Maria Olímpia num momento festivo no Clube Municipal do Assu, ao lado de sei enteado Douglas Leitão e seu marido Costa Leitão, além de Francisco Amorim.
Maria Olímpia Neves de Oliveira foi professora do velho Grupo Escolar
Ten. Cel. José Correia. Animadora cultural, viveu ativamente os melhores
momentos da vida social, artística e política do Assu festeiro, de antigas
glórias, de tantas figuras inteligentes como ela mesma. Ainda menino, eu tive o
privilégio de conhecê-la, no tempo que ela morava numa rica casa da rua Senador
João Câmara, da cidade de Assu, quase minha vizinha.
Na política, Maria Olímpia fora vitoriosa: vereadora e prfeita do Assu, eleita
nas eleições de 1962, pelo PSD, ganhando para Walter Leitão, UDN, por uma
maioria, salvo engano, de 408 votos. E ela governou o Assu, de 1963 a 1968.
Maria Olímpia durante o tempo que militou na política da sua terra
querida – o Assu, tinha catalogado todos os seus eleitores e, nas eleições que
participava, dizia quantos votos iria obter em cada urna que se abria, numa
demonstração de organização e confiança nos seus amigos e correligionários, acertando
no seu prognóstico. Seus amigos e admiradores ainda são muitos. Ela,
Maria Olímpia, foi a primeira e única mulher até hoje, a governar a importante
terra assuense, sucedendo seu marido Costa Leitão que administrou o Assu, de
1958 a 1963. Em 1969 ela regressou a capital federal, para trabalhar no então
Instituto Nacional de Reforma Agrária - INDA, atual INCRA, convidada que foi,
parece, por de Dix-zuit Rosado quando presidia aquela autarquia federal por
onde ela aposentou-se.
Em depoimento ao cronista social Marcos Henrique, Maria Olímpia, como
ela gosta de ser chamada, conta um pouco da história do Assu social
e artístico dos anos quarenta, cinquenta e sessenta, artigo publicado
no livro daquele cronista intitulado Vida Social e Artística do Açu - entre
1935 e 1960". Vamos conferir o seu longo e importante depoimento,
adiante transcrito:
O Açu da minha adolescência e juventude, era muito movimentado, porque
todos nós, tínhamos a preocupação de quebrar a monotonia de uma vida
provinciana e elevarmos o nível cultural e artístico da cidade.
Não foi a toa que Aldemar de Sá Leitão, criou o serviço de
auto-falantes, denominado "Divulgadora Assuense" com programas, o
mais variado possível, desde o informativo nacional, estadual e municipal, às
crônica locais, agendas e datas natalícias e sociais, concurso de vozes, de
glosas, apresentação de moças e rapazes da cidade, interpretando músicas da
época "hora da Saudade" com músicas notálgicas e outros
tantos eventos políticos-sociais.
Até a década de 50, não tínhamos um clube social organizado, com sede
própria, mas improvisávamos o salão de entrada do Cine Teatro Pedro Amorim,
para bailes mais chics, como o das as festas de São João, do carnaval, do Natal
e Reveillhon. E todos dançavam e se divertiam, ora com orquestra de João Chau,
ora com conjuntos vindo de outras cidades. O importante era movimentar a
cidade. Havia sempre um "testa de ferro" para enfrentar, planejar os
eventos e assumir a responsabilidade pelas despesas contraídas.
Havia também por iniciativa do próprio Aldemar, um conjunto de artista
amadores, que encenavam peças, ora dramáticas, ora cômicas. Também participei
dos dramas. Era comum, e muitas vezes fui escolhida, para em companhia de um
rapaz, ir pedir a uma família da elite, a "sala" para uma dança
improvisada aos domingos à tarde, ou à noite conforme os costumes da época.
Muitas vezes, não dispúnhamos de dinheiro para pagar a
orquestra e as danças eram ao som do rádio, sendo muito usado um programa da
Rádio Clube de Pernambuco, denominado "Tabarrada" onde ao som daquela
emissora, aos domingos a noite dançava-se até às 22: 00 horas. As "Tabarradas"
ou aconteciam na casa de "Seu Eloy da Singer" ou na casa do professor
Antônio Guerra.
Usava-se a maior variedade de diversões, para movimentar a cidade.
A grande movimentação todavia, era a festa de São João. Vinham pessoas
de todos os quadrante do Estado, participarem dos festejos juninos. Tudo era
festa durante o novenário e o dia de São João. Alvoradas, salvas, quermesses,
balões, fogos de vista, Parque de Diversões, com o famoso carrocel, novena,
entrega do "ramo", baile, etc.
A vaquejada era indispensável e durava dois e três dias.
O jornalzinho da festa, também era uma prática de todos os anos.
Predominava na sua confecção a poesia, geralmente com elogios as moças da
sociedade, em forma de quadras e acrósticos. Não faltavam as críticas aos
rapazes, e piadas sobre os namoros, aqueles amores escondidos ou renegados,
como também, críticas a administração e aos políticos. O concurso de beleza
feminina, era repetido anualmente.
Na parte cultural, os estabelecimentos de ensino, presenteavam a
sociedade, com belos desfiles no dia da "Raça" e da Independência,
além de apresentarem vez por outra, programas com encenação de peças cristãs e
patrióticas, seguidas de números variados, de cantos, declamações, bailados e
ginásticas rítmicas.
Nessas programações destacavam-se o Colégio N. S. das Vitórias e o Grupo
Escolar "Ten. Cel. José Correia".
Outras diversões muito usadas, eram os Pastoris e as Lapinhas,
que divertiam muitíssimo, mas que acarretavam muitas rixas, intrigas e
dissenções. A opção pelos partidos azul e vermelho, traziam uma loucura às
pessoas, que se desentendiam até mesmo entre os familiares. De fins de novembro
a janeiro, só se falava em Pastoril, que conciliava a peça com a dança após o
espetáculo. Já a Lapinha, era mais conceituada. Acontecia ou no Colégio N. S.
das Vitórias, em benefício do próprio ou no Cine Teatro, organizado por
particulares.
Dentre as festas mais comentadas e elogiadas da década de 40, três se destacam:
em 1945, 16 de outubro, comemoramos o centenário da independência do Assu. Foi
uma semana de festa. Costa, Ximenes e eu, enfrentamos a organização das
comemorações e tivemos uma das festas de maior destaque cívico-cultural. Toda a
sociedade participou e se movimentou para dar maior brilhantismo às
festividades. Governo do município, o povo em geral,
todos prestigiaram a nossa iniciativa e deram a maior cooperação
possível e imprescindível aos festejos.
Em 1947, por iniciativa minha organizei uma festa denominada "Festa
Holandesa". Constou de um baile, onde todas as moças da sociedade estavam
trajadas à caráter - roupa e calçado à moda da Holanda e apresentaram em meio
às danças, um bailado muito bonito ao som de uma composição, letra e música da
professora Sinhazinha Wanderley. A festa se realizou em um dos salões da firma
João Câmara porque como dito anteriormente, não tínhamos um clube social, e a
previsão era de uma grande festa, como de fato foi. Além da sociedade assuense,
participaram em grande número, rapazes das vizinhas cidades de Mossoró e Macau.
O resultado financeiro da festa foi oferecido, à direção do Orfanato Padre
Ibiapina. Outra festa que mereceu também muito destaque, foi o centenário do
Grupo Escolar Ten. Cel. José Coreia.
O corpo docente preparou com carinho e dedicação uma extensa programação,
constando de conferências, palestras, dramas, bailados, desfiles religiosos,
enfim um vasto e bem elaborado programa.
Também eu, estive na organização das solenidades, porque a Diretora do
Grupo era muito avessa a festas e eu assumi a direção de tudo.
De 1954 em diante, é que a cidade ganhou dois clubes sociais,
predominando na época uma rivalidade muito grande, entre os organizadores,
havendo sempre interferência e disputa política.
Com a fundação do Clube Municipal em 1958, o prefeito Arcelino Costa Leitão,
mensalmente oferecia à sociedade festas dançantes maravilhosas, contratando em
São Paulo/Rio, orquestras do maior gabarito, para abrilhantarem as noites,
havendo vez por outra, apresentação de misses locais, estaduais e
interestaduais, artistas nacionais, como também desfiles de modas. Há de se
ressaltar, as melhores orquestras apresentadas: Marimbas Mexican Alma Latina,
Cassino de Servilha, Violinos Italianos.
Fernando Caldas