste em mim o como que limite do ilimitado,
O país sempre azul do eterno azul inconcretizado de todas as distâncias.
No concerto das cousas, o abstrato de todas as cousas, a marcha indefinida para a perfeição.
Senhor, e me foste a vida,
A poesia,
A canção,
A música por todas as marchas,
A marcha da vida, ilimitada,
O ilimitado sol do teu clarão...
... Senhor, e depois me deste do meu vasto coração
Um coração para todos os espinhos,
Um coração para todas as espadas,
E para todos os ferros
E depois, nos ferros, os ferros mais esbraseados.
Senhor, assim que me deste este meu vasto coração.
E de mim, no que sou, este meu coração a rolar por todas as pedras;
A subir e a descer por todas as escarpas,
Todas as cinzas, e negruras, a poeira negra do mais negro chão...
Ah! Senhor, desde que um céu desconcertado,
Enterra-me, Senhor, neste Teu como que cemitério ilimitado.
O espaço sem consciência e sem razão...
João Lins Caldas

sábado, 15 de fevereiro de 2025

 Amor é fogo que arde sem se ver 

 
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
 
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
 
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
 
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor? 

Luís Vaz de Camões

"Ai dos que zombarem daqueles que podem ouvir as próprias estrelas."




Pulsação

É noite de verão
e contemplo
o céu, as estrelas
sinto a brisa em mim
nos cabelos desgrenhados
no rosto estático
na pele sem preparo
no corpo inebriado do sentir
vejo com os sentidos
e trago o sentido do vê
com a visão emaranhada de desejos
na respiração sentindo a pulsação
Com o novo olhar do meu e teu
no encontro flutuando no vislumbre
dos meus encantos
e sonhos furtivos
É a procura em mim
de pele
de cheiro
de tato
e de amor
há quanto não me deixava tanto
não desejava tanto
na pulsação de quem não quer ser só.
Amélia Freire.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

O que eu sei toda gente pode saber.

mas o que eu sinto, ah!

o que eu sinto só a mim pertence.

(Goethe)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

"MULHER POTIGUAR DE BARBA E BIGODE"

Matéria publicada numa das ediçõe da revista O Cruzeiro, 1967 (RJ), coluna Flagrantes. A fotografia é de autoria do fotógrafo Demóstenes Amorim, como podemos conferir ao lado esquerdo do corte da revista.
Lembro-me, tinha eu 12 anos de idade e conheci esta senhora (a família dela, Auta, aceitava visitações públicas) que vivia num quarto com porta de ferro e acorrentada, quando ia a propriedadede agrícola de meu pai na localidade Estevam, município de Assu.
Conta-se que seu pai teria feito um pacto com o Cão e, em troca, ficar rico! (Lenda).
Esta postagem já antes publicada em 2009 através do blog https://blogdofernandocaldas.blogspot.com/ e não tem o intuito apenas informativo, e não ofender a familia, nem a memória de Auta Moura.
Fernando Caldas



terça-feira, 28 de janeiro de 2025

 AOS CREDORES

Devo e não nego. Mas também não pago.
Não que não queira, mas é que não tenho.
Reúno esforços, não sonego empenho,
Porém meu bolso é o tempo inteiro vago.
Neste sufoco há muito tempo eu venho
Sofrendo o diabo e sem nenhum afago...
Devo a Raimundo e devo a Antônio gago,
E a tanta gente que me desce o lenho.
Não sou velhaco. Devo, sim, não nego.
Devo à bodega, devo a Deus e ao mundo
E até uma esmola que neguei ao cego.
Porém me aguardem mais esta quinzena.
— Tenha paciência por favor, Raimundo,
Que estou contando com a Mega-Sena.

(Marcos Ferreira)

A PRECE Senhor, Tu me mostrastes todas as estrelas e me acenaste para mim todos os brilhos do Teu mundo celeste. A teoria dos astros em rev...