sexta-feira, 7 de abril de 2017



A EXISTÊNCIA DE DEUS é o título de um dos poemas do poeta repentista Pedro Bandeira (Pereira de Caldas), paraibano de São José de Piranhas, vivido em Juazeiro do Norte-CE, considerado (ele verseja, improvisa em várias formas: mourão, martelo agalopado, galope à beira mar, entre outras modalidades) como um dos maiores ícones da Literatura Popular Brasileira. E na sua sabedoria, Pedro Bandeira escreveu essa joia de poema recheado de verdades. Vejamos, para o nosso deleite, o referido poema adiante transcrito:  

Deus está nas ideias de Platão
Aristóteles, Confúcio, Cícero e Dante
Gutemberg, Paré, Galeno e Kant
Leonardo, Beethoven e Salomão
Quem afirma que Deus é ficção
É nocivo pequeno e ignorante
Para o mundo é insignificante
É porque Deus é a própria inteligência
É a luz sublimada da ciência
Transformando uma célula num gigante

Deus está no sol quente causticante
Nas camadas sutis e argilosas
Nas chapadas das serras arenosas
E nas cascatas do bosque horripilante
Nas jornadas saudosas do emigrante
Que se vive a sofrer não se maldiz
Deus existe no caule e na raiz
Na bondade, no amor, na esperança
No sorriso inocente da criança
Que não sabe o que é ser infeliz

Deus está no voar dos colibris
Única ave que voa marcha ré
Se bota a marca de força e não dar fé
Que a cabeça está perto do chassis
Deus existe nos verdes alcantis
E nos talhados globais que o mundo tem
No chacal, no pavão e no vemvem
Na floresta assombrosa, no arbusto
Na caneta de ouro do homem justo
Que não rouba um tostão de seu ninguém

Deus existe no mar com suas dunas
Nas colcheias dos vales nordestinos
Nos sussurros dos córregos cristalinos
Nas jazidas de ouro do amazonas
Nas ingênuas libélulas que são donas
Das gotículas de orvalho das manhãs
Nas gaivotas do mar, nas jaçanãs
No segredo do fogo e nas centelhas
E no zumbido sonoro das abelhas
Festejando um partido de milhões

Deus está num foguete e num avião
Num trabalho paralepipédico
Nas ciências das mãos do próprio médico
Que tentou transplantar o coração
No relâmpago, na chuva, no trovão
E nas fagulhas que vão na correnteza
Na paixão, na humildade, na nobreza
Nos tecidos da teia de aranha
E no poeta no pé de uma montanha
Recebendo as lições da natureza

Deus existe em todos os minerais
Nos insetos, nas aves, nos abrolhos
Nas lanternas dos próprios olhos
Nas camadas das nuvens pluviais
Na metamorfose dos rosais
Na essência da flor e no “paúlo”
Nas estrelas, no chão, no céu ‘azulo’
No escuro, no ar, na lua clara
No calor do deserto de saara
E na frieza sem fim do pólo sul

Deus está na criança abandonada
Que soluça com fome e não comenta
No silêncio de um louco que se senta
Na palhoça da beira da estrada
Nos rangidos dos remos das jangadas
Que uma parte é molhada e a outra enxuta
Deus está no preâmbulo da conduta
Do poeta que canta a sua história
Nas medalhas de ouro da vitória
De quem parte para o campo e ganha a luta

Deus existe em um cérebro eletrônico
Nos cristais que dão vida ao microfone
No mistério da voz do telefone
E nos artistas atuais do mundo harmônico
Num piano melódico e sinfônico
Na energia atômica e na corrente
No progresso do mundo atualmente
Na caneta, na tinta e no papel,
E no milagre infinito da EMBRATEL
Que atira a imagem em nossa frente

Deus está numa máquina de escrever
Na mecânica da nova matemática
Na consciência tranquila da gramática
E numa fita que fala e ninguém vê
Sua faixa estirar nem encolher
Entre a cor, a cadência e a qualidade
Dependendo de ter velocidade
Ela grava, desgrava e pede bis
Da maneira que a boca humana diz
Ela canta pra toda humanidade

Deus está nesse encontro entre nós
Nos amigos que sentem meus problemas
Nos adultos que escutam meus poemas
E nas crianças que aplaudem a minha voz
Já esteve, ainda está, e logo após
Reunidos daqui viajaremos
Deus é tudo na vida o que nós temos
Crer em deus é ter flores na memória
É saber que a morte é grande glória
Para a vida eterna que teremos!

Postado por Fernando Caldas

 

quinta-feira, 6 de abril de 2017

SE TU VIESSES VER-ME...
(Florbela Espanca)
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
http://madalena-sonetos.blogspot.com.br
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Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles

17 CURIOSIDADES SOBRE A VIDA BOÊMIA DE NATAL NO INÍCIO DOS ANOS 40

Por volta de 1939, bem no início da II Guerra Mundial
(aquela que já falei bastante aqui no blog), a vida noturna dos moradores de Natal era cheia de costumes e situações que a maioria das pessoas desconhece.

A boemia da cidade se iniciava depois das 9 horas da noite

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Ruas do bairro da Ribeira nos anos 40
Quando as famílias já tinham se recolhido.

Os cabarés mais famosos de Natal situavam-se na Ribeira

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Marinheiros americanos se divertindo em cabaré de Natal nos anos 40
Eles eram bastante freqüentados e populares. Eram como partes integrantes da vida boêmia da cidade.

Na vida noturna provinciana encontravam-se as prostitutas, os cáftens e os gigolôs

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Maria de Oliveira Barros (“Maria Boa”) na época proprietária do maior cabaré da cidade
Eles também serviam de inspiração aos poetas e escritores.

Na época a cerveja era vendida ao preço de mil e quinhentos réis

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Cédula, moedas e cervejas reais da época
E ela [a cerveja] era uma das bebidas mais consumidas pelos pândegos da boemia.

As mulheres “da noite” pediam Martini aos acompanhantes

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Marinheiros americanos em Natal em um cabaré dos anos 40
E este era servido ao preço de cinco mil réis a dose.

A popularização consumidora de uísque só chegou bem depois

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Militares americanos bebendo em um bar da cidade de Natal durante a 2ª Guerra Mundial
Mais precisamente com a chegada dos americanos a Natal.

Nos cabarés, às vezes, aconteciam brigas e pancadarias pelas madrugadas

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Elas aconteciam entre os freqüentadores dos cabarés, sendo necessária a presença da polícia pra acalmar os mais exaltados.

Normalmente, dentro das pensões alegres existia uma figura exótica

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Uma pessoa alegre, com requebros e trejeitos femininos, cabelos oxigenados, muito conhecida pelos frequentadores. Na época havia inclusive uma que era conhecida como “Afago Verde”.

Naquele tempo as parteiras eram responsáveis por grande parte das vidas que surgiam.

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O parto era feito em casa, com o resguardo de vários dias e muita canja de galinha. Em partos mais difíceis, surgia o médico, com a sua inseparável valise e o estetoscópio.

As pensões eram sempre alegres

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Foto da janela de um hotel em Natal na época
E eram freqüentadas por pessoas de diferentes níveis sociais.

À noite, já com o dólar correndo solto, surgiram os vendedores clandestinos

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Vendiam perfumes, isqueiros, sabonetes, whiskys, cigarros, etc.

As músicas mais tocadas nas radiolas de ficha eram os tangos e maxixes

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Que aos poucos foram sendo substituídos por swings, blues e fox trotes. Isso já na década de 1940.

Naqueles anos, apareceu na zona uma novata

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Uma morena, de olhos e cabelos negros, que circulou por várias casas noturnas e despertou a paixão de muitos freqüentadores. Os seus pretendentes eram selecionados pela disposição de abrir a carteira. Contam que ela terminou os seus dias abandonada e esquecida no Beco da Quarentena, tomando injeções diárias de “914”, aplicadas por um enfermeiro da Saúde Pública aos portadores de sífilis. A profilaxia era uma lavagem à base de permanganato.

As notícias da guerra via “BBC Londrina”

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E retransmitidas pela “Agência Pernambucana” antes da inauguração da REN – Rádio Educadora de Natal. Elas eram geralmente acompanhadas pela “Canção do Expedicionário”, que traduzia a saudade da pátria e a esperança de vitória dos Pracinhas Brasileiros, na Itália. Por ali se tinha notícias dos últimos acontecimentos da II Guerra Mundial na Europa.

Artistas encantavam os telespectadores no primeiro cinema que existiu na cidade

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O Cine Polytheama
No Cine Polytheama, na Praça Augusto Severo, Ingrid Bergman, Diana Durbin, Judy Erland e outros artistas encantavam os telespectadores.

O movimento no Porto da cidade era intenso e guarnecido pelos fuzileiros navais

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Porto de Natal em 1940
Estes sob o tema “Adsumus”, que significa “aqui estamos”, eram admirados e respeitados pela população, em virtude do exemplo de dedicação e profissionalismo em defesa da pátria.

As notícias da noite corriam velozes, de boca em boca, e terminavam no bar

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Bar O Grande Ponto em 1930
Os bar era o “Grande Ponto” (ou o Bar Cova da Onça), na Av. Tavares de Lira, onde o garçom, conhecido como “Cara larga”, atendia os clientes na parte de trás do estabelecimento.
Que bela viagem no tempo, ein? Isso me lembrou até aquele documentário incrível sobre a 2ª Guerra em Natal-RN
Fonte: Elísio Augusto de Medeiros e Silva e Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto.
De: https://curiozzzo.com

quarta-feira, 5 de abril de 2017

João Celso Filho. Um poeta do Assu que engrandece as letras potiguares.
Na boca de uma mãe anda uma prece
Que as horas da noite andam murmurando...
- Meu filho, ninguém te esquece...
Esquece, mãe, também se vai cantando.
Mas para salvar teu coração criança,
Teu doce coração de ingenuidade...
Mãe, que saudade!...
Acalenta e vai dizendo essa esperança.

[Fica no mundo ainda maldade
Para matar essa esperança].
Mas, é verdade, isso tudo é verdade

(João Lins Caldas, poeta potiguar)

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...