quinta-feira, 24 de junho de 2010

DOCE DE PELO

Clotilde Tavares | 8 de junho de 2009
casc100Em um livro de Câmara Cascudo, Viajando o Sertão, ele faz referência a um certo “doce de palmatória” que havia comido em Assu, cidade do Rio Grande do Norte pela qual o grande folclorista passou, na viagem à qual se refere o título do livro, realizada entre 16 e 28 de maio de 1934.
Curiosa que sou, e metida também a aventureira, refiz esse trajeto de Cascudo 65 anos depois de realizado, no ano de 1999, como você pode ver clicando aqui. A viagem foi gloriosa, cheia de experiências, visões, sabores e poesia, e se nunca publiquei esse relato é porque ninguém se interessou por editá-lo e eu não tinha – e nem tenho – dinheiro suficiente para tanto. Dorme sossegado numa das minhas gavetas, na companhia de textos e mais textos que tiveram o destino do ineditismo. Já escrevei esses mesmo parágrafo em outro post deste blog, aqui.
Ao fundo, a Serra Braca. A foto é de Gustavo Moura, que foi comigo em um trecho da viagem.
Ao fundo, a Serra Braca. A foto é de Gustavo Moura, que foi comigo em um trecho da viagem.
Uma das coisas que não consegui fazer na viagem foi conhecer o tal doce, queCascudo teria degustado em Assu, em jantar oferecido pelo Dr. Ezequiel Fonseca. Gosto de comer coisas esquisitas, de sabores exóticos, e quando me deparei com essa referência, principalmente quando Cascudo diz que o doce era “superior às geléias de morango”, fiquei curiosíssima.
Ao chegar em Assu, fui informada de que o tal doce de palmatória era chamado de “doce de pelo” e que não era típico de Assu, mas de Angicos, cidade próxima. Embora me mimassem com uma sobremesa deliciosa de mel de engenho com farinha de rosca, não foi possível degustar o tal doce de pelo, que eu não conseguia imaginar como seria.
Carmen Vasconcelos
Carmen Vasconcelos
Finalmente, depois de mais de um ano assuntando aqui e ali em busca do tal doce, consegui ter acesso a esse prodígio da culinária angicana pelas mãos da poeta Carmen Vasconcelos, que me trouxe uma porção, preparada pelas mãos de Dona Terezinha, sua mãe, ambas angicanas de quatro costados. Lá se vão dez anos, mas a experiência sensorial e gustativa foi marcante, e para mim parece que foi ontem.
O doce é estranho. Imagine você que com tanta coisa no mundo para transformar em doce, o cristão inventa de tirar a polpa de uma palmatória cheia de pelos (daí o nome “doce de pelo”). A primeira coisa que se faz, depois de colhido o fruto da palmatória, é tirar-lhe os pelos, ou espinhos; a rigor, o doce de pelo não tem pelo. Bem, uma vez eliminado o pelo, retira-se a polpa do fruto, que se parece assim com um algodão acinzentado e um pouco úmido, polpa essa que também pode ser comida tal e qual, acrescentando-se apenas um pouco de açúcar, parecida com a polpa do ingá. Dessa polpa é que se faz o doce.
Glóbulos
Pérolas douradas de sol.
E o sabor? Bem, o sabor logicamente é de doce, mas feche os olhos e imagine-se colocando na boca um glóbulo do tamanho de uma uva grande e sentir esse glóbulo se desmanchar como minúsculas pérolas douradas dentro da sua boca. Sim, porque o gosto desse doce é dourado, cor de ouro.
As pérolas de ouro ficam rolando deliciosamente dentro da sua boca, numa experiência sensorial única, onde o sabor e a textura se misturam com a sensação de cor-de-ouro, do sol escaldante do sertão acumulado e concentrado no fruto áspero da palmatória e revelado pelas mãos sábias das doceiras angicanas.
Existem coisas, caro leitor, que a gente não deve morrer sem fazer. Provar o doce de pelo é uma delas. Iguaria dos deuses, sabor estranho, frutos dourados do sol: tudo isso é o doce de pelo, glória da nossa culinária popular.

(Artigo transcrito da coluna Umas &  Outras, Diginet).
Nota do autor deste blog: Eu tive o prazer de degustar doce de palmatória também chado de doce de pelo, na Fazenda Picada/Itu, Ipanguaçu-RN, feito por dona Cândida Borges Montenegro, esposa do Major Montenegro. Feito por ela mesmo. Que delícia de doce. Recorda a minha infância. Eu tinha uns sete anos de idade (1962) quando eu ia lá, na Picada, com frequencia, acompanhado meu pai.

Fenando Caldas

A SAIDEIRA DE "LOURINHO"

Por sergiovilar.rn@dabr.com.br

A boemia natalense amanheceu de ressaca. Dessas de deixar o corpo encurvado feito berimbau. A salvação no caldo de mocotó do Bar do Lourival tem gosto amargo hoje, véspera de mais um jogo do escrete canarinho. Amanhã, tudo vira futebol e o livro da história de Natal recebe mais um capítulo dedicado às tradições boêmias e costumes do chamado Plano Palumbo. O dono do bar mais antigo de Natal tomou sua última dose de vida na madrugada de ontem e deixou amigos e adeptos do verdadeiro boteco órfãos da última saideira com "Lourinho".




Antes de administrar o boteco, o comerciante trabalhou durante 35 anos como contínuo em um banco Foto: Arquivo DN/D.A Press
Lúcio Lourival da Silva morreu aos 86 anos decorrente de problemas cardíacos, no hospital da Hapvida (Antônio Prudente). Há uma semana foi levado à UTI quando sofreu pequenos infartes. O currículo de internações hospitalares de Lourival é recheado. Só de cirurgias foram seis safenas e duas mamárias. Era também diabético. A luta contra a morte foi uma constante nos últimos anos. O corpo foi velado durante a manhã e sepultado às 17h de ontem, no Cemitério Morada da Paz. Amigos e assíduos do velho bar estiveram presentes. 
O bar já vinha administrado por Lourival Filho há alguns anos, quando o pai piorou a saúde e se afastou do boteco criado há 45 anos. À época, Lourival era contínuo do Banco do Povo. Trabalhou lá 35 anos até alugar o ponto onde hoje está situada a sede da Rádio 96, situada próxima à casa onde morava. Comprou depois a casa ao lado do ponto alugado - do famoso construtor Joaquim Vitor de Holanda, responsável pelos projetos do Atheneu, Colégio das Neves e outros -, encerrou o aluguel e montou o bar nos jardins da residência.
À frente, a sede do Diário de Natal, na Deodoro da Fonseca. E a avenida, então dos principais corredores de tráfego da cidade - recebia ali a sua universidade popular, o ponto de encontro da boemia natalense. Jornalistas como João Batista Machado, Jurandir Nóbrega, Ubirajara Macedo e outros tomaram o bar como segunda casa. "À época, o Diário promovia shows no auditório e de calouros na Rádio Poty. Tinha também o Cinema e o bar ficava em frente. Quando tínhamos dinheiro, pagávamos, quando não, pendurávamos a conta", fala o jornalista Paulo Tarcísio Cavalcanti. 

Paulo era dos jornalistas do Diário de Natal frequentadores do bar ainda embrião. Recorda ainda do "botequinho vizinho onde hoje é a 96" e só depois ampliado com a compra da casa ao lado. "Ele sempre foi muito atencioso e amigo com quem chegava. Mas sabia deixar os frequentadores à vontade". "Seo"Lourival nunca soube responder quando o bar começou. Arriscava um "maio de 66" incerto, desconfiado. Certeza mesmo, a lembrança da avenida Deodoro ainda de barro e à espera do progresso.
A arte do encontro
Se diariamente o carneiro na nata e o guizado encontram bocas anônimas a saborear papos de buteco (buteco com "u", o verdadeiro, e sem pedir licença poética), o bar também foi memória. Por lá passaram Pelé, Luiz Gonzaga, Sílvio Caldas e Altemar Dutra. Afora as estrelas locais e nacionais que se apresentavam na Rádio Poty e iam depois ao Bar de Lourival. "Eles vinham seapresentar, ficavam conversando e acabavam se aproximando dos clientes", contou "seo" Lourival ao Diário, em 1996, quando comemorou 30 anos do bar.
Já naquela época, Lourival disse estar "sem forças para tocar o bar". A morte da mulher Liege Silva há poucos anos agravou o estado de saúde de um dos patriarcas da vida boêmia da cidade, que ensinou a muitos onde mora a verdadeira vida. Como disse o poetinha Vinícius, "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". E Lourival convidou, sem formalidades, anônimos e sinônimos ao roteiro lírico e sentimental do bar. 



(Do jornal Diário de Natal, 24.6.2010)
*A letra "P"-Apenas a língua portuguesa nos permite escrever isso!

Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir.
Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris.Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los.Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos,preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações,pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas.
Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. – Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo.
Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para papai Procópio para prosseguir praticando pinturas.
Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? Papai – proferiu Pedro Paulo – pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal.
Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo pereceu pintando...
Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar.
Pensei. Portanto, pronto pararei.

Enviado por Clênio Caldas

quarta-feira, 23 de junho de 2010

JORGE E MATEUS ENCERRAM O SÃO JOÃO DE ASSÚ

024QUINTA


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O São João de Assu encerra suas festividades com a dupla sertaneja Jorge e Mateus nesta quinta (24). Os cantores se apresentam no palco principal da praça São João Batista às 22h.
Fonte: Diginet

RETROSPECTIVA PROSA & VERSO

Na onda de comemorações de fim de Ano, a coluna embarca no Novo repescando um muito do que foi publicado por aqui nos boxes PROSA e VERSO – assim, meio ao acaso, mas cuidando de repetir apenas alguns dos ditos chamados “autores locais”, essa espécie fadada às intempéries do isolamento eterno entre o rio, o mar, e as dunas.

Que 2009 seja bem mais que um show de Marina Elali e os Cavaleiros do Forró – que, hoje, primeiro dia (in)útil do ano é o que nos sobra.
PROSA“o potiguar vive como quem espera que os melhoramentos de qualquer espécie, os benefícios, o progresso lhe caiam prontos e sem trabalho seu, do alto do céu ou do alto do governo.” Polycarpo Feitosa Vida potyguar
“Demais, não faltarão jornalistas de oposição para afirmar, por dever de ofício, que vamos em regresso e que, daqui a 50 anos, Natal será um monte de ruínas.” Manoel Dantas Natal daqui a 50 anos
“Aqui por qualquer motivo ou sem motivo justificado vão trocando de lugar as estátuas, num verdadeiro turismo de bronzes.” Lauro Pinto Natal que eu vi
“Não se pretende estabelecer um dogma definitivo em assunto urbanístico.” Câmara CascudoCrônicas de origem
“Gosto das janelas nunca fechadas, mesmo no pior dos temporais.” Rodrigo Levino Dias estranhos
“Algumas regiões desse mundão velho têm a usança de chocalhos desmedidamente graúdos.”Oswaldo Lamartine Encouramento e arreios…
“A verdadeira buchada, do tempo antigo, exige ciência de tempero e quase intuições misteriosas de cálculo.” Câmara Cascudo Dicionário do folclore brasileiro
“Se quereis amar de um amor melhor a nossa terra, minhas senhoras e meus senhores, ide ao sertão.” Eloy de Souza Costumes locais
“Pulando de um mourão da cerca que ia da lavoura até o açude da infância, o mundo parecia meu.”Rodrigo Levino Dias estranhos
“E eu já havia esquecido como é ruim correr atrás de algo que paga o amor com a fuga.” Ada LimaAs letras são ingratas…
“As três meninas que me visitam ficaram todo o tempo puxando as reduzidas mini-saias, atraindo, pelo gesto insistente, meu olhar distraído para a palpitante topografia exibida.” Câmara CascudoNa ronda do tempo
“Afinal eu era um corpo estranho naquele arraial secular de meninos xarias. Era um canguleiro.”Homero Homem Cabra das Rocas
“Recusando-me colaborar com o Satanás blandicioso, sorrio e digo, mentalmente: Vai Baixar Noutro Terreiro, Exu!” Câmara Cascudo Ontem
“Provocar o anjo no homem, significa uma insatisfação contra a ordem do Ser.” Walflan de Queiroz O testamento de Jó
“A puerilidade para uns é ciência para outros.” Câmara Cascudo História da cidade do Natal
“Doze milênios de arte poética foram compendiados num singular aroma, semelhante a jasmim, mel e vinagre.” Alex de Souza Planetas obliterados
VERSO
“Vi um luar de brotos que choravam/ na pele alvo/lustrosa da resina,” Homero Homem “Lua nova”
“Toco-te as formas, no teu corpo hábito/ De onde o meu corpo, terra minha, veio.” Palmyra Wanderley “Deus te salve, Natal!”
“Teu sexo/ haste em que sou flor” Diva Cunha “Teu sexo…”
“e eu ávido cavalo te cavalgo montaria do meu amor” Luís Carlos Guimarães “Noturno”
“o amor não faz pendão” Carlos Gurgel “O amor”
“Gero todas as coisas que giram/ Gero todas as coisas que passam” Iracema Macedo “Ciclo”
“Eu serei um poeta novo/ chegado a um mundo caduco” Dorian Gray Caldas “Canto”
“Quando a seca verde/ assolava o sertão/ meu avô plantava sonhos” Bosco Lopes “Seca verde”
“Eu fiz do Céu azul minha esperança/ E dos astros dourados meu tesouro…” Auta de Souza“Celeste”
“a nós, sonhadores, permitiu-se a fuga/ o devaneio, o itinerário Napoleão de Paiva “a flor do pesar”
“gosto do ponto que parte.” Carlos Gurgel “Mobiliário”
“quero partir levando nos meus braços/ a paisagem que bebo no momento.” Zila Mamede “Partida”
“Se bebes ao mar,/ tens o rio esperando/ só pra te afogar.” Lívio Oliveira “Poucos haikais…”
“Como podes querer que eu me contente/ se o reino todo padece?” Iracema Macedo “Ardil”
“naquele tempo/ eu não conhecia a palavra/ epifania” Adriano de Sousa “Nudez”
“Toda miséria que eu tinha,/ Vivi/ Não sobramos nada.” Alex Nascimento “Miss Otis”
“o artista que se preza/ não prega seu manifesto/ para os chefes mão de rato.” Lucinha Morena“Aos órgãos culturais”
“Será minha palavra a pedra impura/ e a primeira a partir, por atirada.” Jarbas Martins “Soneto da palavra impura”
“Razão, Razão, martelo do Diabo,/ Que fizeste dos meus ídolos?” Esmeraldo Siqueira“Iconoclasta”
“Como é que eu vou alegar inocência/ Diante de um júri de penitenciários?” Alex Nascimento“Perdas e danos”
“Vamos, irmãos, eu que estou reparando, de retrato, esse quadro que se alonga ao longo da parede.” João Lins Caldas “A casa nos conta…”
“Meu Deus, estendei sobre mim tua mão/ E então poderei entender o silêncio” Walflan de Queiroz“Oração”
“A partir de hoje/ meu nome é silêncio.” Ada Lima “Epitáfio”
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FILHOS DE LORIVAL ELOGIAM SUA PESONALIDADE



Por Marília Rocha

homem honesto e de valor. Assim é a definição dos filhos a personalidade de Lourival Lúcio da Silva, que faleceu após um ataque cardíaco na madrugada desta quarta-feira (23). O dono do Bar do Lourival, na Avenida Deodoro, freqüentado por grandes nomes da sociedade de Natal, tinha boas amizades e era elogiado pelos seus filhos pela honestidade e bom carater.

“A honestidade e a perseverança do meu pai no trabalho e na vida é o grande exemplo que fica. Ele era um bom pai de família, tinha boas amizades que cultivou por todos esses anos”, declara emocionado o filho Leonardo Lúcio da Silva.

Ele contou que no início, o pai abria o Bar do Lourival de segunda a segunda e que ele tinha verdadeira paixão pelo local. “O bar para ele era tudo. Ele abria todos os dias as portas para receber os amigos e contar estórias”, afirma.

Foto: Elpídio Júnior
"A honestidade e a perseverança do meu pai no trabalho e na vida é o grande exemplo que fica", declara emocionado o filho Leonardo Lúcio da Silva.

Com uma vida marcada pelas amizades, Lourival Lúcio atuou no Banco do Povo e na Maçonaria, mas sempre gostou mesmo de cuidar do Bar. “Eu tinha um espírito muito alegre, cativador de muitas amizades”, conta Leonardo.

Mas a trajetória de 86 anos de vida de Lourival não era composta só de boemia, ele levava a sério os ensinamentos dos grandes nomes da sociedade que freqüentavam o bar nas últimas décadas e por isso, sempre se preocupou com a educação dos seus oito filhos.

Foto: Elpídio Júnior
"Meu pai é um exemplo de vida, de trabalho e de honestidade", disse o outro filho, que estava bastante emocionado.

Lourival está sendo velado no cemitério Morada da Paz, em Emaús e será enterrado às 17h, no mesmo local.

Bar do Lourival
Funcionando há 45 anos no mesmo local, o Bar do Lourival se tornou a “Universidade da Deodoro”. Isso porque costumava receber a “boemia” de Natal, estudantes que hoje são políticos, empresários, jornalistas ou simplesmente amantes da nostalgia - vários deles até hoje frequentam o bar.

Fonte: nominuto.com

sábado, 19 de junho de 2010

ORIGEM DAS FAMÍLIAS SOARES E MACEDO


Clique nas imagens para visualizar melhor.

A família Soares de Macedo é uma das mais antigas so Assu e que mais poetas teve. Daquela família o que mais se destacou na poesia, nas letras açuenses, foi João Nathanael de Macedo que imortalizou-se no soneto dedicado ao Açu (no dia em que aquela cidade comemorava o seu Centenário. 100 anos que ganhou foros de cidade.  Naqueles versos que se tornou notório, João Natanael compara a bondade do povo assuuense, "há um pedaço do céu dentro do mundo".

Postado por Fernando Caldas

Nota: Documentos cedidos pela açuense Genilda Soares de Macedo Varela.

ASSU ANTIGO

Rua Ulisses Caldas (Macapá) em época de enchente. Salvo engano a  casa da esquerda para direita era de propriedade de João Alfredo. Hoje está assentado uma moderna residência. E a casa vizinha, penso eu, era onde morava o grande poeta João Lins Caldas.

Postado por Fernando Caldas

AS INLECENÇAS - Manoel Rodrigues de Melo

(Extraído de Várzea do Açu, paisagens, tipos e costumes do Vale do Açu, IBRASA/MEC, 1979)

O Nordeste tem uma longa e respeitável tradição de louvores aos Santos do Agiológio Católico, sinal do apego e da devoção que o povo tem pelas coisas da Religião.

Este nobre sentimento de amor a Deus, manifestado de mil modos pela gente do Nordeste, não é exclusivo nem peculiar a esta região. É de todo o Brasil que nasceu e tem vivido à sombra maternal e acolhedora da Igreja Católica.

O mesmo fenômeno já notara Sarmiento em relação ao seu povo quando fala na religiosidade do homem argentino.

No Rio Grande do Norte esse sentimento é inato ao coração do homem. Aluízio Alves notou-o quando mencionou, bem vivas e acesas, na alma do povo angicano, as reminiscências das incelenças.

E agora, penetrando melhor a alma e o coração do povo açuense, vejo que as suas manifestações de religiosidade surgiram ali com os primeiros colonizadores que pisaram o chão dadivoso da terra amiga e generosa.

Os terços e as novenas, entrecortados de benditos, ladainhas e rezas, culminavam sempre com os beijas invariáveis, sob os estouros e papoucos dos fogos do ar e dos foguetões.

Não só isto.

As incelenças, cantadas e disseminadas por toda a região do Baixo Vale, eram uma forte reminiscência do povo da região.

Joaquim Rodrigues Ferreira, meu parente e velho batedor de terços e novenas da região, traz a sua preciosa colaboração a este ensaio, copiando três tipos de incelenças que definem e caracterizam bem o espírito devoteiro do povo da várzea.

Ei-Ias a seguir:

Uma incelença da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre nasceu o Sacrário
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
Visitar as Almas que vão para a Glória
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por uma incelença que está se rezando.

Duas incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
Visitar as Almas que vão para a Glória.
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por duas incelenças que estão se rezando.

Três incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre Nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
A visitar as Almas que vão para a Glória.
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por três incelenças que estão se rezando.

Quatro incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
A visitar as Almas que vão para a Glória.
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por quatro incelenças que estão se rezando;

Cinco incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
A visitar as Almas que vão para a Glória.
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por cinco incelenças que estão se rezando.

Seis incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
A visitar as Almas que vão para a Glória. Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por seis incelenças que estão se rezando.
Sete incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre Nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora

A visitar as Almas que vão para a Glória.
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por sete incelenças que estão se rezando.
Oito incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre Nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
A visitar as Almas que vão para a Glória.
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por oito incelenças que estão se rezando.

Nove incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
A visitar as Almas que vão para a Glória.
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por nove incelenças que estão se rezando.
Dez incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
A visitar as Almas que vão para a Glória.
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por dez incelenças que estão se rezando.

Onze incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
A visitar as Almas que vão para a Glória.
Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por onze incelenças que estão se rezando.
Doze incelenças da Virgem do Rosário
Que do vosso ventre Nasceu o Sacrário.
O Sacrário aberto, o Senhor saiu fora
A visitar as Almas que vão para a Glória Alma ou Alma!
Por quem estais esperando?
Por doze incelenças que estão se rezando.

(Segunda)
Uma incelença .
Que nos dê o paraíso
Adeus irmão, adeus
Até dia de juízo.
(E vai repetindo as mesmas palavras até o número doze)

(Terceira)

Uma incelença .
A Nossa Senhora das Dores.
Os Anjos lá do céu
Cantando louvores.
(E vai repetindo as mesmas palavras até o número doze)

Transcrito por Fernando Caldas

sexta-feira, 18 de junho de 2010

POESIA RELIGIOSA

Meu Deus, estendei sobre mim tua mão
E então poderei entender o silêncio,
Então poderei andar sobre as águas do mar.

Meu Deus estendei sobre mim tua mão,
E então poderei compreender teu verbo,
Então poderei olhar os lírios do campo.

Meu Deus, fazei-me ouvir de novo tua voz,
Para que eu responda aos que vierem de Sabá
E me restitua integral e perfeito a ti.

(Do livro "O Testamento de Jó", 1965, de Walflan de Queiroz, poeta potiguar.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

POETAS, ESCRITORES E INTELECTUAIS

(Fascículo, 14, Educação e Cultura, Tribuna do Norte)

Poetas, Escritores e Intelectuais

A vida intelectual, no Rio Grande do Norte, estava ligada ao jornalismo político. E a "modinha", no dizer de Câmara Cascudo, representava a "exteriorização literária".

O mesmo autor descreve o contexto da época: "os poetas ficavam na classe populesca dos improvisados ou dos modinheiros, versos eram musicados e cantados nas serenatas, acompanhados pelos vilões sonoros".

Alguns poetas que se destacaram na época foram Miguel Vieira de Melo (1821-1856), Gustavo da Silva (1832-1856), Rafael Aracanjo da Fonseca (1811-1882), etc.

O primeiro jornal do Rio Grande do Norte, o "Nordeste", foi fundado pelo padre Francisco Brito Guerra, em 1832.

Depois, João Manuel de Carvalho, fundou o primeiro órgão de imprensa de caráter literário, chamado 'O Recreio'.

Outros jornais foram surgindo com maior ou menor duração, revelando para a comunidade diversos jornalistas e intelectuais: Joaquim Fagundes (1857-1877) e José Teófilo (1852-1879), por exemplo.

Na década 1870 - 1880, os bailes, que eram mensais, se transformaram em locais onde as pessoas cantavam e declamavam poesias.

Merece destaque uma potiguar que passou vinte e oito anos na Europa e se tornou célebre pela sua luta a favor do soerguimento da mulher, sendo igualmente, uma grande escritora. Dionísia Gonçalves Pinto, mais conhecida pelo seu pseudônimo Nísia Floresta, nasceu no sítio Floresta, em Papari (hoje Nísia Floresta, em sua homenagem), no dia 12 de outubro de 1810, falecendo na França, em Rouen, a 24 de abril de 1885. A sua bibliografia é ampla: "Daciz ou a Jovem Completa" (Rio, 1847), "Itineraire d'un voyage en Allemagne" (Paris, 1857), "A Mulher" (Londres, 1856), etc.

Falando sobre Nísia Floresta, Maria Eugênia M. Montenegro classificou-a como "ilustre pensadora e idealista, a autodidata, a revolucionária, a enfermeira, a jornalista e abolicionista e republicana, que pregava a igualdade das províncias e das casas. "(Revista Brasília, no LXX, abril - maio de 1996).

Constância Lima Duarte publicou, em 1995, um livro sobre a vida e obra de Nísia Floresta, onde constata "que a história de Nísia Floresta não se limita às primeiras páginas onde apresento dados específicos referentes a sua vida e obra. Nem termina realmente ao final da análise do último texto. Se cada um deles introduz dados, revela traços de sua personalidade, de suas lutas, de suas obsessões, de seus conflitos, a figura de Nísia Floresta Brasileira Augusta fica por ainda se compor, a partir de tudo isso que aí está, e de tudo o mais, que teima em se manter oculto aos nossos olhos".

Luís Carlos Lins Wanderley é o autor de "Mistério de um Homem", em dois volumes. É apontado por alguns como sendo o primeiro romance escrito no Rio Grande do Norte.

Isabel Urbana de Albuquerque Gondim nasceu, provavelmente, em 1839, também em Papari. Foi professora, poetisa e a primeira historiadora do Estado. Escreveu várias obras, como 'Sedição de 1817, na Capitania do ora Estado do Rio Grande do Norte"(1919), "O Sacrifício do Amor" (1919), "Lira Singela" (1933), etc.

No movimento abolicionista, brilhou Segundo Wanderley.

Vem, depois, a geração do Oásis que, como disse Câmara Cascudo, "nasceu literalmente com o advento republicano". Dessa fase se destacaram dois irmãos: "Henrique Castriciano e Auta de Souza.

Henrique Castriciano, bacharel em Direito, muito viajado, e possuidor de uma grande cultura, chegou a ser vice-governador do Estado. Como disse Romulo Wanderley, foi "jornalista, escritor, crítico, impões-se aos seus contemporâneos pelo talento, pela cultura e pela inspiração poética".

São seus os seguintes versos:

"Ah! Como é triste o aboio! Ah, como é triste o canto sem palavras - tão vago - a saudade exprimindo.
Das selvas do sertão, no mês de junho rindo.
Pelos olhos azuis das crianças, enquanto
No tamarinho verde, asas abertas, trina
À beira dos currais, o galo de campina!
Auta de Souza, poetisa, escreveu apenas um livro, "Horto", com várias edições.
A poesia "Meu Pai", começa assim:
"Desce, meu Pai, a noite baixou mansa
Nem uma nuvem se vê mais no céu:
Aninham-se aqui no peito meu,
Onde, chorando, a negra dor descansa".

Os primeiros teatros de Natal foram barracões de palha, construídos no local onde hoje é a praça Gonçalves Lêdo. Todos os três foram destruídos pelo fogo.

Os grupos de amadores, contudo, não desanimam. "Representavam em teatrinhos improvisados", disse Câmara Cascudo.

O comerciante João Crisóstomos de Oliveira fundou o Teatro de Santa Cruz, localizado na atual João Pessoa, em 1880. Não dava lucro. Os amadores se apresentavam de graça. Falando sobre a importância desse teatro, Câmara Cascudo fez o seguinte comentário: "De 1880 em diante o Santa Cruz reúne todas demonstrações literárias da terra. Com a abolição aí se funda a Libertadora Natalense. Com a República, aí discursaram os tribunos, Olinto Meira, Braz de Melo, Nascimento de Castro, Augusto Severo, Pedro Velho. Nas cisões políticas, aí acampam os oposicionistas com o Clube Republicano 15 de novembro. Ali a companhia de José de Lima Penante recebeu aplausos e deixou saudades".

No dia 17 de abril de 1894, caiu a cobertura do teatro que desapareceu nesse momento.
O século XX é a frase da Oficina Literária, onde se destacaram Francisco Cavalcanti, Jorge Fernandes, Clementino Câmara.

Um grande poeta dessa geração foi Manoel Virgílio Ferreira Itajubá, que nasceu em Natal, escrevendo versos como os que se seguem:

"Vi-te. Era noite. A lua decorada
Brilhava nas paragens luminosas
E a noite estava toda embalsamada,
Porque exalavam no canteiro as rosas".

No dia 29/3/1902, foi fundado o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, por um grupo de intelectuais, entre eles, Vicente Lemos, autor do clássico "Capitães Mores e Governadores do Rio Grande do Norte". Faziam parte do instituto Luís Fernandes, Manoel Dantas,. Pedro Soares e tantos outros. O instituto publica, ainda hoje, uma revista. O seu atual presidente é o advogado Enélio Lima Petrovich.

O Teatro Carlos Gomes foi inaugurado em 1904, no primeiro governo de Alberto Maranhão. O ilustre político, não satisfeito, ao assumir o governo pela segunda vez, promoveu grandes reformas no teatro que hoje tem o seu nome. Câmara Cascudo descreveu que "nasceu outro teatro, amplo, confortável, arejado, moderno".

No início do século, o coronel Francisco Justino de Oliveira Cascudo fundou "A Imprensa" (1914-1926), que teria brilhante trajetória. O Centro Polimático (1920-1924) lançou uma revista que publicava importantes estudos, que segundo Humberto Hermenegildo de Araújo, foi "de valor fundamental para a compreensão do processo de criação de uma consciência, digamos "potiguar". "Apareceu também uma revista feminina, chamada Via Láctea (1914-1915), onde se destacaram Palmira e Carolina Wanderley.

Foi uma época de grande efervescência literária, onde brilharam nomes como Nascimento Fernandes, Anfilóquio Câmra, Armando Seabra, Jayme Wanderley. Segundo Humberto Hermenegildo de Araújo, "publicaram-se, naquela década, alguns títulos que ainda hoje são de fundamental importância para a compreensão do início da nossa vida literária: "Alma patrícia" (1921) e "Joio" (1924), ambos de Luís da Câmara Cascudo; "Poetas Rio-Grandenses do Norte" (1922), de Ezequiel Wanderley", "Versos" (1927), de Lourival Açucena'e "Terra Natal" (1927), de Ferreira Itajubá".

Câmara Cascudo, atendendo a um apelo da Federação das Academias de Letras, com um grupo de amigos e intelectuais, fundou a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, em 14/11/1936, na sede do Instituto de Música, sendo eleito Henrique Castriciano, presidente. Entre os fundadores da academia, podem ser citados os seguintes intelectuais: Adauto Câmara, Otto de Brito Guerra, H. Castriciano, Edgar Barbosa, Antonio Soares de Araújo, Nestor dos Santos Lima, Januário Cicco, Floriano Cavalcanti, Lu;is Gonzaga do Monte.

O atual presidente dessa academia é o advogado Diógenes da Cunha Lima.
A partir do século XX, surgiram vários jornais, em diversos municípios do Rio Grande do Norte. Em Açu: "O Alphabeto" (1917), "A Cidade" (1901 a 1908), "Jornal do Sertão" (1928), "O Vale (1937). Em Caicó: "A Folha" (1928), "Jornal de Caicó" (1930), "O Seridó" (1900-1901), "A Verdade" (1933). Em Macau: "Folha Nova" (1913), "Gazeta de Macau" (1909), "O Imparcial" (1918), "O Nacionalista" (1959), "A Voz de Macau" (1951). Em Mossoró: "Jornal do Oeste" (1948), "A Palavra" (1926), "O Trabalho" (1926), "Desfile" (1946).

A "Coleção Mossoroense" tem editada uma série muito grande de livros, prestando, assim, uma efetiva colaboração ao desenvolvimento cultural do Estado. Publicou "Notas e Documentos para a História de Mossoró", de Luís da Câmara Cascudo; "Lampião em Mossoró", de Raimundo Nonato; "Um possível caso de telegonia entre os nossos indígenas", de Jerônimo Vingt Rosado Maia, etc.

De Açu, brilha Maria Eugênia Montenegro. Natural de Lavras (MG), se integrou no movimento literário potiguar. Publicou livros de poesias ("Azul Solitário') e, inclusive, um de ficção filosófica ("Alfar, A que Está Só").

Pertence às academias de letras de vários Estados e à do Rio Grande do Norte.

De Macau, Edinor Avelino, jornalista, colaborou em diversos jornais da capital ("A Imprensa", "A República", "A Opinião" e "Democrata") e em outros do interior: "Folha Nova" (Macau), "A Cidade" (Açu), "O mossoroense" (Mossoró).

No poema "Macau", considerado como sendo sua obra-prima, escreveu:

"A minha terra, calma e boa, trago-a nas cismas de saudade em que ando atento,
contemplando-a com os olhos cheios d'água.
nos grandes vôos do meu pensamento.
É das mais ricas terras pequeninas.
Apraz-me repetir, quando converso;
possui alvas e esplêndidas salinas,
as melhores salinas do universo".

De Ceará-Mirim, três nomes. Nilo Pereira, que tece, entretanto, uma grande atuação em Pernambuco, onde foi diretor da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco, com extensa bibliografia, podendo se citados: "O destino das Faculdades de Filosofia na Universidade" (Natal, 1957), "Humanismo de Luiz de Camões" (Recife, 1957) e "Evocação do Ceará-Mirim" (Recife 1959), etc.

José Sanderson Deodato Fernandes de Negreiros, poeta, jornalista, quando foi eleito para a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, era o mais jovem daquela instituição. Trabalhou na "Tribuna do Norte", "Diário de Natal", sendo também, redator e repórter de duas revista do Sul do País, "Manchete" e "Visão".

Autor de "Ritmo da Busca" (1956) e "Lances Exatos" (1966), é também de sua autoria a poesia "O gesto":

Despe o corpo, tatuado de
relâmpagos. Ensarilhas ventos
ao som da ternura e apunhalas
o horizonte. Mas dentro de ti,
o coração canta, além.
do remoto mar das tapeçarias.
Deitaste o pão e água em minha
solidão, e amo-te por me teres
amado pelo próprio amor
desprotegida, ó incendiária do repouso".

Edgar Barbosa, formado em Direito, no Recife, em 1932, trabalhou em vários jornais: "A República", "O Debate", "A Ordem", etc. Foi fundador da Faculdade de Filosofia e seu primeiro diretor. Escreveu, entre outros livros: "História de uma campanha (1936), "Três Ensaios" (Recife, 1960), "Imagens do Tempo" (Natal, 1966).

De Nova Cruz, Diógenes da Cunha Lima Filho, poeta, advogado, professor, ex-reitor da UFRN, ex-presidente da Educação e Cultural do Estado, publicou "Lua Quatro Vezes Sol" (1967), "Tradição e Cultura de Massa" (1973), "Câmara Cascudo, um homem feliz", etc.

Em "Memórias das Águas", diz Diógenes da Cunha Lima:

"O espectro do rio foge
Quando dorme o Potengi.
Sua memória lavada
Em muitas águas desliza
Das nascentes do verão".

De São Vicente, D. José Adelino Dantas, com grande atuação no Seridó. Foi bispo de Caicó, nomeado pelo papa Pio XII, em 1952. Colaborou no jornal "A Ordem". Depois, foi nomeado bispo de Garanhuns (PE) e, a seguir, de Rui Barbosa, na Bahia.

Pertenceu à Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, tendo publicado "A Formação do Seminarista"(1947), "Homens e Fatos do Seridó Antigo" (1962), "O Coronel de Milícias Caetano Dantas" (S/Data).

Falando sobre D. Adelino Dantas, disse Sanderson Negreiros: "pesquisador que se debruça sobre o documento faz isso com amor e sabedoria, com calor humano e absoluta sinceridade de propósitos".

Em abril de 1963, o governo Aluízio Alves inaugurou a Fundação José Augusto que funcionou inicialmente "como faculdade para os cursos de Jornalismo, Sociologia e Política e Escola Superior de Administração, além de manter o Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais e a Gráfica Manibu. Somente a partir de 1968, com a mudança do Estatuto, é que a Fundação passa a fazer o trabalho de fomento à cultura potiguar, exercendo um papel semelhante ao de uma Secretaria de Cultura estadual".

"Presente na vida cultural do Estado, desde a edição de livros, promoção de eventos, até a preservação do patrimônio histórico, a Fundação José Augusto também detém a guarda e manutenção de importantes prédios e instituições, como o Forte dos Reis Magos e o Memorial Câmara Cascudo, a Biblioteca Pública Câmara Cascudo, Museu Café Filho e o de Arte Sacra".

"O teatro Alberto Maranhão, onde funciona uma Escola de Danças, o Instituto de Música Waldermar de Almeida, com mais de 500 alunos matriculados, são outras entidades geridas pela Fundação José Augusto, presidida pela segunda vez pelo jornalista Woden Madruga (a primeira gestão ocorreu de 1987 a 1990)".

"Uma Orquestra Sinfônica em plena atividade, que realiza concertos oficiais, populares e educativos mensais, sempre trazendo ao Estado renomados solistas, um coral (Canto do Povo), com reconhecimento nacional e no exterior, tendo representado o Brasil em 1995 em temporada na Alemanha, França e Itália, onde se apresentou para o papa João Paulo II, são outros dos orgulhos da Fundação José Augusto".

"Na atual administração, vários projetos de sucesso têm sido desenvolvidos, como o Projeto Seis e Meia, que é apresentado todas as terças-feiras, às 18h30, no Teatro Alberto Maranhão, sempre com um cantor local e um nacional. Esse projeto, que tem uma média de público, por sessão de 620 pessoas, é no estilo do extinto Projeto Pexinguinha, que foi realizado em todo o País na década de 70. Por ele já passaram artistas como Paulinho da Viola, Leila Pinheiro, Jamelão e Sivuca, entre tantos outros.

"Na luta para revitalizar os grupos e artistas populares, foram dadas indumentárias, instrumentos, oportunidades de apresentação em Natal e fora do estado, e criado o Projeto Chico Traíra, que edita e distribui com os autores de jovens e contemporâneos. Edita ainda o jornal cultural "O Galo", mensalmente, promovendo Salões de Artes Plásticas e de Humor e dando apoio às atividades teatrais, seja através da apresentação do teatro brasileiro, como Amir Haddad". (Documento fornecido pela Asssessoria de Imprensa da Fundação José Augusto - 1997).

Postado por Fernando Caldas

FRADE DE ASSÚ É NOMEADO BISPO PARA NOVA DIOCESE DE SALGUEIRO

A nomeação do frei Magnus Henrique Lopes como bispo da recém-criada diocese de Salgueiro, em Pernambuco, foi comemorada durante toda a manhã por amigos e familiares. O pai do frade, seu João Gregório, disse que o fato é motivo de satisfação para toda a família.
As felicitações vinham até mesmo de Roma. A notícia veio de surpresa e foi dada durante um evento da igreja no Convento Santo Antônio, em Natal, hoje (16) pela manhã. “É uma grande surpresa pra gente. Realmente, ninguém estava esperando”, confessa a irmã, Salete Lopes Ferreira.
Natural de Assu, na região Oeste do Estado, o frei Magnus, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, já morou em Pernambuco, onde formou-se em Filosofia e Teologia, e em Maceió, onde cursou Psicologia. Há menos de um ano, retornou de Roma, onde fez um mestrado em Teologia Moral. Agora se prepara para um importante passo na vida religiosa: ser bispo de uma nova diocese.
O convite para ser bispo de Salgueiro, em Pernambuco, foi feito há um mês, depois de frei Magnus ser chamado à Brasília pelo Núncio Apostólico, o embaixador do Vaticano no país. Mas a resposta positiva só foi dada uma semana depois, após muita oração. Durante esse tempo, sigilo absoluto sobre a novidade, divulgada hoje para o mundo, pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
“Fico feliz, porque neste dia o Santo Padro, o Papa Bento XVI, pela sua benevolência erigiu a nova diocese de Salgueiro, recebi a nomeação como primeiro bispo. Estou deixando a minha província por um tempo, porque vou para prestar este serviço à Igreja, onde estarei até os meus 75 anos. Então, tudo estará nas mãos de Deus”, declarou o novo bispo.
No dia 31 de julho, o bispo eleito completa 45 anos, 21 dedicados à Igreja. O novo caminho é visto pelo religioso como uma nobre e desafiadora missão. “É novo, é desafiador, porém, pela graça de Deus, com certeza os ensinamentos e a presença do Espírito Santo conduzindo a nossa vida”, completa frei Magnus.

REGIStrando

BNB REALIZA OFICINAS DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS PARA EDITAL DE CULTURA

A participação é gratuita e as inscrições serão feitas nos locais de realização dos eventos 30 minutos antes do início das oficinas

Artistas, produtores, gestores culturais e demais interessados em inscrever propostas na edição 2011 do Programa BNB de Cultura - Parceria BNDES poderão participar de oficinas de elaboração de projetos em seis cidades norte-rio-grandenses. O primeiro evento ocorrerá em Natal, das 14h30 às 17h30 da próxima segunda-feira (21), no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP).

João Câmara, Apodi, Assú, Jardim do Seridó e Santo Antônio receberão as oficinas nos dias 22/06, 30/06, 01/07, 07/07 e 08/07, respectivamente. A participação é gratuita e as inscrições serão feitas nos locais de realização dos encontros 30 minutos antes do início das oficinas.

Ao todo, a iniciativa contemplará 54 cidades na área de atuação do BNB (Nordeste, mais norte de Minas Gerais e Espírito Santo). Com essa ação, o Banco visa oferecer maiores oportunidades de acesso aos recursos financeiros do Programa, que, desde a edição passada, conta com a parceria do BNDES.

De acordo com o gerente do Ambiente de Gestão da Cultura do Banco do Nordeste, Tibico Brasil, o objetivo é “facilitar e estimular a participação do maior número possível de proponentes, além de fornecer orientações pertinentes à elaboração dos projetos diretamente aos interessados”.

Inscrições começam 19 de julho

O período de inscrição dos projetos para o Programa BNB de Cultura será de 19 de julho a 13 de agosto deste ano, mediante entrega de seis vias impressas do formulário de inscrição. Ele deve estar devidamente preenchido com letra legível, digitado ou datilografado, assinado por responsável pelo projeto e acompanhado de seis cópias de cada anexo indicado no formulário. O formulário e todas as informações necessárias aos proponentes estão disponíveis no portal do Banco do Nordeste.

No Rio Grande do Norte, a entrega deverá ser feita na Superintendência Estadual do BNB (Av. Antônio Basílio, 3006 – Ed. Lagoa Center, loja 35C – Lagoa Nova, Natal-RN), de segunda a sexta-feira, no período de 10h às 16h, ou pelos Correios, com remessa para o mesmo endereço, como correspondência registrada com Aviso de Recebimento – AR (considerada a data de postagem), em envelope devidamente identificado.

No período de 16 a 29 de agosto, todos os projetos inscritos passarão por uma análise técnica, para verificar quais estão habilitados para a fase de seleção. Serão considerados desabilitados os que apresentarem inconsistências e não atenderem às exigências previstas no edital. O resultado deverá ser divulgado no dia 30 de novembro.

Patrocínio cultural

O Programa BNB de Cultura é uma linha de patrocínio direto do Banco do Nordeste, com a parceria do BNDES, para apoio à produção e difusão da cultura nordestina, mediante seleção pública de projetos. Existente desde 2005, o Programa já patrocinou mais de 130 iniciativas no Rio Grande do Norte, com recursos superiores a R$ 2,1 milhões.

Em 2011, BNB e BNDES destinarão o montante de R$ 6 milhões para pelo menos 225 propostas nas seguintes áreas: música (com dotação de R$ 1,25 milhão), literatura (R$ 800 mil), artes cênicas (R$ 1,1 milhão), artes visuais (R$ 800 mil), audiovisual (R$ 800 mil) e artes integradas ou não-específicas (R$ 1,25 milhão).

Calendário de Oficinas no Rio Grande do Norte:

Natal

Data: Segunda-feira, 21/06/2010
Horário: 14h30 às 17h30
Local: Teatro de Cultura Popular Chico Daniel – TCP (Rua Jundiaí, 641 – Tirol)

João Câmara
Data: Terça-feira, 22/06/2010
Horário: 08h30 às 11h30
Local: Auditório da Casa de Cultura (Praça Monsenhor Freitas, Centro. Ao lado da Igreja Matriz)

Apodi
Data: Quarta-feira, 30/06/2010
Horário: 08h30 às 11h30
Local: Auditório da Casa de Cultura - (Praça Francisco Pinto. Ao lado da Prefeitura)

Assú
Data: Quinta-feira, 01/07/2010
Horário: 08h30 às 11h30
Local: Auditório do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (Rua 24 de junho, S/N, em frente ao SESC)

Jardim do Seridó
Data: Quarta-feira, 07/07/2010
Horário: 08h30 às 11h30
Local: Auditório da Agência do BNB (Rua Dr. Otávio Lamartine, 400, Ed. J. Medeiros, Centro)

Santo Antônio

Data: Quinta-feira, 08/07/2010
Horário: 08h30 às 11h30
Local: Auditório do Centro de Convivência dos Idosos (Rua Cecílio Clemente Costa, S/N, São Domingos)

(Tribuna do norte. Caderno Viver).

O ÁLBUM

PEDACINHO D CÉU, o álbum, será lançado nesse final de semana na cidade do Assú.

Sem tentar concorrer com os nomes dos craques da Copa do Mundo, meu amigo Jeová Júnior vai propiciar a nós assuenses e a todos que freqüentarem os últimos dias do São João do Assú a oportunidade ímpar de conhecer pessoas e instituições que das mais diversas formas possíveis e imaginárias contribuíram ou contribuem no sentido de pensar e/ou fazer um Assú propositivo e afortunado.

Concebido e vindo a luz com um nome poético - PEDACINHO DO CÉU, o Album estar a depender da ajuda dos céus para ficar prontinho até o final dessa semana, e eles ajudarão - será apresentado ao público assuense no próximo domingo, durante a realização do Almoço de São João. Mas com um pouquinho a mais de colaboração dos céus, quem sabe, um dia antes a gente já não possa estar na Praça a colar figurinhas e a falar de nossa cidade? Tudo é possível!!

Só prá provocar um pouquinho de curiosidade, vou lhes contar um pouquinho do que contem o PEDACINHO DO CÉU: uma página inteira dedicada a Rádio Princesa do Vale e esta logicamente, traz uma bela homenagem ao grande e inesquecível radialista J. Keuller. Não só Dona Brígida vai se emocionar não, viu.

Tem também páginas dedicadas as nossas instituições públicas, tais como: Prefeitura, Câmara, CDL, Foro, Delegacia... Geeennnte, tem muita coisa mesmo, imagine só que tem uma pagina pra se colar as figurinhas dos blogueiros da cidade do Assú. Aaahh meu Deus!!!

Mas calma, o PEDACINHO DO CÉU a ser lançado nesse final de semana é apenas um pedacinho mesmo, a segunda edição promete fazer o resgate da história da cidade e a terceira... bem... voces nem imaginam o tamanho da imaginação do meu amigo Jeová Júnior!

Portanto, vamos nos preparar para sujar nossas mãos e mexericar, sem culpas. Tem coisa melhor?

Escrito por Ana Valquiria

terça-feira, 15 de junho de 2010


SEGUNDA-FEIRA, 5 DE NOVEMBRO DE 2007


PERSONALIDADE CULTURAL - ESCRITORA MARIA EUGÊNIA MONTENEGRO


(Do blog Vivicultura)

RECORDAÇÕES DE UMA POETISA MINEIRA – ASSUENSE, ESCRITORA, CRONISTA, TROVADORA, CONTISTA, POETA , ARTISTA PLÁSTICA E IMORTAL.

Nascida em terra mineira, precisamente em Lavras / Minas Gerais, Maria Eugênia Maceira Montenegro dividiu - se entre Minas e Assu, no Rio Grande do Norte, quando conheceu e casou – se com o engenheiro agrônomo - Nelson Borges Montenegro.
Escritora por talento e vocação, Gena (como era mais conhecida) começou a escrever aos 12 anos (os leitores reconhecerão essa assertiva, num dos seus últimos livros, prefaciado por Lúcia Helena Pereira e intitulado: “LAVRAS - TERRA DE LEMBRANÇAS* (um romance de suas reminiscências entre Minas e o Rio Grande do Norte).
Além de escritora, poetisa, cronista, trovadora, contista, exímia cozinheira e artista plástica de sensibilidade bastante apurada, Maria Eugênia era uma mulher de extraordinária capacidade narrativa, daí eu ter lhe cognominado como Historiadora do Vale do Assu.
Escreveu seu primeiro livro na década de 60: “Saudade, Teu Nome É Menina” e não parou mais, até o dia do seu encantamento, com mais de 80 anos de idade, deixando títulos brilhantes como “Alfar, A Que Está Só”, “Perfil De João Lins Caldas”, “A Andorinha Sagrada De Vila Flor”, “ Lembranças E Tradições De Assu”, “A Piabinha Encantada e outras histórias”, “Porque o Américo ficou lelé da Cuca”?, Lourenço. O Sertanejo” e outras obras.
Integrou várias antologias regionais e nacionais, tanto da AJEB da qual foi Delegada Regional (1980 a 1989), como de outras entidades. Foi Presidente do Conselho Regional dos Direitos e das Minorias, em Assu / Rn e Prefeita do município de Ipanguaçu (1972 – 1976), numa administração irrepreensível, era integrante da Academia de Trovas do RN.


DENTRE OS SEUS INÚMEROS POEMAS DESTACAMOS:

O SOLUÇO DA SEMENTE

Eu ouvi a semente chorar dentro de mim
E ouvi seu choro manso e morno,
De furtivas lágrimas rolando pelos rios d´alma
Como adornos de uma cascata inexistente.
Eu ouvi o soluço da semente
E o seu anseio fremente de vida.
-Se não nasceste, semente de minha vida,
É porque carregas o destino de não viver.
Estás dentro de mim, na tristeza do não ser,
Sempre viva! Eternamente viva,
Como as sementes que cresceram e deram frutos!


LÁGRIMAS

Lágrima!
Pérola salgada,
A rolar, desesperada,
Pelos sulcos da face.

Amálgama de sal e água,
A rolar, sempre sentida,
Pelo salso mar da mágoa!



FLOR DO AMOR

Quero te ofertar a flor
Dos beijos que plantei em tua boca.
Tem o perfume suave do amor
E a ternura de almas se encontrando.

Quando vires a flor entreaberta,
Lembra - te, querido amor,
Das lágrimas que a regaram.

E sentirás, quando beijá - la,
Um amargo sabor de sal
Que as pétalas trêmulas captaram.

A DANÇA DAS HORAS

As horas começam a dançar pela manhã.
Esfregam os olhos no orvalho
E dançam um balé matinal,
Nas searas crescendo,
No arrulhar dos pássaros,
Nos filhotinhos nascendo.
Lá fora as crianças vão correndo para as escolas,
Mamãe olhando as horas chama os meninos.
- Onde está a menina - moça?
- Com o namorado lá fora,
Olhando o balado das horas.
Não se cansam de dançar as horas,
É noite! É dia! É novamente noite! Novamente dia!
E as horas dançando nas auroras,
Nas noites de luar,
Nas manhãs douradas,
Acompanhando as espigas ao sol,
Das sementes plantadas!
Os vaga - lumes não dormem,
Piscam a noite inteira e batem palmas piscando,
À dança das horas.
À dança das horas!
Há uma nova menina - moça,
Novos campos de flores brotando,
A vida eterna passando,
Cantando seus ternos amores
E as borboletas noivando
E as horas dançando...
Quando o bailado vai terminar?
Meus cabelos já estão brancos,
Meu vestido de noiva já não tem cor,
Meu menino cresceu,
Tanta gente morreu...
E as horas dançando, dançando...
Até quando? Até quando?



segunda-feira, 14 de junho de 2010

VIAJANDO O SERTÃO (VI)





"Igrejas e Arte Religiosa"



"(...) A mania da remodelação, para pior, ataca os nervos de muita gente bem intencionada. Creio firmemente que, na futura reforma dos Seminários brasileiros, reforma com as luzes dum Dom Xavier de Matos, seria indispensável a cadeira de Arte Religiosa Brasileira para ensinar aos nossos párocos um mais profundo amor pelos monumentos legados pelas gerações desaparecidas. Sirva de exemplo o altar da Igreja de Serra Negra, em madeira talhada, simples e emocionante prova de fé, quebrado, inutilizado, destruído, para ser substituído por um altar de tijolo ou cimento, sem significação, e história." (p.24)
"Durante o séc. XIX quase todas as Igrejas foram ‘remodeladas’, raspados seus frontispícios venerados, riscadas em sua fisionomia própria e coberta de cal e enfeites, de acordo com a inteligência do tempo. Ninguém lembrou a necessidade de conservar a fachada tal como estava e fazer adaptações interiores, respeitando os altares quando dignos de mantença. Igreja é prova de Fé e esta não se abala. Mesmo assim, com a devastação, ainda possuímos alguns documentos curiosos que atestam a revivência do barroco durante fins do séc. XVIII e XIX." (p.25)
"De todos os templos que visitei no Estado (nos 35 municípios que conheço) quase todos são incaracterísticos e já não podem ser apontados como estilos. São testemunhas de várias tarefas de consertos onde as mais estranhas mãos desviaram de seu trilho a espírito arquitetural daquelas capelas seculares." (p.25)
"As Igrejas outras, Açú, Ceará – Mirim, Moçoró, Caicó, não têm história em suas paredes, vinte vezes alteradas. Tanto podiam estar no nordeste brasileiro como na Austrália. Nada têm de nós porque as despojaram de suas heranças de cem anos." (p.26)
"Onde podemos ver a sobrevivência do barroco e a justiça dos que o dizem ter sido o verdadeiro estilo religioso brasileiro, é nos portões dos Cemitérios que escaparam à fúria modernizadora dos estetas." (p.26)
"Um outro ponto melancólico é a substituição dos Santos de madeira pelos Santos de gesso e de massa, bonitos e róseos com uma lindeza extra-humano." (p.26)
"(...) Deixaram o destronado orago num altar lateral enquanto o novo assumia o posto de honra no altar-mor. O Povo, habituado com o primeiro, continua obstinadamente, a recorrer ao conhecido padroeiro, dando-lhe orações e pagando promessas." (p.26-27)
"(...) Um trabalho de madeira é sempre um esforço pessoal, direto, próprio. Fique feio ou deslumbrante, o caso é que é um produto da inteligência humana, sem o auxílio da máquina polidora. Um trabalho de gesso, cartão ou massa, sempre bonito, é sempre o resultado frio da máquina, produto igual, monótono em sua beleza, sem calor da mão humana, rude ou apta, mas sincera." (p.27)
[Termina a crônica afirmando]
"Se os Santos de madeira são impróprios para o Culto ao menos conservemo-los como objetos de Arte, Arte primitiva, tosca, iniciante, mas Arte fiel a si mesma." (p.27)

Luiz da Cãmara Cascudo

VIAJANDO O SERTÃO (VI)


"Igrejas e Arte Religiosa"
"(...) A mania da remodelação, para pior, ataca os nervos de muita gente bem intencionada. Creio firmemente que, na futura reforma dos Seminários brasileiros, reforma com as luzes dum Dom Xavier de Matos, seria indispensável a cadeira de Arte Religiosa Brasileira para ensinar aos nossos párocos um mais profundo amor pelos monumentos legados pelas gerações desaparecidas. Sirva de exemplo o altar da Igreja de Serra Negra, em madeira talhada, simples e emocionante prova de fé, quebrado, inutilizado, destruído, para ser substituído por um altar de tijolo ou cimento, sem significação, e história." (p.24)
"Durante o séc. XIX quase todas as Igrejas foram ‘remodeladas’, raspados seus frontispícios venerados, riscadas em sua fisionomia própria e coberta de cal e enfeites, de acordo com a inteligência do tempo. Ninguém lembrou a necessidade de conservar a fachada tal como estava e fazer adaptações interiores, respeitando os altares quando dignos de mantença. Igreja é prova de Fé e esta não se abala. Mesmo assim, com a devastação, ainda possuímos alguns documentos curiosos que atestam a revivência do barroco durante fins do séc. XVIII e XIX." (p.25)
"De todos os templos que visitei no Estado (nos 35 municípios que conheço) quase todos são incaracterísticos e já não podem ser apontados como estilos. São testemunhas de várias tarefas de consertos onde as mais estranhas mãos desviaram de seu trilho a espírito arquitetural daquelas capelas seculares." (p.25)
"As Igrejas outras, Açú, Ceará – Mirim, Moçoró, Caicó, não têm história em suas paredes, vinte vezes alteradas. Tanto podiam estar no nordeste brasileiro como na Austrália. Nada têm de nós porque as despojaram de suas heranças de cem anos." (p.26)
"Onde podemos ver a sobrevivência do barroco e a justiça dos que o dizem ter sido o verdadeiro estilo religioso brasileiro, é nos portões dos Cemitérios que escaparam à fúria modernizadora dos estetas." (p.26)
"Um outro ponto melancólico é a substituição dos Santos de madeira pelos Santos de gesso e de massa, bonitos e róseos com uma lindeza extra-humano." (p.26)
"(...) Deixaram o destronado orago num altar lateral enquanto o novo assumia o posto de honra no altar-mor. O Povo, habituado com o primeiro, continua obstinadamente, a recorrer ao conhecido padroeiro, dando-lhe orações e pagando promessas." (p.26-27)
"(...) Um trabalho de madeira é sempre um esforço pessoal, direto, próprio. Fique feio ou deslumbrante, o caso é que é um produto da inteligência humana, sem o auxílio da máquina polidora. Um trabalho de gesso, cartão ou massa, sempre bonito, é sempre o resultado frio da máquina, produto igual, monótono em sua beleza, sem calor da mão humana, rude ou apta, mas sincera." (p.27)
[Termina a crônica afirmando]
"Se os Santos de madeira são impróprios para o Culto ao menos conservemo-los como objetos de Arte, Arte primitiva, tosca, iniciante, mas Arte fiel a si mesma." (p.27)

Cãmara Cascudo

LUIZ CARLOS LINS WANDERLEY – 1831/1990, foi um dos primeiros poetas do Assu, primeiro médico e romancista do Rio Grande do Norte. Foi também...