A tapuia
(anônimo popular)
- Formosa tapuia
que fazes perdida
nas matas sombrias
de agreste sertão?
As matas são frias,
tão frias e tristes,
não temes tão moça
morrer de sezão?
- Não quero carinhos,
nas matas nasci,
se delas não gostas
não fiques aqui.
- Bem sabes que as matas
são próprias pra feras
te digo deveras
que saias daqui.
Eu tenho riquezas,
escravos, engenhos,
dinheiro eu tenho,
tudo para ti.
- Não quero carinhos,
não tenho ambição,
de nada preciso
aqui no sertão.
- Se fosses comigo
pra minha cidade
de certo tapuia
tu serias minha.
Vestidos de seda,
botinas de couro,
adereços de ouro
para dar-te tinha.
- Não quero carinhos
teus ouros são falsos,
meus pés não se estragam
andando descalços.
- Se queres tapuia
vestir uma saia
de fina cambraia
de um lindo balão.
Teu corpo tapuia
é lindo e bem feito
mas fica mal feito
vestindo algodão.
- Não quero carinhos,
sou pobre roceira,
só faço trabalhos
com roupa grosseira.
- Deveras tapuia,
não fiques zangada
tens cama de seda,
bordados de linho.
Vamos para o porto
tomar um conforto
um copo de doce,
um copo de vinho.
- Não quero carinhos,
sou pobre tapuia,
não bebo no copo,
só bebo de cuia.
- Deveras tapuia,
não fiques zangada,
passando trabalho
e necessidades.
Na roça, na mata,
podendo tão moça
seguindo comigo
morar na cidade.
- Não quero carinhos,
aonde se nasce
Deus manda que a vida
com gosto se passe.
Fonte: blog "As Meninas", org.: Renato Medeiros - Açu-RN
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