sábado, 28 de abril de 2012

NATAL QUE MANOEL DANTAS NÃO VIU

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 (Transcrito do FB de Eduardo Alexandre Garcia)

Por João Gothardo Dantas Emerenciano

A cidade do Natal, no ano de 1959, estava longe de ser a “metrópole do Oriente da América” que Manoel Dantas (1867-1924) previu na sua histórica conferência Natal daqui a cinqüenta anos, proferida no salão nobre do palácio do Governo do Estado, no dia 21 de março de 1909, e que segundo o poeta Jota Medeiros constitui o marco do Futurismo, antecedendo o manifesto de Marinetti.

Com uma população de aproximadamente 167.202 habitantes distribuídos em doze bairros – Santos Reis, Rocas, Ribeira, Cidade Alta, Petrópolis, Tirol, Alecrim, Lagoa Seca, Lagoa Nova, Dix-Sept Rosado, Quintas e Mãe Luiza – Natal apresentava insuficiência urbanística caracterizada pela modéstia das edificações, precariedade da malha viária, transportes coletivos obsoletos e, sobretudo, ausência de indústrias.

A administração do município, que tinha 489 logradouros públicos (avenidas, ruas, travessas, praças e vilas), era coordenada por três secretarias (Finanças, Negócios Internos e Jurídicos, Viação e Obras) reunindo vinte e seis repartições.

Tinha o suporte da Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil, Serviço de Água e Esgoto de Natal, Serviço de Limpeza Pública e o Serviço de Transportes Coletivos que supervisionava as doze linhas de auto-ônibus (Rocas/Matadouro; Jaguarari; Petrópolis/Grande Ponto; Tirol/Grande Ponto; Circular; Lagoa Nova/Alecrim; Avenida 4; Avenida 10; Rocas/Igapó; Grande Ponto/Praça Augusto Leite; Circular via Alexandrino de Alencar; Natal/Parnamirim) e treze linhas de auto-lotação e micro-ônibus, considerados coletivos de primeira categoria, atendendo no horário das 5 às 22 horas com pequenas modificações no percurso realizado pelos auto-ônibus que funcionavam das 5 às 24 horas.

A educação era ministrada por oito estabelecimentos de ensino superior (Escola de Engenharia, Escola de Serviço Social, Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais, Faculdade de Direito, Faculdade de Farmácia e Odontologia, Faculdade de Filosofia, Faculdade de Medicina, Instituto Filosófico São João Bosco); quatorze cursos secundários (Colégio Imaculada Conceição, Colégio N. Senhora das Neves, Colégio Santo Antônio, Escola Doméstica, Escola Industrial, Escola Normal, Escola Técnica de Comércio Alberto Maranhão, Escola Técnica de Comércio de Natal, Escola Técnica Visconde de Cairu, Ginásio São Luiz, Ginásio 7 de Setembro, Instituto de Educação do Rio Grande do Norte, Seminário e Instituto Batista Bereiano, Seminário Menor de São Pedro); cento e sessenta escolas mantidos pelo Governo do Estado e noventa e oito “escolinhas” mantidas pela Prefeitura, além de vinte e um cursos particulares.

O sistema de saúde tinha o atendimento de trinta e seis estabelecimentos (hospitais, casas de saúde e ambulatórios) sendo o principal deles o Hospital Miguel Couto, atual Hospital Universitário Onofre Lopes.

O cemitério do Alecrim continuava a ser o nosso único Campo Santo, “onde o cipreste chora noite e dia a música dorida de saudades pungentes”.

A inexistência de supermercado forçava a população a fazer suas compras nos quatro mercados (Cidade Alta, Alecrim, Quintas e Ribeira) e nas mercearias e bodegas.

O lazer era feito nos vinte e cinco clubes recreativos existentes, no Teatro Alberto Maranhão, e nos cinemas, Rex, Rio Grande, Nordeste, São Luiz, São Pedro, São Sebastião, São João e Potengi, além do passeio de barco a motor e a vela até a praia da Redinha, com saída do porto flutuante do Canto do Mangue.

Os jornais “A República”, “Diário de Natal”, “Jornal de Natal”, “O Poti”, “Tribuna do Norte”, e as estações de rádio, Cabugi, Nordeste, Poti e Emissora de Educação Rural, disputavam os leitores e a audiência da população que tinha poucos divertimentos.

Afora os equipamentos e serviços citados existiam em Natal, “no ano da Graça de 1959”, dez bancos, três bibliotecas, nove cartórios, seis consulados, doze cooperativas, dez agências de correios e telégrafos, treze hotéis, seis pensões, quarenta e sete templos católicos, vinte templos protestantes, dezessete centros espíritas, quatro lojas maçônicas, oito “praças” de automóveis de aluguel, trinta e um sindicatos, nove agências de transportes fluvial (Natal/Redinha), vinte e uma agências de transportes rodoviário e a Rede Ferroviária do Nordeste, que fazia o tráfego com municípios dos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, além da cidade do Recife.
Postado por Fernando Caldas

quarta-feira, 25 de abril de 2012

terça-feira, 24 de abril de 2012

VELHAS ESTÓRIAS DA POLÍTICA DE ALTO DO RODRIGUES

1 - O ex-prefeito de Alto do Rodrigues, chamado João Tereza, odiava discursar em público. Certo dia, comício na praça pública daquela importante cidade do Vale do Açu-RN, alguém insistira para que ele falasse ao seu povo. Dito e feito. Tereza, nervoso e desajeitado, pegou no microfone e soltou essas breves palavras: Trabalhadores do campo e trabalhadores rurais. (sic). E papo encerrado. Padre Zé Luiz, presente no palanque, indagou: Ô João Tereza, porque no seu discurso você disse: trabalhadores do campo e trabalhadores rurais? Ora essa, Padre Zé Luiz! Trabalhadores do campo é quem trabalha no roçado, e trabalhadores rurais, é quem trabalha na rua!

2 - Nos idos de sessenta, Padre Zé Luiz ouvia atentamente uma pessoa conhecedora da política do Alto do Rodrigues, combater a compra de votos numa certa eleição, pelos chefes políticos daquela localidade. E foi mais adiante aquela pessoa, que não me recordo o nome, dizendo indgnado: Padre, o que pesou mesmo não foi a compra de votos. Foi a recompra no dia da eleição.

3 - O vereador apesar de ser o político que está mais próximo do povo, aquele que resolve diretamente os  problemas da população, penso eu, é o mais atingido pela sátira. Pois bem, na cidade de Alto do Rodrigues existia ou existe ainda, uma figura chamada Zé Frederico. Ele era espirituoso e quando bebia odiava ouvir falar em Burro, Jumento, Jegue ou qualquer outra denominação dada a esse pobre animal. Era dia de sessão na Câmara dos Vereadores daquele lugar quando Zé Frederico já embriagado, montado em seu Jerico, passeando pelas ruas da cidade, ouviu de certo vereador a seguinte pergunta: Seu Zé, como se chama esse Burro? Frederico sem nem pestenejar, respondeu: Vereador!

Fernando Caldas

ANTES DE JULGAR ALGUÉM...

Um médico entrou num hospital apressado, depois de ter sido... chamado para uma cirurgia urgente. Ele respondeu à chamada imediatamente, e mal chegou trocou-se e foi direto para o bloco operatório. Pelo caminho encontrou o pai do rapaz que ia ser operado a andar para trás e para frente à espera do médico. Quando o viu, o pai gritou:


- Porque demorou este tempo todo a vir? Não sabe que a vida do meu filho está em perigo?Você não tem o mínimo de sentimento e de responsabilidade?

O médico sorriu e respondeu serenamente:

- Peço-lhe desculpa, não estava no hospital e vim assim que recebi a chamada. Agora, gostaria que você se acalmasse para que eu também possa fazer o meu trabalho.

- Acalmar-me? E se o seu filho estivesse dentro do bloco operatório, você também ficaria calmo? E se o seu filho morresse o que faria? - disse o pai visivelmente agitado.

- Ficar nesse estado alterado e de nervos não vai ajudar nada, nem a si, nem a mim e muito menos ao seu filho. Prometo-lhe que farei o melhor que sei e consigo dentro das minhas capacidades, disse o médico.

- Falar assim é fácil, quando não nos diz respeito. - murmurou o pai entre dentes.

Passadas algumas horas, a cirurgia terminou e o médico saiu sorridente de encontro ao pai.

- A cirurgia foi um sucesso. Conseguimos salvar o seu filho! Se tiver alguma questão pergunte à enfermeira.

Sem esperar pela resposta, o clínico prosseguiu caminho visivelmente apressado. O pai irritado dirigiu-se à enfermeira e desabafou:

- O médico é mesmo arrogante. Será que lhe custava muito ficar aqui mais uns minutos para eu lhe questionar em relação ao estado geral do meu filho?

A enfermeira, um pouco abalada e quase a chorar respondeu-lhe:

- O filho do doutor morreu ontem num acidente rodoviário. Ele estava no funeral quando o chamamos para a cirurgia do seu filho. Agora que a cirurgia terminou e o seu filho foi salvo, o doutor voltou para o funeral para prestar a última homenagem ao filho dele.

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É muito fácil sairmos julgando todos, criticando, apontando os erros, colocando a culpa no outro... Mas como é difícil conversar e tentar entender o lado da outra pessoa, como é difícil estender a mão para ajudar alguém, como é mais difícil achar uma solução do que achar um culpado...

Não faça as suas escolhas pelas coisas fáceis e sim pelas coisas certas!

Não sabemos a qual situação podemos enfrentar amanhã sejamos sempre Humildes...

Um amigo certa vez disse-me: Hoje me veem como estou e em uma posição melhor e sinto que alguns até têm inveja e até há quem me critica. O interessante é que não viram o que passei e o que fiz para chegar na posição onde estou.

CC

domingo, 22 de abril de 2012




Veríssimo de Melo, Rômulo Wanderley, Esmeraldo Siqueira, JOÃO LINS CALDAS,
Djalma Maranhão, Evaristo de Souza e Manoel Rodrigues de Melo
  






















"CRISTÓVÃO TOTÓ
Transcrito do NOVO JORNAL [Natal, 29 de Janeiro de 2012]

Por Franklin Jorge

Cristovão Pimentel Tavares ninguém sabe quem é, mas Totó está na boca de todo mundo. Dono de uma banca de jogo, mora à Rua Prefeito Manoel Montenegro, uma das mais tradicionais do Assu, onde nasceu há setenta e seis anos.
Se conheci Seu Caldas! Era bem magrinho, raquítico… Virgem! Quando ele tinha raiva era um leão. Ficava brabo que só vendo. Era desse tipo de homens que não agüentam piada. Eu me lembro de uma passagem dele numa mesa de jogo. Ele jogava pif-paf com um soldado que passou batido e alguém que assistia o desenrolar da partida, avisou que Seu Caldas tinha ganhado…
O soldado, num rompante, disse que era uma batida ilícita, palavra cujo sentido ele talvez ignorasse ou não soubesse ao certo. Pois Seu Caldas, virando num bicho, levantou-se incontinenti e disse-lhe com todas as letras, Me respeite, moleque! Procure outra companhia. E foi embora, deixando dinheiro e fichas em cima da mesa…
Viciado em jogo de cartas, passava às vezes até três dias jogando, levantando-se da mesa apenas para fazer as necessidades. Comia pouquinho. Só gostava de beldroegas, verduras, essas coisas que não fazem bosta sólida. Andava sempre de gravata, que não tirava por nada nesse mundo, nem para dormir. Dormia engravatado. Não sei se tomava banho… Ele mesmo lavava sua roupa, que vestia ao secar, sem passar a ferro…
O ideal de Seu Caldas era plantar cajueiros por toda essa várzea e montar uma fábrica de doces e vinho de caju. Uma vez ele inventou de montar um ferro-velho, em sua casa, na Rua das Flores, que é a continuação desta rua onde estamos agora. O negócio não deu certo. Basta eu lhe contar que os meninos que iam vender o ferro a ele, que os atendia à porta da frente enquanto outros mais espertos, entrando pelos fundos da casa, roubavam-lhe a sucata para lhe revender depois. Ele comprava até tubo de creme dental vazio…
Era homem direito e de boa fé, pagando corretamente suas contas e sem explorar ninguém. Quando, por acaso, ele se excedia no jogo e não podia pagar suas contas em dia, negociava com o credor e parcelava o débito, um pouco de cada vez. Mas isto acontecia muito raramente. Seu Caldas era homem controlado, apesar da aparente desorganização da sua vida de eremita. Vivia sozinho, ou melhor, vivia na companhia de gatos e cachorros, pois tinha muito amor aos animais e até chegava a conversar com eles e a impressão que tínhamos era a de que os bichos entendiam suas palavras.
Não falava de sua vida particular com ninguém. Conhecia todo mundo e todo mundo o conhecia, mas cultuava poucas amizades. Era amigo de Luís Lucas Lins Wanderley, que chegava a ser seu parente, e de Dona Gena, Maria Eugênia Montenegro, que por muitos anos visitou todas as noites e mesmo durante o dia, para conversar sobre literatura e fatos do passado e da atualidade. Agora, ele tinha ódio a Renato Caldas, também seu parente. Uma noite ele parou na calçada de Dona Gena e deu boa noite a todos. Porem, ao perceber que Renato se achava entre os presentes, recuou e disse, Com exceção de um. E foi embora para não respirar o mesmo ar que Renato respirava…
Muito discreto e reservado, não sei o que o levou a contar-me que, ao tempo da sua moradia em São Paulo, aconteceu-lhe ir passear com sua namorada por uma praça e um rapaz, ao vê-los, galanteou a moça – que se chamava Arina -, por quem Seu Caldas estava apaixonado e apaixonado por ela morreu. Ele então, reagindo ao atrevimento do rapaz, sacou um canivete do bolso e mandou o sujeito andar, dizendo-lhe, Roda, patife, roda… O sujeito, apavorado, escafedeu-se para nunca mais. Como se sabe, Seu Caldas só andava armado. Algumas vezes ele se apresentava como o Capitão Caldas, mas não era homem de bravatas. Irritável, sim; o que é muito diferente.
Conheci muito sua mãe, Dona Fefa, uma velha baixinha e parruda, que vivia de vender homeopatia. Não me lembro quando nem de que morreu. Vivia retirada em sua casa, na Rua Moisés Soares, antes de 1922, chamada Rua das Hortas…
Totó conversa animadamente, equilibrando-se na beirada de uma rede esticada no meio da mínima sala, modesta e bem cuidada pelas mulheres da casa. Despeço-me, por fim, prometendo voltar outro dia para continuarmos essa conversa sobre um dos grandes poetas do nosso tempo. Bem humorado, fazendo pouco da própria saúde, Totó faz cara de incrédulo e dispara, Se eu for vivo, né? Se eu for vivo até lá…
Morreria alguns meses depois."
[Fragmentos do livro Assu Mitologia & Vivências, inédito.]





Por Laélio Ferreira

Desajeitado e cabreiro, a roupa já sem o vermelho da poeira da viagem no jipe, banho-de-cuia tomado na pensão de Chicó, na flor dos meus dezesseis janeiros, à porta da residência modesta, bati palmas e gaguejei o indispensável "ô de casa".

Tinha uma obrigação, um dever sentimental, sagrado, uma promessa a cumprir no Assu, naquele ano dos anos 50. Visitar, saudar o dono da casa, mestre de muitos sonhos e senhor incontestável da mais úbere, abundante, edênica, maravilhosa e fértil gleba de todo o Vale´- a "Frutilândia".

 A incubência me fora dada por meu pai, Othoniel, anos antes convidado solenemente, insistentemente, para ser sócio, meio a meio, de um colossal empreendimento de fruticultura. Redenção econômica de toda a região, gerando riqueza, justiça social, inovando a produção de frutas, legumes, hortaliças, tudo em grande escala, gigantescas proporções. Os pobres sairiam da miséria, teriam moradia, grandes vilas operárias, escolas, assistência médica, futuro. Largariam os barões da cera, que nada plantavam, viviam em Natal jogando baralho no Natal Clube, tomando uísque, enriquecendo Maria Boa, passeando no Rio de Janeiro - impecáveis ternos de linho branco, lustrosos, gordos como bispos. Moderníssimas máquinas, escavadeiras imensas, dragas descomunais - rebocadas desde Roterdâ - abririam largo e profundo canal, em linha reta, de Assu a Macau. Ali, mar adentro, plantar-se-iam modernos, imponentes, equipados cais, frigoríficos, grandes armazéns. Luzentes guindastes, esteiras rolantes, saciariam a fome das bocarras dos porões das grandes embarcações da própria Companhia, espalhando por Oropa, França e Bahia cajus, mangas, pinhas, araticuns, mangabas, româs, laranjas-cravo, abacaxis, maracujás - os dúlcidos e tropicais produtos do gigante complexo agroindustrial da biliardária sociedade CALDAS & MENEZES...

 De volta ao Assu e à dura realidade, de novo bati palmas na soleira da casinha modesta do senhor da "Frutilândia", naquela rua do Assu, naquela era dos anos cinquenta. Apareceu o amigo do meu pai, o sócio do sonho tão sonhado, tão detalhado, idealizado nas conversas dos dois. Disse-lhe quem era, fez-me uma festa daquelas, passando, suavemente, a mão na minha cachola sonhadora. Era magro, gestos nervosos, rápidos. Dando o nó na gravata, convidou-me a entrar, risonho, gentil, hospitaleiro. Calçava, notei, uma daquelas botas de feira. Calça, camisa, colete - tudo amarfanhado, encardido. Guiou-me em direção à cozinha, por uma picada, uma vereda aberta numa mata fechada de ferro-velho, pacotes de amarelados jornais e uma imensidão de garrafas até o teto - um "caminho de Santiago" que, como peregrino, perpassei, com medo de lacraia e caranguejeira. Enquanto conversávamos, ferveu água e serviu-me um café saboroso, pegando fogo, coado de um pano que devia ter uns bons anos de uso diário e constante.

Na minha idade, não tinha engenho, nem arte e nenhuma tendência para falar sobre poesia ou literatura com o idealizador da "Frutilândia". Mesmo que a minha casa, em Natal, vivesse, pululasse em certos dias, cheia de literatos e candidatos a poeta, aperreando Othoniel sobre coisas de metrificação, leituras, autores e outras milongas mais - alguns deles pedindo remendos em versos de pé-quebrado. Ficava só cubando, sem pigorar, quem era besta? Sem anuência ou conhecimento do dono da casa, tinha cometido, já, no Atheneu, algumas glosas sacanas e "burilado" uns tres ou quatro sonetos decassílabos à moda de Augusto dos Anjos - coisas horrorosas...

Na cozinha acolhedora, o cavaco, o bate-papo, limitou-se, pois, às notícias da capital, aos meus estudos, à saudação do "sócio" de Natal, à mútua e sincera admiração entre os dois, às amenidades. Nada sobre a "Frutilândia". Nada, também, acerca da razão social Caldas & Menezes". Ele entretanto, já na despedida - lembro bem - deu umas boas cutucadas nos políticos do Estado e de outras plagas, pilheriando, rindo com gosto, divertido.

 Sol descambando, da porta da sala, do início do labirinto de ferro velho, jornal e garrafa de todo tamanho e cor, veio o chamamento: "Seu João, tá na hora!". Saímos. Era um meninote, chapeu-de-couro atolado na cabeça grande, cara de janduí. O homem bom me pediu licença e retornou aos cafundós do seu tugúrio.

Voltou lépido, brilho nos olhos, vestindo um paletó tão encardido quanto o restante da indumentária. Numa das mãos, um surrado bisaco de lona; noutra, uma lazarina impecável, ajeitada mesmo - o cano brilhando mais do que espinhaço de pão doce, a coronha envernizada, bonita como os seiscentos.

 O Poeta João Lins Caldas, sublime sonhador, senhor de vaticínios para o seu Vale - o sócio do meu pai! - trancou a porta capenga da casinha. Apertou-me a mão, com calor, despedindo-se. Pediu desculpas pela pressa - ia caçar! Argumentou, cavalheiro, que aquela era a hora dos preás e das rolinhas, das nambus escondidas no panasco dourado.


E lá se foi, engravatado, predador solene, feliz da vida - o sonhador. O curumiaçu, secretário e cúmplice, seguiu-lhe os passos ligeiros, no rumo - presumi - da "Frutilândia", procurando a presa miúda e saborosa...



***

"O poeta

João Lins Caldas nasceu na cidade de Goianinha, interior do estado do Rio Grande do Norte, no dia 1º de agosto de 1888, filho de João Lins Caldas e Josefa Leopoldina Lins Caldas. Cedo migrou, junto com os pais, para a cidade de Assú-RN, onde passou a infância e a adolescência. Os registros em seus poemas comprovam sua passagem pelas comunidades de Linda Flôr, Olho d´Água (pertencentes ao município de Assú) e Sacramento, atual cidade de Ipanguaçu-RN.


João Lins teve um único irmão, José Lins Caldas, nascido a 27 de dezembro de 1889, em Canguaretama-RN e falecido em 1933, em Natal-RN, com o qual tinha uma forte relação de afeto, a deduzir dos poemas que lhe dedicou. Os escritos para os pais também revelam os mais nobres sentimentos a eles dedicados.

Em 1912, o poeta potiguar migra para o Rio de Janeiro e lá conhece homens ilustres do cenário das letras da época. Um deles foi José Geraldo Vieira, romancista e médico, com quem travou uma forte relação de amizade, fato comprovado por depoimentos de ambos. Entre 1927 e 1930 viveu em Bauru, São Paulo, trabalhando nos escritórios da estrada de ferro Noroeste do Brasil. Retorna ao Rio em 1930, lá permanecendo até 1933, quando volta para Natal a fim de apoiar a família do irmão, pois este morrera precocemente. Depois de um tempo, o poeta segue para viver em Assú.

Em 1958, passados 19 anos ausente da capital do Estado, João Lins Caldas visita Natal, sendo recebido por Câmara Cascudo e homenageado pelos poetas novos, dentre eles Celso da Silveira, Mirian Coeli, Zila Mamede, Newton Navarro, Dorian Gray, Luís Rabelo, Veríssimo de Melo, Moacyr de Góis e outros. A homenagem é oferecida pelo prefeito da cidade, Djalma Maranhão, nos jardins do Teatro Alberto Maranhão.

Na cidade de Assú, morava em uma casa simples situada à rua Ulisses Caldas. Adquiriu nas redondezas um sítio ao qual nomeia Frutilândia (conferir “Memórias”). Ali cultivava muitas plantas frutíferas e encontrava nesse espaço inspiração para bucólicos e líricos poemas. No dia 18 de maio de 1967, com quase 80 anos, o poeta é encontrado morto em sua residência, vítima de acidente vascular cerebral – hipertensão arterial.

A Fundação José Augusto publicou a antologia Poética (1975), reunindo poemas esparsos do autor. Os seus textos inéditos estão sob a responsabilidade do Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte."


FUTEBOL DE SALÃO DAS ANTIGAS - AABB DE ASSU


Na fotografia: Conceição Machado, Wilson Moreira (Bodinho), Magaly Galliza, Tânia Alves, Helder, Madson, Jr. Escóssia, Lula de Walter, Cornélio Soares...

Postado por Fernando Caldas

DILMA TEM APROVAÇÃO RECORDE, MAS LULA É FAVORITO PARA 2014


Dilma tem aprovação recorde, mas Lula é favorito para 2014

A presidente Dilma Rousseff bateu mais um recorde de popularidade, mas seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, é o preferido dos brasileiros para ser o candidato do PT ao Planalto em 2014.

A informação é da reportagem de Fernando Rodrigues, publicada na Folha deste domingo (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).

Esse é o resultado principal da pesquisa Datafolha realizada nos dias 18 e 19 deste mês com 2.588 pessoas em todos os Estados e no Distrito Federal. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

O governo da petista é avaliado como ótimo ou bom por 64% dos brasileiros, contra 59% em janeiro.

Trata-se de um recorde sob dois aspectos: é a mais alta taxa obtida por Dilma desde a sua posse, em 1º de janeiro de 2012, e é também a maior aprovação presidencial com um ano e três meses de mandato em todas as pesquisas até hoje feitas pelo Datafolha.

Leia a reportagem completa na Folha deste domingo, que já está nas bancas.

Editoria de Arte/Folhapress

sábado, 21 de abril de 2012

OS VRSOS QUE TE FFIZ


De: Florbela Espanca, poetisa sonetista, uma das maiores vozes da poesia luzitana

Deixe dizer-te os lindos versos raros
... Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Tem dolencia de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !

Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !

Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que em te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz.

ASSU DE TELHA E POESIA!!!

Cabôcô, meu lugar é coberto de beleza e parece que foi criado com toda delicadeza, e apreciando a paisagem pensa logo que é visagem o truque da natureza.
Na posição geográfica o meu ASSÚ está bem localizado, tem um povo inteligente o solo previlegiado, o nosso barro de rebolo, lider até de tijolo...que engrandece o nosso estado.
O nosso povo lhe convida pra vc nos visitar, pra beber da nossa água, pra gente palavriar, vá lá montado ou a pé, pra nós tomar um café amigo, lá num lugar...
Tu vai ver as antigas moradias, nossos belos carnavais, e um grande São João, e vai sentir alegria, tu vai sentir mais novo quando conhecer o povo da terra da poesia...

POETA GAGO
Eu toda vida fui gago mais não gosto de confusão, e vou lhe contar um causo que se deu lá em ASSÚ, perto da igreja de São João, eu tava me apresentando, umas poesias falando, meu pensamento eu mudei, e comecei a gaguejar...aí mais que de repente pedi desculpas aos presentes, eu ia continuar...
Nisso veio lá do salão uma grande confusão, um cabocô embriagado, desses dessa fala fina, com jeito de minina, era iscritinho um viado...
Já chegou e foi falando, dando xilique e gritando, eu nem tinha convidado.
Esse poeta pra mim não presta, e me chamou de safado...Ê dotô...como eu já disse, que eu não sou muito assombrado, não me assusto com homem e muito menos com viado.Eu disse a ele sem ter luta...Óia aqui seu filha da puta que eu não sou igual a tu, se tu me viu aqui gaguejando, aqui estou recitando, sou poeta de ASSÚ, faço qualquer sacrifício, mais num tenho esse seu vício de levar coisas no cú...

(
Do Orkut: Poeta Paulo Varela - de Assu)

sexta-feira, 20 de abril de 2012


17º INTERIORANO DE XADREZ

Dias 5 e 6 de maio

Em João Câmara - RN

INSCRIÇÕES

AQUI!


17º CAMPEONATO POTIGUAR
INTERIORANO DE XADREZ

Local: João Câmara/RN, IFRN – Campus João Câmara.
Data: 05 a 06 de maio de 2012


GRUPOS
Interiorano Absoluto
Interiorano Feminino
Interiorano Sub 18 Misto
Interiorano Sub 14 Misto

TAXA DE INSCRIÇÃO
Adulto R$ 10,00
Estudante R$ 5,00


INFORMAÇÕES
IFRN-JC, Pré-inscrição e alojamento:
francisco.quaranta@ifrn.edu.br

Seridó:
fky.andre@hotmail.com

Mossoró:
hel3@bol.com.br

Açu:
cleandocortez@bol.com.br




‎"Conhecer o amor dos que amamos é o fogo que alimenta a vida."

PABLO NERUDA


quarta-feira, 18 de abril de 2012

UM POEMA AINDA MUINTO ATUAL NO NORDESTE BRASILEIRO, DO POETA MATUTO POTIGUAR RENATO CALDAS



 (Renato Caldas era um poeta potiguar que escrevia em linguagem genuinamente matuta. Além dos seus poemas irreverentes, amorosos, engraçados, produzia versos retratando as calamidades que Afetam (como hoje ainda), o Nordeste Brasileiro como, por exemplo, a seca maldita. Um dia, na sua angustia, escreveu esse bardo assuense (discípulode Catulo da Paixão Cearense), que o Brasil consagrou, conforme adiante:

MINHA DÔ

Meu patrão, mecê pergunta,

Pula vida do sertão?
Eu num sei cuma cumece!..:
Mecê, tarvez desconhece
Nossa dô, nossa afrição.

Proque é qui vós mecê,
Que ôvi minha dô falá?
Que que descasque a ferida,
Qui tenho narma iscundida
E véve sempre a sangrá?

Apois bem, vou lhe dizê,
Vou lhe contá meu patrão,
A história mais repetida,
Passada in todas as vida
Dos fio do meu sertão.

Vivemos naquelas terras,
Cuma outro bicho quarqué,
Nós só tem uma deferença,
Qui Deus dá pru recompensa:
A cumpanheira, a muié.

Além da nossa muié,
A nossa satisfação:
É uma noite inluarada,
Um prato bom de cuiaiáda
E um cusido de feijão

Mas, quando a sêca malina,
Se alasta pilo sertão...
Rio, cacimba secando,
Esturricando, lascando,
Tudo, tudo meu patrão!

O póbe de sertanejo,
Vê tudo seu se acabá.
Dia e noite nas estradas,
Vão passando as retiradas
Sem sabê  onde escapá.

Quantas vez, nessa viage,
Num perde um fio, ou muié...
Quantas vez, pulas estradas,
Se encontra uma cruz infincada,
Sem sabê de quem é?

- Eu já sofri tudo isso!
Sofri mais qui outo quarqué.
- Sei que mecê acredita -
Pois vi, a fome mardita,
Sucumbí minha muié.

E, à sombra duma oiticica,
Pejada de fruta e frô:
Deixei uma cruz infincada,
Trez parmo abaixo, interrada,
Minha muié! Meu amô.

Patrão, a história é cumprida,
Mas, num posso aterminá...
Fui descascá a ferida,
Qui tenho n'arma escundida...
Deixe a dô apalacá.

(Se você é Nordestino, compartilhe!)

LUIZ CARLOS LINS WANDERLEY – 1831/1990, foi um dos primeiros poetas do Assu, primeiro médico e romancista do Rio Grande do Norte. Foi também...