quarta-feira, 6 de abril de 2011

CHICO TRAIRA, POETA POPULAR

"Chico Traira" era poeta popular, cordelista, repentista, cantador de viola dos melhores do Nordeste. Eu tive o prazer de ter convivido com ele na cidade de Açu-RN, na década de oitenta. Pois bem, certa vez, viajando na carroceria de um caminhão com destino a cidade de Macau, interior potiguar, em companhia do seu colega "Patativa", escutou aquele amigo reclamar da viagem em razão da trepidante estrada esburacada, dizer a frase adiante: "Chico: eu acho que a nossa viagem não está muito sublime!" Traira pegou na deixa, dizendo no melhor de sua criatividade poética:

Se o amigo não está
Achando a viagem boa
Você é pássaro, eu sou peixe
Eu mergulho e você voa
Você volta para o ninho
E eu volto à minha lagoa.

[Traira: Peixe de água doce muito comum nos rios, açudes e lagoas do Nordeste]
[Patativa: Pássaro de canto melódico e suave]

De outra feita, na cidade de Areia Branca (RN) cantando com outro afamado poeta violeiro chamado Manoel Calixto, cantoria realizada na casa de um amigo, Traira fora desafiado por Calixto com a seguinte estrofe:

Aviso ao dono da casa
Que não vá fazer asneira
Tenha cuidado em Traira
Que ele tem uma coceira
Se não quiser que ela pegue
De manhã queime a cadeira.

Chico retrucou:

Você é que tem coceira
Dessas que rebenta a calça
Está tomando por dia
Dezoito banhos de salsa
Quando a coceia se dana
Num dia acaba uma calça.

Certa vez, Câmara Cascudo recebendo homenagens na UFRN, Chico Traira, "o mestre do repente e da viola" presente, homenageou aquela figura [que se tornou por merecimento, o escritor potiguar mais conhecido no mundo] com os versos seguintes:

Eis o doutor Cascudinho.
Que valoroso tesouro!
Lá no sertão também tem,
Cascudo, aranha e besouro.
Os de lá não valem nada.
Mas este aqui vale ouro.

Fernando Caldas

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