( Para um náufrago ilhado numa pequena ilhota na cidade)
Última Carta
Oi amor! Não sei nem por onde começar... Mas começarei pelo começo, assim te farei lembrar... Daquele poema que conjugava o verbo amar Levei muitas horas á me inspirar Queria te afagar a alma Sem ser teu juiz seria eu a palma Não a palma que arrebenta Seria só a que te alimenta Como um pilar te faria sustentar
Tantas coisas que se perdem no vento... Nas estações do tempo sons e pensamento... Inverno, brumas?... Nao! Céu de outono manhã barulhenta, certo frio... Meu eu sozinho como um barco num rio Vontade latente como uma gata no cio Frio na barriga um certo arrepio Um navio sem passageiro, um barco sem marinheiro. Estou á deriva ainda viva! Escrevo essa última carta àquela que minha ilusão permite Àquela que minha razão ainda orvalha e o coração admite
Não fique triste com tudo que lhe digo Mas sozinha de hoje sigo Só com meu sofrer, meu gemer de arrependimento. Por ter sido tão tola e dormido ao relento Ter-lhe ofertado o mais doce e puro sentimento Meu amor minha magia... Minhas rimas minhas poesias Todas minhas noites de fantasias...
Minha poção doce como mel Meu olhar de carinho em ninho de papel Só o que me resta é secar as lágrimas De que servem se jorradas para quem não as vale? Vale de lágrimas que jorrei, sonhos tão lindos onde voei... Sonhei e chorei quando o trato era somente sorrir Desculpe tanta demora de notícias, mas sabe como é... A memória fraca muitas vezes ingrata... Moro em uma estação de santo muito transadinha... Mas nada moderninha... Parece uma ilha, tudo aqui é a pilha. Até dos cães as matilhas são de brinquedo.
Mas vou lhe contar um segredo, vem cá... Aprendi á nadar! Não! Meu celular? Não tem internet nem mensagem, aqui tudo é uma linda paisagem! Assim como minha cara agora! Mas vê se não se demora tá, estou numa lan house! Como assim não sabe o que é? Ah! Vai ver é só coisa para mulher apaixonada... Não sabe usar? Ah!
Achava você tão inteligente... Achei mesmo que soubesse... Mas são coisas que na vida acontecem né? Às vezes as pessoas emudecem, umas feitas eu emburre cem Outras desaparecem e assim caminha a humanidade... Saudades? Sim, muitas! Mas vai passar! Tudo passa!
Ah! Para terminar peço que me desculpe a falta de tempo... É que a rotação da terra sempre em movimento... Rouba-me todo o discernimento fico me abraçando ao vento! Para escrever-te poesia como cortesia de meu amor. Não acho mais minha inspiração ! Deve ter se perdido na poeira do vento da razão. Ou quem sabe orvalhando em bruma outro coração... Para viver novas desventuras e amarguras... Beijos sempre em você!
Ps: Vai demorar pra chegar esta carta... Vou manda-la numa garrafa pelo mar. (Tudo muito atrasado nessa cidade...)
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