terça-feira, 24 de março de 2015

MEU RELATO SOBRE O CARIRI CANGAÇO EM PRINCESA ISABEL – PB

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CUQUE PARA AMPLIAR AS FOTOGRAFIAS
CUQUE PARA AMPLIAR AS FOTOGRAFIAS
AUTOR – ROSTAND MEDEIROS
Neste último fim de semana, depois de uma ausência de quase cinco anos, voltei a participar de um dos eventos que fazem parte do Cariri Cangaço, desta feita realizado na cidade paraibana de Princesa Isabel.
Como está descrito no próprio site do Cariri Cangaço este é um evento com um formato específico; de caráter itinerante, que reúne a partir de uma programação plural, dinâmica e universal, personalidades locais, regionais e nacionais; do universo da pesquisa e estudo das temáticas ligadas ao Cangaço, Tradições e Histórias do Nordeste, em conferências e debates, visitas técnicas e acadêmicas; mostras de cinema, vídeo e documentários, exposições de arte, com lançamentos e feiras literárias. 
O Cariri Cangaço está em seu quinto ano de realização, como o maior e mais respeitado evento do gênero no país. Seu evento principal acontece a cada dois anos, tendo sua próxima edição marcada para o mês de setembro de 2015, na região do Cariri, sul do estado do Ceará, tendo como cidades anfitriãs; Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Aurora, Barro e Porteiras.
A caminho de Princesa Isabel
A caminho de Princesa Isabel
Mas voltando ao evento ocorrido entre a última quinta-feira (19 de março de 2015) e o último sábado (21), este teve como base a cidade de Princesa Isabel, na Paraíba, mas ocorreram visitas às cidades de São José de Princesa (PB) e Floresta (PE).
Casas antigas de Princesa Isabel
Casas antigas de Princesa Isabel
Nesta última o evento aconteceu mais especificamente na mítica comunidade de Nazaré do Pico, ou simplesmente Nazaré, de onde partiram os famosos Nazarenos, os mais ferrenhos inimigos do cangaceiro Lampião.  
NO LOCAL DA MORTE DO CANGACEIRO MEIA NOITE 
Fui convidado a seguir em viagem de Natal para Princesa Isabel pelo meu amigo Ivanildo Silveira, Promotor de Justiça com atuação na capital potiguar e possuidor de uma vasta biblioteca sobre temas relacionados a história do Nordeste. Após sete horas de viagem e uma rápida parada na cidade que acolheu o evento, seguimos para a cidade paraibana de Manaíra, onde tive o privilégio de me reencontrar com meu amigo Antônio Antas Dias.
Ivanildo Silveira e Antônio Antas em Manaíra-PB.
Ivanildo Silveira e Antônio Antas em Manaíra-PB.
Seu Antônio, como eu lhe chamo, é uma pessoa de memória privilegiada, conviveu por muitos anos com Marcolino Diniz e outras figuras que marcaram a história de sua região, como o cangaceiro Luís do Triângulo.
Após apresentá-lo a Ivanildo, seguimos em direção a região do Saco dos Caçulas, uma área rural atualmente pertencente ao município paraibano de São José de Princesa e que no passado foi um setor onde Lampião e seus cangaceiros  receberam muito apoio do fazendeiro Marcolino Diniz.
Região do Saco dos Caçulas
Região do Saco dos Caçulas
Foi nesta área que Lampião se recuperou de um grave ferimento recebido em 1924, onde ocorreu o mítico combate do Sítio Tataíra e a morte do valente cangaceiro Meia Noite (Sobre detalhes deste episódio ver – http://tokdehistoria.com.br/2013/08/14/a-historia-do-tiroteio-no-sitio-tataira-e-a-incrivel-resistencia-do-cangaceiro-meia-noite/ ).
Da esquerda para direita José Lopes, Manuel Lopes Filho, Rostand Medeiros e Antônio Antas Dias
Da esquerda para direita José Lopes, Manuel Lopes Filho, Rostand Medeiros e Antônio Antas Dias
Nesta ocasião tive a oportunidade, depois de oito anos, de me reencontrar com um grande amigo que tenho nesta região – Manuel Lopes Filho. Foi seu pai, Manoel Lopes, o conhecido “Ronco Grosso”, que assassinou Meia Noite dias após o combate da Tataíra.
Casa de "Ronco Grosso" no Saco dos Caçulas
Casa de “Ronco Grosso” no Saco dos Caçulas
“Ronco Grosso” era o braço direito do coronel José Pereira e nesta tarefa sangrenta contou com a ajuda de um homem acunhado de “Tocha” e outro parceiro chamado Anacleto. Eles deram cabo do valente cangaceiro por ordem de José Pereira. Meia Noite foi morto em uma pequena gruta no alto da Serra do Cuscuzeiro, não muito distante da Comunidade do Saco dos Caçulas.
Farda e armamento típico dos homens do coronel José Pereira
Farda e armamento típico dos homens do coronel José Pereira
Em 2007, na primeira vez que me encontrei com Manuel Lopes Filho, não tivemos condições de ir a este local, mas agora a oportunidade surgiu na nossa frente. Além do autor deste texto, dos amigos Ivanildo Silveira, Antônio Antas e Manoel Lopes Filho, este último nós apresentou seu irmão José, igualmente filho de Manoel Lopes, o “Ronco Grosso”.
Subindo a Serra Cuscuzeiro
Subindo a Serra Cuscuzeiro
O problema, pelo menos pra mim, foi a subida da serra, que variou entre 100 e 150 metros bem acentuados. Ando meio gordinho e não estava muito preparado para a tarefa. Já Ivanildo subiu tranquilamente e passou todo o tempo tirando o “meu couro” pela minha demora. Mas enfim eu cheguei ao alto!
A tal caverna na verdade é um abrigo formado por um conjunto de rochas graníticas onde, segundo Manuel Lopes Filho, existia uma cobertura feita de palhas de um tipo de coqueiro chamado catolé, comum na região. O abrigo era pequeno, mas discreto e dificilmente chamaria atenção de alguém nas redondezas. A visão do setor a partir deste conjunto de rochas é espetacular, cobrindo grande área da região do Saco dos Caçulas, proporcionando visão estratégica para quem se encontrava no lugar e possibilitando fugir ante a aproximação de inimigos.
Local da morte do cangaceiro Meia Noite
Local da morte do cangaceiro Meia Noite
Manuel Lopes Filho comentou que seu pai lhe disse que até tinha simpatia pelo “nêgo Meia Noite”, principalmente devido a sua valentia e coragem. Mas a ordem de José Pereira era mais do que clara e não poderia ser desobedecida.
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Quando o coronel José Pereira soube que “Ronco Grosso” estava tratando do ferimento de Meia Noite e dando a poio ao cangaceiro, como tinha feito com vários outros, disse que ele setes dias para trazer “as orelhas de Meia Noite”, ou senão as que seriam cortadas seriam as de “Ronco Grosso”.
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A aventura inesperada foi fantástica. Melhor ainda foi estar ao lado de pessoas simples, mas que possuem uma grande capacidade para narrar os fatos que foram contados pelas testemunhas de uma época onde o nosso Nordeste era bastante arcaico.
UM GRANDE ENCONTRO
A abertura do evento em Princesa Isabel aconteceu no Acqua Clube Hotel, onde se reuniram dezenas de pesquisadores de temas Regionalistas nordestinos vindos de dez estados brasileiros.
Junto a escritora Elane Marques, que recentemente lançou um livro sobre processo de Chico Pereira
Junto a escritora Elane Marques, que recentemente lançou um livro sobre processo de Chico Pereira
A principal atração na noite de quinta-feira foi a realização da conferência “Território Livre de Princesa” que teve como conferencista José Romero Cardoso, professor titular do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). Romero é meu amigo, a quem devo a realização de uma das minhas primeiras viagens de conhecimento do cangaço, fato ocorrido a mais de dez anos. A brilhante palestra de Romero teve como moderador Wescley Rodrigues e os debatedores Paulo Mariano e Juliana Pereira.
Junto com escritor Oleone Coelho Fontes, autor do consagrado livro "Lampião de Bahia", que se encontra em sua 9ª edição
Junto com escritor Oleone Coelho Fontes, autor do consagrado livro “Lampião de Bahia”, que se encontra em sua 9ª edição
Após a conferência, aconteceu a apresentação de Xaxado realizado pelo Grupo Cultural Abolição da cidade de Princesa Isabel. Houve igualmente exposição e comercialização de artigos, livros, lembranças e produtos relacionados ao Cangaço e temas Regionalistas. Encerrando a noite foi realizada na Praça Nathália do Espírito Santo uma seresta em homenagem ao violonista Canhoto da Paraíba.
Ao lado do curador do evento, Manoel Severo Barbosa
Ao lado do curador do evento, Manoel Severo Barbosa
No dia seguinte, sexta-feira, a conhecida “Caravana Cariri Cangaço”, seguiu em três ônibus para o distrito de Patos de Irerê, zona rural do município de São José de Princesa.
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No passado esta pequena e acolhedora cidade pertenceu ao município de Princesa Isabel, sendo o lugar berço de alguns dos troncos familiares mais tradicionais da Paraíba e do Nordeste: Os Marçal, Diniz, Florentinos, Dantas, Antas. Não muito distante de Patos de Irerê se encontra o que sobrou do famoso Casarão dos Patos, residência do Major Floro Diniz, pai da não menos famosa Xanduzinha e sogro do “Caboclo” Marcolino Diniz, eternizados na composição de Humberto Teixeira e na voz de Luiz Gonzaga.
"Caravana Cariri Cangaço"
“Caravana Cariri Cangaço”
Os pesquisadores receberam uma calorosa recepção organizada por Ângela Rubia Diniz Morais, a jovem prefeita de São José de Princesa. Na chegada estava uma banda de música composta de estudantes e ocorreu uma estrondosa apresentação do grupo de Bacamarteiros do Vale do Pajeú, de Santa Cruz da Baixa Verde, Pernambuco.
Chegada em Patos de Irerê
Chegada em Patos de Irerê
Na sequência os pesquisadores seguiram para a igreja de Patos de Irerê, dedicada a São Sebastião, onde o memorialista João Alberto Antas Florentino, ou João Antas, proferiu a palestra “Marcolino e Virgulino – Elos de um Passado Presente” sobre vários aspectos históricos relativos a comunidade de Irerê e ao Casarão dos Patos.
Bacamarteiros do Vale do Pajeú, de Santa Cruz da Baixa Verde, Pernambuco defronte a igreja dos Patos
Bacamarteiros do Vale do Pajeú, de Santa Cruz da Baixa Verde, Pernambuco defronte a igreja dos Patos
Nesta ocasião, como Guia de Turismo cadastrado pelo Ministério do Turismo e atual Secretário Geral do Sindicato dos Guias de Turismo do Rio Grande do Norte (SINGTUR-RN), realizei uma pequena fala onde apresentei o meu histórico de visitas aquela bela região, a minha preocupação com a recuperação do casarão histórico dos Patos e das inúmeras possibilidades turísticas ali existentes.
Dando meu recado
Dando meu recado
Depois o grupo seguiu para conhecer o local onde aconteceu em 1930 a fantástica história da tomada do Casarão dos Patos pelo sargento Clementino Quelé, o sequestro de Xanduzinha, o seu espetacular resgate pelos homens de Marcolino Diniz e a morte de dezenas de soldados da polícia paraibana, eu um dos episódios mais marcantes da chamada “Guerra de Princesa”.
Bamarcateiros disparando diante da Serra da Baixa Verde
Bamarcateiros disparando diante da Serra da Baixa Verde
Infelizmente o velho Casarão dos Patos está arquejando e prestes a cair o resto que ainda está de pé. Quando o conheci, na companhia do meu amigo Sérgio Dantas, ainda tinha muita coisa para se ver. Infelizmente hoje a situação é tristemente diferente.
Recentemente estive neste local histórico com a jornalista Bianca Vasconcelos, da TV BRASIL de São Paulo, onde realizamos uma parte de um episódio do programa Caminhos da Reportagem, mostrando antigas casas históricas abandonadas. Nesta ocasião eu estava ao lado de Seu Antônio Antas.
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Sei que não é fácil, mas espero que após a passagem da “Caravana Cariri Cangaço” possa haver um despertar do poder público em conjunto com os proprietários do local e outras pessoas da região, para uma mudança da situação do velho Casarão dos Patos.
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Além da preservação deste local ser de suma importância para o conhecimento das comunidades próximas sobre o passado da região, como profissional da área do turismo já percebi há certo tempo o quanto é possível criar possibilidades para utilizar turisticamente aquele histórico local.
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É inegável a proximidade da região de Patos de Irerê com o município serrano de Triunfo (cerca de 15 km), onde existe uma bem consolidada hotelaria e um número expressivo de visitantes a um local do interior nordestino que nas noites de inverno chega fácil aos 14°. Patos de Irerê e seu casarão com tantas histórias interessantes e intensa, poderia ser uma ótima alternativa de passeio na região.
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No retorno a Princesa Isabel nós visitamos o Palacete do coronel José Pereira. Este local eu também já conhecia, mas foi muito interessante a participação de descendentes de José Pereira apresentando esta casa histórica.
NA TERRA DOS NAZARENOS
No sábado pela manhã, no Acqua Clube Hotel, ocorreu a interessante apresentação da Companhia de Teatro Sound Clash, tratando da vida e morte de Lampião e Maria Bonita.
Apresentação da Companhia de Teatro Sound Clash, tratando da vida e morte de Lampião e Maria Bonita
Apresentação da Companhia de Teatro Sound Clash, tratando da vida e morte de Lampião e Maria Bonita
Além desta apresentação ocorreram duas interessantes  palestras.
Palestra “Maria de Lampião e as Mulheres no Cangaço”, proferida pelo historiador João de Sousa Lima, da cidade baiana de Paulo Afonso
Palestra “Maria de Lampião e as Mulheres no Cangaço”, proferida pelo historiador João de Sousa Lima, da cidade baiana de Paulo Afonso
A primeira foi “Maria de Lampião e as Mulheres no Cangaço”, proferida pelo historiador João de Sousa Lima, da cidade baiana de Paulo Afonso. A segunda foi “100 anos da Prisão de Antônio Silvino”, pelo pesquisador Geraldo Ferraz. João de Souza e Geraldo Ferraz são meus amigos, pelos quais tenho extrema admiração e respeito.
Palestra “100 anos da Prisão de Antônio Silvino”, pelo pesquisador Geraldo Ferraz
Palestra “100 anos da Prisão de Antônio Silvino”, pelo pesquisador Geraldo Ferraz
Na sequência seguimos viagem por 110 km em direção ao Pajeú pernambucano, cuja fronteira com a paraibana Princesa Isabel não é distante. Nosso destino era Nazaré do Pico, um distrito localizado na zona rural do município de Floresta.
Salvo engano Nazaré tem umas 1.000 pessoas morando por lá, mas é um lugar com tanta força histórica, com tantas ligações incríveis com o cangaço que me chama atenção. Ali moram os descendentes dos Nazarenos, os mais ferrenhos inimigos de Lampião.
Diante igreja de Nazaré
Diante igreja de Nazaré
Um dos que recepcionou a “Caravana Cariri Cangaço” foi Hidelbrando Nogueira Ferraz Neto, conhecido como Netinho Ferraz, que atendeu a todos da melhor maneira. Tanto Netinho como seus parentes são pessoas que tem um sentimento de extremo louvor e honra pelos seus antepassados Nazarenos. Eles usam muito a palavra “honra”, “família”, “respeito” e “devoção aos mais velhos que lutaram contra Lampião”.
Com o amigo Narciso Dias, no Sítio Jenipapo, com a Serra do Pico ao fundo da foto
Com o amigo Narciso Dias, no Sítio Jenipapo, com a Serra do Pico ao fundo da foto
Seguimos para o Sítio Jenipapo, a cerca de 5 km do centro de Nazaré, na estrada que liga esta comunidade a cidade de Betânia. Ali aconteceu o célebre desafio de Virgulino Ferreira da Silva e seus irmãos a João e Antônio Gomes Jurubeba.
Sítio Jenipapo
Sítio Jenipapo
Eram idos de 1919 e Virgulino, juntamente com seus irmãos, Antônio e Levino, acompanhado de outros cabras se aproximaram da fazenda Jenipapo onde estavam retelhando a casa João e Antônio Gomes Jurubeba, ao que Virgulino falou: “Benção meu padrinho!” se dirigindo a João que se encontrava em cima da casa, que respondeu imediatamente: “Não sou padrinho de cangaceiro…” 
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Esta resposta provocou a ira dos irmãos Ferreira, principalmente de Antônio que queria matá-los ali mesmo, mas foi contido por Virgulino.
Público presente na igreja de Nazaré
Público presente na igreja de Nazaré
Naquele dia era escrito mais um capítulo da novela de ódio e sangue entre os Ferreiras e o povo de Nazaré, ódio esse que se recrudesceria e teria repercussões anos a fio, inclusive com o incêndio e a depredação das propriedades Jenipapo e redondezas em 1926.
O curador do evento Cariri Cangaço Manoel Severo Barbosa, na igreja de Nazaré
O curador do evento Cariri Cangaço Manoel Severo Barbosa, na igreja de Nazaré
Mas o melhor é escutar a história por quem conhece bastante. Trago o vídeo que fiz com a narrativa de Rubelvan Lira, filho do falecido tenente da Polícia Militar de Pernambuco João Gomes de Lira, a quem conheci em 2006 e foi um dos Nazarenos que lutou contra Lampião nas caatingas nordestinas.
Na sequência a “Caravana Cariri Cangaço” seguiu para um local conhecido como Poço do Negro.
No Poço do Negro
No Poço do Negro
Ali, logo após as primeiras refregas entre os filhos de José Ferreira contra o vizinho Zé Saturnino, os Ferreiras acabaram mudando para o Poço do Negro, a cerca de 2 km do centro da vila de Nazaré. Ao se estabelecerem ali começaria um dos mais violentos e sangrentos conflitos que se tem notícia na historiografia do cangaço: Lampião contra os Nazarenos, Nazarenos contra Virgulino.
Junto a Cristina Amaral Lira, na casa do falecido tenente Gomes de Lima e com o Ivanildo Silveira
Junto a Cristina Amaral Lira, na casa do falecido tenente Gomes de Lima e com o Ivanildo Silveira
Encerramos o evento na igreja de Nazaré, onde Cristina Amaral Lira, filha do tenente João Gomes de Lira, fez uma comovente fala sobre a importância da preservação da memória dos combatentes Nazarenos e dos últimos dias de seu pai. Além disso, foi apresentado um interessante vídeo sobre os Nazarenos, com imagens rodadas em 1969.
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Em minha opinião o Cariri Cangaço no município de Princesa Isabel foi um grande sucesso, onde mais uma vez a figura do curador do evento, Manoel Severo Barbosa despontou na organização e na capacidade de conduzir pessoas de todo Brasil em favor da História do Nordeste.   

segunda-feira, 23 de março de 2015

A paixão é uma ilusão compartilhada.
Nela, enlouquecer
só vale a pena acompanhado.
Cristina Costa


domingo, 22 de março de 2015

ASSUENSES DAS ANTIGAS

Da direita: João MoacIr de Medeiros, Francisco Amorim e ACM, filho de Moacir. Medeiros era poeta, além de agente de publicidade no Rio de Janeiro (JMM Publicidade) e Amorim também era poeta, além memorialista, conhecido como o Biógrafo do Assu. Foto tirada no Centro de Assu, em 1972.
NOTURNO PARA TÂNIA

Se, durante a noite, não sentires, 
Cair sobre a tua face, uma lágrima,
Não, não sou.
Se, durante a noite, não ouvires,
O grito do pássaro pousando em tuas mãos,
Não, não sou.
Mas, se caminhares, pelo invisível,
E vires então o anjo inclinar-se sobre ti,
Sou eu, Tânia, sou eu.

Walflan de Queiroz

George Soares propõe ao Governo Política Estadual de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar


Revelando perfeita sintonia com as demandas e necessidades da Agricultura Familiar no estado do RN, o deputado estadual George Soares (PR) apresentou requerimento esta semana na Assembleia Legislativa, pleiteando ao Governo do Estado e à EMATER/RN que se institua em lei a Política Estadual de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar - PEAF. 

Segundo a proposição do parlamentar republicano, a PEAF tem como finalidade abastecer o estoque alimentar das escolas, estabelecimentos, autarquias, empresas públicas, restaurantes populares, unidades de saúde, programas do governo, ações de segurança alimentar/nutricional com produtos oriundos em porcentagem e de acordo com as safras da agricultura familiar produzida no estado.

"Hoje apenas 20% dessa demanda é atendida pelo Programa de Aquisição de Alimentos gerenciado pela EMATER. Nossa intenção é que pelo menos 50% desses produtos que o governo utiliza diariamente sejam obtidos da produção dos agricultores familiares do nosso Estado. Isso iria motivar os produtores rurais, aumentar a área de cultivo das lavouras e aquecer a economia das cooperativas de Agricultura Familiar de todo o RN. Temos o projeto elaborado e pretendemos, a título de contribuição do nosso mandato, formalizar esta sugestão ao governador Robinson Faria”, reiterou o deputado George Soares.

Assessoria de Imprensa do Deputado Estadual George Soares

ASSUENSES DAS ANTIGAS

Meus avós maternos chamados Maria Celeste e Fernando Tavares. Ambos tinham um parentesco familiar especial: eram primos-carnais ou primos-irmãos. Tiveram 22 filhos. Ele, meu avô, era comerciante e pecuarista em Assu/RN (comprava e vendia algodão e cera de carnaúba, dois produtos de grande valor econômico há muitos anos atrás), minha avó, administradora do lar, ou, de prendas domésticas como as mulheres de antigamente. Uma união feliz, respeitável, pena que não fora muito duradoura. Foram unidos até na morte, pois morreram juntos, voando, vitimados pela fatalidade a mais crua, num desastre aviatório do rio do Sal, em Aracaju/SE, no dia 12 de julho de 1951. Fica o registro.

Fernando Caldas


sábado, 21 de março de 2015

O TEMPO PASSA E A AMIZADE PERMANECE

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A vida é efêmera e o tempo passa rápido mas amizade permanece preservada com o passar dos dias entre estas duas criaturas:Ronaldo da Fonseca Soares e Abelardo Rodrigues Filho construíram uma trajetória Politica das mais resistentes no Vale do Açu.
Ambos assumiram a prefeitura de seus municípios em 1º de janeiro de 1983, para o exercício em que foram eleitos pela 1ª vez.
Ronaldo prefeito do Assu, repetiu essa façanha três vezes no comando do executivo da terra atualmente governada por Ivan Júnior. Elegeu-se tres vezes deputado estadual, suspendeu as chuteiras, deixando de disputar o voto popular, missão que transferiu para o filho George Soares que segue trajetória do pai e do avô Edgar Montenegro com dois mandatos consecutivos na assembleia legislativa.
Abelardo prefeito 5 vezes prefeito da sua amada e querida cidade de Alto do Rodrigues, ainda tem muita lenha pra queimar aquecendo a temperatura politica do grupo que lhe dá sustentação e apoia sua reeleição.
Neste diapasão cotidiano Ronaldo receberá logo mais na república do Pataxó a visita do amigo de longas datas para um dedinho de prosa e finalmente botar em dia as boas lembranças por eles vivenciadas.
Postado por Aluizio Lacerda

GEORGE SOARES PEDE A SENADORA FÁTIMA BEZERRA UM IFRN PARA A CIDADE DE JUCURUTU

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O deputado estadual George Soares (PR) apresentou requerimento esta semana na Assembleia Legislativa do RN, pedindo que a senadora Fátima Bezerra (PT) inclua o municipio de Jucurutu no Programa do Governo Federal e do Ministério da Educação que beneficia as cidades do país com uma unidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRN.
“Jucurutu é um município de grande demanda estudantil. O IFRN na cidade iria beneficiar centenas de alunos levando mais oferta de educação profissional e tecnológica de qualidade. O municipio fica em uma região estratégica e um Instituto Federal atenderia as demandas estudantis do Seridó, Vale do Açu e parte do Oeste potiguar.” Comentou o deputado George Soares.
Assessoria de Imprensa do Deputado Estadual George Soares
Quanto mais alta a sensibilidade, e mais sutil a capacidade de sentir, tanto mais absurdamente vibra e estremece com as pequenas coisas. É preciso uma prodigiosa inteligência para ter angústia ante um dia escuro. A humanidade, que é pouco sensível, não se angustia com o tempo, porque faz sempre tempo; não sente a chuva senão quando lhe cai em cima.
Fernando Pessoa - Livro do Desassossego

Da linha do tempo/face de TM


ASSU ANTIGO



Casa do Coronel Alfredo Soares de Macedo, da Rua Ulisses Caldas, bairro Macapá ou Lagoinha. Crédito da fotografia: Genilda Soares de Macedo Varela.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Ministro ouve servidores e apresenta diretrizes para a negociação

Nelson Barbosa diz que limite para o reajuste é a relação com PIB e o quanto de recursos a sociedade tem disponível
O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Nelson Barbosa, recebeu hoje em Brasília os representantes de 41 entidades representativas dos servidores públicos federais e de oito centrais sindicais. 
A reunião marcou o início do processo de negociação para a definição dos reajustes do conjunto do funcionalismo, que serão implementados a partir de 2016. Também serviu para a definição de um calendário de negociações, entre os meses de maio e julho – o mês de abril será reservado para o governo fazer os ajustes decorrentes do atraso na aprovação do Orçamento Geral da União.  

Foto: Guilherme Araújo
Durante as duas horas e meia de duração da reunião, cerca uma hora e 50 minutos foram dedicados a ouvir e anotar as reivindicações dos sindicalistas. Sucederam-se ao microfone 25 dirigentes representando 41 entidades e associações de servidores, e as oito principais centrais sindicais do país, entre elas a CUT e a CSP-Conlutas.
 
“O diálogo começa agora, ouvimos as várias demandas, algumas justificadas, outras que precisam ser bem analisadas. Mas, como qualquer demanda, há um ponto em comum: é preciso caber no Orçamento Geral da União”, explicou o ministro. “Dessa forma, é preciso estabelecer prioridades e isso vamos fazer”.
Nelson Barbosa deixou claro que a negociação será baseada em três premissas: 
1. O processo, centralizado no Ministério do Planejamento, será coordenado pelo secretário de Relações de Trabalho, Sérgio Mendonça, em articulação com as demais secretarias e ministérios. 

2. O governo deseja fazer um acordo por mais de um ano, para que haja previsibilidade para todos os envolvidos. 

3. Será mantida a diretriz dos anos anteriores, de promover redução gradual do gasto com a folha de pagamento em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). 
O gasto em relação ao PIB, conforme mostrou o ministro, vinha caindo desde 2003. Representava cerca de 4,8% do PIB em 2002 e foi de 4,2% em 2013. Mas no ano passado voltou a aumentar, atingindo o percentual de 4,3%.  
O esforço para que ocorra a redução gradual preconizada envolve também recuperar o crescimento do PIB, que desacelerou. “É a evolução da economia que determinará o espaço fiscal que a sociedade brasileira tem para pagar seu funcionalismo. Trabalhamos para recuperar o crescimento da economia o mais rapidamente possível, para assim reduzir o peso da folha de pagamento no Orçamento”, pontuou. 
PROPOSTA SINDICAL É DE 1% DO PIB 
A proposta apresentada pelos sindicalistas, de reajuste de 27,3%, equivale, segundo o ministro, a mais de 1% do PIB. “Não há espaço fiscal para atender de imediato”, assegurou Barbosa. “O reajuste dependerá da capacidade de crescimento da economia, de quanto a sociedade brasileira tem de recursos disponíveis para pagar seu funcionalismo”. 
O ministro lembrou que a despesa com o funcionalismo é segunda maior da União (após a Previdência), envolve mais de um milhão de servidores de diversas categorias e diferentes níveis técnicos. E que é composta não apenas de salário. Depende, também, do crescimento vegetativo da folha (valor que é acrescido todos os anos pela promoção e progressão dos servidores dentro da carreira) e da realização de novos concursos para repor a força de trabalho.
“Temos essas três demandas competindo entre si. A vegetativa não é uma que compete, mas temos de adequar com o ritmo de contratação de novos funcionários e o quanto podemos dar de reajuste salarial”.
GANHOS REAIS 
O secretário de Relações de Trabalho no Serviço Público, Sérgio Mendonça, destacou, na fala aos sindicalistas, que o reajuste de 27,3% pedido agora leva em conta apenas um período mais recente, sem considerar o período dos governos anteriores, quando houve ganho real. 
“Estou ciente de que temos que olhar o futuro. E vamos, realmente, negociar o daqui pra frente. Mas não podemos ignorar a política salarial que vem sendo praticada desde 2003, nem desconsiderar que nesse período houve ganho real de salários”, pontuou o secretário. 
Num breve resumo, ele lembrou que o processo de negociação entre 2003 – quando foi formalizada a Mesa Nacional de Negociação Permanente – e 2014, resultou na assinatura de 119 termos de acordo.
E nesse período, não apenas foi mantido o poder aquisitivo, como houve crescimento real da remuneração do conjunto dos servidores públicos federais.  Todos eles, ativos e aposentados, tiveram ganhos reais, acima da inflação.
Enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA medido pelo IBGE registrou o índice de 99% no período 2003/2014, as despesas de pessoal no Poder Executivo Civil tiveram incremento médio de 46% em termos reais (descontada a inflação do período).
http://www.servidor.gov.br/
Apaixonei-me assim,
muito antes do tudo,
muito além do depois.
Apaixonei-me
pelos teus erros,
descobri no teu sorriso,
e nos versejos da tua voz,
a alegria exposta
do teu olhar esquivo.
Apaixonei-me assim,
pelas tuas verdades,
pelas tuas intenções.
E amei tudo o que és,
e ainda hoje,
eu te tenho em mim guardado,
numa gaveta fechado
com forro de sonhos
e cadeado de ilusões.
Cristina Costa, poetisa portuguesa, de Portimão



Mujica recebe Leonardo Boff em sua Chácara


“Precisamos de uma cultura alternativa à cultura do capital. Ela não pode nos dar felicidade, pois, na ânsia de acumular, não nos sobra tempo para viver”. Para Leonardo Boff, conversa de quase 2 horas na casa de Mujica foi 'uma experiência de choque'. Confira o relato completo

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Pepe Mujica em sua chácara, nos arredores de Montevidéu
Leonardo Boff*
Participando de um congresso iberoamericano sobre Medicina Familiar e Comunitária, realizado em Montevidéu entre os dias 18 a 22 de março, tive a oportunidade sempre desejada de um encontro com o ex-presidente do Uruguai José Mujica. Finalmente foi possível no dia 17 de março por volta das 16:00 horas. Tal encontro deu-se em sua Chácara, nos arredores da capital Montevidéu.
Encontramos uma pessoa que vendo-a e ouvindo-a somos imediatamente remetidos a figuras clássicas do passado, como Leon Tolstói, Mahatma Gandhi e até com Francisco de Assis. Aí estava ele com sua camisa suada e rasgada pelo trabalho no campo, com uma calça de esporte muito usada e sandálias rudes, deixando ver uns pés empoeirados como quem vem da faina da terra.
Vive numa casa humilde e ao lado, o velho fusca que não anda mais que 70 km a hora. Já lhe ofereceram um milhão de dólares por ele; rejeitou a oferta por respeito ao velho carro que diariamente o levava ao palácio presidencial e por consideração do amigo que lho havia dado de presente.
Rejeita que o considerem pobre. Diz: “não sou pobre, porque tenho tudo o que preciso para viver; pobre não é não ter; é estar fora da comunidade; e eu não estou”.
Pertenceu à resistência à ditadura militar. Viveu na prisão por treze anos e por um bom tempo dentro de um poço, coisa que lhe deixou sequelas até os dias de hoje. Mas nunca fala disso, nem mostra o mínimo ressentimento. Comenta que a vida lhe fez passar por muitas situações difíceis; mas todas eram boas para lhe dar sábias lições e por e fazê-lo crescer.
Conversamos por mais de uma hora e meia. Começamos com a situação do Brasil e, em geral da América Latina. Mostrou-se muito solidário com Dilma especialmente em sua determinação de cobrar investigação rigorosa e punição adequada aos corruptos e corruptores do caso penoso da Petrobras. Não deixou de assinalar que há uma política orquestrada a partir dos Estados Unidos de desestabilizar governos que tentam realizar um projeto autônomo de país.
Isso está ocorrendo no Norte da África e pode estar em curso também na América Latina e no Brasil. Sempre em articulação com os setores mais abastados e poderosos de dentro do país que temem mudanças sociais que lhes podem ameaçar os privilégios históricos.
Mas a grande conversa foi sobre a situação do sistema-vida e do sistema-Terra. Aí me dei conta do horizonte vasto de sua visão de mundo.
Enfatizava que a questão axial hoje não reside na preocupação pelo Uruguai, seu país, nem por nosso continente latino-americano, mas pelo destino de nosso planeta e do futuro de nossa civilização. Dizia, entre meditativo e preocupado, que talvez tenhamos que assistir a grandes catástrofes até que os chefes de Estado se deem conta da gravidade de nossa situação como espécie e tomar medidas salvadoras. Caso contrário, vamos ao encontro de uma
tragédia ecológico-social inimaginável.
O triste, comentava Mujica, é perceber que entre os chefes de Estado, especialmente, das grandes potências econômicas, não se verifica nenhuma preocupação em criar uma gestão plural e global do planeta Terra, já que os problemas são planetários. Cada país prefere defender seus direitos particulares, sem dar-se conta das ameaças gerais que pesam sobre a totalidade de nosso destino.
Mas o ponto alto da conversa, sobre o qual pretendo voltar, foi sobre a urgência de criarmos uma cultura alternativa à dominante, a cultura do capital. De pouco vale, sublinhava, trocarmos de modo de produção, de distribuição e de consumo se ainda mantemos os hábitos e ‘valores’ vividos e proclamados pela cultura do capital. Esta aprisionou toda a humanidade com a ideia de que precisamos crescer de forma ilimitada e de buscar um bem estar material sem fim. Esta cultura opõe ricos e pobres. E induz os pobres a buscarem ser como os ricos. Agiliza todos os meios para que se façam consumidores. Quanto mais são inseridos no consumo mais demandas fazem, porque o desejo induzido é ilimitado e nunca sacia o ser humano. A pretensa felicidade prometida se esvai numa grande insatisfação e vazio existencial.
A cultura do capital, acentuava Mujica, não pode nos dar felicidade, porque nos ocupa totalmente, na ânsia de acumular e de crescer, não nos deixando tempo de vida para simplesmente viver, celebrar a convivência com outros e nos sentir inseridos na natureza. Essa cultura é anti-vida e anti-natureza, devastada pela voracidade produtivista e consumista.
Importa viver o que pensamos, caso contrário, pensamos como vivemos: a espiral infernal do consumo incessante. Impõe-se a simplicidade voluntária, a sobriedade compartida e a comunhão com as pessoas e com toda a realidade. É difícil, constatava Mujica, construir as bases para esta cultura humanitária e amiga da vida. Mas temos que começar por nós mesmos.
Eu comentei: ‘o Sr. nos oferece um vivo exemplo de que isso é possível e está no âmbito das virtualidades humanas’.
No final, abraçando-nos fortemente, lhe comentei: ‘digo com sinceridade e com humildade: vejo que há duas pessoas no mundo que me inspiram e me dão esperança: o Papa Francisco e Pepe Mujica’. Nada disse. Olhou-me profundamente e vi que seus olhos se emudeceram de emoção.
Saí do encontro como quem viveu um choque existencial benfazejo: me confirmou naquilo que com tantos outros pensamos e procuramos viver. E agradeci a Deus por nos ter dado um pessoa com tanto carisma, tanta simplicidade, tanta inteireza e tanta irradiação de vida e de amor.
*Leonardo Boff é filósofo, teólogo e escritor. Edição: Pragmatismo Político
http://www.pragmatismopolitico.com.br/

CULTURA:


Aconteceu ontem (17), durante a realização do II Seminário Educação do Campo, promovido pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), o lançamento do documentário ‘Mulheres da Lama’.
A produção do documentário é dos estudantes do curso de licenciatura Educação do Campo, Francisco Bezerra e Chagas Santos, sob a coordenação do professor Luiz Gomes. No filme é retratada a vida dentro do mangue de dona Terezinha de Jesus, uma senhora de 82 anos, que passou a vida dela catando mariscos em Porto do Mangue.

Produzido de forma artesanal, o documentário com 30 minutos de duração, surgiu a partir da elaboração de um artigo científico.

Presente na sessão de estreia, a protagonista do filme ‘Mulheres da Lama’, dona Terezinha de Jesus, aprovou e gostou de se ver no filme. “Achei muito bonito”, afirmou. Ela trabalha diariamente desde 1950 no manguezal do rio das Conchas, em Porto do Mangue, e de lá tira o sustento de toda a família.

A marisqueira revelou que acorda de madrugada, por volta das 3h, atravessa o rio sozinha, remando uma canoa para catar búzios, que é a fonte de renda e de alimento de toda a família.

No final da sessão de estreia, a protagonista do documentário recebeu das mãos do reitor José de Arimatea e do diretor do filme, Francisco Bezerra, uma comenda relativa ao lançamento da peça audiovisual.
Transcrito do 'Rabiscos do Samuel'.

Saudade é o meu nome

De:
clenio.caldas@gmail.com 

Filólogos informam que o termo “saudade” não existe e nenhum outro idioma, além do nosso, o português. Isso, claro, não significa que ninguém, além do brasileiro, sente saudades, mas, que outros não dispõem de uma exata palavra para exprimir esse sentimento. Mas, o que é saudade? Lendo o artigo anexo, encontrará uma definição simples e objetiva. Aquela pessoa que há tempos não vemos. Aquele familiar que já passou para a eternidade. Aquele amigo que um dia foi amigo. Aquele ou aquela colega de escola que há tempos não vemos. Enfim, saudade muitas vezes dói e como. É quando também encontramos oportunidade de repensar valores.

Que valor atribuímos a pessoas que verdadeiramente amamos? Ou, simplesmente gostamos ou apreciamos? Quanto vale ser fiel a uma amizade? Se depender de nós, aquele amigo, familiar, parente, colega, etc. pode ficar descansado porque fazemos valer nosso sentimento? Podemos esperar receber de volta o quanto consideramos outrem? Uma prova cabal de quanto aquela outra pessoa realmente nos faz falta é quando, nos momentos em que estamos separados, por pouco ou muito tempo, sentimos sua falta, sentimos saudades.

E quanto a Deus, como fica nesse caso? Chegamos a sentir Sua falta quando estamos longe Dele? Buscamos Sua presença pela prece, pela oração? A ausência de Jesus em nossa vida, nosso lar, nosso coração, faz-nos sentir saudades Dele? Principalmente naqueles momentos de turbulência, conflitos, inquietação? A quem podemos recorrer certos de que nos ouve, nos aconselha, nos acalma o coração? Absolutamente certo é que a presença do Senhor jamais nos faltará se a Ele recorrermos. E ele, certamente, nunca se afastará de nós, por Sua vontade. É hora de repensar valores em nossa vida. Não deixe para amanhã.

Aproveite o final de semana que vem chegando e pare para repensar valores em sua vida. Tanto em seu próprio lar com seus amados familiares, como para com as pessoas que lhe cercam com amizade. Faça a “prova da saudade”, imaginando-se longe de quem tanto representa para sua vida. Seus valores certamente serão reanalisados e, eventualmente corrigidos. E seu final de semana será muito gratificante e recompensador.

Clênio Falcão Lins Caldas


Outro dia, numa festa de família, me peguei observando todos à minha volta. Vi meus primos jogando vídeo game, meus tios conversando sobre o trabalho, minha mãe na cozinha procurando o prato que combina com os talheres e com a toalha, meu pai tirando um cochilo no sofá enquanto a comida não está pronta, meus irmãos brigando para ver quem é melhor, minha avó dizendo emocionada o quanto ela quer ver os netinhos se formarem e casarem, e finalmente... Meu avô passando de pessoa em pessoa perguntando quem quer um copo de suco ou outro prato de comida. Exibindo seus netos para as visitas como prêmios. - ‘’ Olha minha neta que linda! Ela tirou 10 no projeto da escola! Olha aquele então, fez dois gols no campeonato de futebol’’.

Foi estranho. Eu nunca tinha parado para pensar na minha própria família, na minha própria vida.
De repente imaginei como seria aquela sala vazia. Sem os gritos dos meus primos, sem minha mãe pedindo ajuda, sem meus avós orgulhosos de serem os criadores daquilo tudo. Senti até saudade dos meus irmãos dizendo que eu sou a pior irmã do mundo. Estranho nós só pensarmos nessas coisas quando algo nos ameaça. Pode ser uma dor, um amor, ou qualquer coisa que te faça ver que toda aquela cena que você está presenciando não é para sempre.  As pessoas que estão nela vão embora.

Sua mãe... Aquela que chega do trabalho cansada, mas que sempre trabalha mais por você e seus irmãos. A mesma que acorda de madrugada com um sorriso no rosto para cuidar de você. Aquela que se esquece dos próprios problemas para cuidar dos nossos, e consegue dinheiro para gastar com a gente. Ela não vai estar aqui para sempre. Seu pai... Aquele que te ensinou a andar de bicicleta, que te levou no cangote até não aguentar mais, que deixou você se sujar de sorvete e depois rolar na grama. O mesmo que te mostrou a importância da honestidade. Também não vai estar aqui para sempre. Tem os irmãos. Mesmo que ninguém queira admitir, todos sentirão saudades. Saudades das brigas, das brincadeiras, das companhias na hora do tédio, da única salvação naquela viagem chata, dos segredos, da cumplicidade, e por que não do verdadeiro amor que existe entre todos os irmãos do mundo?

Eu já ouvi em algum lugar que para saber o valor das pessoas é preciso pensar em perdê-las. Pois é, eu nem tive tempo de pensar nisso. Quando eu vi já tinha acontecido. A pessoa que eu mais amava no mundo, e descobri isso da pior maneira possível, estava num lugar que nunca o tinha imaginado. Meu avô, aquele senhor ativo e sorridente que você cruzava na rua. Sabe aquele que estava disposto a ajudar? Ia buscar pão para família, fazia almoços de domingo e sempre abria mão do dele para a felicidade de toda a família? Pois é, ele se foi de uma forma breve, rápida. Tenho fotos recentes dele, lembro claramente de quantas vezes ele dizia que ia me levar ao altar. Você acha que sabe o que é a saudade? Já vou logo lhe avisando que saudade não é um amigo que mora longe, não é uma amizade destruída e muito menos um lugar que não voltamos faz tempo. Saudade é literalmente querer abraçar e não conseguir, querer ouvir a voz novamente e não poder. É ter a total convicção que aquela pessoa você nunca mais, eu disse nunca mais mesmo, vai entrar pela porta da sua casa com um sorriso no rosto e falar: - ‘Olha quem está aí!’

Saudade é saber que você não pode mais olhar para ele e dizer o quanto sente muito, sente o suficiente para não ter nem mais forças para chorar. É saber que talvez vocês nem se encontrem mais. Por isso, não banalize a saudade. É uma palavra que só pode ser utilizada em casos extremos. Um deles é esse. Espero poder continuar por muito mais tempo pensando nas pessoas que me rodeiam, e o principal, mostrando-as de alguma forma o quanto são importantes. Sei que de algum jeito meu avô está na sala com a gente observando, assim como eu, as pessoas mais essenciais de nossas vidas. Observe você também...

Fernanda Webe

E pela sua oração por vós, tendo de vós saudades, por causa da excelente graça de Deus que em vós há. (2 Coríntios 9:14)
Deus é minha testemunha de como tenho saudade de todos vocês, com a profunda afeição de Cristo Jesus. (Filipenses 1:8)






ACEITAR O DIA. O QUE VIER
Atravessar mais ruas do que casas,
mais gente do que ruas. Atravessar
a pele até ao outro lado. Enquanto
faço e desfaço o dia. O teu coração
dorme comigo. Agasalha-me as noites
e as manhãs são frias quando me levanto.
E pergunto sempre onde estás e porque
as ruas deixaram de ser rios. Às vezes
uma gota de água cai ao chão
como se fosse uma lágrima. Às vezes
não há chão que baste para a enxugar.
-- Rosa Alice Branco.
arte de henri matisse
Lavabo. Uma boa ideia.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Euterpe Musa da Música e da Poesia Lírica

ARTE POÉTICA
Se o poema não serve para dar o nome às coisas
outro nome e ao seu silêncio outro silêncio,
se não serve para abrir o dia
em duas metades como dois dias resplandecentes
e para dizer o que cada um quer e precisa
ou o que a si mesmo nunca disse.
Se o poema não serve para que o amigo ou a amiga
entrem nele como numa ampla esplanada
e se sentem a conversar longamente com um copo de vinho na mão
sobre as raízes do tempo ou o sabor da coragem
ou como tarda a chegar o tempo frio.
Se o poema não serve para tirar o sono a um canalha
ou a ajudar a dormir um inocente
se é inútil para o desejo e o assombro,
para a memória e para o esquecimento.
Se o poema não serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então se cale.
*/António Ramos Rosa
art s/créditos
Da linha do tempo de YD


Organizador da Obra reunida

Laélio Ferreira de Melo (1939) é graduado em Administração, foi Chefe dos serviços administrativos do Posto Florestal de Assu, do Ministério da Agricultura, hoje IBAMA (1957) e Secretário dos Acordos Florestais no RN (1959). Auditor Federal concursado do Tribunal de Contas da União.
Delegado do TCU nos estados de Santa Catarina, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Aposentou-se na Corte de Contas como Secretário de Controle Externo. Jornalista (repórter e correspondente) na Tribuna da Imprensa,Associated Press eÚltima Hora, no Rio de Janeiro e em Brasília. Colaborador da imprensa potiguar e de muitos blogues, poeta, cronista e pesquisador de História, com matérias publicadas na revista Ciência Sempre e nos livros Bom Dia Café Bom Dia Sertões. Participou, como poeta fescenino, da primeira edição (1979) do Glosa Glosarum, antologia recolhida por Celso da Silveira. Organizador dos livros 1935,Setenta anos depois e desta Obra Reunida do seu pai, Othoniel Menezes. No prelo, coletânea de glosas fesceninas autoral (Glosando o Mundo). Várias participações em seminários, mesasredondas, fóruns de debates sobre literatura potiguar, e sobre a poesia de Othoniel Menezes.
A reunião de toda a obra publicada e dispersa de Othoniel Menezes, “príncipe dos poetas potiguares”, além de ser, desde já, um marco para a literatura do Rio Grande do Norte, é também um reencontro de um pai com seu filho: sem o esforço incondicional de Laélio Ferreira de Melo este livro não seria editado e as novas e futuras gerações seguiriam impossibilitadas de conhecer a indispensável produção poética e ensaística de Menezes, autor dos mais clássicos versos da nossa literatura, aSerenata do pescador, mais conhecido como “Praieira dos meus amores”. Estão aqui incluídos, ainda, o fascinante e único Sertão de espinho e flor e o lúcido ensaio sobre o poeta Ferreira Itajubá, que, por si sós, justificam o principado de Othoniel Menezes. A presente edição é enriquecida também pelos textos de Murilo Melo Filho, Tarcísio Gurgel e Cláudio Galvão e pelas notas de Laélio Ferreira de Melo, súditos de “um poeta dos maiores do Brasil”, na definição do amigo e admirador Câmara Cascudo.

Mário Ivo Cavalcanti

Fale com o organizador:
laelioferreirademelo@gmail.com

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...