João Lins Caldas é, foi, um desses poucos poetas potyguares com alguma estofa a mais que o comezinho e usual muito barulho por nada. Nasceu em Goianinha, 1o de agosto de 1888, mas passou a infância, a adolescência e a velhice em Açu, onde morreu, meio pobre, meio esquecido, meio frustrado, como sói acontecer.
Aos 24 anos bateu asas na direção do Sul Maravilha, Rio, Sampa, Geraes.
O escritor José Geraldo Vieira transformou João Lins em personagem do romance Território humano.
A descrição, não-ficcional, de Caldas por Vieira:
Trabalhava como revisor de jornais à noite; vivia na Biblioteca Nacional, de tarde; almoçava e jantava sanduíches de mortadela e caldo de cana, na Galeria Cruzeiro; perpetrava vinte a trinta sonetos por dia em abas de carteiras de cigarros, ou beiradas de jornais. [...] Riscou na vida um triângulo cujos lados eram Dante, Shakespeare e Nietzsche; dentro se encravou como um tigre assanhado contra a estupidez e a corrupção humana. Não admitia emprego público; odiava a política; tinha um caráter sem jaça e uma susceptibilidade incrível. Naquele tempo seria classificado sumariamente como louco.
No início da década de 30, o poeta voltou a Açu, onde comprou um sítio – a “Frutilândia” – e se isolou completamente. Em 1958, por iniciativa de Celso da Silveira, veio a Natal, onde e quando foi saudado, festejado, hosanado pela jovem intelectualidade da época – além de Celso, Berilo Wanderley, Myriam Coeli, Newton Navarro, entre outros.
Oito anos depois de morrer, a Fundação Zé Augusto publica uma antologia poética, livrinho fino mas consistente, e que ainda pode ser comprado na “livraria” da Fundação.
A carta não lida é a que segue. Para ser relida:
A CARTA NÃO LIDA
Estou em que não lerás mais nunca a doçura expressiva dessa minha carta.
Perdoa. A doçura expressiva dessa minha carta.
Estou em que não lerás mais nunca.
Mas lerás sem dúvida uma outra carta.
Uma carta sem nunca a tonalidade da minha doçura.
Uma carta sem nunca a tonalidade expressiva dessa minha carta.
João Lins Caldas
Este texto foi publicado em domingo, 1 de agosto de 2010 às 21h57 e arquivado como Blog. Você pode seguir qualquer comentário deixado neste texto através do feed de RSS 2.0. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback de seu site.
Mário Ivo
(Crônica publicada no site MárioIvo, em 1. de agosto de 2010)
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