“Assu: de terra dos poetas para território livre dos “gueis”
(Matéria publicada no “O Mossoroense”, edição de 12 de abril de 2004)
http://www2.uol.com.br/omossoroense/080605/luizgonzaga.htm
Por LUIZ GONZAGA CORTEZ - Jornalista
Eu
pensava que eram imaginosos e exagerados os relatos sobre a grande
festa do padroeiro dos católicos de Assu, antigamente conhecida como
"terra dos poetas", cidade distante 180 quilômetros de Natal que,
anualmente, na segunda quinzena de junho atrai milhares de visitantes
para os espetáculos que se realizam no "buraco do prefeito", como é
apelidado o Anfiteatro Arcelino Costa Leitão, um boêmio que veio do
Ceará para ser prefeito nos anos 60.
Ainda
não li a programação mundana e religiosa deste ano, mas um relato que
ouvi recentemente me deixou estupefacto. O relato é uma prova de que o
povo do Assu é avançado, em termos comportamentais.
Por
quê? Dentre outros motivos, por um simples acontecimento que foi
omitido pela imprensa potiguar, mas registrado pela programação oficial
da Festa de São João Batista/2004, cujo lema foi "Renascendo da água,
fonte de vida, queremos ver Jesus": uma partida de futebol entre duas
equipes de homossexuais e cornos assumidos.
O
jogo foi amplamente divulgado como "I Partida de Futebol de Gays x
Traídos", conforme folheto em meu poder, que foi seguida de uma corrida
de jumentos. Os "gueis" ganharam a partida por 1 x O .
O
resultado é uma prova de que a peleja foi dura para os "gueis", apesar
dos "cornos" estarem despreparados fisicamente (não tinham técnico nem
reservas, ao contrário dos rapazes livres que possuíam uma retaguarda
forte). O jogo foi apitado por árbitro, auxiliado por dois bandeirinhas.
O início do jogo sofreu atraso porque a equipe dos traídos demorou a
ser formada no campo, mas um torcedor saiu das arquibancadas para ser o
11° atleta (ele garantiu que não era corno).
Corajosos
esses jogadores. Sim, corajosos. Você já pensou o cara assumir que é
veado e corno numa cidade do interior? Pois é, isso aconteceu em Assu,
cidade com tantos “gueis” que é preciso reformular o trânsito, com mão e
contramão só para eles andarem. Outro marco do comportamento exótico do
assuense é que a cidade tem bar com sanitários para homens, mulheres e
alternativos. Sim, o bar perto do conjunto do IPE tem 3 banheiros e é
local freqüentado pela alta sociedade. Eles são muito influentes, me
asseguram.
Para
a festa da padroeira de 2005 se aguarda alguma novidade. É que no ano
passado, houve uma comemoração após a escolha do maior atolador de Assu
(atolador é o cara que transa com o "guei"). O certame não estava na
programação, mas teve comissão julgadora para escolher o mais disputado
pelos homossexuais da cidade e o eleito foi um rapaz de Itajá. Também
naquele local, à noite, atrás do cemitério, perto da estrada de
Carnaubais, houve outro concurso para escolher o "atolador" mais
disposto, isto é, aquele que tivesse condições de transar com 20 bichas,
despidas, no chão, dispostas em fila. O "atolador" que ganhou conseguiu
chegar ao sétimo, deixando o oitavo nervoso porque não foi "visitado"
pelo rapaz. Tudo foi presenciado por dezenas de pessoas, segundo o
informante.
A
petulância, a audácia, a coragem dos "meninos livres" de Assu está
parcialmente gravada em CD pelo poeta Paulo Varela. E tem mais: a cidade
não tem um caso de infectado pelo HIV. Se tem, ainda não foi
registrado. Os "alternativos" ainda não elegeram nenhum vereador, mas se
quisessem, elegeriam um representante tranqüilamente.”
MOTES E GLOSAS
Escreveu Luiz Gonzaga
o Assu fudeu-se todo
Não foi léria, não foi praga,
foi notícia verdadeira
- a fonte foi de primeira,
escreveu Luiz Gonzaga !
Meteu o dedo na chaga,
no Vale passou passou o rodo,
remexeu naquele lodo
da putaria assuense
- segundo “O Mossoroense”
o Assu fudeu-se todo !
“Atolador” no Assu
é gente muito importante
É seboso. O cabra nu,
comendo um rabo fedido,
inda leva um apelido:
“atolador”, no Assu !
Quando vai lavar o cu,
passar sabão no bufante,
tem cagador elegante
lá pras bandas do IPE
- comedor de cu tem fé,
é gente muito importante !
Jogo de fresco com corno
é u’a tradição no Assu
De um lado, o chifre é o adorno;
já no outro é a cor da rosa
- deixa o Vale em polvorosa
jogo de fresco com corno !
Virou moda, sem retorno:
não tem mais “Rodolfo nu”,
não tem mais da cega o cu,
rolando na beldroega
- de Sesiom a bodega
é u’a tradição no Assu !
Assu hoje é de dar pena
é u’a Sodoma, Gomorra
Deu mesmo a gota serena
na moral daquela gente
- é muito vício indecente,
Assu, hoje, é de dar pena !
Há que haver u’a quarentena,
dar tenência nessa porra
de viado fazer zorra
com “abafador” e chifrudo
- pois, senão, se fode tudo,
é u’a Sodoma, Gomorra !
No “buraco do Prefeito”
A festa é bem “modernista”
No anfiteatro, o sujeito
dá o cu e joga bola,
“abafador” deita e rola
no “buraco do Prefeito”...
Assu já teve respeito,
era o chão de muito artista,
de glosador, de frasista,
Sesiom, Celso, Renato
- mas, hoje, vejo, é um fato:
a festa é bem “modernista” !
Laélio Ferreira
Nata/2005