Por Públio José - jornalista
(publiojosé@gmail.com)
Creio que, com raras exceções, todas as pessoas querem ser chiques. E, com a penetração planetária dos veículos de comunicação acontecendo mais do que nunca no dia a dia das populações – principalmente das mais carentes – reforçando, enaltecendo, estabelecendo a necessidade, a obrigatoriedade de todos se transformarem em chiques, de se darem bem, de serem bem sucedidos, essa questão virou uma paranóia universal. Daí que, a cada dia que passa, mais se cristaliza essa onda, essa aspiração coletiva. Mas, o que é ser chique, afinal? Será um bom negócio lutar para se alcançar este objetivo, essa posição? Ou será melhor nem se dá atenção a estas coisas, torcendo o nariz para assuntos de tal natureza? Para a grande maioria das pessoas – e de acordo com o conceito da palavra fixado pelos tempos atuais – chique é, primeiramente, ser refinado, andar na moda, ter acesso ao que é bom...
Manter amizade com pessoas importantes, freqüentar restaurantes sofisticados, ter conhecimento sobre as bebidas que entram nos guias indicativos das grandes revistas, comentar o livro que lidera a lista dos best-sellers, conhecer detalhes da vida das grandes personalidades, está por dentro das grandes transações do meio empresarial, saber da intimidade da vida dos políticos de renome, citar autores endeusados pela mídia, fazer trejeitos repuxando bem os S e os R das palavras... Como se vê, a lista é grande e poderá se tornar até enfadonha. Coincidentemente, li, dias atrás, entrevista de uma esfuziante celebridade, a francesa Cécile Bonnefond, presidente da Veuve Clicquot Ponsardin, fabricante do chiquérrimo champagne Veuve Clicquot, sobre esta e outras questões. Deixando de lado as outras, mantive-me atento, na entrevista, à sentença de sua autoria sobre o que é ser chique.
A resposta de Cécile Bonnefond me deixou surpreso e encantado. Afinal, para uma mulher rica, bem sucedida, acostumada a desfilar seu charme e currículo profissional nos mais refinados ambientes do mundo, nada mais natural que ela também ratificasse o que significa ser chique de acordo com os conceitos emitidos atualmente. Nada disso. Segundo ela, tchan, tchan, tchan, tchan, ser chique é: “Saber ser adequado nas diversas situações”. Sacou? Agora, digo como aquele locutor esportivo: “Pelas barbas do profeta! Que bonito! Que lance, o de Cécile!” Pois é. De acordo com ela, ser chique não é necessariamente ser rico, não é obrigatoriamente ser culto, nem ter amizades importantes, nem freqüentar lugares refinados, muito menos saber das picuinhas que preenchem a vida das celebridades. Ser chique, enfim, é saber se portar dignamente na vida – mesmo nas situações mais desafiadoras.
Ser chique é ser parlamentar, por exemplo, sem se envolver em falcatruas. Ser chique é presidir o Senado Federal sem deixar atrás de si um rastro de lama. Ser chique é ocupar o posto de ministro sem receber propina. Ser chique é dirigir a escola e ser apontado pelos alunos e seus pais como exemplo a ser seguido. Ser chique é administrar os recursos públicos com eficiência e responsabilidade – e dar conta até dos centavos. Ser chique é cultivar a humildade, a sensatez, a serenidade, além do respeito ao próximo. Ser chique é suportar a injustiça, o desamor, a desatenção, sem revidar na mesma moeda. Ser chique é ocupar uma posição de liderança e lutar para que os que estão mais abaixo tenham a chance de sonhar com o posto mais acima. Ser chique é nunca precisar dar um murro na mesa para os outros lhe seguirem. É fácil? Não, não é. Mas que é chique ser chique – ah, isso é.