segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

EM NOME DO PAI...

           Nélson Patriota (*) como todo mundo e Seu Raimundo aqui na terra de Poti mais bela sabem - é candidato, quase eleito, já, já, à Academia de Letras (na vaga de um parente, como sói, há décadas).
          
Na sua caminhada rumo ao fossilizado sodalício da Rua Mipibu, entrevistado por um blogueiro/fotógrafo conterrâneo (em ritmo de tango e rock, me pareceu!), ao deitar falação sobre o poeta e jornalista Othoniel Menezes, meu Pai - apesar das extensas, universais e variadíssimas leituras, além das  traduções (Skakespeare, Goethe, Tennyson, Auden, Frost, Borges)  que registra e ostenta no currículo - demonstrou, Nélson, absoluta desinformação em relação à obra do Principe Plebeu na nossa  hoje combalida, bem se vê literatura potiguar.
Descobriu, o futuro par do silogeu jerimunlandense, in verbis:

Da mesma forma, o conto potiguar vem ganhando autonomia crescente desde Antônio de Sousa Otoniel Menezes, Myriam Coeli e Eulício Lacerda a Nilson Patriota, Tarcísio Gurgel e Bartolomeu Correia de Melo.; e

Lembremos que faltou à glória da Academia Francesa o nome de Molière; à brasileira, o grande poeta Mario Quintana e à norte-rio-grandense o grande vate Otoniel Menezes.

Isto posto, à guisa de auxílio à campanha do escritor rumo à Imortalidade, na qualidade de herdeiro do Poeta (embora já se tenha dito, por aí, anonimamente, que sou a pior obra do bardo, quá, quá, quá!) , dando muita fé, declaro, para maior tenência, que Othoniel NUNCA escreveu um CONTO sequer na sua atribulada existência.

A pedido de intelectuais pernambucanos, no final de 1929 quando morava na cidade de Pesqueira -, esboçou um romance: Janina, a princesinha caeté. A trama do livro era centrada numa aldeia indígena existente nas proximidades do Município de Cimbres-PE. Numa viagem de trem, retornando a Natal logo depois da revolução de 1930, perdeu o romance, escrito em 150 folhas de papel almaço.

Sobre a participação (ou não!) de Othoniel na Academia de Letras do RN, basta-me transcrever, abaixo, o que registrou o competente  biógrafo Cláudio Galvão, às fls. 223/226 do seu Príncipe Plebeu uma biografia do poeta Othoniel Menezes (FAPERN, 2010):  

As relações de Othoniel Menezes com a Academia Norte-Rio-grandense de Letras nunca foram cordiais. Em nem poderiam sê-lo. Preso por conta da sua participação no movimento de 1935, viu-se alijado do movimento de fundação em 1936 e da formação do primeiro quadro de sócios.
Jamais se candidatou a nenhuma vaga que ocorresse, mantendo-se em comedida distância da instituição que reunia tantos dos seus amigos.
Com o falecimento em 1957 de um desses seus amigos, o poeta Bezerra Júnior[1], que seu nome foi comentado para sucedê-lo. O poeta, entretanto, não mostrava o menor interesse em se candidatar e preencher os requisitos necessários. Então, vários acadêmicos resolveram inscrevê-lo eles próprios, na esperança de ter Othoniel entre seus pares.
Veríssimo de Melo adianta-se em comentar o assunto e publica a crônica Othoniel  candidato único, em A República:           

Esta era a notícia que circulava ontem à tarde nos círculos intelectuais da cidade: Othoniel Menezes é o candidato único!
Não se trata de uma candidatura política, que Titó (Othoniel, na intimidade), nunca teve embocadura para essas violências. Mas, uma candidatura literária.
O príncipe dos nossos poetas, autor de tantos livros encantadores, o poeta da Praieira, a canção que vive na boca de todos os natalenses, candidatou-se afinal à Academia Norte-Riograndense de Letras.
...............
Mas, a verdade deve ser dita se Othoniel Menezes já não é imortal há muitos anos é porque ele próprio não o quis. São coisas do seu temperamento, que sendo poeta, está plenamente justificado. E principalmente quando se é poeta como ele, espontâneo, lírico, universal.
..............
Saudemos, pois, o poeta Othoniel Menezes, não por ser apenas um candidato único à vaga deixada pelo saudoso poeta Bezerra Junior, mas pela sua decisão, há tanto esperada pela cidade, de honrar com sua presença a nossa Academia Norte-Riograndense de Letras.

Em reunião realizada a 27 de abril já tramitava o processo de inscrição de Othoniel Menezes como candidato à cadeira 26, que tem como patrono o poeta Antônio Glicério (1881-1921). O presidente Manoel Rodrigues de Melo passou o processo ao acadêmico Américo de Oliveira Costa, membro da Comissão de Sindicância, para dar parecer.[2]
Cerca de uma semana após, já novamente se reunia a Academia para voltar a tratar do assunto. Em sessão do dia 1º de maio, o acadêmico Rômulo Wanderley leu parecer da comissão de sindicância, indicando que processo estava conforme o regimento. Othoniel era o único inscrito e foi eleito à unanimidade. Estiveram presentes os acadêmicos Manoel Rodrigues de Melo, Francisco Ivo Cavalcanti, Carolina Wanderley, Virgílio Trindade, Antônio Fagundes, Esmeraldo Siqueira, Raimundo Nonato, Américo de Oliveira Costa, Hélio Galvão, Bruno Pereira, Rômulo Wanderley, Veríssimo de Melo, Aderbal de França, Otto de Brito Guerra, Palmira Wanderley e Paulo Pinheiro de Viveiros. Com mais duas cartas com votos de Onofre Lopes e Eloi de Souza, o poeta foi eleito por 18 votos. O plenário aprovava, assim, a sua entrada na Academia, sem seguir os caminhos que todos haviam percorrido, que vinculavam a inscrição pessoal e campanha para a obtenção de votos, feita através de cartas e apelos a acadêmicos e recorrendo a padrinhos influentes.
         Veríssimo de Melo propôs a formação de uma comissão para comunicar ao poeta a sua eleição. O presidente Manoel Rodrigues de Melo nomeou os acadêmicos Veríssimo de Melo, Rômulo Wanderley, Esmeraldo Siqueira e Hélio Galvão.
Não há mais referência ao assunto nas atas seguintes.
Não se sabe como Othoniel recebeu a notícia. Por seu estado depressivo e pelas velhas mágoas acumuladas não deve ter-se entusiasmado com a distinção.
Nunca tomou posse da honraria e nunca esqueceu a sua não inclusão na instituição em tempos anteriores e mais oportunos. Vivendo mais no lado imaterial da vida, gozava dos que se orgulhavam de ser imortais. Sua veia crítica e observação ferina ousaram pintar uma genial caricatura de um vaidoso acadêmico, vendo-o na empáfia de um peru:


OS PERUS

Orgulhoso, rondando no terreiro,
o peru, pedagogo cem por cento,
com o papo inflado, a arrebentar de vento,
arrota redundância, o dia inteiro.

Risquem-lhe em torno um círculo: o portento
não avança; não sai do picadeiro.
Fica ali, a dançar, pobre ponteiro,
na estática animal do Pensamento.

Somente no cacófato, completo
seu tipo, o sapientíssimo sandeu:
fabrica gás do milho do alfabeto...

Não se acuse a justiça, de bufona:
 fuão peru é par do Silogeu,
fazendo rodas... em cima da poltrona!

(*) "Nélson Patriota é jornalista de formação. Publicou, entre outros, A Estrela Conta (Natal: A.S. Livros, 2003), Antologia Poética de Tradutores Norte-rio-grandenses (Natal: Editora da UFRN, 2008) e Colóquio com um leitor Kafkiano (contos  Natal: Jovens Escribas, 2009). Tem inédito o romance Um Homem chamado Silêncio. Traduziu: Como Melhorar a Escravidão, de Henry Koster (Natal: Editora da UFRN, 2003), e A Literatura de Cordel no Nordeste do Brasil, de Julie Cavignac (Natal: Editora da UFRN, 2006). Organizou os seguintes livros: Poemas Reunidos de Luís Patriota (Natal: edição do autor, 2001), Vozes do Nordeste (com o professor Pedro Vicente Costa Sobrinho ­ Natal: Editora da UFRN, 2001), Bosco Lopes: Corpo de Pedra  Dispersos & Breve Fortuna Crítica (Natal: Editora da UFRN, 2007), e Artigos e Crônicas de Edgar Barbosa (Editora da UFRN, Natal: 2010). É co-autor dos seguintes livros: 400 Nomes de Natal (Natal: Prefeitura de Natal, 2000), Dicionário Crítico Câmara Cascudo (Rio de Janeiro; Natal: Perspectiva; EDUFRN, 2003) e Clarões da Tela (Natal: Editora da UFRN, 2005). Como jornalista, dirigiu cadernos de cultura nos jornais A República, Tribuna do Norte, Diário de Natal, Revista RN Econômico, entre outros.  No Período de 1996 a 2001 dirigiu o jornal cultural O Galo, da Fundação José Augusto. Atualmente é responsável pelos programas especiais da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é colunista do site www.substantivoplural.com.br. É membro do Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte, e editor da sua Revista. Diretor de Divulgação da União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte UBERN" (Fonte: http://www.ubern.org.br/?page_id=638)

Laélio Ferreira

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O INTELIGENTE E O SABIDO

Há duas categorias de pessoas que, sobretudo no Rio Grande do Norte, merecem um debruçamento maior, uma atenção mais atenta, um enfoque mais...