Tela do pintor assuense Wagner
CABÔCA
Eu conheço uma cabôca,
Que é, naturá do sertão.
Tem uma fulô na bôca
E nos óios dois ladrão.
Aqueles óios danisco,
Duas péda de curisco,
Num são óios de muié!...
E aquela bôca imcarnada,
Bonita cuma a arvorada,
É pió qui cascavé.
Seus óios são dois ladrão,
Dois gatume arrefeinado!
Qui, basta oiá pr1um cristão,
Pra ele ficá rôbado.
Ficá sem vida, sem arma,
Sem esperança, sem carma,
Sem tudo qui Deus lhe deu,
Mas, mesmo assim ele qué,
Qui os óio, dessa muié
Rôbe tudo qui fô seu.
A sua bôca incarnada,
Quiando começa a falá,
São duas pétia orvaiáda,
Da fulô do camará.
E, se um dia essa cabôca,
Deixasse qui a minha bôca,
Na sua bôca incostasse...
Nós tinha qui morrê junto,
E adespois de nós difunto,
vez num desapregasse.
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