sábado, 20 de agosto de 2011





O VALÕ DO ANÉ

Por Renato Caldas

Seu dotô, pode me crê:
Se tenho aprendido a lê,
Eu era dotô também.
Pruque hoje na cidade,
Nós só temo validade
Pela péda qui o ané tem?


Meu pai, era home pobre,
Porém morreu como nobre,
Honesto e trabaiadô!
Morreu no mez de Dezembro
Ainda hoje me alembro...
Cuma a cidade chorô.


Era amigo da pobresa,
Inimigo da avaresa,
Cuma todo home de bem!
Num media sacrifíço...
Num despresava ninguém.


Veja a força do destino:
Morreu... Eu fiquei menino
Sem dinheiro pra estudá!
Fui cantadô e poéta;
Do mundo peguei a réta,
Num queria trabaiá.


Mas, graça a Providença,
Tenho o ané da inteligença,
Maió riquesa qui hai...
Num precisô de inventáro,
Sô rico, milionaro,
Do que herdei de meu pai.


Dotô, num é caçoada.
O ané num vale nada,
Só mióra a posição!
Parece uma coisa incrive,
Quarqué um, compra no ourive,
Por cem cruzeiro, um ancião.


Olegaro Mariano
Poeta pernambucano,
Home de muito valô!...
Entrô para academia,
Amostrando a poesia,
Não o ané de dotô!


... Adeus dotô, vô me embora.
Está passando da hóra...
Eu preciso viajá.
Mas, pense na deferença:
- Num se compra inteligença
E ané se pode comprá.


Postado por Fernando Caldas

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ESTA NOITE, EM TEUS OLHOS

E te encontrar junto ao mar.
Te olhar assim em sombras,
E não te esquecer jamais,
Pois guardas em teus olhos,
A brancura dos barcos e dos cisnes.
Sofrer, por saber, que, sob pálpebras
Tão serenas, dormem crepúsculos massacrados.
Não, esta noite, em teus olhos
Vejo reduzidos lagos,
Enquanto ao longe, sinto o mar tecer uma lenda,
Sobre o nosso misterioso silêncio.

Por Walflan de Queiroz, poeta potiguar


RELEMBRANDO PALMÉRIO FILHO

Palmério Filho [1874-1958] descendia das familias Caldas e Soares de Amorim, do Assu. Vocacionado para o jornalismo fundou em 1897, o.jornal A Semana. Pouco tempos depois o jornal intitulado A Cidade, em 1901 que circulou durante pouco mais de vinte anos noticiando a literatura, o humor, o cotidiano. Cujos jornais eram impressos na tipografia de sua propriedade. Palmério dava-se também o gosto de versejar que começou ainda na sua adolescência. Brilhante orador. Como poeta escreveu sonetos de boa qualidade. Pena que seu nome deixou de estampar em letras vivas num parque infantiu [que Costa Leitão construiu quando prefeito da terra assuense, desativado no começo da década de setenta] onde hoje está assentado o Banco do Nordeste, além de uma biblioteca pública. O certo é que aquela figura ilustre está esquecida na terra onde nasceu e de onde nunca saiu. Palmério Amorim morreu aos 84 anos de idade. É de sua autoria o amoroso soneto seguinte:

Quando sozinho contemplei ardente
Estes teus lábios virginais, risonhos,
Minha alma, às juras de amor, descrente
Viu-se enlevada num pomar de sonhos

Uma esperança, uma ilusão fagueira
Que al homem inculte natural ardor
Veio hostimente pela vez primeira
Dentro em meu peito - semear amor.

E desde então um sentimento sério
Uma paixão descomedida e ardente
Veio alterar o meu viver sidério

E hoje ausente de teu seio amado
Meu ser tristonho, pesaroso sente
Quando padece um coração magoado.

Postado por Fernando Caldas

NO PAÍS DE MOSSORÓ

Agnelo Alves [ Jornalista  ]
 
Vilegiei o "País de Mossoró" e arredores, como se costuma chamar carinhosamente e com respeito a capital oestana. Não sei se é porque procedia de Natal, mas a sensação que colhi, logo na estrada, nas proximidades da Cidade, é a de que estava numa sala de visita. O chão limpo. A grama bem cuidada, como se fosse um tapete. A iluminação pública perfeita, sem excessos e sem escassez. O trânsito fluindo normalmente. As pessoas andando tranquilas, sem medo, me acudindo a curiosidade de repórter: "Ué, que cidade é esta?" Logo alguém no carro respondeu: "Não é apenas uma cidade, é o País de Mossoró". 
 
Não conheço nenhuma pesquisa sobre a avaliação da administração da prefeita Fafá Rosado. Já estava concluindo com meus próprios botões, quando cheguei à Feira do Livro na sua sétima edição anual, numa iniciativa dos confrades Osni Damásio e Rilder Medeiros. Supunha uma coisa mais íntima, reunindo apenas e suficientemente a colônia dos intelectuais e leitores mais ávidos. Como se questiona popularmente: "Qual o quê?" Uma multidão com informação corrente de oito mil a dez mil pessoas, visitando a Feira diariamente, desde as primeiras horas da manhã, até a noite.
 
Começo, então, a entender as coisas, a geografia da capital oestana, o estado de espírito dos mossoroenses, a nítida vocação política, como fatores que impulsionam e dão sustentabilidade à cidade, o seu desenvolvimento retumbante. Todo um estado de espírito, diria ufanista, dos mossoroenses e que se transmite e se incorpora aos visitantes como eu, que praticamente assisti ao seu surgimento mais efervescente, quando o angicano Aluízio Alves empolgou Mossoró, fazendo nascer um movimento entre as mulheres, logo chamadas de "Senadoras".

Não cheguei a estar com Edith Souto e Soutinho. Lamento. Mas lá estavam Ester e Rose, inquebrantáveis. Quantas vezes nos antecederam nas viagens. As grandes passeatas. A praça do Codó. Três dias e noites, rua a rua, o empate técnico, a leitura da última pesquisa que levei no minuto final da campanha com a interpretação correta do empate. O desempate só seria possível com a conquista de setores da área rural. Mas, como? Se a partir daquele instante estava encerrado o prazo legal? Contrariando todos os médicos, além de todos os amigos e familiares, menos a mim que o entendia, Aluízio disse e cumpriu: "Vou lá, de casa em casa". E foi na área rural que a eleição foi decidida, voto a voto, até a última urna.

Chegando ao hotel, já tarde da noite, quase pela madrugada, o sono se mantendo à distância, o pensamento trepidando por um instante com recordações do que vira e até participara. A cidade bem cuidada, na visita à casa de Fafá e Leonardo, o primeiro pensamento novamente me ocorrendo, as ruas como sala de visita, sem sequer uma ponta de cigarro jogada no chão. Os estudantes, durante o dia e a sociedade em geral, no horário da noite, frequentando a "Feira do Livro".

Parabéns à prefeita Fafá Rosado por Mossoró.

Fonte: Tribuna do Norte, 14.8.11

terça-feira, 16 de agosto de 2011

 
Falta!!
Ah!! Que falta...
Do seu olhar de carinho,
Do aconchego...
Como uma ave no ninho,
Ah! Que falta do seu abraço,
Um entrelaço sem fim...
Dos beijos apaixonados,
Sem palavras... Somente,
Carinho infinito, ardente,
Como a brasa que arde,
Na lareira preparada,
para o amor...
Ah! Esse amor verdadeiro,
Nem por um segundo foi esquecido,
Apenas embalado,
Em um sonho. Adormecido,
Onde estás que não acordas?
Porque esta espera?
Espera?
Tempo?
Amor?
Onde esta você?

SEMINÁRIO VERÍSSIMO DE MELO

De 22 a 26 de agosto será realizado o Seminário Veríssimo de Melo, das 9 às 12:00 hs. abordando Literatura de Cordel, Religião, Literatura do Rio Grande do Norte, História. As paletras (no auditório do SESC, Centro de Natal) serão proferidas por Dorian Gray, José Augusto Júnior, Diógenes da Cunha Lima, Roberto Lima, dentre outros. Os participantes terão direito a certificado 16 horas.

Maiores informações procure a FUNCART, avenida Câmara Cascudo, 434.

Postado por Fernando Caldas








VM PRODUÇÕES APRESENTA EM ASSU "O MELHOR DO HUMOR CEARENSE"

SOBRE THEODORICO BEZERRA

Theodorico Bezerra [1903-1994], além de comerciante foi grande pecuarista, deputado estadual em várias legislaturas, deputado federal, candidato a senador em 1965, quando perdeu para monsenhor Walfredo Gurgel que , como ele, Theodorico, pertencia ao PSD - Partido Social Demorcrático. Pela razão de ter perdido a eleição para Walfredo Gurgel, respondeu ao ser indagado certo dia, numa entrevista jornalística: "Fiz tudo para ter o Padre como companheiro de disputa das vagas no senado. Desejava ver dois pedessistas vitoriosos, porém esqueci que tem mais capelas, igrejas e santuários que diretórios do PSD. E o padre teve mais votos do que eu."

É de autoria do major Theodorico Bezerra, as sábias frases adiante transcritas, para o nosso deleite:

A vida é de quem acorda cedo, fala pouco, anda ligeiro que é para não perder tempo.

A luz que vai na frente é a que mais clareia.

Pensar para acertar, calar para resistir, agir para vencer.

Aqui ninguém parado. Até na hora da morte esteja lutando.

Política é feito de tudo que é bom: música, foguetão, dança, flores...

O homem que nunca errou foi aquele que não fez coisa alguma.

Afinal, se "em política feio é perder", Theodorico naquela sua visão coronelista entendia que em política tudo era válido: "ameça, suborno, pedido humilde, favores, traições, tudo".

Postado por Fernando Caldas







PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...