domingo, 7 de novembro de 2010

SOBRE O POETA WALFLAN DE QUEIROZ

Eu tive o privilégio de ter conhecido ainda no começo da minha juventude, o grande bardo potiguar chamado Walflan Furtado de Queiroz (1930-1995), na calçada do Café São Luiz, em Natal, em 1974, apresentado pelo meu pai. Ele nos cumprimentou com certa distância que logo entendi. Walflan nasceu na cidade de São Miguel, região do alto oeste potiguar. Ele era meu primo próximo por ter sido sobrinho de minha avó paterna chamada Odete Fernandes de Queiroz Caldas, natural de Luiz Gomes, então residente na cidade de Açu (RN), irmã de seu pai Letício Fernandes de Queiroz (dr. Letício), que foi farmacêutico em Natal.Sua mãe chamava-se Raimunda Furtado de Queiroz.

Walflan de Queiroz era tipo baixo, testa franzida, aparentemente tímido,solitário, fumante compulsivo, boêmio nos seus tempos de juventude. Intelectual, escrevia e falava latim fluentemente, bem como inglês e francês. Formou-se em direito pela famosa Faculdade de Direito do Recife, mas nunca exerceu a profissão de advogado que certamente teria exercido com brilhantismo.

A produção literária de Walflan engrandece as letras norte-riograndenses. Nunca o vi e ouvi (apesar de não ter convivido com ele) declamando suas poesias, mas vi e ouvi, muitas vezes, na calçada do Café São Luiz, exaltando Rimbaud, em voz alta. Publicou oito livros intitulados de "O Tempo da Salvação", 1960, "O Livro de Tânia", 1963, "O Testamento de Jó", 1967, "A Colina de Deus", 1968, "Nas Fontes da Salvação", 1970, "Aos Pés do Senhor", 1972 e "A Porta de Zeus", 1974.

Do "Livro de Tânia", sua segunda obra, vamos encontrar o seguinte poema:

Eu venho de uma montanha, Tânia.
De uma montanha de fogo e de sombras,
De fogo como o sol e de sombras como a noite.

Venho de um vale, Tânia.
Um vale com mil flores brilhantes.
E toda essas flores eram tuas.

Venho de uma floresta, Tânia.
Uma floresta com apenas um pássaro.
Um pássaro azul como as águas do rio

Venho de um lago também azul, Tânia.
Um lago tranquilo e sem rumores,
Com cisnes brancos, cisnes selvagens,
Selvagens como o meu amor.

Eu venho do mar, Tânia.
Um mar sem prais e sem gaivotas,
Com uma ilha de carne,
E com o sangue de uma estrela.

Venho do deserto com ventos de areia
E com monumentos que são sepulcros,
Onde enterro a minha solidão.

Geraldo Melo (que foi governador e senador da república pelo RGNorte), amigo de Walflan, depõe que ele "amou algumas mulheres, mas com tal desespero e tal entrega, que terminou perdendo uma a uma". Ainda jovem, Walflan foi lecionar no interior do Paraná, onde apaixonou-se por uma normalista chamada Irene Porcel, como afirmam alguns dos seus contemporâneos. A Irene referenciada acima, o poeta faz referência no poema transcrito adiante. Vamos conferir para o nosso deleite:

Tres amores
E uma solidão
Irene, Tânea
E Herna
Vi Abraão
No Monte Muriá
Tres amores
E uma solidão
Irene azul
Tânia amarga
E Herna Triste.

Walflan conheceu o mundo quando servia a Marinha Mercante. O poeta e produtor cultural Eduardo Gosson depõe que Walflan nas suas andanças país a fora "apaixonou-se por uma bailarina cubana, gostou das noites da Martinica e quase casou-se com uma colegial de Buenos Aires".

Afinal, vamos conferir o seu "Auto Retrato", que diz assim:

Não tenho a beleza de Rimbaud
Nem o rosto torturado de Baudelaire
Tenho sim, olhos negros
Como os olhos de Poe.
Meus cabelos são soutos, em desalinhos como os de algum Anjo ou demônio
Minha pele, queimada eternamente pelo sol, tem sal de mar e a  cor morena dos que são náufragos
Minhas mãos são pequenas, tristes embora como mãos de alguém que só as estendeu para o Adeus.

A última vez que eu vi Walflan, foi numa clínica de tratamento psiquiatrico (ele era acometido de esquizofrenia) em Natal, onde estava internado e onde veio a falecer, vítima de insuficiência respiratória.

Postado por Fernando Caldas

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