sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Patrimônio cultural do Rio de Janeiro, a rua da Carioca é palco de disputas comerciais entre lojistas e fundo de investimento

O valor da tradição
Janine Justen
1/12/2013

       


Lojistas penduram faixas no casarões da Rua da Carioca, Centro do Rio, em protesto p elo aumento do valor dos aluguéis. Impasse entre os comerciantes e o Grupo Opportunity, recente comprador desses imóveis, parece estar longe de chegar ao fim.

Com o preço médio do metro quadrado mais caro do Brasil, o Rio de Janeiro vem sofrendo nos últimos tempos com a especulação imobiliária. Na rua da Carioca, bem no Centro da cidade, o mercado imobiliário mirou também na tradição de um patrimônio histórico. A via se tornou palco de disputas entre lojistas e grandes gestores de negócios no ano do 30º aniversário de seu tombamento pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).

Vendidos por R$ 54 milhões pela Venerável Ordem Terceira de São Francisco, 19 casarões da região passaram, em 2012, para as mãos do grupo Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário. No entanto, segundo Roberto Cury, presidente da Sociedade dos Amigos da Rua da Carioca e Adjacências (Sarca), o direito de preferência pela compra dos imóveis foi negado aos comerciantes inquilinos, que teriam prioridade.
“Eles [Opportunity] fizeram tudo de acordo com seus próprios interesses, sem dar oportunidade de defesa aos lojistas da Carioca. Compraram os imóveis e subiram os aluguéis de maneira exorbitante para quase o dobro dos valores iniciais. Metade dos comerciantes ainda não conseguiu renovar os contratos e não sabe sequer se vai mesmo poder continuar ali”, indigna-se Cury. “O número 43 [a loja Acústica Perfeita] já vai entregar. O Opportunity pediu R$ 80 mil de aluguel, é inviável”, lamenta o presidente da Sarca, falando que o aumento foi de 100%.
Para o advogado da OAB/RJ Antônio Ricardo Correa, especialista em direito imobiliário, essa é uma situação atípica, porque, por mais que se estejam respeitando os trâmites legais, é o caso de bens histórico-culturais. Caso não seja possível pagar o valor pedido, deve-se procurar uma alternativa à ação de despejo para que seja mantida a identidade local. “Na Carioca, o valor de mercado não basta”, explica Correa. Para ele, estão sendo fechados contratos de curta duração, apenas um ano, que não levam em consideração a importância histórica do lugar.
Mesmo tendo sido instituída como sítio cultural da capital fluminense em junho passado pela prefeitura, a rua da Carioca permanece em alerta. O tradicional Bar Luiz, imóvel notável pela arquitetura e em funcionamento desde 1887, é um exemplo do perigo. “Eles querem R$ 18 mil de aluguel no primeiro ano, 20 mil no segundo e 22 mil no terceiro. O valor de custo do estabelecimento está subindo cerca de 10% a cada novo contrato. Quem aguenta?”, critica Roberto Cury.
Em nota, o Inepac afirmou que otombamento não implica a intervenção do poder público nas relações comerciais entre proprietário e inquilinos. Mas assegura que já notificou o proprietário de sua obrigação legal de manter os imóveis em bom estado de conservação. Qualquer alteração, seja ela estrutural ou estética, deverá ser previamente aprovada pelo órgão. Contatado pela RHBN, o grupo Opportunity não se manifestou sobre o caso até o fechamento desta edição.

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