Abraão Ambrósio de Andrade era tipo grandalhão, barrigão, andar cadenciado, desarumado. Trabalhava na prefeitura do Assu, importante município potiguar. Nas eleições de 1962 candidatou-se a vereador pelo velho PSD. Era candidata a prefeita Maria Olímpia Neves de Oliveira - Maroquinhas, com o apoio do seu marido já prefeito Arcelino Costa Leitão. Do outro lado era candidato Walter de Sá Leitão pela partido da UDN. Campanha acirrada, muitos oradores inflamados. Chegou a vez de Abrão estreiar como orador que, de microfone em punho, saiu-se com essa: "Meus amigo, essa é a premeira vez que boto a boca no 'apareio' de dona Maroquinhas". É que vaso sanitário no Nordeste é chamado aparelho ou 'apareio' no linguajar do homem não alfabetizado, matuto.
De outra feita, na praça púlblica da terra assuense naquela mesma eleição, povão todo na rua. O locutor anuncia Abraão para falar. Ele era analfabeto porém desenibido, despachado. O seu linguajar, as suas tiradas agradava e atraia as pessoas. Pois bem, eleição disputada voto a voto entre Maroquinhas e Walter. Grande comício na praça Getúlio Vargas, o locutor anuncia Abraão para falar ao seu povo, que disse assim: "Meus cunterrâno, nós semo homilde. Dizia meu avô que de grão em grão, a galinha enche o rabo." E Maroquinhas ganhou a eleição com 308 votos de maioria.
Noutra concentração pública, Abrão ao ser chamado de imbecil por um dos circustantes no instante em que discursava, arrochou o verbo: "Imbecil, imbeciu é Seu Costa que é inteligente e sabido. É o nosso prefeito". Aí, alguém presente no palanque próximo a ele, Abraão, deu um chute no seu calcanhar para advertí-lo pelas suas palavras inconvenientes. Certo de que sua oração estava agradando, continuou o discurso: "E dona Maroquinhas tombém. Vai ser a nossa prefeita!" E a risada foi geral.
É assim o meu Assu de tanta história, celeiro de muitas figuras e estórias pitorescas.
Fernando Caldas
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