A Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Nova Esperança, situada à margem da RN 016, que liga Assú- Porto do Mangue, tem suas raízes ainda no século XIX, quando a devoção a Imaculada Conceição se espalhou pelas fazendas da Várzea do Assú, em tempos remotos, dos quais não temos muitos registros. Porém, queremos trazer alguns dados que ajudarão a remontar a história desta capela, tão cara para todos os católicos da imensa várzea do Assú que, de alguma maneira, se identifica com a história pessoal e religiosa de cada um.
No ano 2000, os jovens de Nova Esperança, movidos pela força do Espírito e numa atitude protagonista, resolveu fazer uma reforma na Capela. Retirou todo o reboco (de dentro e de fora) com as próprias mãos, mas não imaginava que na torre, por baixo daquele reboco à base de areia e cal, deteriorado pelo tempo e ações da natureza, existiam vestígios de uma outra torre, com janelas abaixo das atuais. Isso confirmava a tese de que existiu uma outra capela, menor e ainda mais antiga, com a frente virada para o lado do Cemitério, (informação que chega até nós através da tradição oral), anos depois, reconfirmado no livro História da Paróquia de Assú , da jornalista Auricéia Antunes de Lima) (1). Aquela descoberta reforçava as indagações de muita gente, pois seria a primeira vez que, de maneira real, tínhamos contato com um dado histórico tão concreto. Estávamos diante de um fato histórico? Fazíamos parte de um “sítio arqueológico”, sem nos dar conta?
A tradição oral, passada às famílias mais antigas da comunidade e, consequentemente, às lideranças da Capela, refere-se a esta como muito antiga. Conta-se que existia uma família muito rica, que possuía uma fazenda e que teria encomendado uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, diretamente de Portugal. Chegada a “encomenda”, no porto de Macau, um grupo de pessoas (especialmente senhoras) dirigiu-se até aquela cidade para trazer a imagem em procissão. Esta imagem, ao chegar a Nova Esperança, teria ficado na “Casa Grande” (2) até a construção da primeira Capela. O que se sabe (conferindo os livros de batismo da Paróquia de são João Batista), é que desde o final do século XIX, há registros de batizados feitos em Nova Esperança, sem a expressa referência a uma capela. No entanto, em 2003, quando a comunidade, encabeçado pelo seu então coordenador José Antonio Guimarães, resolveu datar e registrar a fundação desta capela, talvez motivado pelas recentes descobertas e indagações provenientes delas, mas sem respostas concretas, recorreu aos livros da Paróquia para averiguar se havia algum registro que possibilitasse confirmar o que todos sabiam da tradição: A CAPELA É CENTENÁRIA (3). Para nossa surpresa, depois de muitas buscas, nos registros começaram a aparecer batizados a partir de 1904, feitos em oratório público (o que se traduz por capela pública) (4). Foi o bastante para, com a aprovação do pároco, Pe. Canindé, começarmos a preparar uma festa de cem anos, com o intuito de selar uma data que marcasse definitivamente a origem da capela. A celebração aconteceu em 2004, com muitos eventos.
A festa de cem anos serviu para ajudar a comunidade a recobrar os ânimos por que, depois daquela, a tradicional Festa da Imaculada Conceição voltou a tomar a proporção devida de uma festa não só religiosa, mas de cunho cultural e social. Foi um momento que redescobrimos nossas tradições, onde pudemos rever algumas hipóteses e consolidar aquelas que a tradição oral nos dizia.
Para esta celebração de cem anos, envolvemos todas as comunidades da Várzea e algumas da zona urbana. A Imagem peregrina, devidamente restaurada, peregrinou durante 100 dias, obedecendo um calendário de visitações. No dia 27 de Novembro de 2004, data marcada para o encerramento da peregrinação, uma comitiva de devotos foi até a matriz de São João Batista para trazer em procissão motorizada a imagem peregrina, juntamente com a Imagem da Imaculada Conceição da Matriz. Foi um evento histórico, pois naquele ano, alem de celebrar os 100 anos da Capela de Nova Esperança, celebrava-se também os 150 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição; foi elaborado um CD com o Hino dos 100 anos, Hino da Padroeira, Hino do Sociedade Esporte Clube, Hino de São João Batista e Hino do Assú; foram celebrados matrimônios, batizados, 1ª Eucaristia, tudo em função do Jubileu; pela 1ª vez (talvez em cem anos) a Tradicional Missa Solene foi transferida, do horário das 9 horas da manhã, para as 16 horas (sob consulta popular). Enfim, o Jubileu de 100 anos marcou a todos nós.
Passados os anos, algumas perguntas não se esclareciam, pois se era verdade que uma imagem da Virgem veio de Portugal, não podíamos acreditar que fosse a mesma que temos no altar principal, que é de gesso e demasiadamente nova, não correspondendo ao século XIX. Estávamos convencidos de que a “procissão de Macau” era mais um mito para ilustrar a nossa história, especialmente depois que descobrimos uma etiqueta na base da Imagem grande, que traz o endereço “rua da Quitanda”, no Rio de Janeiro. Porém, uma luz clareou o fim de um túnel cheio de perguntas. Durante as Santas Missões populares, entre 2006 e 2007, um missionário (5), ao passar numa residência, nos procurou e fez a seguinte declaração: “Existe uma Imagem de estilo barroco, em madeira, de Nossa Senhora da Conceição na casa de uma senhora (6), que não pode passar despercebidamente. Procurem investigar o quanto antes a origem desta imagem”. Até então, era uma grande novidade para todos nós, embora esta senhora fosse conhecida de todos, justamente por ser filha de um antigo sacristão que zelou durante muitos anos, ainda da primeira capela. Ela, depois de muitos anos residindo em Mossoró, havia retornado para morar em Nova Esperança, perto da casa onde se criou.
Há a hipótese de que, quando foi necessário derrubar a antiga capela, em meados entre 1930 a 1950, para dar lugar a atual (de proporção bem maior), sentiu-se a necessidade de adquirir uma nova Imagem, grande, que combinasse com a nova capela. É sabido pelos mais antigos que, durante o período em que a nova capela foi construída, as atividades religiosas foram transferidas para a Casa Grande. Portanto, os objetos e móveis da capela confundiam-se aos de quem morava na Casa Grande. Terminada a construção, com uma imagem nova, imponente, não “seria necessário” duas imagens de Nossa Senhora na nova capela. Portanto, nada mais natural que, por mérito, a imagem ficasse com o sacristão. Recentemente, em entrevista concedida à atual coordenadora da capela, Maria José dos Santos, Dona Neumam confirmou alguns dados, dos quais ela é testemunha ocular. Quando perguntada sobre a atuação do Monsenhor Júlio Alves Bezerra e a relação dele com sua família, ela responde: “Monsenhor vinha à cavalo, de Assú, almoçava na Casa Grande (que era rodeada de alpendres) e dormia em uma rede”. De maneira entusiasmada ela confessou que foi preciso algumas mulheres fazerem curso para ajudar o Monsenhor a paramentar-se na Missa. Quando indagada sobre a origem da Imagem Relíquia, ela confirma que esta veio em Procissão de Macau, mas que veio direto para a Igreja velha.
Ao saber da notícia da descoberta da Imagem de madeira, procuramos o Pe. Canindé, falamos-lhe da hipótese e da veracidade dos fatos. De imediato, ele se encarregou de resgatar a imagem, para o bem da comunidade e integridade do Patrimônio. O Padre Canindé tinha um laço afetivo mais próximo da senhora, pois havia concedido um espaço no terreno da capela, justamente nas proximidades da antiga Casa Grande, onde ela havia passado a infância. Por isso, seria mais conveniente que ele, representante legal do Patrimônio, se dirigisse com sabedoria e caridade, para que a imagem voltasse à sua casa em caráter de doação. Na noite de 31 de dezembro de 2007, antes da celebração de fim de ano, convidado para dar uma bênção na referida casa, ele pediu a Imagem, que foi-lhe entregue depois de muitas recomendações. Ao retornar, a capela estava cheia e, de maneira muito natural, todos ficaram de pé e aplaudiram. Não sabemos se por obra da Virgem, mas estávamos presenciando um evento histórico: o encontro do Passado com o presente. A primeira imagem da comunidade retorna à sua casa, depois de décadas. A Imagem foi levada à casa paroquial, onde ficou até ser construído um nicho para, solenemente, ser entronizada. No dia 08 de dezembro de 2008, após a Missa solene da Imaculada Conceição, com a praça lotada de fiéis e pelas mãos do então prefeito Ivan Júnior, do presidente da Câmara, Odelmo de Moura e do pároco, Pe. Francisco Canindé, a imagem foi solenemente entronizada no seu nicho, de onde nunca mais saiu.
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1 No livro, a autora transcreve do livro de tombo a Visita Pastoral do então bispo Dom Jaime Câmara(era a década de 1930). Nesta visita, após descrever a pequena Capela, informando que existe um patrimônio considerável, o bispo promete mandar uma planta direto de Mossoró, para a construção de uma nova capela(que seria a atual).
2 A casa Grande,rodeada de alpendre, com 09 quartos, possivelmente pertencente à antiga fazenda, tornou-se base de apoio ao Monsenhor Júlio Alves Bezerra, que atendia (à cavalo) aos municípios de Assú, Carnaubais e Porto do Mangue. É possível que, quando ainda não existia capela, servia-se como referência para as outras famílias da região.
3 Muita gente acreditava que a capela tivesse mais de cem anos, pois o cemitério, importante patrimônio histórico que faz parte do complexo religioso da comunidade, traz túmulos datados de meados do século XIX( 1850).
4 Encontramos outros batizados, mais antigos, a partir de 1890 por diante, mas nunca em oratório público.
5 O Missionário era o então seminarista Antonio Adailton Macedo.
6 A senhora chama-se Neumam. É filha do senhor Francisco Evangelista Bezerra, conhecido como Chico Pedro, já falecido. O senhor Chico Pedro durante muito tempo foi sacristão e colaborador de Monsenhor Júlio Alves Bezerra. Ele, com sua família, morou 50 anos na Casa Grande, onde a senhora Neumam nasceu e se criou.
Foto: Joserley carlos
FONTE – BLOG ASSU NA PONTA DA LÍNGUA