O reduto dos bons boêmios
No Beco da Lama, sem atenção do poder público e cheio de restrições aos bares, uma Nazaré é quem dita o tom
Sérgio Vilar
sergiovilar.rn@dabr.com.br
Sérgio Vilar
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Se um tsunami devastasse Natal, o comércio no centro da cidade dava seu jeito de abrir as portas nas primeiras horas claras do dia. É a vocação que o tempo lhe emprestou. E na estreita rua Coronel Cascudo, uma senhora de 56 anos de idade cumpre a rotina de 31 anos de comércio: sobe o portão de ferro e inicia a limpeza do bar, muitas vezes já na companhia de clientes. "Mais uma bem gelada, Nazaré!". Por ali passam pedintes, políticos, artistas e profissionais liberais. Pelo Bar de Nazaré passa também a história da boemia natalense. Passam figuras folclóricas: desfila Gardênia, rasteja Helmut... E passa também um filme na memória da "dama do Beco da Lama" ainda sem final alegre.
Maria Nazaré Melo dos Santos permanece nas adjacências do Beco por falta de opção. Largaria a tradição, a clientela amiga conquistada com labuta e a referência do comércio por uma vida mais tranquila. O Bar de Nazaré vive mais da fama. Dinheiro mesmo tem ali quase ao lado, na Assembleia dos deputados que nunca inscreveram um projeto para aquele corredor histórico; ou mais à frente, na prefeitura da gestora que diminuiu metade do lucro do Bar. "No início do governo de Micarla eu fui notificada a tirar as mesas da calçada. Só eu em toda a redondeza. Perdi uns 70% dos clientes. Mas é ela saindo e eu colocando as mesas de volta. Não vejo a hora", diz, exaltada.
O lugar já é tombado pelo patrimônio histórico. Promessas de urbanização abundam. Na Ribeira "velha de guerra", a prefeitura aproveitou a moda e a aglomeração de cidadãos-eleitores no Buraco da Catita para construir um calçadão de uns 20 metros. O Centro, cansado da guerra e do esquecimento, suplica atenção. O comércio sobrevive do pouco ou do jogo. Na mesma rua Coronel Cascudo do Bar de Nazaré, muitos estabelecimentos teriam fechado não fossem as máquinas caça-níqueis. Nazaré segue com sua cerveja gelada, a meladinha e o cardápio de tira-gostos. Não é muito, mas é o possível. E agrada. No vasto mundo particular do Centro, é a referência boêmia ehistórica.
"O Bar de Nazaré, a despeito de ter perdido as mesas de rua, continua a ser para a boêmia do centro histórico um dos seus principais atrativos. É dos mais antigos em funcionamento. Atrai artistas, jornalistas, gente de variadas profissões que ali diariamente se confraternizam. Nas festas realizadas no centro, tem importância fundamental. Espero que possamos degustar, ali, da brisa que vem dos morros na nova administração da cidade. Ao ar livre, mesas e cadeiras no meio da rua, é melhor para o espírito e para a cidade, que ganha um atrativo a mais para o seu turismo histórico", sugere Eduardo Alexandre, o Dunga, agitador cultural e freguês antigo do bar.
Bar de Nazaré, no centro histórico, é ponto de encontro de expoentes da cultura potiguar há 31 anos. Foto: Ana Amaral/DN/D.A Press |
Maria Nazaré Melo dos Santos permanece nas adjacências do Beco por falta de opção. Largaria a tradição, a clientela amiga conquistada com labuta e a referência do comércio por uma vida mais tranquila. O Bar de Nazaré vive mais da fama. Dinheiro mesmo tem ali quase ao lado, na Assembleia dos deputados que nunca inscreveram um projeto para aquele corredor histórico; ou mais à frente, na prefeitura da gestora que diminuiu metade do lucro do Bar. "No início do governo de Micarla eu fui notificada a tirar as mesas da calçada. Só eu em toda a redondeza. Perdi uns 70% dos clientes. Mas é ela saindo e eu colocando as mesas de volta. Não vejo a hora", diz, exaltada.
O lugar já é tombado pelo patrimônio histórico. Promessas de urbanização abundam. Na Ribeira "velha de guerra", a prefeitura aproveitou a moda e a aglomeração de cidadãos-eleitores no Buraco da Catita para construir um calçadão de uns 20 metros. O Centro, cansado da guerra e do esquecimento, suplica atenção. O comércio sobrevive do pouco ou do jogo. Na mesma rua Coronel Cascudo do Bar de Nazaré, muitos estabelecimentos teriam fechado não fossem as máquinas caça-níqueis. Nazaré segue com sua cerveja gelada, a meladinha e o cardápio de tira-gostos. Não é muito, mas é o possível. E agrada. No vasto mundo particular do Centro, é a referência boêmia ehistórica.
"O Bar de Nazaré, a despeito de ter perdido as mesas de rua, continua a ser para a boêmia do centro histórico um dos seus principais atrativos. É dos mais antigos em funcionamento. Atrai artistas, jornalistas, gente de variadas profissões que ali diariamente se confraternizam. Nas festas realizadas no centro, tem importância fundamental. Espero que possamos degustar, ali, da brisa que vem dos morros na nova administração da cidade. Ao ar livre, mesas e cadeiras no meio da rua, é melhor para o espírito e para a cidade, que ganha um atrativo a mais para o seu turismo histórico", sugere Eduardo Alexandre, o Dunga, agitador cultural e freguês antigo do bar.
(Diário de Natal)
Edição de domingo, 16 de setembro de 2012
Edição de domingo, 16 de setembro de 2012
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