terça-feira, 22 de março de 2011




Tenho percebido que principalmente no meio acadêmico existe certo preconceito para com as pessoas que gostam de programas no estilo dos realites show (como é o caso do “BBB”, “A Fazenda” e os extintos “No Limite” e “Casa dos Artistas”, entre outros).

No contexto acadêmico é privilegiada a imagem do aluno que ler livros imensos, daqueles que dar náuseas até para os amantes da leitura, de linguagem complicada e com assuntos mais formais possíveis, de cunho existencialista, filosófico. Tal fato é tão verdade, ao ponto que o acadêmico que diz abertamente ser fã do BBB, daqueles que não perde um dia e sabe tudo que acontece no programa, é considerado menos inteligente, incapaz, sem cultura, infantil e bobo. Não esquece os devoradores de livros-enciclopédias que ao assistir o BBB pode-se aprender mais sobre o comportamento humano do que em uma aula de psicologia; identificar a variedade linguística dos falantes de forma mais interessante do que em uma leitura de
A língua de Eulália; desvendar os segredos e mistérios da mente humana do que uma leitura de Clarice Lispector, por exemplo; aprender mais sobre a cultura e costume dos estados brasileiros do que horas e horas em uma aula de geografia ou história; compreender os medos, fraquezas e se surpreender com a complexidade da mente humana do que ler o livro Diário de Sofia.

Os ditos “cultos” que assistem somente a documentários com legendas, jornais e filmes importados esquecem que o BBB é uma novela da vida real, e como tal tem cenas interessantes, engraçadas, tolas, de brigas, sexo, etc.

Tudo que acontece lá dentro acontece aqui fora também. O diferente é que poucos ficam sabendo quem realmente somos e o que fazemos, quem desejamos eliminar, a quem queremos dar o monstro da semana ou quem de fato tem poder de anjo.

Aqui fora vivemos fazendo
“panelinha” pra defender aqueles que gostamos; buscamos ser o líder de nossas vidas; não suportamos quando alguém nos coloca no paredão e as dores são suavizadas quando sentimos que nossa família e nossos amigos estão por perto, mesmo que separados por um alto muro. Aprontamos os maiores barracos quando nos tiram a comidinha de que mais gostamos ou a liberdade que julgávamos ter; adoramos uma festinha nos finais de semana; ora desfrutamos do conforto da casa grande, ora estamos passando pelo pior acampamento de nossas vidas; um dia atendemos ao telefone e somos agraciados com uma bela surpresa, outro dia atendemos esse mesmo telefone e caímos numa armadilha traiçoeira.

O BBB não seria uma espécie de grande biblioteca aberta ao diversificado público brasileiro, onde em cada estante encontramos livros expostos com a vida das pessoas que pedem pra editora Globo os publicar? Como em toda biblioteca, temos livros de cordel, romance, aventura, tragédia, livros pequenos e livros grandes, livros que chamam atenção pela capa, livros que depois de algumas folhas desistimos de ler, livros que parecem que foram escritos pra nós, livros bons e livros médios (ou até ruins!), mas que ainda assim, merecem ser lidos, pois trata-se da vida e história de alguém como nós, humanos, gente...

É, mas uma coisa é preciso destacar: talvez a maior diferença do nosso BBB para o BBB do Pedro Bial e do Boninho é que poucas vezes temos a chance de retornar para casa e poder fazer diferente, embora muitas vezes sentimos que estamos dentro de uma casa de vidro, sendo observado e avaliado por todos os lados e nada podemos fazer, a não ser acenar.

Assim, o BBB é feito de corajosas pessoas que pediram para serem expostas, desnudas e criticadas por milhões de brasileiros e o fato de assistirmos e acompanharmos tal trajetória não nos torna pessoas menos legais, menos “cultas” e sem conteúdo. Pelo contrário, nos faz gente como elas, pois o público do BBB é tão inteligente que soube reconhecer o audácia e valor de um fazendeiro simples, uma humilde empregada doméstica, um coveiro do interior, um gay nordestino, uma dona de casa batalhadora mãe de uma filha deficiente e um homem sensível que declarou seu amor por uma sacoleira em rede nacional.

O público do BBB não é burro, nem tão pouco bobo. Alguns acadêmicos de visão preconceituosa é que se limitam às estantes empoeiradas dos livros, quando poderiam viver realmente a essência das páginas que eles carregam.  

Por Rômulo Gomes – Colaborador
(cesargomes_17@yahoo.com.br)

Um comentário:

Rômulo Gomes disse...

Obrigado amigo Fernando por postar o texto. Concordo em parte com o que muitos falam sobre o BBB, mas vejo o programa e os participantes por outro lado também... Acho que não sou o único!!

Rômulo Gomes
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