A pouco mais de seis meses do primeiro turno das eleições de 2014, a
pesquisa Ibope
sobre a sucessão presidencial divulgada na última quinta-feira (20)
constitui um terremoto político, ou melhor, uma cataclísmica calmaria
política. Ou um banho de água fria para a oposição.
Claro que, em anos eleitorais, seis meses é prazo bem mais longo do
que em períodos não-eleitorais. Os fatos políticos e o cenário podem
mudar de uma hora para outra, como já se viu em tantas eleições.
Em 2010, por exemplo, Dilma Rousseff só ganhou musculatura no meio do ano.
Após a definição oficial das candidaturas (junho), portanto, a
oposição espera melhora do desempenho de seus candidatos, pois o que a
pesquisa recém-divulgada mostrou é trágico para eles, para dizer o
mínimo.
Para simplificar, Dilma tem quase o dobro das intenções de voto da soma de seus prováveis adversários, seja qual for o cenário.
E na pesquisa que acaba de divulgar, o Ibope inovou. Em primeiro
lugar, inovou com cenários em que não aparecem apenas os candidatos mais
fortes; incluiu os candidatos nanicos, como os do PSC, do PSDC, do PRTB
e do PSOL.
Contudo, a pesquisa também apresentou cenários só com os três
candidatos mais fortes – Dilma com Aécio Neves e Eduardo Campos ou com o
tucano e Marina Silva.
Seja qual for o cenário, porém, Dilma vence no primeiro turno com
quase o dobro dos votos dos adversários. No cenário mais provável
(Dilma, Aécio, Eduardo, Pastor Everaldo, Levy Fidelix e Randolfe
Rodrigues), Dilma tem 40% e os adversários somados, 23%.
Na hipótese (ainda remota) de haver segundo turno, Dilma venceria
Aécio por 47% a 20%, Marina Silva por 45% a 21% e Eduardo Campos por 47%
a 16%.
Repito: estamos a praticamente seis meses do primeiro turno das
eleições deste ano e é isso o que torna a pesquisa Ibope “cataclísmica”
para a oposição.
Pouco antes de ser divulgada a pesquisa Ibope, circulava um boato de
que Dilma teria perdido terreno para os adversários. Alguns boateiros
começaram a espalhar, inclusive, que o mercado financeiro estaria
“eufórico” com essa possibilidade.
A frustração do boato acendeu a luz vermelha entre as hostes oposicionistas na mídia e nos partidos. E bateu o desespero.
Na semana passada, durante um evento qualquer, Dilma disse que o povo
“percebe” quem o favorece; ela já tinha os números de sondagens
eleitorais encomendadas pelo Planalto. E, apesar do boato sobre avanço
dos candidatos oposicionistas, a mídia também tinha.
Bateu o desespero na oposição midiática. De repente, um caso antigo
sobre a compra pela Petrobrás (em 2006, ainda no governo Lula) de uma
refinaria nos Estados Unidos volta ao noticiário e Dilma começa a ser
alvo de acusações virulentas na mídia, com o previsível teatrinho de
oposicionistas indignados.
Vendo que, mais uma vez, não dará para usar punhos de renda com um
candidato petista à sucessão presidencial, a mídia volta a ser o que foi
em 2006 e em 2010 e tirou do armário a sua metralhadora de balas de
prata.
Observação: para quem não sabe, os escândalos pré-eleitorais que a
mídia dispara contra candidatos a presidente petistas em anos eleitorais
são chamados de “balas de prata”, aquelas capazes de matar lobisomens,
que podem fazer o que balas comuns não conseguem.
As balas de prata em 2010, por exemplo, foram muitas. A principal foi
a criminalização precoce da então substituta de Dilma na Casa Civil,
Erenice Guerra. Ela teria permitido que um filho seu fizesse lobby
usando o cargo da mãe.
A eleição passou e Erenice, que em 2010 perdeu o cargo e foi tratada
como irremediável criminosa, foi absolvida. E ficou o dito pelo não
dito.
O caso da refinaria em Pasadena, no Texas, que a Petrobrás comprou em
2006 com o aval de Dilma – ela era presidente do Conselho de
Administração da empresa –, é, portanto, a primeira bala de prata de
2014 – outras virão.
Pela terceira eleição presidencial consecutiva, a oposição midiática
tentará criminalizar o (a) petista da vez para tentar vencê-lo (a).
Como o noticiário sobre “caos” na economia vai se mostrando inócuo em
um país que cria em um só mês 260 mil empregos com carteira assinada,
que vê os salários subindo mês após mês, com inflação controlada, com
desigualdade caindo, a oposição midiática vai despertando de sua
alucinação eleitoral.
Eis que o noticiário volta aos mesmos métodos de eleições
presidenciais anteriores. Desta vez, porém, há um elemento que permite
visualizar como é artificial essa saraivada de acusações a Dilma na
mídia por conta do caso da refinaria.
Durante o ano passado e no início deste, temos acompanhado o
escândalo dos trens em São Paulo, apelidado de “trensalão”. O escândalo
atinge duramente todos os governos do Estado de São Paulo de 1995 para
cá.
Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin estavam à frente da
administração paulista enquanto o metrô e a CPTM compravam trens
superfaturados de empresas que combinavam preços entre si para
aumentá-los.
Um promotor do Ministério Público estadual de São Paulo chegou a
pedir o indiciamento do ex-governador José Serra por um executivo de uma
das empresas que lhe venderam trens ter afirmado que ele sugeriu aos
participantes de uma concorrência que se organizassem em cartel.
Isso, claro, apareceu timidamente no Estadão e em nenhuma outra parte. E já desapareceu. Imagine se fosse com Lula, leitor…
Costumo dizer que uso muito o noticiário da Folha de São Paulo porque
tanto faz, hoje, o grande meio de comunicação que se leia, ouça ou
assista, porque todos têm o mesmo viés antipetista. Assim, vejamos o
noticiário da Folha de sexta-feira, 21 de março.
O ataque a Dilma começa na primeira página. Quem a Folha escalou para
um dos ataques foi ninguém mais, ninguém menos do que Lula (?!). Com
informações “em off”, o jornal afirma que Lula disse que Dilma deu “um
tiro no pé” ao “tentar sair do foco das investigações”.
É hilariante, mas não é o pior.
Ainda na primeira página, o jornal indica artigo de Reinaldo Azevedo
(o lado Veja da Folha) em que ele ironiza Dilma dizer que não sabia de
irregularidades na empresa que a Petrobrás comprou em 2006 por preço que
hoje se mostra exagerado. Segundo o rotweiler da Folha, Dilma “Usa o eu
não sabia como desculpa”.
A frase “Eu não sabia” foi usada durante anos para criticar Lula por negar que soubesse do escândalo do mensalão.
Nas páginas internas da Folha, editoriais, colunas e cartas de
leitores responsabilizam Dilma pessoalmente pelo mau negócio da
Petrobrás em 2006 e insinuam que sua responsabilidade pode ser criminal.
Como sempre digo, o que mantém o PT no poder é, além da falta de propostas de seus adversários, a burrice deles.
Explico: justo no momento em que dois dos três governadores de São
Paulo durante os últimos vinte anos dizem que “não sabiam” da
roubalheira na compra de trens pelo Estado sem nunca terem sofrido da
mídia acusações diretas como Dilma está sofrendo, o tratamento
dispensado à presidente se mostra uma aberração. E as pessoas percebem.
Cada uma das críticas exacerbadas e das conclusões criminosamente
apressadas sobre a responsabilidade da presidente nesse caso da
refinaria no Texas poderia ser usada contra Alckmin e Serra. Porém,
ninguém viu algum grande jornal ou revista acusando um dos dois,
pessoalmente, pela compra superfaturada de trens.
O surgimento da primeira “bala de prata” antipetista de 2014, aliás, também é uma boa notícia.
A mídia até que tentou afetar “isenção” a partir das “jornadas de
junho” de 2013. Chegou a noticiar o escândalo dos trens em São Paulo –
claro que sem acusar os governadores tucanos. Mas como os candidatos de
oposição não deslancham, volta o recurso a “balas de prata”.
Acreditava-se que os protestos violentos contra a Copa de 2014 fariam
o serviço, ou seja, fariam Dilma se enfraquecer politicamente como no
ano passado. Mas com a progressiva perda de apoio desse movimento de
partidos de esquerda de oposição a Dilma, caiu a ficha midiática.
Mas por que a volta das “balas de prata” é uma boa notícia? Porque
revela que vai batendo o desespero na oposição midiática. Assim como em
2006 e em 2010. E, como sabemos, o brasileiro aprendeu a não dar bola a
essas denúncias pré-eleitorais.