Corria o ano de 1967. Meu pai Edmilson Lins Caldas era secretário geral do município de Ipanguaçu (terra importante,
dos meus ancestrais paternos, hoje reconhecida como a Terra Internacional da Banana, cidade coirmã de Assu, distante 20 quilômetros daquela terra asuense. O rio Piranhas/Açu é quem separa aqueles dois importantes municípios da terra potiguar. Pois bem. O prefeito constitucional naquele tempo era Nelson Borges Montenegro que tinha com meu pai, além de relações amistosas, de parentesco. Nelson desejava fazer de Edmilson, o próximo prefeito pela Aliança Renovadora Nacional – ARENA, inclusive como candidato único, um fato que seria inédito no Brasil, com o apoio político do Major Manoel de Melo Montenegro e Nelson. Meu pai carregava em suas mãos confiáveis, limpas, um instrumento público de procuração outorgado pelo prefeito (um fato inédito), com amplos e ilimitados poderes, fazer com os recursos daquela edilidade, o que bem entendesse. Naquele tempo, a prefeitura de Ipanguaçu, como todos os municípios brasileiros, recebia leite em pó e trigo, entre outros produtos daquele programa assistencial, humanitário, criado em 1961, pelo presidente Norte americano John F. Kennedy. Meu pai, portanto, era tipo exageradamente honesto. Me ufano dizer que sou seu filho. Mesmo reconhecidamente honesto, fora irresponsavelmente denunciado por práticas ilícitas, vender produtos como leite em pó entre outros alimentos destinados a pessoas carentes, do Programa Aliança para O Progresso, por duas pessoas que faziam políticas contrárias, ligados ao ex-governador do Rio Grande do Norte, Aluísio Alves. Pois bem. Naquele ano (1967), tinha eu, 12 anos de idade quando chega na nossa casa no Assu, um coronel do Exército fardado, guiando um Jeep. Aquele militar depara-se comigo e pergunta, gentilmente: “O senhor Edmilson Lins Caldas está?” respondi que sim, e logo fui chama-lo para atender aquele militar que, ao se apresentar, disse: “Senhor Edmilson. Precisamos apurar uma denuncia que fizera contra o senhor, junto a administração na qualidade de secretário da prefeitura de Ipanguaçu. Podemos irmos até lá?” – “Sim. Vamos.” - Respondeu meu pai sem nem titubear.” É aquele dito popular: “Quem não deve, não teme”. Ao chegar na cidade de Ipanguaçu, meu pai chamou dois funcionários encarregados da distribuição dos alimentos como Orlando Alcântara e Osório Fonseca, ambos também exageradamente honestos, e a coisa ficou esclarecida. Nada comprovadamente ilícito, e o feitiço virou contra o feiticeiro. Foram eles, os dois denunciantes das suposta irregularidades praticados por meu pai, enquadrados no Exército como agitadores e, durante anos, tiveram eles (não quero citar os nomes), a obrigação de se apresentar ao Quartel General de Natal e até mesmo, do Recife, durante muito tempo. Tempos depois, aqueles acusadores pediram perdão ao meu pai, alegando coisas da politicalha.
Fernando Caldas