Se eu fosse compositor eu faria uma valsa fúnebre para Natal. Em minha arte taciturna eu poria toda a melancolia que se estende pelas ruas, praças, edifícios e monumentos desta cidade. Melancolia que é o traço mais representativo dos seus habitantes.Mas, além de não ser compositor, sei bem que minha intenção resultaria em uma grande falácia.Já existe a Praeira, o fado de Eduardo Medeiros, que traz a letra nostálgica do nosso grande poeta Othoniel Menezes, escolhido pelo povo como hino de Natal.

Por que choram tanto os natalensese ? Dos versos de Lourival Açucena, nosso primeiro poeta e seresteiro, até o contemporâneo Geraldo Carvalho, que musicou o soneto Sombras da Noite, de Ferreira Itajubá, não fazemos outra coisa senão chorar.A História da Cidade do Natal de Cascudo é um canto à melancolia.

Tarcísio Gurgel chora os tempos idos da Belle Époque,A poesia e a crônica jornalística atual são profundamente disfóricas. Alicerçadas ambas num a rica tradição, mas nem por isso isentas de um tom pungentíssimo, de um sentimentalismo ultraromântico, de um neodecadentismo avassalador.

De que é exemplo o spleen que marca o estilo de Franklin Jorge, Marize Castro, Mario Ivo, a poética suja de Carlos de Souza, o lirismo tardio e artenovista de Vicente Serejo.Woden Madruga, com seu memorialismo fragmentário publicado em uma coluna jornalística, paga também seu tributo a esse pathos ancestral.A poesia exemplifica melhor essa característica, de raízes romântico-simbolistas: Walflan de Queiroz e Sanderson Negreiros, no tratamento místico que dão ao verso, equiparam-se à poesia-soluço de Castriciano.O macaibense, por sinal, tem um poema sobre a lágrima,e acha-se inscrita numa gruta na cidade de Martins.

De todas as formas choramos e expressamos a nossa vocação para o luto, a tristeza, a saudade, o banzo.Elegíacos são Auta de Souza, Itajubá, Zila Mamede, Nei Leandro,Jorge Fernandes (foto).A poética Marginal dos anos 70 e 80 sofre a influência da melopéia de Bandeira; e a poesia multimidiática de Carito e J,Medeiros tendem para um certo experimentalismo disfórico.A poesia de tendêncoa sexista de Diva Cunha, a grande poesia pós-feminista de Carmen Vasconcelos e Iracema Macedo são igualmente penumbristas. Chamei um dia Castriciano de O Viajante Taciturno ( em oposição a Jorge Fernandes, que apelidei de O Viajante da Alegria).Só que Jorge ria amargamente, Como Henri Heine ria.Cantemos a melancolia como apregoa Franklin Jorge."


FONTE: http://www.substantivoplural.com.br/valsa-funebre-para-natal/#more-17930