quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

POESIA



Pago todos os dias com os meus olhos
O belo espetáculo que o céu me dá.
Pago todos os dias e nunca me canso de
Olhar as estrelas.

João Lins Caldas

fernando.caldas@bol.com.br

NOTA CONVITE

Poeira do Céu é o livro de poemas do bardo assuense João Lins Caldas editado pela UFRN, NCCEN e EDFURN, que será lançado amanha, 11 de dezembro, às 10h30, no Museu Câmara Cascudo/UFRN, Av. Hermes da Fonsêca, 1398, Tirol. Aquela coletânea tem organização da professora Cássia Matos dos Santos. Convido o povo potiguar, especialmente os assuenses paa comparecer aquele evento para prestiguiar o organizador daquele trabalho, especialmente a memória do grande poeta que engrandece as letras brasileira chamado João Lins Caldas.

fernando.caldas@bol.com.br

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

DO ESPIRITUOSO CHICO DIAS

Chico Dias é uma figura irreverente e espirituosa do Assu. Já foi comerciário, empresário, lider estudantil, presidente de grêmio, cabo eleitoral, candidato a vereador por diversas vezes pelo município do Assu (RN). Pois bem, recentemente apresentei ele, Chico, a um advogado que se encontrava comigo na praça de alimentação do Hiper Bom Preço, em Natal. Aquele jusista ao escutar o seu sobrenome perguntou-lhe: "O senhor é primo do deputado estadual Àlvaro Dias, de Caicó. Chico deu uma de grande: "Não! Sou primo do senador Álvaro Dias, do Paraná. É o besta. 


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

OS TAPUIAS DO ASSU

Por Olavo de Medeiros Filho

Os indígenas que povoavam a Ribeira do Assu pertenciam ao grupo étnico-cultural TRAIRIÚ, o qual compreendia diversas tribos, conhecidas na nossa historiografia sob as denominações de Janduís, Ariús ou Pegas, Sucurus, Tucurijus, Arariús, etc. A chamada Nação Tarairiú habitava o Nordeste brasileiro, do rio São Francisco ao Ceará, tendo sido confundida com os Cariris, o que representa um equívoco.
O principal local de concentração dos Tarairús era a lagoa do Piató, no rio Assu, vizinho à cidade do mesmo nome. Para ali ocorriam, os tapuias Tarairiús, quando havia a presença de um inverno satisfatório.
No ano de 1579, o cartógrafo normando Jacques de Vaudeclaye elaborou um mapa, no qual retratava o Nordeste brasileiro. No local, hoje representado pela cidade de Assu, já figurava a Aldeia Tarara Ouasou, capaz de fornecer 800 homens aos franceses, na hipótese de se oferecer uma ocasião de guerra contra a presença portuguesa.
Tomada a Fortaleza dos Reis Magos pelos holandeses, em dezembro de 1633, pouco tempo depois, ali comparecia o centenário moioral Janduí, "rei" dos tapuias dos Assu. Janduí forneceu guerreiros aos seus novos aliados holandeses, dando assim vazão ao ódio que nutria contra os portugueses.
Os autores portugueses e flamengos que trataram da presença holandesa no nordeste (1630-1654), fornecem informações hitóricas e etnográficas sobre aqueles temíveis indigenas dos nossos sertões. Assim, os Tarairiús do sexo masculino eram de elevada estatura e de hérculea conformação física, sendo as mulheres baixas, gordas e bonitas de feições. Andavam praticamente nus. Atingiam uma idade muito provecta. Praticavam a poligamia. Viviam em estado nômade, sempre à procura de sua alimentação, baseada na caça, pesca, mel, abelha e frutos silvestres. Usavam com armas, a prancheta de arremesso de dardos, e machados de pedra. Praticavam o canabilismo. A linguagem falada pelo Tarairiús desapareceu, em virtude de não ter sido dicionarizado pelos missionários. Os tupuias praticavam uma espécie de espiritismo pragmático, através do qual encontravam os territórios melhor indicados para as suas atividades de caça e pesca.
Com a chegada dos primeiros curraleiros ao sertão, vinte anos depois da expulsão dos holandeses, os tapuias logo pressentiram os maléficos que lhes adviram de tal presença, pois a implantação das fazendas de gado impossibilitava os índigenas de obterem a sua alimentação costumeira. Foi então que teve início a chamada Guerra dos Bábaros, ou Levante do Gentio Tapuia, cujo epicentro foi então Capitania do Rio Grande, em especial, a ribeira do Assu.
Cerca de quatro décadas (1683-1725) durou aquela guerra, na qual chegaram a ser utilizadas tropas especiais, conhecidas como os Terços dos Paulistas. Resultou da guerra, que os tapuias foram destroçados. Os que não fugiram para o Piauí e Maranhão, foram vitimados pelas armas, escravisados ou coagidos a se refugiarem nas missões religiosas, onde passaram a viver uma existência completamente diversa daquela que lhes era costumeira.
No Rio Grande do Norte, os tapuias foram aldeados em Guagiru (hoje Extremoz); na lagoa do Apodi, de onde foram transferidos para a serra do Portalegre; nas missões de Guararairas (Arez) e Mipibu (São José de Mipibi).
A identidade indigena perdurou, no Rio Grande do Norte, até os meados do século passado.

fernando.caldas@bol.com.br
blogdofernandocaldas.blogspot.com

domingo, 6 de dezembro de 2009

COISA PRETA


Francisco Duca da Silveira mais conhecido como "Duquinha" foi prefeito de Areia Branca, região litorânea do Rio Grande do Norte. Resolveu fazer na cidade uma praia artificial. Autorizou o seu secretário de obras colocar no local desejado, carradas e mais carradas de areia, tantas quantas forem necessárias para conclusão daquela obra ousada. Cumprindo ordens, o secretário mandou brasa. Vendo que aquela construção gastaria o que a prefeitura não podia, resolveu ir ao gabinete do prefeito para advirtí-lo: "Prefeito, a coisa tá ficando preta!" Duquinha como um raio, respondeu: "Coisa preta quem viu foi Xuxa quando namorava Pelé. Obra pra frente, rapaz!

fernando.caldas@bol.com.br

sábado, 5 de dezembro de 2009

ASSU ANTIGO


Para mim essa fotografia da antiga praça Getúlio Vargas (provavelmente do começo da década de sessenta) é um verdeiro poema. A foto é do arquivo de Renato Cabral (secretário legislativo da Cãmara dos Vereadores do Assu). Você que é bom assuense dê um clique na imagem e viva uma grande emação!

GLOSA

Lembrei minha mocidade
Toda Cheia de você,
Olhos chorando porque
Hoje eu pisei na saudade
Revi você que beldade!
Estrela loura ao luar,
Felicidade a me olhar
No seu vivido semblante,
Nosso amor de estudante,
Depois me pus a chorar.

Bonifácio Santos da Cunha
(Poeta assuense)

POESIA

ADIVINHAÇÃO

O que é que nasce esguia e altaneira,
Cresce raquítica se a terra é pobre,
Sempre exigente quer terreno nobre
E exige configuração linheira?...

Caracteriza o Vale, é pioneira,
Resiste pra que o caule nunca dobre,
Se já idosa é tão forte quanto o cobre,
Das árvores do Vale é a verdadeira?...

Seu fafalhar tem som audacioso
Mas já chega aos ouvidos bem gostoso
Como um sussurro amável, delicado.

Pelo seu pó macio qual veludo,
Pelo seu porte magestoso e por tudo
Quem do vale é o símbolo consagrado?...

Andiére "Majó" Abreu

fernando.caldas@bol.com.br

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

CASAS POPULARES - ASSU


Casas Populares - Bairro Dom Eliseu. O primeiro conjunto habitacional do Assu. Posteriormente comentarei mais sobre este assunto. A fotografia é do tempo em que aquele conjunto acabara de ser construído.

fernando.caldas@bol.com.br

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

NOTA


Juscelino França é uma pessoa (blogueiro) folclórica e envolvente da política assuense. Ele é do partido PHS, pré-candidato a deputado estadual. Eu não poderia deixar de registrar uma nota (logo ele que posta com carinho os artigos que escrevo no meu blog, para o seu blog) sobre a sua apresentação domingo próximo no program "Sala de Redação", apresentado pelo nosso amigo e querido conterrâneo Lucílio Filho. Fica o registro.

fernando.caldas@bol.com.br

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

JOSÉ REGES DE SOUZA, UM BOM AMIGO


A fotografia acima (santinho) é das eleições municipais de 1976. 

José Regis de Souza foi empresário, vereador (presidente da Câmara Municipal do Assu para o biênio 1977-78). Se você não sabia, Seu pai José André de Souza (Zezinho André) foi vice-prefeito daquele município, eleito nas eleições de 1972. Regis exerceu importantes cargos no governo do estado e na assembleia legislativa, onde foi Subsecretario de Administração Financeira e Orçamentária naquele parlamento estaduano, cargo que eu também, no tempo que Paulo Montenegro era deputado estadual, cheguei a exercer. Ele foi meu colega na assembleia e amigo desde os tempos de menino na nossa querida cidade de Assu de boas recordações. Em Natal no início da década de setenta Regis foi comentarista esportivo na Rádio Cabugi, daquela capital potiguar. Por sinal um bom comentarista. Atualmente apresenta um importante programa político denominado Registrando, programa de maior audiência da Rádio Princesa do Vale, de Assu.

Tipo alto, magro, bom de copo, fumante inveterado. Há muito tempo que eu desejava dizer alguma coisa sobre ele. Regis é conhecedor de muitas histórias e estórias  da política assuense que ele guarda "num baú inviolável", desde os tempos em que a política do Assu era praticada com radicalismo tenso e intenso.

Político ainda do tempo da velha ARENA - Aliança Renovadora Nacional, cuja bandeira era empunhada no Rio Grande do Norte pelo velho senador do coração do povo Dinarte de Medeiros Mariz e por Edgard Montenegro no Vale do Açu. Afinal, Regis tem serviços prestados a sua terra natal e a sua gente. Fica, portanto, o registro desta singela homenagem a este amigo desde os tempos de menino, juventude e ainda na vida adulta.

Vou ficando por aqui Regis, na minha querida cidade do Natal onde estou radicado. Mas, com os olhos e o coração voltado paro o nosso Assu e o vale. Ou melhor dizendo: cuidando da minha pré-candidatura a deputado federal pelo PPS - Partido Popular Socialista, agremiação partidária que eu sou filiado desde os tempos que ajudei a fundar  em Assu, no ano de 2000.

Fernando Caldas



ASSU NOS VERSOS DO SEU POETA MAIOR


Açu, ó terra querida,
Que deu vida à minha vida,
Paz, amor, inspiração;
Por ti, cidade dileta,
Fui um boêmio-poeta...
Que rendosa profissão.

Renato Caldas

domingo, 29 de novembro de 2009

"QUE QUENTURA! QUE MORMAÇO!

Que quentura! Que mormaço!
Grita o povo apavorado:
Vai morrer tudo torrado
Se Deus não meter o braço,
O homem vira bagaço,
Se procurar carne crua...
Porém no meio da rua,
Para provar que não é frouxa
Ou para pegar um trouxa
Vai a mulher andar nua.

Renato Caldas

COSTA LEITÃO NO CRISTO REDENTOR






Para registrar: Arcelino Costa Leitão (que foi um inovador prefeito do Assu - 1953-1958) visitando o Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Costa morreu na década de setenta. Um paraibano de São Sebastião do Umbuzeiro, alto sertão paraibano que além de ter sido prefeito de um importante municício como o Assu, chegou até a ser presidente do importante clube futebolístico denominado Fortaleza Futebol Clube. A sua fotogrtafia está na galeria do ex presidentes daquela agremiação cearense. A fotografiia acima ter sido tirada na década de sessenta quando ele era aindado jovem e poderoso quando dirigia a firma algoddoeira de João Câmara na cidade de Assu. 


fernando.caldas@bol.,com.br

sábado, 28 de novembro de 2009

POESIA - DIVA CUNHA



A natalense Diva Cunha além de poeta é também professora de literatura portuguesa. Tem vários livros publicados de sua autoria e de autores potiguares como a antologia sob o títitulo Literatira do Rio Grande do Norte, 2002. No livro intitulado Armadilha de vidro (recentemente publicou Resina) vamos encontrar estes versos conforme ela escreveu numa feliz inspiração:

Um verso me sacode por inteiro
sua agulha me ferroa
latejo na letra escura
grossa como sangue.

fernando.caldas@bol.com.br

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

CEARÁ MIRIM VISTA POR RENATO CALDAS


Capa do livro de Gibson Machado Alves - (fotografia extraída do Orkute de Jadson Queiroz).


Ceará Mirim verdejante,
Disse alguém: maré montante
Dos verdes canaviais,
Sinto daquela cidade
Uma amorgosa saudade,
Que até é doce demais.

Renato Caldas
fernando.caldas@bol.com.br

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

MARCHINHA DA CAMPANHA DE DIX-SEPT ROSADO


A marchinha transcrita abaixo, intitulada Dix-sept Rosado Maia esperança do povo potiguar, empolgou o eleitor norte-riograndense que fez nas eleições de 1950, o jovem  carismático e dinâmico Dix-sept Rosado governador do seu Estado. Aquela marchinha é de autoria do jornalista e compositor de frevos pernambucanos, chamado Antônio Maria também autor da famosa canção Ninguém é de ninguém: Vejamos para o nosso deleite:

Dix-sept Rosado Maia
Esperança do povo potiguar
Dix-sept será eleito
Pela força do voto popular

O Rio Grande do Norte
Agora tem o seu valor
Dix-sept Rosado Maia
Pelo voto será governandor.

Em tempo: Eu tinha vários jingles de sua campanha que eu encontrei na casa onde morou meu avô materno Fernando Tavares - Vem-Vem que sucumbiu com Dix-sept (com quem tinha o prazer de gozar da sua amizade) no desastre aviatório do rio do Sal, em Aracaju, numa manhã de 12 de julho de 1951. O jingle era de rotação 78 e se encontrava há dez anos atrás em perfeito estado de conservação. Pena que se perderam numa mudança. Se não foi a primeira, pelo menos, foi uma das primeiras campanhas políticas realizadas com jingle, no Rio Grande do Norte.

Fernando Caldas

DOIS POETAS DE NOME CALDAS

Por Geise Kelly Teixeira da Silva

Com sua paisagem marcada pelo semi-árido nordestino, com suas várzeas e carnaubais, a cidade do Assu é privilegiada de integrar em sua cultura grandes nomes da literatura potiguar, destacando-se entre eles os poetas João Lins Caldas (1888-1967) e Renato Caldas (1902-1991), notórios por possuírem uma grande bagagem poética que se destaca e se valoriza entre os maiores patamares no âmbito das letras potiguares. Hoje, conhecida remotamente como "Terra dos poetas", Assu preenche de glória por ter em seu patrimônio nomes de poetas como esses, que foram de relevantes contribuição para a nossa cultura regional e que se consagraram esse pequeno pedaço de chão nordestino entre os grandes luminares da nossa literatura norte-rio-grandense.

Apesar de serem da mesma cidade (Assu), um natural e o outro reconhecendo a mesma naturalidade por aqui ter passado a maior parte da sua vida, e possuírem em comum o mesmo sobrenome, mas que não os limitam à laços familiares, Renato Caldas e João Lins Caldas se integram dentre vários fatores e extremos destinos, desde suas origens até o lado excêntrico de cada um. É na diferença de personalidades que vamos encontrar a verdadeira essência desses dois poetas, diferenças que vão se refletir principalmente no estilo poético que cada um possui. Veremos que eles são bastante diferentes, embora possam ter muito em comum.

A ideia de um homem angustiado, recluso e solitário tem na figura de João Lins Caldas sua personificação. Nascido na cidade de Goianinha, mas açuense em sua integridade telúrica, esse poeta da "solidão e da dor", como assim o definem pela expressividade de seus poemas, transmitia em seus versos toda a solidão do universo que sentia, como se extravasasse da alma toda a amargura do mundo. Se amava a poesia, cultivava também a terra que pisava como um todo componente do seu ser. Integrava-se a ela de corpo e alma, transformando a matéria da vida em matéria da poesia, confortantes de sua própria alma. Ao longo de sua breve existência, João Lins Caldas canalizou todas as paixões, ânsias, angustias, ideais e sensações que viu, viveu e sentiu para a sua verve. O mais interessante quando se observa a sua produção poética é a sensibilidade que emana de seus versos, no qual valores intrínsecos e humanos coexistem, conduzidos pela realidade vivenciada por ele. Ler os seus escritos é vivenciar a sua trajetória por meio das sensações que estes produzem. São mensagens sentidamente humanas que nos chegam antes do conhecimento físico do poeta e que estabelecem um diálogo direto com as nuanças da sua quão frágil vida cotidiana. Muito além da mera poetização dos seus sentimentos, seus versos trazem na essência a marca que o meio exterior imprime no interior de um poeta que presenciou e viveu como ninguém a dura vida de um agricultor em sua pequena Frutilândia, que em suas palavras era "o canto do seu silêncio proclamado".

Na trajetória do autor, que preferia transformar a vida em poesia a fazer poesia com a vida, figura numa produção poética ativa. "Perpetrava vinte a trinta sonetos por dia em abas de carteiras de cigarros ou em beiradas de jornais". Apesar da sua vasta produção poética podemos encontrar apenas um recorte de seus poemas, mas a sua autêntica fecundidade não está relacionada ao número de versos publicados, mas à extensão de efeitos que esses foram e ainda são capazes de provocar aos que leem. Toda a sua poesia é um relato de tudo o que viu, viveu e sentiu. Relatos profundos de um mundo que lhe era apresentado como escuro e em desequilíbrio; onde a tristeza e a solidão reinam, onde a vida e a morte encontravam-se perigosamente muito próximas.

Ao contrário de João Lins Caldas, vamos encontrar na figura invulgar de Renato um homem de temperamento expansivo e um grande colecionador de momentos felizes mesmo quando em situações adversas. Assim como era a poesia, a boemia e a cantiga popular também faziam parte de sua vida como todo o componente do seu ser. Coincidindo com a sua irrequieta personalidade, seus poemas refletem a imagem de um poeta boêmio e ousado que sempre esteve acima do cárcere da vida açuense e da opinião alheia. Dessa personalidade indomável, emana uma poesia movida a paixão dos valores nordestinos, onde o poeta faz comoventes evocações de sua terra de origem, em mistura de memória e sentimento telúrico que demonstram o exacerbado amor que tem pelo Assu, sua terra natal. Aos olhos de Tarcísio Gurgel, Renato Caldas tinha uma paisagem, na paixão e até no lado grotesco do seu povo os motivos permanentes de sua poesia, concentrando a sua poética na valorização do regional e representando em uma linguagem "rudimentar" as características de um povo sertanejo.

Não há dúvidas que na personalidade desses poetas, ride um paradoxo que se reflete principalmente no estilo poético de cada um deles: a inegável solidão vivida por João Lins Caldas o tornou um poeta exageradamente melancólico e de uma poesia mórbida, mas exuberante. Em Renato, a boemia e a ousadia refletem em seus versos um homem irreverente cheio de verve e obstinação. Se formos um pouco mais além das diferenças que contrastam a poesia de cada um deles, atentando aos mínimos detalhes, é possível encontrar nelas um ponto em comum que de certa forma os aproximam. Ao mesmo tempo em que lembrava um boêmio cantador em defesa de seus ideais, Renato Caldas escondia também a imagem de um homem sensível e atormentado, dividido entre a ânsia de viver e a morte. Em alguns de seus poemas (os  mais desconhecidos), podemos perceber uma acentuada presença de temas fúnebres e premonitórios, características encontradas principalmente nos poemas de João Lins Caldas. Podemos tomar como exemplo esses versos, onde Renato diz que, "... eu tenho n'alma dobres de finados"/ "a matéria cansou; prevejo o fim". Ainda, em um soneto intitulado Único pedido (1980), o mesmo traça todas as ordenações que quer que lhe façam "quando meu espírito largar/ esta carcaça onde viveu tão só", pedindo que "atirem-me, por favor, em alto mar/ faço questão de regressar ao pó", insistindo na percepção de seu fim.

Seguindo esse prisma, a verve de Renato Caldas não deixa de se equiparar a de João Lins Caldas, é claro que devemos considerar que tais temas encontram-se em maior constância nos poemas deste último, por ter sido ele um poeta fortemente marcado pela dor e solidão. No caso de Renato pode-se dizer que, a presença desses temas deve-se a deficiência visual que o cegara quando em vida, mas que se tornam imperceptíveis e até desconhecei dos por nós, pelo fato deste se destacar pelo seu lado humorístico e obstinado em sua linguagem matuta.

Com a publicação de seu livro em 1984, Fulô do mato, Renato realiza um sonho que João Lins Caldas não conseguiu realizar, publicar suas obras e consagrar-se entre os grandes luminares da poesia popular nacional. No entanto, mesmo não realizando suas aspirações, João Lins Caldas não se tornou desconhecido no âmbito das letras potiguares. Teve muito de seus poemas perdidos, poemas estes que poderiam ter alcançados horizontes mais largos, e não chegou a publicar em vida obra alguma, mas, mesmo ante os descaminhos de sua antologia, Celso da Silveira, também poeta, conseguiu, no que lhe foi possível, reunir em um "pequeno" livro intitulado Poética (1975) alguns dos poucos poemas que restaram de João Lins Caldas, não o melhor da sua poesia, mas o bastante para notificar a existência de um grande poeta. Graças a Celso tivemos a oportunidade de conhecer alguns desses poemas, que já estavam quase no anonimato, mas que, hoje são conhecidos e valorizados pelo maravilhoso efeito que causaram seus admiradores inatos.

Ao cruzar a linha entre criatividade e sensibilidade, esses dois poetas acabaram deixando um legado riquíssimo tanto para a poesia açuense quanto para a literatura potiguar. Renato Caldas é hoje um dos ícones mais populares entre os luminares da poesia matuta no Rio Grande do Norte. Sua figura é sempre lembrada, especialmente por sua vida boemia e agitada, dedicada à poesia e a valores de sua origem. Já João Lins Caldas, não é tão conhecido e sua verve ainda não foi devidamente estudada como o poeta merece, mas este foi um homem que esteve muito acima do momento que passa, e conscientemente esperou a sua permanência no tempo, afirmando altivamente e sem medo a seguinte frase: Mas o homem é um clarão. Eu serei um clarão por toda a eternidade. Paradoxo à parte, não podemos negar que ambos escreveram poemas da melhor qualidade e de um esplendor incomparável, que podem não se aproximarem exatamente quanto ao estilo e a temática, mas, certamente em qualidade estes se igualam.


EU...TU Eu sou doçura, Mas o mel és tu A imagem é minha, Mas a cor é dada por ti A flor sou eu, Mas tu és a fragrância Eu sou felicidade, Ma...