João Alfredo Marreiro ou “Bonzinho” como era chamado na intimidade era,
salvo engano, o sexto filho de uma prole de nove irmãos. Filho de João e Joana
Marreiro. Deste casal além de Bonzinho veio ao mundo: Mundoca, Dino, Toinho,
Chico de Joca, Olga, Sebástia e mais outros dois que não me recordo os nomes.
Cheguei ainda a conhecer alguns dos citados, pois morávamos na mesma rua do
Centro da importante e inteligente cidade de Assu de tantas glórias, de filhos
folclóricos e ilustres, que me perdoe se estou exagerando no meu ufanismo.
Bonzinho era o filho do casal Joaninha e João que dava mais trabalho aos seus
familiares, até porque ele era portador de doença mental e gostava de tomar
‘umas e outras’. Mas, Bonzinho não era doido varrido e nem daquele de jogar
pedra, não! Ele era de temperamento dócil e espirituoso. Vivia pelos botequins
da cidade e frequentava assiduamente as casas e rodas de conversas amistosas
das pessoas e influentes da terra assuense como, por exemplo, Walter
Leitão, Fernando Tavares (Vem-Vem), Ricardo Albano, Lauro Leite, Expedito
Silveira, Epifânio Barbosa, Edmilson e Luizinho Caldas, Renato Caldas, Zé
Ramalho, Zequinha Pinheiro, Lauro Leite, Afonso e Solon Wanderley, Ximenes,
dentre outros. Mas, vamos conhecer algumas das tiradas de espírito do popular e
folclórico Bonzinho conforme adiante:
Bonzinho era tipo daquele boêmio inveterado. Bebia para embriagar-se (talvez
para esquecer as tristezas que sofria) até cair no chão ou dormir numa mesa de
bar. Pois bem, certo dia, fora visto por seu pai, daquele jeito que, ao
acordá-lo, fora convidado para ir para casa. Ao receber e aceitar o convite,
fora taxativo: “Papai, vá na frente que o mundo está cheio de gente ruim!”
Certa Vez, noite alta, Bonzinho chega a sua casa de morada batendo
forte na porta. Em voz alta, ainda do quarto, pergunta o seu genitor: “Quem é
que está aí?” "É Bonzinho, seu filho e vem ‘em água.’ - É como se diz no
Nordeste brasileiro quando uma pessoa está em alto grau etílico.
Em 1958, Costa Leitão era o prefeito do Assu. Certa vez, fora surpreendido por
Bonzinho em seu gabinete. Costa então lhe fez uma proposta: “Bonzinho, vá à
esquina da rua e veja se eu estou lá!” - E Bonzinho como se de doido não tinha
nada, saiu-se com essa frase genial: “Seu
Costa me dê o cabresto porque se o senhor estiver por lá, eu trago!”
Dix-Huit Rosado fora deputado, senador, prefeito de Mossoró, presidente
do INDA, atual INCRA, antes porém teria se formado em medicina pela famosa
Faculdade de Medicina da Bahia. Logo que se formou (década de quarenta) fora
clinicar na cidade de Assu onde fez amizades com ricos e pobres. Bonzinho era
um deles, bem como freqüentava a sua casa todos os dias para um reforçado café
da manhã. E Dix-Huit com aquele seu vozeirão indagou: “Ou João, de que você não
gosta da vida?” – Bonzinho respondeu: “De Mossoró, doutor ‘Chuite’ (era como
ele sabia chamar Dix-Huit), é porque quando o senhor vai para Mossoró eu deixo
de tomar leite, coalhada, comer carne assada e cuscuz!”
Certo caixeiro viajante, vendedor de tecidos, logo que terminou o seu
trabalho no comércio da cidade de Assu encontrou-se com Bonzinho pela rua, a
quem ofereceu um trocado se ele fosse comprar na venda mais próxima, uma caixa
de charuto. Bonzinho aceitou a oferta, recebeu o dinheiro e, no primeiro
botequim que chegou, gastou com bebida e tira gosto. Demorando muito o seu
retorno, o viajante resolver prosseguir viagem com destino a cidade de Mossoró.
Meses depois, retornando ao Assu, por coincidência, a primeira pessoa que
avistou fora Bonzinho. O viajante então lhe perguntou: “Você é aquela pessoa
que um dia desses pedi para comprar uma caixa de charuto?” Bonzinho sem se
fazer de rogado, respondeu: “Sou, quer mandar comprar outra?”
Ivan Pinheiro em seu livro intitulado Dez Contos & Cem Causos narra que “o
folclórico “Bonzinho” foi uma figura que apesar de não gozar de amplas
faculdades mentais, tinha uma vivacidade para o repente impressionante.
Antigamente quando alguém usava calça preta e camisa branca era porque estava de
luto de alguém. Certo dia, depois de muita persistência de sua mãe, dona
Joaninha, vestiu uma calça preta e uma camisa branca que estava guardada no
fundo do baú para uma eventual necessidade. Bonzinho lorde e faceiro saiu para
dar um passeio pelo centro do Assu, para mostrar a roupa nova. Quando ia
passando no ‘Beco da Prefeitura’ um gaiato perguntou: “Bonzinho, estás de luto
de quem? De imediato Bonzinho respondeu: “Da precisão!... Da pré-ci-são...
Entendeu?”
Por fim, Bonzinho tombou morto no final da década de cinquenta, logo que tomara, por engano, solução de bateria, despachado pelo proprietário do bar que se encontrava.
Fernando Caldas