domingo, 8 de janeiro de 2012

SAUDADES DE CELSO DA SILVEIRA


ARTIGO DO BLOG MEDIOCRIDADE PLURAL, DE LAÉLIO FERREIRA), PUBLICADO EM 8 DE JUNHO DE 2011) 

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"O último riso de Celso
(TRIBUNA DO NORTE) 






04/01/05 

Yuno Silva Repórter

“Sem choro nem vela, sem discursos nem flores”, assim escreveu Celso da Silveira em sua última carta. Dono de um humor contagiante, bom de papo e grande contador de causos, a tarefa de tentar resumir mais de meio século de dedicação à cultura em algumas linhas de jornal é uma tarefa, no mínimo, cruel e injusta.

Tristeza era uma palavra que não existia no dicionário do poeta, jornalista e inquieto agitador cultural que tão bem soube encantar populares e intelectuais com suas histórias desconcertantes e hilárias.

Esses foram os últimos e respeitados pedidos do ilustre assuense falecido às 11h05 do domingo, no Hospital do Coração, onde estava internado desde a semana passada (26/12) com problemas respiratórios que culminaram em uma parada cárdio-respiratória e conseqüente estado de coma.

Durante toda a manhã e tarde de ontem, amigos, parentes, leitores anônimos e fãs velaram o corpo do escritor Celso da Silveira, 75 anos — 52 dos quais dedicados a vida artística, principalmente literária — no centro de velório Morada da Paz, de onde seguiu para sepultamento no Cemitério Parque de Nova Descoberta, às 16h.

“Celso sempre participou ativamente da vida cultural do Rio Grande do Norte, tanto como jornalista quanto como poeta e escritor. Ele era, sobre tudo, uma pessoa extremamente alegre. Sua presença era garantia de descontração, risadas, piadas e anedotas... sem dúvida vai fazer muita falta”, disse Clotilde Tavares, atriz, escritora e responsável pela propagação da (triste, não!) fatídica notícia.

Considerado um dos grandes nomes da cultura potiguar e dos últimos polígrafos do RN, Celso da Silveira escreveu e carimbou seu nome na história recente do Estado: “sua ausência na Academia Norte-rio-grandense sempre foi sentida, mas ele nunca ligou para esse negócio de ser ‘imortal’. Sua versatilidade e habilidade para escrever trovas irônicas e poemas bem-humorados deixou uma lacuna que dificilmente será preenchida”, afirmou o jornalista Vicente Serejo. Ele lembra com alegria das cartas que recebia do poeta criticando alguma nota publicada, apontando informações equivocadas ou quando queria saber das fontes para pesquisar sobre assunto de seu interesse. “Celso conservou esse hábito até o fim e era muito bom receber suas correspondências. Desbravador e descobridor, foi o primeiro a falar sobre o poeta modernista João Lins Caldas, também de Assu, à quem dedicou o poema O Gênio Virá em seu primeiro livro: ‘Eu quero de ti, Caldas, apenas a herança // de tua inteligência que não morre’. Só 20 anos depois, nos anos 70, é que a Fundação José Augusto viria lançar uma antologia sobre Caldas”, lembrou Serejo.

A estréia foi aos 22 anos de idade

Autor de 37 títulos lançados, entre cordel, glosa, causos, poesia e folclore, Celso estreou em 1952 com o livro “26 poemas do menino grande”. Antes de sua incursão e mergulho na literatura, já havia atuado com êxito nos palcos, chegando a ganhar o prêmio de melhor ator no II Festival Nordestino de Teatro Amador: “Celso começou a se relacionar com a intelectualidade atuante logo que chegou em Natal, onde veio se envolver com jornalismo e teatro.

Engajou-se no teatro, trabalhou com Sandoval Wanderley, ganhou prêmio e bolsa para estudar teatro no Rio de Janeiro. Nessa época dirigiu o primeiro espetáculo ao ar livre, o auto natalino ‘O Caminho da Cruz’, mas acabou se desencantando com as artes cênicas”, contou o escritor Tarcísio Gurgel, seu colega nos tempos de teatro.

“Pouco depois enveredou de vez para o lado da literatura, pela poesia oral. Celso era dono de humor rasgado e pela presença de espírito”, acrescentou Tarcísio.

Glosa Glossarium” seria o próximo livro a lançar

Com Myriam Coeli, sua primeira esposa, dividiu a autoria do livro ‘Imagem Virtual’, em 1961, mais para vencer a timidez da poetisa e lançá-la no mercado do que qualquer outra coisa. A poetiza morreu em 1982 vitimada por um câncer.

No fim dos anos 80, decide abrir sua própria editora, a Boágua, cuja proposta era a de editar obras de escritores potiguares com custos baixos, pequenas tiragens e prezando pela qualidade literária. Foi assim que lançou, 1992, o póstumo “Da boca do lixo a construção servil”, de Myriam Coeli com ilustrações de Assis Marinho.

“Era uma figura, seguia os moldes dos tradicionais poetas assuenses. Celso sempre esteve presente nos últimos 50 anos da vida cultural da província. Grande glutão e contador de anedotas, contagiava todos com suas gargalhadas. Trabalhou em rádio, jornal e TV, era um artista multifacetado”, lembrou o jornalista Woden Madruga, seu parceiro de redação na TN.

Sua veia humorística parece ter realmente influenciado a todos pois, durante a conversa com Woden, o telefone falhou diversas vezes e ele, do outro lado da linha soltou: “só pode ser brincadeira do Celso lá de cima”, divertiu-se.

Outro parceiro de redação que lembra como Celso era impetuoso é o acadêmico Ticiano Duarte. “Fomos companheiros no Jornal de Natal, na Folha da Tarde, na República e na Tribuna. Inteligente, um dos melhores poetas do RN com conjunto de obra respeitável, Celso da Silveira era um grande contador de causos, boêmio e parceiro de vigílias. Amante do carnaval, gostava de sair vestido de pierrot e era membro da equipe que acompanhava o Rei Momo nos ‘assaltos’ carnavalescos”. Para a escritora Marize Castro, Celso é referência para o jornalismo, a poesia e o humor Norte-riograndense: “era um homem questionador e estava sempre disponível para o humor”.

Pai do escritor e poeta Eli Celso e casado com Lourdes da Silveira, 54, sua segunda esposa com quem viveu 22 anos, Celso foi o primeiro assessor de imprensa do Governo do Estado (cargo criado em 1961 pelo governador Aluízio Alves); e dirigiu veículos como a TRIBUNA, a Rádio Cabugi e a TV Universitária. Sua obra mais conhecida é o livro “Glosa Glosarum”, coletânea de glosas de diversos autores norte-rio-grandenses que será reeditada pelo Sebo Vermelho.

“Estava nos planos de fecharmos 2004 com esse livro mas veio a doença e ficamos no aguardo. Agora a 4º edição será lançada no fim de janeiro com apenas 300 exemplares. ‘Glosa Glosarum’ é considerado um best-seller da poesia potiguar. Era dos últimos intelectuais do quilate de Deífilo Gurgel, Ney Leandro de Castro, Dorian Gray e Sanderson Negreiros”, disse Abimael Silva. Como bom filho da terra, ele dizia que ‘toma café, almoça e janta Assu”.

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