Poesia de pé quebrado, versos que foge da métrica
e a expressão não está correta. Na cidade de Assu de tantos poetas, vivia um
bardo chamado Inácio Nilo dos Santos (Inácio de João Pio como era mais
conhecido). Boêmio inveterado, imitador de mão cheia. Era meu amigo. Morreu
ainda jovem, vitima do alcoolismo. Pois bem. Entre tantos de sua autoria
transcrevo os seguintes versos de pé quebrado:
LUGARES CONHECIDOS, COMO A CASA DO
ITALIANO LETTIERI, NA RIBEIRA, ONDE HOJE É O CONSULADO, E OUTROS
CURIOSOS COMO O ESCRITÓRIO DO FRANCÊS MARCEL GIRARD, REPRESENTANTE DA
AIR FRANCE EM NATAL, SÃO RECORTES DA HISTÓRIA QUE ROSTAND MEDEIROS
ESMIÚÇA COM MUITA PAIXÃO.
A
curiosidade e a paixão pelo Rio Grande do Norte, fez de Rostand
Medeiros um pesquisador insaciável pela história potiguar. Sua curtição é
esmiuçar arquivos públicos, acervos privados, documentos oficiais,
fotos antigas, é também conversar com velhas figuras guardiãs da memória
coletiva do Estado. Dessas viagens no tempo que faz, ele retorna com
material bruto que aos poucos transforma em livro. É de sua autoria, por
exemplo, três biografias “João Rufino-Um visionário de fé” (2011),
sobre o criador do grupo industrial 3 Corações, “Fernando Leitão de
Morais-Da Serra dos Canaviais a Cidade do Sol” (2012) e “Eu não sou
herói – A História de Emil Petr” (2012), este sobre um veterano da 2ª
Guerra Mundial.
Por falar em 2ª Guerra, esse é um dos
principais temas de Rostand, ao lado da história da aviação. Sobre
aviação, ele foi coautor de “Os Cavaleiros do Céu: A Saga do voos de
Ferrarin e Del Prete” (2009), que conta a história do primeiro voo sem
escalas entre a Europa e a América Latina; e sobre a 2ª Guerra, lançou
em 2019 “Sobrevoo: Episódios da Segunda Guerra Mundial no Rio Grande do
Norte”.
Mas agora, ao apagar das luzes de 2019,
Rostand surge com novo livro, ainda dentro de seu tema predileto:
“Lugares de Memória – Edificações e estruturas históricas utilizadas em
Natal durante a Segunda Guerra Mundial”. A obra apresenta 27 locais
referentes aquele tempo, a maioria na Ribeira, trazendo curiosidades
quer ajudam a entender como era o dia a dia de Natal naqueles anos
intensos.
O lançamento do livro será no dia 5 de
dezembro, na Livraria Cooperativa Cultural, na UFRN, às 10 horas. A
publicação sai pela Editora Caravela Selo Cultural e conta com o apoio
do Fundo de Incentivo e Cultura de 2018, da Prefeitura de Natal. Sobre o
livro e aquele período, Rostand Medeiros conversou com a TRIBUNA DO
NORTE.
Inventário
Essa pesquisa começou em 2015, quando a
Promotoria de Justiça de Natal me solicitou a elaboração de um relatório
sobre os locais utilizados pelas forças militares americanas em Natal
durante a Segunda Guerra. Listamos 32 locais históricos entre Natal e
Parnamirim. A ideia era incentivar ações de preservação. Mas naquele ano
nada foi feito. Até que no início de 201, o Ministério Público Federal
do RN, preocupado com a situação do Patrimônio Histórico de Natal,
promove uma audiência sobre o tema. Informo sobre o relatório já feito e
sou solicitado para aprofundar as pesquisas. O que fiz, mas focando
apenas em Natal, fechando em 27 locais relacionados a 2ª Guerra. Agora,
com a parceria da Editora Caravela, estou publicando o trabalho em
livro.
Preservar é importante
O livro fala de locais que se não for
feito nada, vão se perder em ruínas. Mesmo com grande parte dos locais
deteriorados, é um material que aponta para existência de uma rota
turística. De todos os meus livros, esse é o que mais me entusiasmou.
Espero que essa publicação possa ser útil, de repente para ajudar na
preservação dos prédios que cito.
Ribeira
Acho que a 2ª Guerra é um dos aspectos
mais proeminentes da história do Rio Grande do Norte. E nisso está a
Ribeira. O bairro já foi o centro de tudo no Rio Grande do Norte.
Roosevelt e Churchill falam de Natal em suas biografias. Arrisco dizer
que naqueles tempos, para os Aliados, referente à Segunda Guerra, Natal
era a cidade mais importante da América do Sul. Você olha para a Ribeira
hoje chega bate uma tristeza. É uma decadência que vem desde os anos
70. Recuperá-la pode dar um boom no turismo histórico.
Descobertas
Muitos dos lugares são conhecidos. A casa
do italiano Lettieri, na Ribeira, onde hoje é o Consulado, está bem
preservada, assim como a Maternidade Januário Cicco, que era o Hospital
Militar de Natal, e o Grande Hotel. Mas ujma das minhas descobertas é o
Rádio Farol, com as antenas enormes. Ficava na Praia da Limpa, um lugar
entre a Fortaleza dos Reis Magos e o Rio Potengi.
Oleoduto
Uma estrutura com história interessante é o
oleoduto Pipeline, que ia até a Base de Parnamirim. Sendo que nas Rocas
há um trecho do encanamento que está visível. Descobri que em 1977 esse
cano chegou a estourar e os moradores aproveitaram para encher tanques
de combustível até secar. Outra coisa legal é que o Colégio 7 de
setembro, na Rua Seridó, no tempo da Guerra era o Quartel dos Marines da
Marinha Americana.
Dois espiões e um francês
Em Natal tinha uma coisa muito curiosa nos
tempos da Guerra. O francês Marcel Girard era representante da Air
France em Natal. Seu escritório ficava na Rua Tavares de Lira. Perto
dali, na Rua Chile, estava aloja de secos e molhados do alemão Ernst
Luck, que ficava no térreo do Àrpege, e a casa do italiano Guglielmo
Lettieri, comerciante conhecido na cidade. Cada um dos três atuava como
representante diplomático de seus respectivos países em Natal. Imagine
só! A Europa em guerra, a França invadida pelos alemães, e os três tendo
de conviver na Ribeira. É provado que Luck espionou para a Alemanha e
Lettieri para a Itália. Os dois foram condenados pelo Tribunal de
Segurança Nacional e ficaram detidos na Colônia Agrícola de Jundiaí. Mas
no fim da Guerra, ambos foram perdoados.
Jornal da BBC
Outra coisa que gostei muito de ter
estudado foi sobre a Agência Pernambucana de Luiz Romão, com seus
difusores espalhados pela cidade. Era algo formidável. Ele retransmitia a
versão em português do jornal da BBC. Foi legal descobrir a importância
da difusora dele. E é uma pena que hoje o local esteja em ruínas.
Grande Hotel
Mas para mim, não tem dúvidas, o Grande
Hotel foi o principal lugar da 2ª Guerra em Natal. Era uma referência
central por receber autoridades americanas. Além de ter a figura forte
de Teodorico Bezerra como seu proprietário. Resgatei muitas histórias no
livro.
Um projeto desenvolvido no âmbito do Museu Quilombola da Picada, localizado no município de Ipanguaçu, recebeu destaque na 10ª edição do Prêmio Ibermuseus, evento internacional que tem por objetivo reconhecer e promover iniciativas ibero-americanas inovadoras no campo da educação em museus. Representando o Brasil, o museu potiguar foi classificado como vencedor na categoria I, voltada a projetos concluídos ou em fase de execução.
A premiação aconteceu neste mês e selecionou projetos de diversos países que têm em comum a valorização da identidade comunitária, o fortalecimento do patrimônio cultural e da memória social, entre outros valores. Nesta edição 158 projetos, oriundos de 15 países diferentes, foram inscritos. Desse total, 8 projetos de 7 países foram premiados, que são: Argentina, Brasil, Colombia, Chile, Equador e Portugal.
O projeto desenvolvido no museu potiguar trata-se de uma iniciativa realizada pela ONG Centro de Documentação e Comunicação Popular (Cecop), na comunidade quilombola de Picada – em Ipanguaçu.
A ação tem o objetivo de estimular, entre os atores locais, o interesse em apropriar-se dos conhecimentos e técnicas da museologia social que possibilitam a implementação e operação do museu como estratégia para a valorização da memória local, fortalecendo a organização comunitária e o protagonismo de setores historicamente marginalizados.
“O Museu Quilombola da Picada é uma determinação da comunidade em registrar suas memórias de resistência e luta, seus saberes e fazeres populares. Esse espaço será um importante equipamento cultural, educativo, turístico e para o desenvolvimento sustentável da comunidade e região”, explica o coordenador da iniciativa, Raimundo Melo.
O coordenador ainda explica que, durante o desenvolvimento do trabalho, organizou-se uma comissão de implantação do museu, constituída por lideranças locais, representantes de associações, grupos culturais, juventude, escola, ONGs e instituições como a Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC), por meio do Projeto da Rede Potiguar de Televisão Educativa e Cultural (RPTV), a Rede de Pontos de Memória e Museus Comunitários do RN e a Prefeitura de Ipanguaçu.
Proposta do museu
O projeto é executado por meio de um trabalho educativo realizado pela ONG Cecop junto a líderes da comunidade quilombola, estudantes, professores das escolas públicas, grupos culturais e associações comunitárias. São realizadas ações de mobilização e formação de lideranças comunitárias, fotografia – como estratégia de registro e difusão da realidade local -, oficinas de cultura e identidade afro brasileira, produção audiovisual e inventário participativo.
“Foram realizadas oficinas de capacitação em museologia social, de fotografia, e de memória e identidade, que resultaram na montagem de um acervo visual com a participação de alunos de escolas públicas, jovens e adultos da comunidade, bem como realizamos o registro da memória local com o uso do audiovisual e definição com a comunidade de uma planta baixa do Museu”, diz a coordenadora da ONG Cecop, Talita Barbosa, declarando que tratava-se de um sonho da comunidade a implementação de um museu.
Que nos bancos de escola Jamais esquentou o crâneo. Foi um menino pachola, Um rapaz namorador, Poeta véi cantador Fez da viola uma estola. — “Eu
era desempenado, No
braço do violão. Fazia
um tarrabufado Da
prima para o bordão. E
naquele remelexo A nega
caia o queixo, E eu
entrava de cão”. Falo de Renato Caldas Um matuto sertanejo, Que mal trocou suas fraldas Começou a ser andejo, Fez a primeira poesia Inspirado em fantasia Pelo seu maior desejo: —
“Nenhuma mulher é troço... Brancas
ou pretas são belas! Lamento
porque não posso Ser
dono de todas elas”... Com quatorze anos apenas, Em Assu — a velha “Atenas” Defendeu todas
donzelas.
Mil novecentos e dois,
Oito de outubro nasceu, Quatorze anos depois O verso lhe floresceu E a partir daquele dia Numa linda melodia Renato Caldas cresceu.
Do seu chão fez a canção:
— “Só
norte-rio-grandense Meu
patrão, sou assuense De
alma, vida e coração Pois,
nessa terra bonita, Eu tive
a sorte bendita De vê a
luz, meu patrão”...
E haja inspirações: — “Meu
Assu das vaquejadas! Das
noites enluaradas... — Que
gratas recordações! — Cantigas
feitas dos sonhos Dos
seresteiros risonhos, Conquistando
corações...”. Fulô do
Mato
surgiu Carimbando sua lavra, Logo a fama lhe exigiu Buscar o dom da palavra, No martelo e no rojão, Foi um cantor do sertão Que todo tema rimava. — “Cunheço
o Brasí, todinho: Agreste,
mata e sertão. Arrastei
pelos caminho Muita
alegria e afrição! Eu tive
a filicidade De
quage in toda cidade Causá
admiração...". Apesar destas andanças Em busca do ganha-pão, Não perdeu as alianças. Depois de doze serão Casou com a amada Fausta Que estava quase exausta, Devido aquele tempão. Veja o qui pôde sintí Quando arribou do Assu: — “...
Mais o sertão não é Brasí. O
Brasí, é lá pru sú. Isso
aqui é um purgatóro... Quem
mata a fome, é o sodóro E a
sede é o mandacaru...”. — “Seu
môço, eu venho de longe, Do árto
do meu sertão, Trago
fome, trago sêde E tudo
qui é precizão. Mas,
nada disso me mata, Nada
disso me matrata Qui nem
a rescordação...”
Teve muitas profissões: Pracista, linotipista, Embolador de canções, Oficial e motorista... Mas, na viola e na poesia, Instrumentos da boemia, Foi que surgiu o artista: — “A
lua vinha cantando, Suas
canção pratiada! Parô
tão disfigurada... Ficô
oiando pru Má E o Má
sortando um gemido, Limpô
os óio no vistido Prateado
de luá”. Fez ao irmão de coração: — “Adão
foi feito de barro... Mas,
você, Newton Navarro, Foi
Feito da inspiração, Do Céu,
dos ninhos, das flores, De
todos os esplendores Do luar
do meu sertão”.
A mulherada foi o tema De parte da criação. Foi liberdade e algema, Prazer e judiação, Foi seu encanto, seu feitiço, Foi fulô,
foi reboliço... Derreteu seu coração. Sobre elas disse inté: — “Sinhá
Dona, o tempo passa, Mais,
porém, essa disgraça, Qui a
gente tem, pruque qué... Êsse
amô, êsse arrespeito, Qui o
cristão guarda nos peito, Essa
paixão pru muié...”.
Geíza Caldas, a filha, Pelo casal muito amada, Foi a maior maravilha Por todos foi bem mimada. Ela até hoje se alembra E vez por outra relembra Contando pra garotada. Em plena felicidade Quando uma lágrima caiu Seu coração explodiu: —
“Casou Geíza, é verdade Vai
construir o seu lar. Danado
é essa saudade Qu’Ela
vai deixar ficar”.
Certa vez indo à Natal No bar pegou uma colher E, por um lapso mental, Não devolveu à mulher. Ao retornar da viagem Trouxe na sua bagagem, Com um bilhete o talher: —
“Estou voltando Chiquinha Trazendo
a sua colher De
coisas que não é minha Eu só
aceito mulher”. Recitou no bar lotado, Ficou logo liberado Para um acaso qualquer.
Não foi um homem de escola,
No entanto a inteligência Que teve em sua cachola, Era amiga da decência, Amava a honestidade, Detestava falsidade E tocava na cadência.
E sobre o tema convém: — “Seu
dotô, pode me crê: Se
tenho aprendido a lê, Eu era
dotô tombém. Pruquê
hoje na cidade, Nós só
temo validade Pêla
peda qui o ané tem...”. — “Um
violão de verdade, Uma
grade de Pitu Para
matar a saudade Das
moreninhas do Assu”. Assim levou sua vida Procurando uma guarida Pra ganhar algum tutu.
Toda farra que chegava Tava a festa iniciada, A viola apresentava E, após uma lapada, Causos, poesias, repente... Mexia com toda gente Com sua rima cantada.
Sempre comprou lá na feira Seus principais mantimentos, Mas uma feirante arteira Desafiou seus talentos: — Poeta,
lhe tenho estima, Me
ajude e faça uma rima Pra
vender meus alimentos.
Renato olhou pra esteira Contemplando sua batata
E, num tom de brincadeira, Fitando aquela mulata, Tão bonita e adolescente, De maneira pertinente Usou a verve gaiata: —
“Batata rainha prata É dessa
que o povo gosta, Um
quilo dessa batata Dá bem
dez quilos de bosta”. A cabocla não gostou, Ele dela se afastou, Mas “atendeu” a proposta.
Trabalhou na construção Da estrada Assu/Mossoró, Fez pra si um barracão, Vendeu comida e goró, Mas devido o tal fiado No balcão pôs um recado Para evitar um toró: — “Para
não haver transtorno Aqui no
meu barracão, Só
vendo fiado a corno, Filho
da puta e ladrão”... Leitor, pode acreditar, O apelo fez aumentar A lista de espertalhão. —
“Renato Caldas já foi Um
boêmio seresteiro!!! Hoje é
carro de boi Na
sombra do juazeiro”... Morreu quase sem visão, Com artrite, hipertensão, Famoso..., mas sem dinheiro. Termino esse meu tributo Com muita satisfação, Nobre leitor impoluto Sou grato pela atenção. Deixo aqui meu forte abraço Me perdoe pelo embaraço Mas fiz com o coração.
A atual Avenida Rio Branco era conhecida no século XIX, como a Rua Nova. A referida avenida corta todo bairro da Cidade Alta, no trecho compreendido entre o Baldo e a Ribeira.
O topônimo Rua Nova apareceu pela primeira vez, em 12 de novembro de 1822, em um registro de concessão de terras, pelo Senado da Câmara do Natal, ao comerciante Johan Christian Voigt. O beneficiário requereu terreno "para duas casas, na Rua da Palha ... no fundo destas, na rua Nova; outras duas para o armazém.
Ao longo da década de vinte do século XIX, apareceram outros dez registros de concessões de terras naquele antigo logradouro público. Em 28 de outubro de 1826, Antônio José de Souza Caldas requeria terras "na Rua Nova, junto ao curral do açougue', o que indicava a existência de um local de comercialização de carnes.
O último registro existente de concessão de terras na antiga Rua Nova data de 8 de março de 1828, cujo beneficiário foi Antônio José de Matos.
Até 1845, a antiga Rua Nova servia de limite leste da Cidade, com suas casas ocupando apenas o lado voltado para o nascente. A partir dali existia um espesso matagal. Naquela rua existiu a Praça do Peixe, local onde posteriormente foi construído o Mercado Público da Cidade Alta. No século XIX, erguia-se naquele local, hoje ocupado pela agência Centro do Banco Brasil, a forca destinada à aplicação da pena de morte.
O decreto municipal, de 13 de fevereiro de 1888, substituiu o antigo topônimo para Visconde do Rio Branco, homenageando o eminente estadista José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco.
José da Silva Paranhos nasceu na cidade de Salvador BA, em 1819. Ingressou na Academia Real de Marinha do Rio de Janeiro, em 1835. Após concluir o curso, foi nomeado Guarda-Marinha, aos 22 anos.
Em 1843, passou ao posto de 2º Tenente, depois de cursar a Escola Militar do Rio de Janeiro por um período de dois anos. Foi professor da Escola de Marinha, catedrático de várias disciplinas na Escola Militar, diretor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Promulgou reformas no ensino primário.
José Maria da Silva Paranhos foi jornalista, atuando como redator do jornal "Novo Tempo". Político e militar foi membro da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, secretário do Marquês do Paraná em missões diplomáticas, no Uruguai. Foi também Ministro da Marinha, do Estrangeiro e da Fazenda. Também promulgou a Reforma Judiciária, ampliou a concessão de habeas-corpus, apresentou a Lei do Ventre Livre e organizou o primeiro recenseamento do Império.
O Visconde do Rio Branco foi também Grão-Mestre da Maçonaria. Faleceu em 1880, na cidade do Rio de Janeiro.
O povoamento da Avenida Rio Branco foi efetivamente iniciado a partir de 1845, quando o presidente Casimiro José de Morais Sarmento mandou construir a Casa d'Aula e destruir o matagal que impedia a edificação de casas do lado oriental da referida rua.
Na 2ª metade do século XIX, sob influência da Missão Cultural Francesa e da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, a casa urbana adquiriu um novo tipo de implantação. Passou a ser construída com um recuo em relação aos limites da rua, e afastada das casas vizinhas. Exibia jardins frontal e laterais.
A Avenida Rio Branco possuiu um belo exemplar de arquitetura daquele tempo: era o palacete de João Freire, localizado na esquina com a Rua João Pessoa, que resistiu até a bem pouco tempo, apesar de já se apresentar muito descaracterizado o belo casarão, construído com um porão alto, tinha o seu acesso valorizado por Uma escadaria. Ficava o mesmo isolado do exterior, por um vistoso gradil de ferro rendilhado.
O Curral do Açougue, a Praça do Peixe e as quitandas espalhadas pela antiga rua Nova, indicavam a vocação comercial daquele logradouro público.
Em 1860, na gestão do presidente José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, foi iniciada a construção do Mercado Público da Cidade Alta, localizado na atual Avenida Rio Branco, no mesmo local anteriormente ocupado pela Praça do Peixe. Devido à escassez de recursos, o prédio demorou 32 anos para ser erguido. Foi concluído e inaugurado, no dia 7 de fevereiro de 1892, durante o regime republicano. O local onde funcionou o referido mercado, cor responde ao mesmo hoje ocupado pela agência Centro do Banco do Brasil.
Nas proximidades da Praça do Mercado existia uma grande gameleira, conhecida como uma das tradicionais árvores da Cidade. No dia 9 de julho de 1899, ela amanheceu serrada pelo tronco, não tendo sido possível apurar o nome do autor do ato de vandalismo.
Antes da inauguração do Mercado Público, a Câmara alugava casas nos bairros da Ribeira e da Cidade Alta, para servirem de quitandas. Na esquina das atuais Rua João Pessoa e Avenida Rio Branco existia uma quitanda muito freqüentada.
O prédio do mercado teve uma existência efêmera, pois apenas 9 anos depois de sua inauguração, ele já estava em ruínas... sofreu então uma restauração, sendo reinaugurado, em 24 de novembro de 1901.
Na gestão do prefeito Gentil Ferreira de Souza, o velho mercado foi demolido, sendo construído outro prédio, mais amplo, no mesmo local. A população de Natal, que ainda não contava com os modernos recursos da "era da máquina", no campo da conservação de alimentos, era conduzida a adquirir diariamente os gêneros alimentícios.
O Mercado Público tornou-se então um ponto de encontro, um local onde eram divulgados os acontecimentos da Cidade, em primeira mão. Ali comentavam se os assuntos mais diversos, políticos, sociais e, até mesmo, "os ridículos enredos provincianos’.
O mercado da Cidade Alta foi destruído por um incêndio, e nunca mais ali foi construído um novo mercado. Todavia, aquela área da Avenida Rio Branco nunca perdeu a sua vocação primitiva. Até hoje os vendedores ambulantes insistem em expor à venda gêneros alimentícios e artigos dos mais diversos, em suas calçadas.
A antiga Rua Nova era também cenário das apresentações teatrais de grupos amadores. Em 6 de maio de 1900, a Sociedade Dramática Segundo Wanderley encenou ali, ao ar livre, o drama "Gaspar, o Serralheiro".
Existe ainda naquela avenida um significativo prédio, de inspiração neoclássica, construído nos primeiros anos do século XX. O referido prédio já serviu de quartel, depois funcionando o Liceu Industrial durante mais de 50 anos, de 1914 à 1967. Já com a denominação de Escola Industrial, o estabelecimento escolar passou a ocupar um novo prédio, na Avenida Salgado Filho.
O prédio do antigo Liceu Industrial foi posteriormente incorporado ao patrimônio da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Atualmente algumas dependências do velho prédio da Avenida Rio Branco.
Em 22 de julho de 1906, ocorreu a inauguração de um novo prédio na avenida Rio Branco. No local da antiga Casa d'Aula, surgia o Natal Clube, a mais importante sociedade recreativa da época.
Tratava-se de um lindo chalezinho, de concepção romântica, cuja cobertura era feita em duas águas, arrematada por vistoso lambrequim de madeira. No seu lugar foi posteriormente construído o Banco Nacional, prédio hoje ocupado por uma loja de confecções. A primeira árvore de natal da Cidade foi instalada no Natal Clube em 1909. Ali também ocorreu o primeiro baile à fantasia, em 1911.
O prolongamento da Avenida Rio Branco, no trecho entre a Rua Apodi e o Baldo, foi iniciativa do Presidente da Intendência, Romualdo Galvão, cuja inauguração ocorreu em 20 de março de 1916.
Aos 9 de fevereiro de 1935, o prefeito Miguel Bilro cumprindo um plano antigo, prolongou a Avenida Rio Branco até a Ribeira, através dos terrenos da Vila Barreto propriedade do industrial Juvino Barreto. Surgia assim a segunda via de acesso entre a Cidade Alta e a Ribeira facilitando o tráfego entre aqueles dois importantes bairros de Natal.