[Notas de Laélio Ferreira no volume da Obra Reunida de Othoniel Menezes (OM), (no prelo]
Luis da Câmara Cascudo (Natal-RN, 30.12.1898-Natal/RN, 30.07.1986). Escritor, advogado, professor, jornalista, historiador, etnógrafo, sociólogo, folclorista, orador, boêmio, conversador admirável. Foi, na década de 1930, líder dos integralistas no Rio Grande do Norte, tendo ocupado a chefia provincial do movimento. Poeta bissexto, é o maior nome das letras do Rio Grande do Norte, no cenário nacional. Contemporâneo e amigo de OM, chamava-o, carinhosamente, de Titó. Cascudinho, para Othoniel. No Ronda do tempo (um diário), escreveu, em 23 de abril de 1969: Soube, hoje, do falecimento de Othoniel Menezes, a 19, no Rio de Janeiro. Relações de 1917. Um poeta maior da minha terra. Vai para o meu oratório, o Gente Viva que estou pensando escrever. A morte existe, os mortos não!
Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão (Macaíba/RN 02.10.1872-Angra dos Reis/RJ, 01.02.1944). Foi governador do Rio Grande do Norte de 1900 a 1904. Irmão de Pedro Velho e Augusto Severo, deputado federal, procurador-geral. Aposentou-se no cargo de inspetor do Instituto Nacional do Sal. OM, coincidentemente, anos depois, ocuparia as mesmas funções, nelas também se aposentando, por invalidez.
Antônio Pinto de Medeiros (Manaus/AM, 09.11.1919-Rio de Janeiro/ RJ, 09.02.1970). Poeta, jornalista, professor, advogado, crítico literário, conferencista. Renunciou à imortalidade da Academia Norte- Rio-Grandense de Letras. Publicou Um poeta à-toa (Imprensa Oficial RN) e Rio do vento (mesma editora).
Aderbal de França (Natal/RN, 05.01.1895-Natal/RN, 25.05.1974). Jornalista, fundou a revista Cigarra e o vespertino Diário de Natal. Estudou medicina na Bahia e no Rio de Janeiro, não concluindo o curso. Foi funcionário do IBGE. inventou a crônica social no RN, sob o pseudônimo de Danilo. Estilo leve, escorreito, elegante. Amigo pessoal, contemporâneo de OM. Um dos fundadores da ANRL.
João Café Filho (Natal/RN, 3.02.1889- Rio de Janeiro/RJ, 20.02.1970). Advogado provisionado, sindicalista, jornalista; deputado federal, tribuno. Chegou à Presidência da República. Esqueceu os amigos. OM, embora decepcionado com o ex-companheiro de imprensa e de lutas políticas, conservou a dedicatória.
Sílvio Piza Pedroza (Natal/RN, 12.03.1918- Rio de Janeiro/RJ, 19.08.1980. Prefeito de Natal (1947-1951), governador do Estado (1951- 1954). Admirador de OM, fazia em companhia de Luis da Câmara Cascudo, Jayme Wanderley, Evaristo de Souza e outros serenatas à porta do poeta, cantando a Praieira. Foi quem autorizou a publicação, pelo Departamento de Imprensa Estadual, da primeira edição deste livro, em 1952.
José Jannini (Natal/RN, 18.05.1902-Rio de Janeiro/RJ, 28.07.1974). Poeta natalense, de família italiana, radicado no Rio de Janeiro no final da década de 1920. Radialista, compositor, jornalista e cantor, amigo de infância de OM. Jin Kiang era o pseudônimo com que assinava haicais. (poemas japoneses curtos, compostos por três versos, o primeiro e oterceiro com sete sílabas e o segundo com cinco sílabas, sem rimas. Sua popularidade no Japão ocorreu no século XVII). Em 1926, na companhia de Damasceno Bezerra e OM, participou de inconseqüente noitada boêmia que marcaria, por toda a vida, o poeta da Praieiras ,fazendo-o perder o importante cargo de primeiro oficial da Secretaria-Geral do Governo Estadual, à época do titular José Augusto Bezerra de Medeiros.
Aprígio Soares da Câmara. Educador, jornalista, nascido em Santana do Matos/RN. Foi professor em Jardim do Seridó, em Mossoró e Natal. Bacharel formado na Faculdade de Direito do Recife, em 1924, mudou-se, mais tarde, para São Paulo, obtendo largo sucesso como advogado de grandes empresas. Faleceu, na capital paulista, em 06 de fevereiro de 1967.
Antônio Antídio de Azevedo (Jardim do Seridó/RN, 13.06.1887- Natal/RN 05.11.1975). Poeta de Zelações; tabelião em Natal. Prefeito de sua terra. De tão honesto e cioso, renunciou ao mandato às vésperas de receber a cota federal dos municípios. Um dos seus filhos é o professor emérito da UFRN, Max Cunha de Azevedo.
Jaime da Nóbrega Santa Rosa. Cientista norte-rio-grandense, nascido em Acari, Doutor em Química, pioneiro no estudo da energia solar no Brasil, um dos fundadores do Instituto Nacional de Tecnologia e da SPBC. Em 1939, fundou a RQI-Revista de Química Industrial, órgão da Associação Brasileira de Química, entidade de classe por ele idealizada. Historiador,
Jaime é autor do livro Acari: Fundação, História, Desenvolvimento, Rio de Janeiro: Pongetti, 1974.
Cipriano Bezerra Galvão Santa Rosa (Acari/RN, 27.10.1857- Acari/RN, 14.02.1947).Tenente-Coronel da Guarda Nacional, agropecuarista, político abolicionista e republicano, foi juiz Distrital e governou o Município do Acari cinco vezes (intendente e prefeito). Por afinidade, aparentado com OM. Sua segunda esposa, Maria Iluminata da Nóbrega, era prima legítima da madrasta de Othoniel, Celsa Bezerra de Araújo Fernandes (de Melo). Pai do Químico Jaime da Nóbrega Santa Rosa (v.cit.) e do servidor público Janúncio da Nóbrega Santa Rosa, casado com Elodia Menezes Santa Rosa sobrinha e afilhada do poeta, filha de Francisco Menezes de Melo.
Heráclio Pires Fernandes (Jardim do Seridó/RN, 28.06.1882-Natal/ RN, 22.03.1958). Nascido na Fazenda Três Irmãos, farmacêutico, presidente da Intendência de Jardim do Seridó (prefeito). Seridoense tipo “fibra longa”. Músico amador, tocava flautim.
José Vitoriano de Medeiros. No ano de 1913, em Natal, na 3ª. Companhia Isolada de Caçadores (à época, o único estabelecimento militar do Exército Nacional, no Estado), foi colega de farda de OM, ambos na graduação de terceiros-sargentos. Dois ou três anos mais velho do que o poeta, vem dessa época a longa e profunda amizade entre os dois companheiros.
Mais tarde, na perseguição à Coluna Prestes, no Piauí, encontrar-se-iam novamente: Vitoriano, capitão da Polícia Militar; Othoniel, como segundo-sargento do Exército. No início da década de 1930, Vitoriano, no posto de major, comandou a Polícia Militar do Estado. O oficial que se reformou como coronel era homem de leituras, conhecendo bons autores e, também, poeta e músico. É o autor da Marcha Oficial da PM Potiguar (letra e música).
Manoel Bezerra de Araújo Galvão Júnior (Acari/RN, 11.12.1862- Acari/RN, 25.12.1948). Conhecido como Seu Coquinho (era irmão do Coronel Cipriano Santa Rosa), senhor das terras da Fazenda Pedra e Cal, no Acari. Cidadão respeitado, foi um apaziguador de questões, um juiz sem diploma.
Aldo Fernandes Raposo de Melo, político importante, primo do governador Rafael Fernandes temido e odiado por cafeístas e comunistas que perseguiu obstinadamente, ferozmente, quando secretário-geral do Estado depois do Levante de 1935, banqueiro e professor universitário (foi vice-reitor da UFRN). Enviuvando de uma das filhas do patriarca Jerônimo Rosado Maia (1861-1930), reluzente administrador e pioneiro incontestável do progresso de Mossoró/RN, como era o costume à época, procurou o sogro para pedir-lhe a mão de uma das cunhadas mais jovens. O rico industrial, fundador da dinastia dos Rosados, paraibano de
Pombal/PB afeito aos costumes sertanejos, como o cearense Manoel Pimenta, acima citado por OM, não concordou com o pedido do genro. O primo do governador terminou casando com outra das filhas do Dr. Jerônimo por sinal, nascida um pouco antes da pretendida noiva.
Eduardo Medeiros. Nasceu no município de Touros/RN, em 21.06.1887. Faleceu em Natal/RN, em 20.06.1961. Certos pesquisadores dizem que ele nasceu em Ceará-Mirim. Músico renomado, clarinetista e violonista, mestre de banda, compositor festejado, parceiro de OM, autor da música da Serenata do pescador, a consagrada Praieira. Morador tradicional do bairro das Rocas, em Natal. Ver, adiante, nesta Obra reunida, O cancioneiro de Othoniel Menezes, do pesquisador Cláudio Galvão.
Antônio Pedro Dantas. Tonhéca Dantas (Carnaúba dos Dantas/RN, 13.06.1870-Natal/RN, 07.02.1940). Músico seridoense, compositor, professor, militar e maestro. Autor da mais apreciada valsa do Rio Grande do Norte: Royal Cinema. Essa valsa famosa embora pouco conhecidos tem versos do poeta Bezerra Júnior.
Joaquim Bezerra Júnior (Natal/RN, 10.05.1890-Natal/RN, 18.09.1957). Poeta e romancista. Publicou dois livros de versos, Poemas da selva e Natureza. Deixou vários produções inéditas, entre elas, dois romances. Foi soldado, marinheiro e funcionário da Inspetoria das Obras Contra as Secas. Homem sofrido, bondoso, modesto e fidalgo no trato. Foi quem sugeriu a OM levar os versos da serenata do pescador (mais tarde apelidada de Praieiras) para Eduardo Medeiros musicar. Ele próprio foi destacado autor de modinhas, em parceria com o festejado maestro canguleiro.
Clarice da Silva Pereira Palma (Natal/RN, 12.04.1911-Natal/RN, 11.08.1996). Poeta, teatróloga, atriz, agitadora cultural. Fundou o Clube dos Sete (teatro), a Academia dos Compositores, a Federação Norte-Rio-Grandense de Autores Teatrais e a Ordem dos Músicos (Seção do RN). Filha do poeta Francisco Palma. Ver nota no ensaio sobre Ferreira Itajubá.
Felipe Néri de Brito Guerra (Augusto Severo/RN, 26-05-1867- Natal/RN, 04.05.1951). Deputado estadual, procurador, desembargador, secretário de Estado, educador, sociólogo, historiador. Publicou Secas contra as secas, Ainda o Nordeste, A seca de 1915, O porto de Mossoró, História militar do Rio Grande do Norte.
Cristóvão Bezerra Dantas (Natal/RN, 19.04.1900-Natal/RN, 17.10.1965). Engenheiro-agrônomo, foi secretário de Estado, jornalista, deputado federal. Publicou, em 1921, Lavoura seca do Rio Grande do Norte (Imprensa Oficial). Foi da ANRL.
Jayme dos Guimarães Wanderley (Natal/RN, 06.06.1897-Natal/ RN, 24.02.1986). Poeta, jornalista, bacharel em Farmácia, teatrólogo, radialista, professor, servidor público, amigo de infância de OM. Pertenceu às duas Academias de Letras do Estado e foi presidente e fundador do Clube de Poesia de Natal. Prolífico, trabalhador incansável, publicou mais de vinte livros, deixando vasta obra inédita. Em certa fase da longa existência, afligido por problemas pessoais, entregou-se à boêmia desregrada. Espírito superior, amparado pelos amigos e pela segunda esposa, sobrepôs- se às dificuldades e viveu serenamente, trabalhando e produzindo até falecer aos 89 anos.
Antônio José de Melo e Souza (Nísia Floresta/RN, 24.12.1867-Recife/ PE, 05.07.1965). Político, escritor, professor, advogado, jornalista, senador. Foi, duas vezes (1907-1908, 1920-1924), secretário de Estado e governador do RN. Escrevia às vezes sob dois pseudônimos: Polycarpo Feitosa e Francisco Macambira .Publicou vários livros, entre eles Gizinha, romance (Tipografia do Anuário do Brasil, 1939). OM trabalhou no seu Gabinete, de Secretário-Geral do Estado, no quadriênio 1920-1924. Foi nessa gestão promovido por Antônio de Souza de segundo a primeiro oficial da Secretaria (Casa Civil, hoje).
José Edinor Pinheiro Avelino (Macau/RN, 17.07.1898-Natal/RN, 10.03.1977). Um dos maiores poetas do Estado, no seu tempo. Em 1923, OM já o classificava como “a mais bela afirmação entre os novos. Eram amigos fraternos. Uma modinha de sua autoria, chamada Macau (música de Fernando Almeida), é considerada pelos macauenses como o hino da terra das salinas. Edinor, que foi funcionário autárquico federal, sofreu muito com a cegueira que o acometeu. Pertenceu à ANRL. Com o seu desaparecimento, substituiu-o, na mesma cadeira, o filho, Gilberto Avelino, também falecido.
Joaquim Teixeira de Moura. Referência velada, ferina, ao coronel da Polícia Militar do RN. Durante o relativamente curto período do governo (1928-1930) de Juvenal Lamartine de Faria (1874-1956), esse oficial notabilizou-se pela violenta repressão aos correligionários e à própria família do futuro presidente Café Filho, inimigo político do governador. Ficou célebre, quando tenente, em 1928, pelo frio assassinato de um certo Chico Pereira, acusado de roubo no interior do Estado e constituinte de João Café – que era advogado provisionado. Itamar de Souza, em A República Velha no Rio Grande do Norte, conta, com detalhes, a terrível façanha do militar. Outro escritor, Ivanaldo Lopes por sinal, filho de um outro coronel , no livro Oficiais da PM (1980), retrata Joaquim de Moura como quase perverso por obrigação do ofício, revelando que [...] às vezes, quando o sacrifício era próximo a núcleos residenciais, sepultava o bandido em cova rasa, ainda vivo, mas inerte, mantendo apenas a respiração ofegante de moribundo. Tanto assim era, que, em muitos casos testemunhados por transeuntes, as reações da vida faziam surgir do túmulo um braço ou uma perna, denunciador de alguém ali sepultado.
Postado por Fernando Caldas