Sérgio Vilar- sergiovilar.rn@dabr.com.br
A Academia Feminina de Letras vai além da difusão da literatura produzida pela mulher potiguar. Mesmo confundida com a atmosfera conservadora das academias de letras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, ela representa os novos tempos, distante do espaço renegado às mulheres durante séculos. É hoje mãe e guardiã da produção literária feminina, tendo como baluarte a figura de Nísia Floresta e Zila Mamede. A figura feminina esteve à margem das decisões sócio-políticas, religiosas e culturais.
Figuras como Nísia Floresta, Auta de Souza e Isabel Gondim têm espaço privilegiado na Academia e também no Memorial Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press
Na literatura, embora consagrada por nomes como Clarice Lispector e Hilda Hilst, a mulher sempre esteve vertiginosamente atrás dos homens. A Academia Norte-Riograndense de Letras (ANL) tem três mulheres e 37 homens como patronos. Apenas Nísia Floresta, Isabel Gondim e Auta de Souza. Na ocupação das cadeiras atuais, apenas Ana Maria Cascudo, Sônia Ferreira e a indicação da poetiza Diva Cunha.
A pedagoga e escritora Zelma Furtado fundou a AFL há dez anos para abrigar todo o talento feminino renegado pela cultura machista ainda persistente na dita modernidade. Das 40 vagas disponibilizadas, apenas 25 estão ocupadas. Como mãe, a instituição protege sob as suas asas um rico acervo ja produzido, a exemplo de obras raras de Nísia Floresta, expostas recentemente no I Encontro de Escritores da Língua Portuguesa de Natal.
Zelma também é responsável por intermináveis pesquisas sobre o papel da mulher na literatura potiguar. Foi a partir dessas pesquisas que descobriu a tentativa de se fundar a Academia Feminina de Letras da Casa Bertha Guilherme, em 1952. Bertha foi uma professora de português do colégio Atheneu. Morreu em 1951, quando a poeta Elione Dantas mobilizou escritoras potiguares a fundar a academia. As poucas reuniões ocorreram no antigo cinema Rio Grande. Mas logo Elione se mudaria para Recife para cursar Filosofia e a ideia ficaria esquecida nas entrelilnhas da história.
Uma década "Quando li sobre a ideia, em 1998, procurei criar a nossa AFL, fundada em 22 de abril de 2000". Zelma conta que a instituição nunca recebeu apoio dos governos. Todo o custo é cotizado entre as integrantes da AFL. Se a sede da academia tradicional do Rio Grande do Norte foi cedida e recebe manutenção do Governo do Estado, a AFL chegou a ser proibida, via decreto, de se reunir uma vez ao mês no Palácio da Cultura. A solução foi transformar a própria casa da presidente, Zelma Furtado, em sede.
(Transcrito do jornal Diário de Natal, edição de domingo, 9 de maio de 2010)
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