sábado, 10 de abril de 2010

POR QUE FRUTILÂNDIA?

A denominação do bairro mais populoso do Assu de Frutilândia. Foi uma homenagem que Ronaldo Soares quando prefeito do Assu em 1985, prestou ao grande poeta potiguar do Assu chamado João Lins Caldas. Sabe por que? Porque era a denominação do sítio do bardo assuense conhecido pelos mais antigos do Assu, como Seu Caldas. Frutilãndia nome criado por ele, Caldas, quer dizer terra de fruta.
Aproveitando a oportunidade vamos conferir para o nosso deleite, o poema que ele produziu numa feliz inspiração em homenagem a sua tão decantada Frutilândia, conforme transcrito adiante:

Como essa manhã me acorda com os passarinhos.
Que matinal de árvores e de pássaros!...
Pinga o orvalho das folhas como pérolas trêmulas, molhadas,
Cardeiros à distância perto a cerca fulfa do cercado...
No terreiro da casa as galinhas ciscando...
Um pio de nambu é remoto à distância...
Ouço e vejo lá fora... há como que em mim um anseio louco de embriagado...
Vontade de correr, rondar, ser como um pequeno cabrito a saltar pelo relvado...

O milho verde, a subir, a cana grossa, o espigar das bonecas...
O louro-roxo do cabelo aqui e ali pelos ventos agitado...
Parado... o ar aqui agora um ar parado...
Nem um grilo a trilar, nem um mover de folhas...

Saio... acendo o cigarro... as mãos trêmulas de gozo...
Isso que aqui plantei, que as minhas mãos cavaram...
Cajueiros aos cem, azeitonas, mangueiras...
Ah! Se eu na vida tivesse como aqui sempre plantado...

E vejo, no crescer, pequena, a laranjeira
Tão verde no buraco fundo que lhe foi cavado...
A minha laranjeira, a minha laranjeira...
Os frutos que dará, encantando o cercado...

Meu rancho ali, os potes na biqueira...
Pobreza assim riqueza só... um dia
Repousarei em mim essa pobre cabeça de cansado...
Lembrarei os meus versos, direi versos para mim e para o céu estrelado...

A noiva que não tive... e recordo  sem mágoa
Aquela que passou, culpa de mim somente...
Vão em cortejo ao olhar do meu pensamento sombras vagas...
*Arina... um filho pela mão... lá atravessa seu filho...

E os filhos que não tive, as almas, culpa de mim, que não vingaram...
Basta... volto-me ao sístio do meu silêncio proclamado...
É a música de tudo em tudo que de mim na sua essência...
O sol... o sol dessa manhã é agora todo o meu cuidado...

Olho o sol... a ânsia talvez de pelo sol perder-me.
E já não ser... ou ser tudo aquele mundo todo nas raízes...
As árvores que quero ver, as pequeninas plantas que quero ver dos seus pequeninos berços elevadas...
E olho-as... as minhas crianças verdes, as minhas pequenas româzeiras enramadas...

O cigarroi se apaga, a fumaça não sobe...
Vamos... entrar o rancho, agitar gravetos, fazer o fogo...
E brinquedo, o meu cão, que aqui por esse andar me tem sempre acompanhado.
Olho os olhos ao cão... não, Brinquedo que nem sempre me tem mesmo acompanhado.

*Arina foi uma das namoradas do poeta no seu tempo de Rio de Janeiro (1912-1933).

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