Do livro "Poucas e Boas", de Valério Mesquita, 2008 (imagem acima). O texto abaixo também fora publicado no Jornal Tribuna do Norte, de Natal.
1 - Fernando Caldas, assuense de ótima qualidade, poeta e pesquisador,
enviou-me alguns
"causos" folclóricos de sua região.
Agradecendo a remessa, vamos juntos nos deliciar com as suas histórias. Chico
Dias trabalhou para o deputado Arnóbio Abreu, nas eleições de 1998. Logo após o
pleito, foi à casa de Zeca Abreu, irmão de Arnóbio, para um entendimento
político. Ao chegar, foi atendido pelo motorista de Zeca que lhe respondeu ao
ser indagado pelo paradeiro de seu patrão. "Chico, Zeca encontra-se no
banheiro com uma forte dor de barriga". Chico mandou chumbo grosso:
"Meu amigo, eu não vim aqui comer o cedenho dele, não!!"
2 -Fernando Caldas contou que Bonzinho, lá do Açu, estava bebendo em um bar
da cidade quando foi surpreendido por Joca Marreiro, seu pai, que lhe convidou
a ir para casa pois já era noite alta. Aceitou o convite paterno, mas foi taxativo
e solene: "Papai, vá na frente que o mundo tá cheio de gente ruim".
3 - Comício de Ronaldo Soares em Açu. O povo doidão na praça. O locutor vibrante
anuncia a palavra de Chico Galego, candidato a vereador, líder da Lagoa do
Piató. Ao receber o microfone sem fio, assustou-se com o equipamento e tratou
de reclamar: "Cadê a correia dele Lourinaldo, cadê a correia, esse bicho
não vai falar de jeito nenhum!!!. Aí a galera vibrou.
4 - Açu é um filão de estórias que não tem fim. Ronaldo Soares, captador permanente
dessa atmosfera densa e intensa, passou-me mais uma. Seu conterrâneo Zé Gago
andava ás turras com a esposa Isabel. Em suma havia arranjado uma rival.
Revoltada, a família se reuniu para lavrar aquele protesto e chamar o esposo e
pai à responsabilidade. Em sua defesa, Zé Gago veio com um argumento genial:
"Meus filhos, arranjei uma mulher, é verdade, mas foi pra poupar sua
mãe". Inconformada, dona Isabel saiu do seu silêncio: "Se foi por
esse motivo, pode me rasgar toda!!.
5 - Tico, motorista do ex-deputado Arnóbio Abreu, não foge à regra de muitos
profissionais bons, mas broncos e teimosos demais. Certa noite, num comício em
Açu apareceu por lá o servidor da secretaria de Saúde Alan Rio. Ao vê-lo, Tico
comentou que já vira antes esse rapaz. Um interlocutor presente o ajuda
afirmando que o nome dele é Alan. Tico repreende: "Não, Alan é apelido!!.
Chamando a intervir, Arnóbio confirmou que o nome do visitante é Alan. Tico, na
sua teimosia homérica, retruca: "Não, doutor Arnóbio, Alan é de ovelha por
isso, é apelido mesmo"!!.
6 - Jobeni Machado, fazendeiro do Açu, lá pelos anos setenta não teve
dificuldades para aprender, ao pé da letra, as lições dos filósofos da economia
da época. Endividadíssimo e instado a pagar pelos bancos oficiais os seus
empréstimos agrícolas vencidos e esquecidos, Jobeni utilizou a máxima do faraó
Delfim Neto, ministro da fazenda: "Dívida pública não se paga, se
rola". Não foi à toa que o governador de Minas Itamar Franco se inspirou
no exemplo. No caso de Açu, até hoje tá rolando.
7 - Fernando Caldas manda-me algumas poucas e boas da rica safra açuense.
Manoel Montenegro Neto (Manuca) disputou sem sucesso a prefeitura de Açu, em
1976, contra Sebastião Alves. Manuca foi deputado estadual por duas
legislaturas e deputado federal durante alguns meses. Pertencendo ao então MDB,
fazia discursos inflamados cumprindo o seu papel de oposição, combatendo a
inflação e outros bichos. "Meus amigos, senhores deputados, quem é que
pode comer uma galinha por três cruzeiros?" (moeda da época), indaga
Manuca pateticamente da tribuna da assembleia. Um correligionário que ouvia
atentamente o seu pronunciamento respondeu da galeria: "O galo,
Manuca!".
8 - Junot Araújo dos Santos foi vice-prefeito na chapa de Lourinaldo Soares
nas eleições municipais de 1992 em Açu. Junot prometeu na campanha a uma
senhora, uma cirurgia de períneo. A operação seria feita pelo seu pai dr.
Nelson, logo após as eleições. Certo dia, a eleitora procurou o vice-prefeito
com outra conversa: "Junot, no lugar da cirurgia me arranje cinco sacos de
cimento". Fátima, sua mulher, escutando a exploração daquela eleitora,
saiu-se com essa: "Essa
égua quer agora tapar o buraco com
cimento!”.
9 - Ronaldo Ferreira Dias era importante funcionário do Senado da República.
Norte-riograndense de Lages e com muita ligação no Açu. Nas eleições de 1982
concorreu a deputado federal mesmo sem ter vivência política no Estado do Rio
Grande do Norte. Ronaldo seria o segundo suplente com qualquer votação. Foi a
Açu e procurou seu primo Chico Dias que era candidato a vereador para fazer a
sua campanha no município assuense. Certo dia telefonou de Brasília para o
primo: "Chico, como vai a aceitação do meu nome por aí?" Chico
respondeu pausadamente: "Ronaldo, saí de casa com mil fotografias (santnhos)
suas e voltei com duas mil".