quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

"UM AÇUENSE EM SÃO PAULO" - CORDEL

 
 
  
 
 
 
 
 
 
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Francisco Amorim, o Poeta da Seriema

Na fotografia: Francisco Amorim ladeado a esquerda pelo seu filho Tarcísio Amorim e a direita pelos sobrinho Fernando Fonseca.

Francisco Augusto Caldas de Amorim (Chisquisto). Foi poeta, escritor, jornalista, memorialista, historiador, fundou com seus irmãos Otávio e  Palmério Filho, o jornal 'A Cidade', que circulou durante vinte e cinco anos consecutivos. Funcionário Público Federal da Controladoria de Rendas, atual Receita Federl.

Franklin Jorge depõe que "aos nove anos Chisquito escrevia o seu primeiro jornal, significativamente chamado "O Trabalho", pois aprendera a manejar o compunidor e dispunha os tipos sem atrapalhar-se e sem cometer gralhas na página impressa."

Amorim era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da Academia Potiguar de Trovas, entre outras instituições culturais do Estado Norte-rio-grandense e do Brasil. Foi prefeito do Assu (1953-58), presidiu durante muito tempo o Banco Rural do Assu, que depois veio a ser Cooperativa Agropecuária do Vale do Açu Ltda - Coapeval. Ele esprestava o seu nome a sede do poder executivo da terra assuense, uma homenagem de José Maria Macedo Medeiros quando prefeito daquele município. 707 728 124 89

"Chisquito" publicou diversos livros que engrandece as letras potiguares como, por exemplo, A Eucaristia e a Questão Social, 1944 (conferência), Discurso de Saudação aos Prefeitos, 1961, Eu Conheci Sesióm, 1961, Seriema e Outros Versos, 1965, Galeria do Lions, 1969, História do Teatro no Assu, 1972, Colégio Nossa Senhora das Vitórias, 1977, As Vantagens da Eletrificação Rural (cordel), 1978, Titulados do Assu, 1982, O Assu No Roteiro das Glosas, 1983, Nos Tempos de Cristo, além de Assu da Minha Meninice, 1982, Trovas à Toa, 1991, Forrobodó, 1984, História da Imprensa do Assu, 1965, Teu Livro (versos), 1965, O Homem e as Cooperativas, 1965, A Reforma Agrária e o Trabalhador Rural, 1988 e Essências, 1991.

Francisco Amorim ficou conhecido nos meios culturais do estado como "O Poeta da Seriema". Vejamos o seu célebre soneto:

Na doce evocação do seu ledo passado,
A seriema vê, como num sonho lindo,
O riacho correndo, o Mofumbo ensombrado,
O cipoal a crescer, para o alto subindo.

E belo o panasco, o amplo campo rasgado,
As expansões febris do juremal florindo,
A sombra da oiticica o tresmalho do gado,
A alva flor do cardeiro alvas rosas abrindo.

A lembrança lhe vem dos tempos seus ditosos,
Correrias na mata, os ermos pedregosos,
Verde vegetação desabrochando a terra,

E na concentração ascética de um monge,
A pernalta desperta, olhando e vendo longe,
O panorama azul, belíssimo da terra.

Do livro sob o título 'Assu de Minha Meninice', de Francisco Amorim transcrevo um artigo de sua autoria, conforme adiante:


Quando comecei a ter o uso da razão, isto é, a ser capaz de dar recado, levar bilhete, fazer mandados, a minha cidade, a nossa cidade tinha escassos limites que iam do bairro Macapá - com uma rua só de casas quase que todas elas da taipa cobertas com palha de carnaúba - até à rua São Paulo, com vários espaços vazios entre esses extremos de Norte e Sul.
 
As ruas chamadas principais eram localizadas na praça da Matriz - era o quadro da Rua, onde ficavam a Rua Casa Grande (norte), do Mercado (sul), São João (nascente) e coronel Souto (poente).

 
Era aí que moravam as pessoas importantes e famílias endinheiradas. Moravam o Juiz de Direito, o Promotor, o Vigário, o Médico e o Farmacêutico, o patriarca da família Casa Grande - jornalista Antônio Soares de Macedo - e o da família Piató - Zumba Marreiro.


Existiam, como ainda hoje existe, o sobrado da Baronesa de Serra Branca e o velho José Gomes de Amorim, este construído em 1845. A praça da Matriz vem de longa data. Já Koster, historiador inglês, que por aqui passou no dia 1. de Dezembro de 1810 fez referência a ela, destacando a Matriz e o historiador Manoel Ferreira Nobre, em seu livro "Breve Noticias Sobre a Província do Rio Grande do Norte", impresso na Tipografia Espiritosantense,  Sergipe, no ano de 1877, destacava a casa residência do dr. Luiz Carlos Lins Wanderley, localizada nesta mesma praça. Os sobrados de Minervino e o de Medeiros (Antônio Dantas Correia de Medeiros), desapareceram para darem lugar a outras edificações residenciais.

A antiga Cadeia Pública, a Interdependência e a inacabada igreja do Rosário, também desapareceram. Estão hoje em seus lugares a Prefeitura e a Praça do Rosário, cuja imagem de N. Senhora é doação do dr. Pedro Amorim, médico e político da terra.

No "Quadro da Rua" ficava o comércio - a Casa Dantas - Nova Aurora do Dantas - A Casa Medeiros, firma sucessora; João Vicente da Fonseca. os armazéns de compra e venda de algodão e peles de "Seu" Nondas - Epaminondas - depois do coronel José Soares Filgueira Sobrinho, Ezequiel Fonseca, Osvaldo Oliveira e João Caldas.

Na rua São Paulo destacavam-se o prédio do Grupo Escolar Ten, Cel. José Correia e os armazéns do exportador Minervino Wanderley e do comprador de couros e peles Luiz Cabral, cujo estabelecimento exibia o pomposo título de "O Rei do Algodão".

Nessa época essas firmas exportavam diretamente algodão para Liverpool.

A primeira rua a receber iluminação a querosene foi a rua Coronel Souto, na praça da Matriz. A sua inauguração ocorreu em 24 de Dezembro de 1908, na administração de Antônio Sabóia. Coincidiu que nessa noite, depois da Missa do Galo, tinha lugar os festejos da Lapinha na residência do coronel Sá Leitão, à rua de Hortas, atual Moisés Soares. Lembro-me bem. Nós, meninos que tínhamos ido assistir aquela diversão, inclusive eu que nela tomei parte, nos intervalos íamos até ao beco da Botica, depois Farmácia Amorim, verificar se os lampiões ainda estavam acesos.

A luz elétrica só chegou na cidade de Assu, em 13 de Dezembro de 1925.


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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

UM ASSUENSE RENOMADO:

EM PAZ COM O ESPELHO
Acompanhamento de diversos profissionais é fundamental para o sucesso da cirurgia bariátrica - a "redução de estômago"
Um tratamento para obesidade, que não incluísse medicamentos e com uma porcentagem de sucesso elevada, era apenas um sonho, em um passado recente. A cirurgia bariátrica e metabólica - conhecida como "redução de estômago", vem mudando a realidade de milhões de pessoas obesas pelo mundo. O conceito metabólico foi incorporado há cerca de seis anos pela importância que a cirurgia adquiriu também no tratamento de doenças, como o diabetes e a hipertensão - as comorbidades. O Brasil é o segundo país no globo que mais realiza este tipo de procedimento.

Em Natal, o cirurgião Nelson Santos Neto é um dos mais experientes, acumula mais de 2.000 cirurgias em seu privilegiado currículo, ao longo de seus 14 anos de carreira, além de ser membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e da Federação Internacional de Cirurgia Bariátrica.

Natural de Assu o potiguar não somente faz seu trabalho no Rio Grande do Norte como também viaja o Brasil participando de várias equipes cirúrgicas e também ensinando técnicas de cirurgias bariátricas por videolaparoscopia para outros cirurgiões. Alagoas, paraíba, São paulo, Minas Gerais, além do Distrito Federal, são destinos constantes do médico, que recentemente retornou do Congresso Mundial de obesidade, no Canadá, e também participará da Obesity Week, a ser realizada em Boston, no início de novembro.

O bypass gástrico, técnica mais utilizada por Nelson, é uma cirurgia que grampeia e divide parte do estômago, o que evita grande ingestão de alimentos e também aumenta o nível de hormônios que dão sensação de saciedade e diminuem a fome da pessoa. "essa técnica é a mais realizada no Brasil e corresponde a 75% das cirurgias feitas no país", observa ele, que foi um dos mais jovens especialistas em Natal a realizar o procedimento por videolaparoscopia.

Ele explica que para se ter sucesso com a cirurgia é preciso um trabalho primoroso de preparo do paciente, além do acompanhamento depois do procedimento. Uma equipe multidisciplinar, composta por cirurgiões experientes, anestesista, nutricionista, fisioterapeuta respiratório, psicólogo, endocrinologista, pneumologista, cardiologista e enfermeiro, é fundamental nesse processo. "Os pacientes são avaliados individualmente, preparados para antes, durante e depois da cirurgia. Criamos um vínculo com ele, assim como com seus familiares, e isso favorece o sucesso da cirurgia. Opero somente quando a pessoa está preparada e vejo que esta conduta reduz drasticamente os riscos de complicações agudas", analisa. 

Segundo Nelson, cerca de cinco horas após o procedimento o paciente já pode andar, além de não utilizar dreno e não necessitar de Unidade de terapia Intensiva (UTI), ficando, normalmente, 48 horas internado.

Fonte: Reportagem publicada na Viver Bem - Em Revista - Ano 6 - Edição 23 - Out/Nov. 2014.
 
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Debate sobre criação da Academia Assuense de Letras terá novo encontro em janeiro

Ivan Pinheiro Bezerra
Em matéria exibida nesta terça-feira (09) pela Rádio Princesa do Vale, o pesquisador e historiador Ivan Pinheiro Bezerra anunciou que acontecerá dia 16 de janeiro de 2015, uma sexta-feira, a próxima reunião para avançar-se na discussão em torno da proposta de constituição da Academia Assuense de Letras.
Até aqui foram dois encontros realizados, sendo o primeiro em Natal e o mais recente, ocorrido sexta-feira da última semana (05), às 16h, no auditório do escritório regional do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa do RN (Sebrae), em Assú.
Nela foi concebida a comissão organizadora do processo de fundação da Academia.
Ivan Pinheiro declarou que um dos passos seguintes de tal movimento será a publicação do edital de convocação da assembleia fundacional da Academia, evento pré-agendado para o dia 23 de janeiro, uma sexta-feira, às 19h30, no interior do Cine Teatro Pedro Amorim.
Ele registrou que, a princípio, a Academia disporá de 40 cadeiras, porém, deverá começar suas atividades com aproximadamente 20 membros.

Além dele, estão associados a esta empreitada os seguintes personagens: Auricéia Antunes de Lima, Fernando Antonio Caldas, Geruza Fonseca Pimentel, Ângela Fonseca Pimentel, Fernando Antonio de Sá Leitão Morais, Francisco de Assis Medeiros e Antonio Alderi Dantas.
 
Postado por Pauta Aberta.
Há impossibilidade de ser além do que se é -
no entanto, eu me ultrapasso mesmo sem o
delírio, sou mais do que eu - tenho um corpo
e tudo o que eu fizer é continuação do meu começo ...
a única verdade é que eu vivo.
Quem sou?
Isso já é demais!


_____ Clarice Lispector

Foto de  Isabel Almeida

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

"ASSU SOCIAL DE ONTEM - SOCIEDADE ASSUENSE DE 1880 A 1930"

Nas décadas de 1880 a 1930 a Baronesa da Serra Branca, (BELISÁRIA LINS WANDERLEY DE CARVALHO E SILVA), com o apoio do seu esposo o Barão FELIPE NERY DE CARVALHO E SILVA, em seu sobrado da antiga Praça da Proclamação, hoje praça Getúlio Vargas, recebia a sociedade assuense, oferecendo NOITES DANÇANTES E SARAUS. Entre as jovens daquela época citamos os nomes da maioria das Senhoras mais conhecidas e de tradicionais famílias, vejamos: Francisquinha Medeiros, Vigília, Maria Lídia Fonseca, Nina e Nininha Caldas, Sinhazinha Wanderley, Cecília Caldas Soares, Maria Inah, Candoca e Clarinha Amorim, Eulina e Maroca da Fonseca, Marizinha Dantas de Medeiros, Lília Lindú, Nila e Elita Oliveira, Cecília Soares Filgueira, Beatriz Montenegro e suas irmãs Rosa, Marola, Cota, Francisquinha e Davina, Carlotinha Sá leitão, Maria Sá Leitão, Fausta, Cândida, Ernestina e Branca Nobre da Fonseca, Marieta Oliveira, Maria Soares Filgueira, Beatriz Montenegro, Maria Lacerda, Angelina Macedo, Ana Lima, Candinha e Nanoca Borges, Nila e Noca Pinheiro, Rosa, Joaninha, Ofélia e Ana Wanderley, Emília, Eulália, Flávia e Maria Marreiro da Fonseca, Auta e Chiquita Soares Filgueira, Iracema e Iara Soares, Chiquinha Terto Lins Caldas e tantas outras jovens.

Jovens da melhor Sociedade Assuense daquela época que passamos a citar alguns nomes de relevo: Silvestre Wanderley Carvalho e Silva, filho único da Baronesa da Serra Branca que faleceu muito cedo. O médico Dr. Ernesto da Fonseca, seus irmãos Samuel Sandoval, Aderbal Augusto, Mariano Cândido e João Alfredo da Fonseca, João Filgeueira Filho, seus irmãos, Tomé Pierre, Milton e Tertuliano Soares Filgueira, o Acadêmico de Medicina Ezequiel Epaminondas da Fonseca Filho, Francisco Augusto Caldas de Amorim, Ulisses Caldas Amorim, Eloi Fonseca, Mário e Otávio Amorim, Etelvino Caldas, Coronel Antônio Freire, Coronel Antônio Saboya de Sá Leitão, Renato Caldas, Major Manoel de Melo Montenegro, José Medeiros, Raul Caldas, Francisco e Zeca Ximenes, José Neves, Eduardo, Luiz Sócrates, Solon, Afonso e Vicente Wanderley, o musicista Júlio Soares Filgueira, seus irmãos Francisco Alberto Soares Filgueira, que logo foi para o Rio de Janeiro, estudar Medicina, onde concluiu seu curso em 1915, José Soares Filgueira Filho, que também foi para o Rio de Janeiro, João Soares Filgueira Neto, Major Minervino Wanderley, Giovani e Luiz de Sá Leitão, João Celso Filho, Francisco e Júlio Martins Fernandes, Plácido e Pisistrato Amorim, Manoel Nobre da Fonseca, Manoel Silvério Cabral, João Damasceno, Luiz Paulino Cabral, Francisco e José Pinheiro da Fonseca, ´Bilé Soares Filgueira e seus irmãos, Migas Fonseca, Fernando Tavares, Anderson Abreu, o Coronel José Soares Filgueira Sobrinho, também recebia em sua residência, que ficava situada onde funciona o FÓRUM JOÃO CELSO FILHO, a mesma sociedade assuense com os maiores requintes, como se estivessem na Europa, nossa origem. Os filhos do Coronel José Soares estudavam com professores particulares, trazidos de Natal e outros Estados vizinhos, todos eram músicos e tocavam os seguintes instrumentos: Piano, Violino, Flauta, Bandolim, Cavaquinho, Sax e outros instrumentos da época.

As festas da Sociedade Assuense eram conhecidas como "FESTAS DA NATA ASSUENSE", ALTA SOCIEDADE, reunião festiva com trajes a rigor e muitas vezes, terno completo com colete e um cravo ou rosa vermelha na lapela do paletó. Outras pessoas da sociedade também faziam reuniões em suas residências, vejamos: o conceituado advogado Dr. João Celso Filho, recebia em seu castelo da antiga Rua das Flores, hoje Rua Prefeito Manoel Montenegro. O Capitão e agropecuarista Manoel Soares Filgueira, também reunia em sua casa grande hoje onde se encontra instalado o Banco do Brasil fazia grandes reuniões sociais e já havia anualmente o grito de Carnaval (...).

Do Livro Sociedade Assuense, de Marcos Henrique 
Texto escrito pelo assuense Giovane Lopes, já falecido, que foi Oficial de Justiça no Rio de Janeiro.

O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ – A HISTÓRIA DO MOTORISTA “GATINHO”





11- Após a derrota em Mossoró, o bando em Limoeiro do Norte-CE

Autor – Rostand Medeiros 

Quando Lampião e sua horda de cangaceiros estiveram no Rio Grande do Norte, entre os dias 10 e 14 de junho de 1927, com o objetivo de atacar Mossoró, um personagem deste drama entrou na história quase sem querer, tornando-se por algum tempo um estafeta do “Rei dos cangaceiros”. Este personagem foi o motorista Francisco Agripino de Castro, conhecido em Mossoró como “Gatinho”.

 Francisco Agripino de Castro,o “Gatinho”
Francisco Agripino de Castro,o “Gatinho”

Nascido em 1905, “Gatinho” era um jovem de boa índole, simples, que buscava na profissão de motorista uma nova perspectiva em sua vida. Estava ainda na fase de aprendizado, sendo seu mestre o motorista João Eloi, conhecido como “João Meia-Noite”. A prática ocorria em um Chevrolet 1925, cujo proprietário era o Sr. Francisco Paula, para quem “João Meia-noite” trabalhava.

Seja por esperteza, medo ou desinformação, naquele dia 12 de junho de 1927, um domingo, João cedeu o veículo para “Gatinho” fazer o serviço que surgisse e ganhar mais perícia na condução.

“Gatinho”, como todos em Mossoró, estava apreensivo com a notícia da invasão do bando ao Rio Grande do Norte, os boatos sobre o tiroteio ocorrido no dia 10 de junho, no lugar Caiçara (próximo ao atual município potiguar de Marcelino Vieira), as muitas informações desencontradas, a movimentação para a defesa da cidade, a fuga dos moradores e outras situações que alteraram aquela inesquecível semana na “Capital do Oeste”. Mesmo assim “Gatinho” estava pronto para realizar qualquer viagem.

O fazendeiro Antônio Gurgel e framiliares
O fazendeiro Antônio Gurgel e framiliares

Na tarde daquele dia, o carro de Francisco Paula foi contratado pelo comerciante e fazendeiro Antônio Gurgel do Amaral, um rico proprietário que possuía uma fazenda no lugar “Brejo do Apodi”, próximo a então vila de “Pedra de Abelha” (atualmente município de Felipe Guerra). Gurgel estava preocupado com sua esposa, pois a mesma se encontrava na sua fazenda e desejava trazê-la a Mossoró.
Por volta da uma da tarde, os dois seguiram direção sul.

A viagem prosseguia tensa, como não poderia deixar de ser diante da situação reinante. O veículo trafegava por uma estrada irregular, não mais que um caminho estreito, que mal dava para um carro pequeno seguir.

Por falta de conhecimento ou nervosismo, “Gatinho” errou o trajeto e levou seu passageiro para o lugar Apanha Peixe, a 13 léguas da vila de São Sebastião (hoje município de Governador Dix-Sept-Rosado). 

Nas proximidades se localizava a fazenda “Santana”, de propriedade de Manoel Valentim, que neste momento tinha a sua residência invadida e era prisioneiro do bando de cangaceiros de Lampião.

Eram mais ou menos quatro horas da tarde quando “Gatinho” ouviu tiros que não sabia de onde vinha. O motorista se protegeu como pode, Antônio Gurgel ordenou a parada do veículo. Nove balaços de mosquetão teriam atingido a carroceria do veículo.

Estado de abandono da antiga casa grande da Fazenda Santana, para onde o fazendeiros Gurgel foi levado pelo cangaceiro Sabino e ficou frente a frente com lampião.
Estado de abandono da antiga casa grande da Fazenda Santana, para onde o fazendeiros Gurgel foi levado pelo cangaceiro Sabino e ficou frente a frente com lampião.

Ao levantar a cabeça, “Gatinho” viu um cangaceiro com um fuzil apontado para ele. Era um moreno forte, de estatura elevada, que por esta razão tinha a alcunha de “Coqueiro”.

Este cangaceiro, junto com outros membros do bando, mandou o motorista e o passageiro renderem-se e passou a rapinar os seus pertences. Do fazendeiro Gurgel foram arrecadados uma aliança, um par de óculos, uma caixa com cinquenta balas de rifle Winchester calibre 44, um conto de réis e uma pistola tipo “mauser”. Provavelmente uma pequena pistola com calibre 7,65 m.m., das marca “FN” ou “Colt.

O cangaceiro “Coqueiro” exultava a todo o bando de facínoras a prisão de um “coronelão de muito dinheiro”.

Depois da “coleta”, os dois prisioneiros foram levados à presença de Massilon Leite e Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”.

Imagem1

Junto ao líder dos bandidos estava José Tibúrcio e Fausto Gurgel, irmãos de Antônio Gurgel, que tiveram seus resgates estipulados em um conto e quinhentos mil réis. O bandido Sabino, depois de uma rápida palestra com o novo prisioneiro, estipulou a vultosa quantia de quinze contos de réis para a sua liberdade. 

Sem condições dos prisioneiros ponderarem, ficou decidido que o irmão Fausto retornaria Mossoró com “Gatinho”, para buscar a dinheirama.

1- Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião
E era realmente muito dinheiro.

Para se ter uma ideia deste valor, vamos observar como exemplo a edição de 18 de junho de 1927, do jornal “A Republica”, onde se encontra um balanço financeiro, listando as rendas postais apuradas em cada uma das agências dos correios existentes no Rio Grande do Norte em 1926. Na progressista Mossoró de então, que possuía Banco do Brasil, um forte comércio de algodão e até funcionava uma Alfândega, os Correios e Telégrafos apuraram em todo aquele ano 10.255$300 (dez contos, duzentos e cinquenta e cinco mil e trezentos réis).

Diante da quantia pedida, Antônio Gurgel preparou uma carta para ser entregue a seu cunhado Jaime Guedes, então gerente da agência do Banco do Brasil em Mossoró e pessoa certa para lhe salvar desta situação.

Neste meio tempo, “Gatinho” realizava pequenas voltas pela propriedade, com o veículo cheio de bandoleiros. Muitos destes cangaceiros estavam tendo o seu primeiro contato com um automóvel. A brincadeira acabou quando a chamado de Lampião, o motorista e Fausto Gurgel receberam a missão de levar a carta de Antônio Gurgel para Mossoró.

O “Rei do cangaço” exigia dos dois “estafetas” a maior discrição sobre o caso, se não Antônio Gurgel pagaria com a vida.

No retorno, “Gatinho” e Fausto encontraram dois conhecidos que pediam condução na beira do caminho. Eram Alfredo Dias e Porcino Costa, que se dirigiam a Mossoró.

Buscando informações com os sertanejos, procurando a memória da passagem do bando de lampião pelo Rio Grande do Norte em 1927.
Buscando informações com os sertanejos, procurando a memória da passagem do bando de lampião pelo Rio Grande do Norte em 1927.

Achando estranho o fato de Fausto estar àquela hora de retorno a “Capital do Oeste”, Dias inquiriu-o sobre o que estava fazendo? De onde viam? Se sabiam notícias dos cangaceiros? Fausto no inicio desviou o assunto, mas diante da insistência cedeu e narrou o ocorrido e o suplício por que passava seu irmão.

Um exemplo de como a cidade de Mossoró preserva a memória do ataque de Lampião a esta cidade.
Um exemplo de como a cidade de Mossoró preserva a memória do ataque de Lampião a esta cidade.

Ao chegarem à vila de São Sebastião, atual município de Governador Dix-Sept-Rosado, os dois viajantes pediram para descer do veículo e seguiram para a estação ferroviária, onde deram um alarme para Mossoró através de um telefone existente neste local.

“Gatinho”, para desespero de Fausto, saiu a divulgar pela vila a notícia alarmante; “-Se prepare todo mundo que os cangaceiros vão invadir”. Cinquenta anos depois, em um depoimento prestado ao jornal dominical natalense “O Poti” (edição de 13 de março de 1977), Francisco Agripino afirmava que poucos em São Sebastião lhe deram crédito.

O motorista e Fausto seguiram para Mossoró. Por volta das oito e meia da noite, encontraram-se com Jaime Guedes e o prefeito Rodolfo Fernandes, onde foram narrados os fatos e entregue a carta de Gurgel. O prefeito só ficou satisfeito em relação à veracidade da notícia quando viu a lataria do Chevrolet perfurada de balas.

Nota de jornal sobre o ataque de Lampião a Mossoró.
Nota de jornal sobre o ataque de Lampião a Mossoró.

Nesta mesma noite de 12 de junho, “Gatinho” ainda ajudou na defesa de Mossoró, transportando fardos de algodão de depósitos existentes na cidade, para pontos que seriam utilizados como baluarte de defesa.

“Gatinho” não estava em Mossoró no dia do assalto, fora contratado para seguir para Fortaleza, às nove da manhã de 13 de junho, com a esposa e dois filhos do médico Eliseu Holanda. Segundo o motorista, depois deste episódio, não mais teve notícias se este médico e sua família retornaram a Mossoró, “nem a passeio”.

Igreja de São Vicente de Paula, histórico palco de resistência dos mossoroenses aos ataques dos cangaceiros de Lampião. Anualmente neste local acontece uma encenação do fato dentro do calendário cultural do município.
Igreja de São Vicente de Paula, histórico palco de resistência dos mossoroenses aos ataques dos cangaceiros de Lampião. Anualmente neste local acontece uma encenação do fato dentro do calendário cultural do município.

Em Fortaleza, o “estafeta de Lampião” passou alguns dias esperando a situação se acalmar.

Muitos anos depois, em sua residência na Praça Redenção, 183, na tranquilidade de sua velhice, “Gatinho” narrou ao repórter Nilo Santos, de “O Poti”, as suas inesquecíveis lembranças da meia hora que passou entre o bando de Lampião. Para ele, muitos dos cangaceiros eram demasiado jovens para aquela vida, “umas crianças” ele afirmava. Na sua memória, Já Massilon marcou como um sujeito feio, carrancudo, grosseiro, ignorante, “que dava até medo em olhar para ele”. Lampião lhe deixou uma impressão positiva, apesar da fama, “parecia um sujeito educado, pelo menos neste dia não estava furioso”. Sobre “Coqueiro”, o condutor o considerava um moreno forte, bem disposto e “bastante alto para justificar o apelido”, quando o cangaceiro “Mormaço”, foi detido, informou as autoridades que “Coqueiro” havia deixado o bando no Cariri e seguira para o Piauí, entretanto, segundo o pesquisador Raimundo Soares de Brito, este cangaceiro foi morto pela polícia cearense, no lugar “Cruz”, aparentemente no município de Maranguape.

Francisco Agripino de Castro se tornou um profissional do volante respeitado, era conhecido como uma pessoa calma, amigo de todos e faleceu em 16 de março de 1991.
Dentro do peito ...
dentro do peito
bate um coração
já fragilizado pelas emoções
sangra de dor
pelo que foi feito
peito desfeito
pela saudade
que foi amor
quando era
ele liberdade !!!


José Manuel
  
Lágrima da poesia
A COLEÇÃO DE BIBELÔS
 
*Maria Eugênia Maceira Montenegro.
 
MARIA ANGÉLICA era uma jovem encantadora: meiga, sex, inteligente. No apogeu da mocidade, queria aproveitar a vida, o máximo, cada minuto, cada segundo. Sua vida era uma roda viva de passeios, boates, esportes. Tinha uma legião de fãs e, volúvel e inconsequente, trocava de namorado como se troca de roupa.

Estava com a mania de colecionar cachorrinhos de louça. Cada namorado que arranjava, comprava um bibelô e punha-lhe o nome. A vitrina do seu quarto de moça estava cheia deles, de todas as raças. Ali se viam lulus, bassets, dálmatas, cocker speniel, pequinês, cão fila, buldogue e outros. O último da coleção era um vira-latas.

As amigas gozavam:

- Como vai a coleção, Maria Angélica? Já vacinou os bichinhos?

- Não me descuido deles e a coleção, como vêem, cada vez aumenta mais. - disse a sorrir.

Com o passar dos dias Maria Angélica se casou com um rico empresário, machista a valer. 

Quando viu a coleção da mulher, admirado, perguntou:

- Como arranjaste tantos bibelôs, Maria Angélica? Como são bonitinhos.

Ela, ingenuamente, respondeu:

- Fui comprando. Ganhei muitos também. Cada um tem o nome de um dos meus ex-namorados, disse com graça e sedução.

- Tudo isto? - E usando uma expressão grosseira - Ah, minha querida, eu não sabia que tinha me casado com uma cachorra...

- Admirado? - retrucou Maria Angélica no mesmo tom - Pois veja ali aquele vira-lata. Foi com ele que me casei.

Lógico que o casamento foi um fracasso.

* Imortal da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
 
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817 – INDEPENDÊNCIA SIM, LIBERTAR ESCRAVOS NÃO!

Publicado na revista Aventuras na História, através do Blog http://maniadehistoria.wordpress.com/2009/03/05/revolucao-de-1817/
Após a chegada da Corte portuguesa, em 1808, o Rio de Janeiro não teve do que reclamar. Dom João VI e seu séquito transformaram a cidade no centro do Império Português. Ela passou a receber impostos vindos das outras regiões do Brasil e a desfrutar de todas as vantagens do sistema colonial. Se antes os brasileiros odiavam o controle exercido por Lisboa, agora era a supremacia do Rio que causava indignação. Na região norte (que hoje chamamos de Nordeste), o ressentimento com a corte era enorme. As cidades de lá não viam vantagem em mandar tanto dinheiro para o sul. Entre as taxas, havia uma destinada a financiar a iluminação das ruas do Rio. Não é surpresa que ela tenha se tornado o grande símbolo da exploração.
http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/confed_equador.html#f4016_amp.html
Recife no início do século XIX – Fonte – http://www.multirio.rj.gov.br
Em nenhum lugar a revolta foi tão contundente como em Pernambuco. Entre 1817 e 1824, a província se manteve em estado de rebeldia constante, tornando-se uma pedra no sapato do rei português dom João VI e, depois, do imperador brasileiro dom Pedro I. Mas o que a elite pernambucana que promoveu esta revolta tinha de tão diferente e tão comum ao resto do país? 
Para começar, entre 1630 e 1654, a então capitania tinha sido governada pelos holandeses. Os invasores foram expulsos pelos pernambucanos, que, em vez de proclamar independência, optaram por voltar a ser colônia de Portugal. Ao fazer isso, eles se sentiram senhores do seu próprio destino. Pernambuco estaria submetida à Coroa por opção. “Enquanto entre El Rei e os demais colonos prevaleceria urna sujeição natural, os pernambucanos manteriam com a monarquia um vínculo consensual, ao se haverem libertado dos Países Baixos mercê de uma guerra travada por seus próprios meios, havendo assim retornado à suserania lusitana de livre e espontânea vontade”, diz o historiador Evaldo Cabral de Mello no livro A Outra, Independência.
Esse gosto pela autonomia nascido no século 17 alimentou o ódio de Pernambuco às imposições da Corte. Para completar, a vinda de dom João VI coincidiu com um período inédito de prosperidade. No início do século 19, graças à produção de algodão, Pernambuco era uma das partes mais ricas do país. Do outro lado do oceano, Inglaterra e França viviam a Revolução Industrial e precisavam alimentar suas frenéticas fábricas de tecido. Os pernambucanos embarcavam sua produção no porto de Recife diretamente para o Velho Mundo (e para os Estados Unidos). Mas não podiam fazer isso sem prestar contas à Corte.
Nota do jornal Correio Braziliense, sobre a revolta pernambucana de 1817
Nota do jornal Correio Braziliense, sobre a revolta pernambucana de 1817
O algodão fez com que Recife se firmasse, ao lado de Salvador, corno grande entreposto comercial. “Recife tinha grande influência sobre Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Alagoas”, diz Eduardo Schnoor, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo. Naquele intercâmbio não circulavam só mercadorias. Os comerciantes estrangeiros que aportavam em Recife traziam um bocado de novas idéias. E algumas delas não combinavam nada com a situação colonial, como os princípios de liberdade e igualdade que haviam inspirado a independência americana, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789. Quando esses ideais se juntaram à indignação diante dos impostos, o caldeirão revolucionário começou a ferver.
República
As lojas maçônicas, que pipocavam no Recife, serviam como local de discussão das idéias liberais e de reuniões que planejavam complôs contra a Coroa. Diante do clima de conspiração, em 6 de março de 1817, o governante da província, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, mandou prender diversos suspeitos de querer implantar uma república em Pernambuco. Mas o tiro saiu pela culatra. Ao receber voz de prisão, o capitão de artilharia José de Barros de Lima matou seu comandante e saiu às ruas acompanhado por soldados. Libertou os conspiradores e ajudou a prender o governador. No dia 7 de março, foi implantado um governo provisório. Assim que assumiram o poder, os rebeldes divulgaram uma Lei Orgânica. As novidades não eram poucas: a província virava uma república, independente de Portugal. O texto estabelecia ainda a liberdade de imprensa e a igualdade de direitos, mas não ousava mexer com a escravidão.
O governador Caetano Pinto de Montenegro - Fonte - http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0184z15.htm
O governador Caetano Pinto de Montenegro – Fonte – http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0184z15.htm
A república pernambucana buscou apoio no exterior. Enviou emissários à Argentina e aos Estados Unidos, propondo acordos comerciais e pedindo reconhecimento. Ao mesmo tempo, os revolucionários criaram uma bandeira própria e difundiram o costume de chamar os cidadãos de “patriota”. Mas nem todos aceitaram as mudanças. No norte da província, os produtores de algodão eram mais receptivos aos novos ideais políticos — muitos deles haviam estudado na Europa. Já no sul predominavam decadentes fazendeiros de cana-de-açúcar, cujo interesse era preservar o sistema colonial, pois o açúcar ainda tinha Portugal como principal freguês.
Assim que soube da insurreição, dom João VI mandou suas tropas reprimirem o movimento – que já havia atingido a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Durante os combates, as forças da Coroa contaram com a ajuda de milícias organizadas pelos senhores de engenho e a revolução foi sufocada em dois meses. O capitão José de Barros de Lima e outros rebeldes foram enforcados pelo crime de alta traição. Seus corpos foram esquartejados e tiveram partes expostas em diferentes cidades. Mas a brutalidade não foi capaz de conter o ânimo dos pernambucanos. Mesmo derrotada, a Revolução de 1817 colocou o norte na vanguarda do movimento de independência do Brasil. Enquanto o sul havia visto apenas inconfidências esmagadas nos estágios iniciais, Pernambuco havia acabado de ensaiar uma experiência autônoma de governo.
O Carmelita Miguel de Almeida e Castro, conhecido como Frei Miguelinho, era potiguar de Natal e teve participação ativa na revolta de 1817 em Pernambuco. O quadro mostra seu julgamento em Salvador, onde foi condenado a morte pelo fuzilamento e a pena cumprida no dia 12 de junho de 1817. É nome de cidade em Pernambuco e muito cultuado no Rio Grande do Norte.
O Carmelita Miguel de Almeida e Castro, conhecido como Frei Miguelinho, era potiguar de Natal e teve participação ativa na revolta de 1817 em Pernambuco. O quadro mostra seu julgamento em Salvador, onde foi condenado a morte pelo fuzilamento e a pena cumprida no dia 12 de junho de 1817. É nome de cidade em Pernambuco e sua memória é muito cultuada no Rio Grande do Norte.
Depois de enfrentar a rebeldia pernambucana, dom João VI teve que cuidar de um novo levante. Dessa vez foi em Portugal: a Revolução Liberal do Porto, que começou em agosto de 1820. O movimento exigiu o retorno do rei, elegeu uma assembléia que limitou os poderes da monarquia lusa e, na prática, passou a controlar o Império Português. Em março de 1821, dom João VI foi para Lisboa e deixou aqui o filho
Pedro, na condição de príncipe regente do Brasil. No mesmo ano, a assembléia tirou da cadeia os envolvidos na Revolução de 1817 que estavam presos.
No dia 26 de outubro de 1821, seguindo a orientação da assembléia portuguesa, foi escolhida a primeira Junta de Governo de Pernambuco. Seu líder, Gervásio Pires, era um ex-revolucionário de 1817. Depois de tanto lutar, os pernambucanos pareciam ter encontrado sua liberdade. Afinal, eles não precisavam mais engolir governadores nomeados por dom João VI. A Junta de Gervásio, como ficaria conhecida, investiu na educação, instituiu o concurso como forma de escolher funcionários públicos e parou de enviar tributos à Corte.
Tela do carioca de Niterói Antônio Diogo da Silva Parreiras (1860-1937) sobre a revolta de 1817
Tela do carioca de Niterói Antônio Diogo da Silva Parreiras (1860-1937) sobre a revolta de 1817
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, um novo projeto estava sendo criado para o Brasil. Seu principal articulador era o político José Bonifácio de Andrada e Silva. Para ele, o país devia se tornar independente, com as províncias unidas sob o comando do príncipe Pedro. Os pernambucanos novamente se dividiram. Alguns gostaram dos planos de Bonifácio. Já Gervásio e outros preferiam manter os laços frouxos com Lisboa. Eles anteviam que, com a independência, o poder voltaria a se concentrar no Rio e a autonomia da província chegaria ao fim.
Em 1° de junho de 1822, chegou ao Recife uma comitiva vinda do Rio. O grupo obrigou Gervásio a reconhecer que dom Pedro era o líder máximo do Brasil. Apesar disso, a Junta continuou se opondo à independência. A experiência bem-sucedida de Gervásio tinha feito os pernambucanos gostarem ainda mais de controlar o próprio destino. O problema é que, em 7 de setembro, o príncipe regente resolveu se tornar dom Pedro I, imperador do Brasil. Dias depois da independência, um golpe em Pernambuco tirou Gervásio do poder. Em 17 de setembro de 1822, uma nova junta, dominada por senhores de engenho e alinhada ao Rio de Janeiro, assumiu o controle da província, no que ficou conhecido como o Governo dos Matutos.
Confederação
O Brasil precisava de novas leis. Em 1823, foi eleita uma Assembléia Constituinte, que se reuniu no Rio de Janeiro. Mas, em 12 de novembro, dom Pedro I ordenou seu fechamento. Os temores haviam se concretizado: o imperador não estava muito a fim de dividir seu poder. Em Pernambuco, a reação veio rápido. O Governo dos Matutos foi derrubado e, em 13 de dezembro, as câmaras municipais de Recife e Olinda elegeram uma junta de governo. À frente dela estava Manuel de Carvalho. Veterano da Revolução de 1817, ele havia se refugiado nos Estados Unidos, onde se encantara com o grau de autonomia dos estados. Era isso o que muitos pernambucanos queriam para o Brasil. Mas, em 25 de março de 1824, o imperador entregou ao país uma nova Constituição. No texto, dom Pedro I estava acima do povo e de qualquer instituição. E era ele, claro, quem deveria escolher os presidentes das províncias.
Bênção das bandeiras da Revolução de 1817, de Antonio Parreiras.
Bênção das bandeiras da Revolução de 1817, de Antonio Parreiras.
Para Pernambuco, o imperador nomeou José Carlos Mayrink. Em meio à agitação na província, entretanto, o escolhido não teve coragem de assumir. Dom Pedro I mandou uma esquadra bloquear o porto de Recife enquanto o poder não fosse passado a Mayrink. Os pernambucanos continuaram irredutíveis até que, em junho, a frota teve de voltar ao Rio por causa de uma suposta ameaça de invasão portuguesa.
Com o fim do bloqueio, Manuel de Carvalho propôs que as províncias do norte se unissem para formar um país independente. Em 2 de julho de 1824, nascia a Confederação do Equador, inspirada nos Estados Unidos. Um dos membros mais destacados do movimento foi Frei Caneca. Com sua influência religiosa, ele conseguiu o apoio de Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, que aderiram à Confederação.
Em pouco tempo, as notícias sobre o levante começaram a queimar o filme do Brasil no exterior. Nem todas as grandes nações da época haviam reconhecido a autoridade de dom Pedro I e a revolta não ajudava em nada a diplomacia. Em agosto, tropas imperiais desembarcaram em Alagoas e de lá foram para o Recife, seguindo o mesmo caminho de 1817. E, como na primeira revolta, os senhores de engenho ajudaram a derrubar os rebeldes.
"Estudo para Frei Caneca", de Antônio Parreiras (1918).
“Estudo para Frei Caneca”, de Antônio Parreiras (1918).
A Confederação foi extinta em 29 de novembro. Carvalho foi poupado e fugiu para a Inglaterra, enquanto outros líderes da insurreição foram executados. No Rio de Janeiro, a Corte respirava aliviada com a manutenção de seu poder sobre todo o país. Mas vivia com medo dos pernambucanos. O conservador Diário Fluminense advertiu que a repressão deveria ser dura, pois a tranqüilidade poderia não durar. “E o sono do leão adormecido (…) pela perda de sangue. Repousou seis anos depois da primeira queda. Como se levantou? Mais atrevido e mais insultador do que nunca.”
Mas nos escravos ninguém mexe – A liberdade não era para todos os pernambucanos
A Revolução de 1817 era liberal, mas os grandes proprietários de terra, nem tanto. A idéia de perder toda a mão-de-obra escrava sob decreto de um novo regime afastava muitos fazendeiros do movimento e neste aspecto esta elite agrária em nada diferia do resto da elite brasileira.
Os líderes rebeldes sabiam que o apoio deles era fundamental e não incluíram a abolição em suas propostas. “A questão escravocrata foi secundária entre as idéias que dominaram a revolução de 1817″, diz o historiador Eduardo Schnoor. O Governo Provisório não tocou no assunto, mas os senhores de escravos não ficaram satisfeitos.
Uma junta de revolucionários pernambucanos de 1817 - Fonte - http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0184z15.htm
Uma junta de revolucionários pernambucanos de 1817 – Fonte – http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0184z15.htm
Para desmentir rumores de que os negros seriam libertados, as novas autoridades disseram que uma eventual emancipação dos escravos seria feita de forma “lenta, regular e legal”. E, para que os fazendeiros tivessem certeza de que nada ia acontecer, havia um adendo: “a base de toda sociedade regular é a inviolabilidade de qualquer espécie de propriedade”. Sete anos depois, a Confederação do Equador foi um pouco mais ousada. O líder Manuel de Carvalho não chegou a abolir a escravidão, mas suspendeu o tráfico negreiro em Pernambuco.

Do blog: http://tokdehistoria.com.br

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