sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sinhazinha Wanderley


Maria Carolina Caldas Wanderley (1876-1954), poetisa, educadora, empresta o seu nome a uma das principais ruas do Centro da cidade de Assu, sua terra natal, bem como a uma escola municipal e uma praça. Ela é considerada como uma das precursoras do ensino moderno. 

"Intuitivamente adotava procedimentos educativos que mais tarde seriam introduzidos no ensino pela chamada "escola nova". Sinhazinha mesmo depois de aposentadatodos os dias se dirigia ao Grupo Escolar Ten. Cel. José Correia, para oferecer flores aos alunos. 

Literariamente colaborou em jornais como Jornal do Rio Grande do Norte, Gazeta de Natal e Via-Láctea, além de A cidade, Jornal do Sertão e Atualidade, de Assu. Deu ainda a sua colaboração literária, na revistas Oásis e no Almanaque Literário do Município de Assu.

A sua obra poética, como, Trovas Infantis, Dramas Escolares, Palestras Infantis, Lira das Selvas e Musa Sertaneja, não veio ainda a ser publicada. Tem apenas um livro, publicado postumamente sob o titulo de Paisagem da Minha Terra, 1990, organizado, salvo engano, pelos escritores assuenses Celso da Silveira e João Batista Machado. 

Sobre ela, Sinhazinha, escreveu a professora Rosa Nália de Sá Leitão Pinheiro, dizendo:

 "( ...) Essa professora desenvolveu suas atividades de ensino por mais de quarenta anos naquela cidade, contribuindo para a formação intelectual de várias gerações, e permanecendo até hoje viva na memória de seus contemporâneos. Foi responsável pela introdução de novas atividades no dia a dia da sala de aula, por exemplo atividades lúdicas através de jogos, da música e da poesia, diferentemente da prática austera que predominava naquela época. Esta professora foi, para a época, uma mulher que se ergueu acima da mediocridade imposta ao seu sexo: escrevendo artigos em jornais e revistas, compondo hinos cívicos e religiosos, ministrando aulas e participando de atividades artístico - culturais. Com esta análise, configura-se, em parte, não apenas uma época, mas também a história da educação do Assu através das práticas literárias que circulavam.



Afinal, vale a pena registrar, que Sinhazinha Wanderley deixou escrito um depoimento sobre a terra assuense: seus costumes, tradições e sua gente, que o antologista Walter Wanderley, no seu livro Família Wanderley, 1965, transcreveu, de muita importância para a história do Assu.

Vejamos o soneto que Sinhazinha escreveu, intitulado de Auto-Retrato, conforme adiante: 

Eu sou um ser pequeno, amarrotado,
De óculos escuros ao nariz e pisar manco,
O cabelo cortado e todo branco,
Sou mesmo um tipo amarmotado.

Trajo vestido azul já desbotado,
Nunca rio, meu riso não é franco,
Evito tropeçar nalgum barranco
por ter um pé já quase deslocado

Uso tênis, um par em cada mês,
Eu os compro a Xandu a cada vês
Que os outros estão esburacados

Passeio nas calçadas, pau na mão,
Procurando fazer a digestão
Quando engulo à tardinha algum bocado.

E este poema intitulado de Assu, às 11 do dia, que sinhazinha descreve um pouco do cotidiano da terra assuense e sua gente do seu tempo, que diz assim:

São horas de almoçar, há movimento,
Badalada no Mercado uma sineta,
Há gente pelas ruas, na valeta
Um pequeno tropeçar e, no momento...
Um carro a buzinar corre violento,
Um preto a pedinchar uma gorjeta
Compra Aguardente em vez de alimento!
Há silêncio nos lares. Nos hotéis
Engenheiros, bancários, coronéis,
Vão fazer sua farte refeição,
Enquanto um pobre ser, acocorado,
Tira do "caco" um sebo mal torrado
E o põe a misturar-se no feijão...

Dona Sinhazinha era filha de Luiz Carlos Wanderley e Francisca Carolina Lins Wanderley, tendo sido adotada pelo casal seus tios chamados Francisco Justiniano Lins Caldas e Umbelina Wanderley Caldas.

Fernando Caldas







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