Por Roberto Lameirinhas
O uniforme militar e a boina vermelha tornaram-se símbolos do chavismo ainda antes de Hugo Chávez chegar ao poder, após vencer as eleições presidenciais de 1998. O tenente-coronel do corpo de paraquedistas do Exército venezuelano ganhou as manchetes do mundo em fevereiro de 1992, quando liderou uma fracassada tentativa de golpe contra o então presidente Carlos Andrés Pérez.
Com a derrota da intentona golpista, Chávez é levado à prisão, mas deixa clara sua intenção de retornar à cena política venezuelana: “Me retiro, por ahora (Me retiro, por enquanto)”.
Em seu livro A História Secreta da Revolução Bolivariana, o acadêmico e jornalista argentino-venezuelano Alberto Garrido – morto em 2007, mas ainda considerado o principal historiador do chavismo – estabeleceu, já em 1999, as ligações do Movimento Bolivariano de Chávez com um grupo internacional que pretendia instalar na Venezuela uma revolução de caráter cívico-militar.
Segundo depoimento dado por Garrido ao Estado em 2004, um dos “ideólogos” dessa revolução foi o ex-guerrilheiro, sociólogo e espião argentino Norberto Ceresole – que prestou “assessoria” para movimentos golpistas na América Latina, incluindo o dos rebeldes militares “carapintadas” que tentaram derrubar o argentino Raúl Alfonsín, em 1987. Ceresole defendia o combate à “frente de poder representada pelos EUA e a Grã-Bretanha, que está a serviço do lobby judaico”. Antissemita declarado, defendia a tese de que “o Holocausto foi um mito, do qual não havia provas científicas ou históricas”.
Às teses de Ceresole, Chávez fundiu a visão pan-americanista de Simón Bolívar, o herói venezuelano que tomou parte dos movimentos de independência dos países andinos. “A revolução bolivariana ganhou assim um caráter nacionalista, militarista, anti-EUA e com base no conceito da ‘pátria grande’ de Bolívar”, defendeu Garrido em seu livro.
Chávez sempre mostrou seu desprezo pela negociação política. Preferia a aliança direta com seus camaradas nos quartéis. Já primeiro mandato, durante os debates da Assembleia Constituinte, em 1999, rompeu com o principal articulador político de seu governo, Luis Miquilena.
A oposição venezuelana sempre denunciou a agenda militarista de Chávez – que reforçou o poder de fogo de um Exército que ele expurgou de oficiais que esboçaram a possibilidade de lhe fazer oposição. Durante seu mandato, encomendou 100 mil fuzis Kalashnikov à Rússia, além de aviões, corvetas e lanchas de patrulha da Espanha, para reequipar o Exército, a Marinha e a Força Aérea.
“A unidade cívica-militar foi essencial para a derrota da tentativa golpista de 2002, numa das jornadas patrióticas mais relevantes da história da Venezuela”, prosseguiu, referindo-se ao fracassado golpe de abril de 2002 que o removeu do poder por menos de 48 horas.
Chávez é o segundo de seis filhos de Hugo de los Reyes Chávez e Elena Frías de Chávez, ambos professores. Hugo e o seu irmão mais velho foram viver com a avó paterna, Rosa Inés, a pedido do pai, ainda durante a infância.
Frequentou a escola fundamental no Colégio Julián Pino, em Sabaneta. Sua admiração nacionalista por Simón Bolívar passou a crescer cada vez mais, mas, até este ponto, ainda não tinha iniciado seu flerte com o marxismo.
A revolta de 1992 transformou-o num líder entre seus colegas militares inconformados com a miséria que tomava conta da Venezuela, um dos maiores produtores de petróleo do planeta. O carisma aumentou com o espetacular contragolpe, que o levou de volta ao Palácio de Miraflores em abril de 2002.
Chávez casou-se duas vezes: a primeira com Nancy Colmenares, com quem teve três filhos (Rosa Virginia, María Gabriela e Hugo Rafael) e a segunda com a jornalista Marisabel Rodríguez, de quem se separou em 2003 e com quem teve uma filha, Rosinés. Além disso, Chávez também manteve uma relação amorosa por cerca de dez anos com a historiadora Herma Marksman, enquanto era casado com a sua primeira mulher.
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário