domingo, 11 de dezembro de 2011

Uma entidade esquecida pelo tempo


Sem atenção do poder público, Instituto Histórico e Geográfico do RN tenta sobreviver com doações e alguma boa vontade
Sérgio Vilar // sergiovilar.rn@dabr.com.br 

Se as discussões filosóficas e relacionadas à vida cultural na Grécia Antiga eram travadas em praça pública (nas chamadas Ágoras), abertas à participação social, foi o dito progresso o responsável pela clausura do material intelectual da humanidade. Apesar de aberto à pesquisa silenciosa, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte é hoje mais vítima do que repositório desse progresso. Os debates entre intelectuais da casa cultural mais antiga do Estado, presidida pelo exercício perpétuo do poder, permanecem presas no interior do casario centenário.
Apesar da importância, IHGRN sequer tem seu acervo digitalizado, uma das demandas mais aguardadas Foto: Fábio Cortez/DN/D.A.Press

useus e institutos guardiões da arte e da história procuram cada vez mais avanços tecnológicos no intuito de promoverem atração e interação com o público. No IHG/RN, a modernidade - irmã mais nova do progresso - parece inimiga, persona non grata. Esquecido pelo Estado e sempre visitado pelos efeitos erosivos do tempo, o Instituto Histórico carece de qualquer sinal tecnológico que lembre o século 21 e uma relação sadia com o passado. Nem que seja o já banal acesso à internet ou, no caso de um Instituto Histórico, a urgente digitalização do acervo.

O tempo corre devagar por ali. A reforma substanciada na estrutura do prédio durou dois anos. Instalações hidráulicas, elétricas, retelhamento, reforma geral. Generosidade do governo estadual? Não. "O Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), na pessoa de Jeanne Nesi, conseguiu os recursos necessários à reforma", frisou o presidente interino do IHG/RN, Jurandyr Navarro. Da mesma forma ocorreu no anexo do Instituto, doado pela escritora Ana Angélica Timbó há dez anos. "Lá como cá o teto ia cair porque a madeira já estava comida por cupim", disse Jurandyr.

A manutenção do Instituto é feita mediante colaborações dos sócios e verbas eventuais do poder público. Alguns sócios confirmam envio de R$ 3 mil mensais da prefeitura. Outros parecem disfarçar desinformação a respeito. Tal qual o tribunal de O Processo, de Kafka, "é tudo muito secreto ali, e há questionamento de alguns sócios nunca levados em consideração. Esses recursos deveriam estar disponibilizados na internet, de forma transparente. Em uma das últimas reuniões o tesoureiro, Marcus Cavalcanti, disse não ter assinado um só cheque nos últimos cinco anos", disse um dos sócios.

A relação amigável e de extremo respeito ao eterno presidente Enélio Petrovick esconde da sociedade questionamentos acerca dos rumos tomados pelo Instituto nas últimas décadas. Inúmeras sugestões, projetos e propostas de modernização foram engavetados. A máquina datilográfica usada até pouco tempo por Enélio contrasta com a época de editais e convênios variados de incentivo cultural - recursos possíveis à instalação de um minilaboratório para digitalização e restauro do acervo. Espaço e idéias para ocupação desse espaço não faltam entre os sócios.
 

Sócios efetivos: 24 novos membros


Desde 1902 quando o IHGRN foi fundado, o organograma da instituição é formado pelo presidente, diretoria e sócios. O presidente é eleito para um biênio não fosse a decisão da diretoria de conceder gestão perpétua a Enélio Petrovick, 77 anos, "pelo mérito em prol da cultura histórica", segundo Jurandyr Navarro, presidente interino. Atualmente, o presidente se encontra enfermo, vítima de pneumonia seguida de um AVC. "Ninguém decidiu sobre nova eleição porque esperamos a sua volta. Mas nos trâmites normais uma nova diretoria seria eleita em Assembléia Geral somente em 2013", esclarece Jurandyr.

Hoje são contabilizados 168 sócios efetivos vivos. Eles são escolhidos pela diretoria. É levado em consideração "os valores culturais e, principalmente, a pesquisa histórica e o conhecimento geográfico", ressalta Jurandyr. A maioria das proposições parte do próprio candidato a sócio. Outras são convites da própria diretoria também por indicações dos sócios, normalmente enviados a "pessoas mais arredias a esse tipo de título".

Na última sexta-feira - e após um hiato de mais de dois anos decorrente da reforma e da enfermidade do presidente Enélio Petrovick - foram empossados mais 24 sócios. Há ainda os sócios beneméritos. São apenas quatro. Esse título é dado após alguma contribuição de valor ao Instituto, a exemplo da doação de uma casa - hoje anexa ao IHG/RN, por Angélica Timbó, em 2001. Também os sócios correspondentes: potiguares que moram fora do Estado ou intelectuais de alguma ligação com o Rio Grande do Norte. E ainda os oito sócios honorários, reconhecidos pela distinção e serviços prestados ao Instituto do ponto de vista material ou intelectual.

A Fundação José Augusto cede duas funcionárias para atendimento às visitas (média de 10 a 15 pessoas por dia) e organização do acervo. Dois ASG's são pagos pelo IHG/RN. "A falta de bibliotecários e técnicos especializados em acervos culturais e históricos é usual nas instituições culturais do RN, a exemplo da Biblioteca Câmara Cascudo, museus. Também falta aqui a digitalização... muitos jornais já se perderam", lamenta Jurandyr Navarro. Diante da falta de pessoal, nos últimos anos o IHG/RN passou a abrir apenas pela manhã. Após o recesso programado do natal até 10 de janeiro, se estudará a possibilidade de volta aos turnos matutino e vespertino.
 

Fonte: Diário de Natal
Postado por Fernando Caldas


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