Ramon Ribeiro
Repórter
Enxergar o Brasil como resultado de uma diversidade de culturas que existe desde a origem. Essa capacidade de pensar o país fruto de tantas misturas é uma das marcas do folclorista, intelectual e etnógrafo potiguar Câmara Cascudo. Refletir sobre seu precioso legado - que permanece ainda pouco conhecido fora do estado - é importante para ajudar a entender os confusos dias atuais.
E nesse momento tão oportuno para se pensar um país unido, Cascudo ganhará uma exposição inédita e interativa em São Paulo, no Museu da Língua Brasileira, um dos mais visitados da América Latina. A mostra, organizada pela Casa da Ribeira e Instituto Ludovicus – Casa de Câmara Cascudo, tem abertura confirmada para 19 de outubro de 2015 e visitação a partir do dia 20 até 14 de fevereiro de 2016.
Com o título “Câmara Cascudo no Museu da Língua Portuguesa”, a exposição segue o mesmo conceito de outras já realizadas no local, como as de Jorge Amado, Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Ela vai ocupar um espaço de 492 metros quadrados, englobando cinco eixos temáticos, com 70 profissionais envolvidos.
O projeto tem curadoria colaborativa da família do intelectual potiguar, dos produtores da Casa da Ribeira, da Expomus, empresa especializada em realizar projetos museológicos no porte de “Guerra e Paz de Portinari”, e da chef Luiza Trajano, além de consultoria de especialistas na obra do pesquisador.
A exposição, de acordo com Daliana Cascudo, neta e atual presidente do Ludovicus, é o resultado de uma ideia que surgiu em 2013, já com parceria da Casa da Ribeira. O intuito era realizar uma exposição em comemoração ao aniversário de 60 anos do “Dicionário do Folclore Brasileiro”, sua obra mais importante. Mas não foi possível. Desse projeto inicial, surge a exposição de agora, bem mais abrangente.
“Ir além dos seus livros, valorizar a diversidade cultural dos seus estudos, vivenciar a experiência de percorrer os aspectos mais importantes do universo cascudiano”, explica o produtor Gustavo Wanderley, responsável pelo desenvolvimento de produção e coordenação de curadoria.
Imersão
Nos dias 14 e 15 de maio, os coordenadores da mostra, o próprio Gustavo e o arquiteto Edson Silva, participaram, junto com Daliana Cascudo e parte da família do folclorista, de uma imersão no museu-residência do mestre, o Instituto Ludovicus.
Na ocasião foi realizada a pesquisa fotográfica e documental, complementada com bate-papos para exercitar a memória de cada um. Também foram selecionados o material em vídeo de alta resolução com entrevistas e cenas gravadas com Cascudo, que fazem parte do acervo do Instituto.
Dessa reunião saiu a linha curatorial da exposição, que foi definida a partir de cinco módulos. “Na hora de conceber a mostra, nos perguntamos: como melhor apresentá-lo para quem não o conhece, para as gerações mais novas? Cascudo foi um intelectual que sempre esteve próximo das pessoas. Essa exposição levou isso em conta. Vai ser montada de modo a destacar os estudos que mais se aproximam do povo, a comida, a fala, o sincretismo religioso”, detalha Daliana.
Estágios O primeiro módulo, chamado de “O tempo e eu”, vai abordar o homem Cascudo, não só no sentido de autor, do folclorista, mas do pensador, etnógrafo que buscou compreender o Brasil. “Pouco se fala desse lado de Cascudo. Ele era um homem aberto a mudanças, que mudava seu pensamento em vista da passagem do tempo”, diz Gustavo. O bambolear do corpo brasileiro é uma das observações do segundo módulo, “Dança, Brasil”, que compreende os autos e as festas populares do Brasil. “Cascudo dizia que os conhecimentos da dança não vêem de um sentido acadêmico. Ele via a dança como algo para todos, que está no corpo brasileiro”.
Um dos destaques da mostra é a parte “Todo trabalho do homem é para sua boca”, dedicada às origens da gastronomia brasileira, uma das áreas que Cascudo mais contribuiu. Esse tema contou com a consultoria da chef Luiza Trajano, que vai aprofundar a pesquisa trazendo várias experiências sensoriais. De acordo com Daliana, a ideia é que durante o período da exposição, restaurantes de São Paulo ofereçam um prato especial, que possibilite às pessoas degustar as origens da nossa culinária.
As lendas, cordéis, cantigas, são os objetos de estudo do quarto módulo da exposição, que para Daliana, permite ser explorado ludicamente. “A Literatura Oral e a Voz do Gesto” traz as contribuições de Cascudo sobre a língua brasileira e sobre o precursor de todas as linguagens, o gesto.
A última parte da mostra, “Religião do povo”, abordará o sincretismo brasileiro através de bênçãos, promessas, santos tradicionais, orações, pragas, profecias, superstições, amuletos, entre outros objetos de estudo do folclorista. “Vamos traduzir de maneira bastante interativa esse sentimento do povo, que não passa embaixo de escada, que ao mesmo tempo que é cristão, frequenta terreiro”, conta Gustavo.
Por questões orçamentárias, não vai ser possível levar muitos objetos do acervo pessoal para integrar a exposição. Mas nem por isso os visitantes deixarão de conhecer o ambiente em que o intelectual estava mergulhado. “Para compor o universo cascudiano vamos recorrer a cenografia , uso de som, luz e interatividade. A ideia é conviver e participar”, explica Gustavo. Daliana espera que a exposição desperte a curiosidade dos brasileiros para a obra de Cascudo. “Essa visibilidade vai permitir que mais pessoas se aprofundarem nas suas pesquisas. A casa dele, seu acervo, está guardado em Natal, e pode ser consultado por qual um que tiver interesse”.
Após o Museu da Língua Portuguesa, a ideia é levar a exposição para outros estados. Segunda Daliana, a abrangência nacional da obra de Cascudo permite isso, e portanto sua mostra foi pensada de modo que seja itinerante.
Repórter
Enxergar o Brasil como resultado de uma diversidade de culturas que existe desde a origem. Essa capacidade de pensar o país fruto de tantas misturas é uma das marcas do folclorista, intelectual e etnógrafo potiguar Câmara Cascudo. Refletir sobre seu precioso legado - que permanece ainda pouco conhecido fora do estado - é importante para ajudar a entender os confusos dias atuais.
arquivoExposição interativa"Câmara Cascudo no Museu da Língua Portuguesa", organizada pela Casa da Ribeira e Instituto Câmara Cascudo, tem data confirmada: Será de 19 de outubro de 2015 a 14 de fevereiro de 2016. Estimativa é de receber 100 mil visitantes
E nesse momento tão oportuno para se pensar um país unido, Cascudo ganhará uma exposição inédita e interativa em São Paulo, no Museu da Língua Brasileira, um dos mais visitados da América Latina. A mostra, organizada pela Casa da Ribeira e Instituto Ludovicus – Casa de Câmara Cascudo, tem abertura confirmada para 19 de outubro de 2015 e visitação a partir do dia 20 até 14 de fevereiro de 2016.
Com o título “Câmara Cascudo no Museu da Língua Portuguesa”, a exposição segue o mesmo conceito de outras já realizadas no local, como as de Jorge Amado, Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Ela vai ocupar um espaço de 492 metros quadrados, englobando cinco eixos temáticos, com 70 profissionais envolvidos.
O projeto tem curadoria colaborativa da família do intelectual potiguar, dos produtores da Casa da Ribeira, da Expomus, empresa especializada em realizar projetos museológicos no porte de “Guerra e Paz de Portinari”, e da chef Luiza Trajano, além de consultoria de especialistas na obra do pesquisador.
A exposição, de acordo com Daliana Cascudo, neta e atual presidente do Ludovicus, é o resultado de uma ideia que surgiu em 2013, já com parceria da Casa da Ribeira. O intuito era realizar uma exposição em comemoração ao aniversário de 60 anos do “Dicionário do Folclore Brasileiro”, sua obra mais importante. Mas não foi possível. Desse projeto inicial, surge a exposição de agora, bem mais abrangente.
“Ir além dos seus livros, valorizar a diversidade cultural dos seus estudos, vivenciar a experiência de percorrer os aspectos mais importantes do universo cascudiano”, explica o produtor Gustavo Wanderley, responsável pelo desenvolvimento de produção e coordenação de curadoria.
Imersão
Nos dias 14 e 15 de maio, os coordenadores da mostra, o próprio Gustavo e o arquiteto Edson Silva, participaram, junto com Daliana Cascudo e parte da família do folclorista, de uma imersão no museu-residência do mestre, o Instituto Ludovicus.
Na ocasião foi realizada a pesquisa fotográfica e documental, complementada com bate-papos para exercitar a memória de cada um. Também foram selecionados o material em vídeo de alta resolução com entrevistas e cenas gravadas com Cascudo, que fazem parte do acervo do Instituto.
Dessa reunião saiu a linha curatorial da exposição, que foi definida a partir de cinco módulos. “Na hora de conceber a mostra, nos perguntamos: como melhor apresentá-lo para quem não o conhece, para as gerações mais novas? Cascudo foi um intelectual que sempre esteve próximo das pessoas. Essa exposição levou isso em conta. Vai ser montada de modo a destacar os estudos que mais se aproximam do povo, a comida, a fala, o sincretismo religioso”, detalha Daliana.
Estágios O primeiro módulo, chamado de “O tempo e eu”, vai abordar o homem Cascudo, não só no sentido de autor, do folclorista, mas do pensador, etnógrafo que buscou compreender o Brasil. “Pouco se fala desse lado de Cascudo. Ele era um homem aberto a mudanças, que mudava seu pensamento em vista da passagem do tempo”, diz Gustavo. O bambolear do corpo brasileiro é uma das observações do segundo módulo, “Dança, Brasil”, que compreende os autos e as festas populares do Brasil. “Cascudo dizia que os conhecimentos da dança não vêem de um sentido acadêmico. Ele via a dança como algo para todos, que está no corpo brasileiro”.
Um dos destaques da mostra é a parte “Todo trabalho do homem é para sua boca”, dedicada às origens da gastronomia brasileira, uma das áreas que Cascudo mais contribuiu. Esse tema contou com a consultoria da chef Luiza Trajano, que vai aprofundar a pesquisa trazendo várias experiências sensoriais. De acordo com Daliana, a ideia é que durante o período da exposição, restaurantes de São Paulo ofereçam um prato especial, que possibilite às pessoas degustar as origens da nossa culinária.
As lendas, cordéis, cantigas, são os objetos de estudo do quarto módulo da exposição, que para Daliana, permite ser explorado ludicamente. “A Literatura Oral e a Voz do Gesto” traz as contribuições de Cascudo sobre a língua brasileira e sobre o precursor de todas as linguagens, o gesto.
A última parte da mostra, “Religião do povo”, abordará o sincretismo brasileiro através de bênçãos, promessas, santos tradicionais, orações, pragas, profecias, superstições, amuletos, entre outros objetos de estudo do folclorista. “Vamos traduzir de maneira bastante interativa esse sentimento do povo, que não passa embaixo de escada, que ao mesmo tempo que é cristão, frequenta terreiro”, conta Gustavo.
Por questões orçamentárias, não vai ser possível levar muitos objetos do acervo pessoal para integrar a exposição. Mas nem por isso os visitantes deixarão de conhecer o ambiente em que o intelectual estava mergulhado. “Para compor o universo cascudiano vamos recorrer a cenografia , uso de som, luz e interatividade. A ideia é conviver e participar”, explica Gustavo. Daliana espera que a exposição desperte a curiosidade dos brasileiros para a obra de Cascudo. “Essa visibilidade vai permitir que mais pessoas se aprofundarem nas suas pesquisas. A casa dele, seu acervo, está guardado em Natal, e pode ser consultado por qual um que tiver interesse”.
Após o Museu da Língua Portuguesa, a ideia é levar a exposição para outros estados. Segunda Daliana, a abrangência nacional da obra de Cascudo permite isso, e portanto sua mostra foi pensada de modo que seja itinerante.
Fonte: Tribuna do Norte