quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

HISTÓRIAS ORIGINAIS

Maria Betânia Monteiro - repórter

Não é uma biografia, adverte o escritor, jornalista e advogado Pedro Simões. Em seu livro “A Intriga do Bem”, o perfil de 21 personalidades potiguares é traçado de forma inédita. Utilizando a linguagem literária, Pedro fez dos perfilados personagens de suas próprias histórias. “Não é um livro extraordinário, porque eu não sou extraordinário, sou feijão com arroz, mas é no mínimo inédito”, disse o autor. A Intriga do Bem será lançado hoje, às 18h30, no Sesc da Cidade Alta. No momento do lançamento, a artista plástica potiguar, radicada em São Paulo, Alice Brandão, fará duas exposições. Uma dos retratos dos perfilados, pintados à óleo, e outra, uma releitura muito peculiar das obras do pintor Pablo Picasso.

Sobre o título do livro, o autor justifica: “Luís da Câmara Cascudo, disse certa vez que são muitos os que se ocupam em falar mal e poucos os que cuidam da intriga do bem”. Pois bem. Estes perfis servem a este tipo de intriga. No livro, Pedro trata de alguns amigos que teve a fortuna de “(re)colher” ao longo do tempo e também de admirá-los, pela preciosa e rara essência espiritual.

Alguns desses dispensam apresentação como a escritora Ana Maria Cascudo, o artista Dorian Gray Caldas, o jornalista Paulo Macedo. Outros precisam de prefácio, como Zé Félix, amigo da família. Sobre ele, Pedro escreveu: “Era de baixa estatura, talvez metro e meio. E andava com as pernas muito abertas, (era um tanto tortas, como os caubóis dos filmes de faroeste) e os pés na posição de quinze para as três”. O trecho retirado do livro é uma mostra da boa utilização dos recursos literários e da sensibilidade em descrever o perfilado.

Algo que só foi possível, graças à proximidade do autor com cada um de seus personagens. Aliás, foi da intensa amizade entre Pedro e o professor de direito Jales Costa que nasceu o livro. Depois da morte do professor, Pedro elaborou o seu perfil, lamentando a sua ausência e contando alguns causos. “Mostrei aos amigos e eles gostaram tanto, que me pediram para fazer outros perfis”, Explicou Pedro.

O critério para escolher 21 nomes já foi dito. Deveriam ser personalidades potiguares e fazerem parte de seu ciclo de amizade. No final das contas o livro é uma ode à amizade e à vida destes personagens públicos. Algo que fica bem claro quando se refere a Harmando Holanda: “dizem que os produtores de bons clichês que o verdadeiro amigo é como se fora um irmão com a vantagem de ter sido escolhido por nós, para o oposto. Pois é assim mesmo”.

Neste mesmo capítulo em que o autor se dedica ao irmão (de coração) Harmando Holanda, ele também dá uma pista sobre como trata as personagens biografadas. “Penso como seria Harmando sem os seus defeitos... algo insosso, insalure, fosco”.  Ou seja, a imagem que pinta de cada um deles é tridimensional. Tem superfície, lateralidade, mas graceja da profundidade.

A contradição de seus personagens é retocada com o pincel da amizade. O exemplo disso pode ser visto no texto do jornalista Franklin Jorge. “Franklin aluga um castelo para colocar seus desafetos e um quarto para os amigos”, disse Pedro. Os defeitos de cada personagem estão contextualizados na razão de ser de cada um. A intenção foi compreendê-los, abrindo mão do julgamento. “Eles não se tornam bons por serem meus amigos, são meus amigos por serem bons e originais nas suas individualidades”, pontuou o autor. As figuras retratadas em “A Intriga do Bem” são seres humanos. Neles não reside o mítico, nem o lendário. São construções imperfeitas. São multifacetados, com certos ângulos simétricos, de incompreensível assimilação, de tal modo que só uma câmera que alcance grandes angulares e sensibilidade na perfeita captação da imagem sutil pode revelá-los num contexto de claridade e nitidez.

 Ilustrando cada um dos biografados, a artista Alice Brandão, fez um trabalho minucioso. Conhecida nacionalmente por saber fazer a realidade virar imagens pinceladas, Alice recebeu as fotos, algumas deterioradas e em preto e branco, e deu bastante vida a cada uma delas. As telas foram impressas no livro, em preto e branco e em tamanho muito pequeno, mas estarão bem vivas na exposição, que acontecerá excepcionalmente durante o lançamento do livro.

Serviço

Lançamento do livro “A Intriga do Bem”, de Pedro Simões, hoje às 18h30, no Sesc Cidade Alta. Com telas de Alice Brandão.

Fonte: Tribuna do Norte

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