O sonho é partir,
Sem querer, sem saber,
Fechar os olhos e fazer parte desse quadro
Por pintar
Dar uma dentada no sol
E saltar de uma ponte
Em forma de arco íris
Suspensa
E ser-se quem se pensa
Ignorante.
Saber é sofrer
Julgar que se sabe
É pensar que se sofre.
Ignorar
Pintar sem pintar
Uma flor
Um pássaro no céu
Uma laranja de sol a arder,
Barcos que passam riscando o entardecer
E um pobre que pensa na vida
Filósofo sem o saber.
A vida é uma estrada sem destino
Por onde se perdem, vagabundos,
Os que buscam sem saber
E retornam sem ter
Navegantes do sonho.
Navegar o sonho
Sem leme nem mastro;
Sem cais onde aportar
Vaguear sem destino,
Estar dentro da paisagem,
Feito de som e de imagem
Sem saber que fim a haver
Sem haver fim a saber
Marinheiro errante
Ignorante...
Saber é querer estar
Para além do sonhar
Ser mais do que julgar
E nada ser afinal.
Quero ser navegante do sonho
Pintor que nunca pintou
Poema que ninguém acabou
Princípio sem fim,
Metáfora de mim...
Quero mais do que ser
Não ser
Não estar
Ser o sonho de alguém
Ou no sonho navegar.
Navegante do sonho.
Navegar o sonho
Para ser mais do que pó
Mesmo que seja só uma mão estendida
Uma mão mendiga
Aberta
Ao esquecimento.
[Emílio Miranda]
In: Uma Árvore Intemporal - Edium Editores / Abril 2011
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