sexta-feira, 5 de julho de 2013

Poema

A chuva já tinha parado, mas o riacho ainda corria na rua escura. Um vento frio teimava em entrar pela porta entreaberta e castigar os três amigos. Chico Batista já ameaçara fechar a bodega. A garrafa estava quase vazia. Augusto Preto virou o copo de uma vez e pegou um cajá-umbu.

- Dó, Adolfinho, para esse preto velho!

♪ ♫ ♫ ♫ ♪ ♫
Por que você me olha
Com esses olhos de loucura?
Por que você diz meu nome?
Por que você me procura?
♪ ♫ ♫ ♫ ♪ ♫

- Velho, nós devíamos fazer serenata agora.
- Eu topo, cigano.
- Primeiro na casa de Clarinha.
- Depois, Barranqueira e Espedita.
- Tudo bem, a gente encerra na casa de Alzira.
- Índio velho, anote aí mais uma garrafa!
- Amanhã a gente devolve os copos...

E os três amigos saíram cantando pelas ruas molhadas da cidade.

♪ ♫ ♫ ♫ ♪ ♫
De que serve sonhar um minuto?
Se a verdade da vida é ruim
Se existe um preconceito muito forte
Separando você de mim
♪ ♫ ♫ ♫ ♪ ♫

Sérgio Simonette

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