Walflan de Queiroz
Walflan era meu primo segundo, por ser sobrinho de minha avô paterna. Quando o conheci, eu era ainda jovem. Foi no Café São Luiz, ponto de encontro de politiqueiros e da intelectualidade natalense, apresentado pelo meu pai, primo legitimo dele, Walflan, que apertou a minha mãe com certa distância. Logo entendi o seu problema, o seu drama, a sua esquizofrenia que lhe deixava atordoado.
Walflan morreu num sanatório, apaixonadamente como sempre viveu. Sobre ele, escreveu muito bem o escritor Diógenes da Cunha Lima, que preside atualmente a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. dizendo:
Walflan de Queiroz (1930-1995) viveu a vigência da sagrado, poesia. Experimentou as aventuras da vida real e as inquietações do espírito, sempre em luta com a presença de Deus e com fulminantes paixões não retribuídas.
Formado em Direito no Recife, não se profissionalizou. Falava e escrevia em latim, inglês e francês. Integrou-se na Marinha Mercante para ver o mar e partes brilhantes da terra. Segundo Eduardo Gosson, durante as viagens, apaixonou-se por uma bailarina cubana, encantou-se nas noites da Martinica e quase se casou com uma colegial de Buenos Aires. O comandante do navio mercante o expulsou no Recife. Considerou justa a expulsão. Repetia muitas vezes o verso famoso “Par delicatesse j’ai perdu ma vie.” Mais tarde, teve as angústias e problemas psiquiátricos que fazem lembrar o poeta francês Antonin Artaud. Rezou muito.
Certa vez, internou-se no Mosteiro Trapista Nossa Senhora do Mundo Novo em Campo do Temente, Paraná. Lá, sentiu a comunhão com Deus, participou das celebrações litúrgicas. O ambiente de silêncio e solidão era perfeito para o exercício de sua imaginação poética. Obediência e pobreza seriam naturais a ele. Contudo, a castidade de pensamento, não. Apaixonou-se por uma normalista. E deixou o monastério.
Um dia, Sanderson Negreiros, quase menino, encontrou-o na Cidade Alta. Walflan o impressionou, cabeça raspada, olhos profundos, lábios crispados. Vestia botas longas, calça, camisa e paletó pretos. O jovem poeta o seguiu, antevendo momentos de humana graça. Levou-o a Santa Cruz do Inharé. Walflan esteve feliz. Tomava banho no olheiro da fazenda hoje pertencente a Iberê Ferreira de Souza. Era singular a sua imagem segurando a batina do padre Emerson Negreiros na garupa da moto. A vida edênica acabou quando Walflan fez poema de amor para Cleo, a namorada de Sanderson...
Publicou sete livros de poemas: Tempos de solidão, O livro de Tânia, O testamento de Jó, A colina de Deus, Nas fontes da salvação, Aos teus pés, Senhor, A fonte de Zeus. Aos teus pés, Senhor tem bela capa com desenho de Newton Navarro e foi publicado pela Nordeste Gráfica em 1972. Surpreendente é a suprema exaltação, inclusive na dedicatória dos poemas: à Virgem Maria, a Shakespeare, a Hart Crane, a Alá, a Diógenes da Cunha Lima e a Krishna. A Brahman, o livro inteiro.
Dorian Gray o homenageou. Revela em poema: Mataste Cristo, negas Maria / na qual vias as noivas e tuas amantes / na poesia. “Lembro-me de ti em dias tão antigos / na infância. Um carnaval: o rosto coberto / por uma máscara e de repente o rosto / verdadeiro, único, primeiro o antecipa. / Volto a te ver anos depois; debaixo do braço / o livro preferido. Rimbaud te acompanha é teu / amigo. Conheces as estrelas de Verlaine / conversas com elas recitando. / São coisas de poeta e de pássaros. / São Francisco era teu irmão de pobreza, / Jó fazia-te companhia.”
Walflan de Queiroz, poeta do Brasil, surpreende a eternidade e se apresenta: “Não tenho a beleza de Rimbaud / nem o rosto torturado de Baudelaire / tenho sim, os olhos negros como os / olhos de Poe, minha pele... / tenho sal do mar e a cor / morena dos que são náufragos. / Minhas mãos são pequenas, tristes / como as mãos de alguém que / só as estendeu para o Adeus.”
Em mestrado, no curso de pós-graduação e estudo da linguagem da UFRN, foi laureado João Antônio Bezerra Neto com “Permanência de Walflan Queiroz: uma leitura da obra O Testamento de Jó.”
Walflan era meu primo segundo, por ser sobrinho de minha avô paterna. Quando o conheci, eu era ainda jovem. Foi no Café São Luiz, ponto de encontro de politiqueiros e da intelectualidade natalense, apresentado pelo meu pai, primo legitimo dele, Walflan, que apertou a minha mãe com certa distância. Logo entendi o seu problema, o seu drama, a sua esquizofrenia que lhe deixava atordoado.
Walflan morreu num sanatório, apaixonadamente como sempre viveu. Sobre ele, escreveu muito bem o escritor Diógenes da Cunha Lima, que preside atualmente a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. dizendo:
Walflan de Queiroz (1930-1995) viveu a vigência da sagrado, poesia. Experimentou as aventuras da vida real e as inquietações do espírito, sempre em luta com a presença de Deus e com fulminantes paixões não retribuídas.
Formado em Direito no Recife, não se profissionalizou. Falava e escrevia em latim, inglês e francês. Integrou-se na Marinha Mercante para ver o mar e partes brilhantes da terra. Segundo Eduardo Gosson, durante as viagens, apaixonou-se por uma bailarina cubana, encantou-se nas noites da Martinica e quase se casou com uma colegial de Buenos Aires. O comandante do navio mercante o expulsou no Recife. Considerou justa a expulsão. Repetia muitas vezes o verso famoso “Par delicatesse j’ai perdu ma vie.” Mais tarde, teve as angústias e problemas psiquiátricos que fazem lembrar o poeta francês Antonin Artaud. Rezou muito.
Certa vez, internou-se no Mosteiro Trapista Nossa Senhora do Mundo Novo em Campo do Temente, Paraná. Lá, sentiu a comunhão com Deus, participou das celebrações litúrgicas. O ambiente de silêncio e solidão era perfeito para o exercício de sua imaginação poética. Obediência e pobreza seriam naturais a ele. Contudo, a castidade de pensamento, não. Apaixonou-se por uma normalista. E deixou o monastério.
Um dia, Sanderson Negreiros, quase menino, encontrou-o na Cidade Alta. Walflan o impressionou, cabeça raspada, olhos profundos, lábios crispados. Vestia botas longas, calça, camisa e paletó pretos. O jovem poeta o seguiu, antevendo momentos de humana graça. Levou-o a Santa Cruz do Inharé. Walflan esteve feliz. Tomava banho no olheiro da fazenda hoje pertencente a Iberê Ferreira de Souza. Era singular a sua imagem segurando a batina do padre Emerson Negreiros na garupa da moto. A vida edênica acabou quando Walflan fez poema de amor para Cleo, a namorada de Sanderson...
Publicou sete livros de poemas: Tempos de solidão, O livro de Tânia, O testamento de Jó, A colina de Deus, Nas fontes da salvação, Aos teus pés, Senhor, A fonte de Zeus. Aos teus pés, Senhor tem bela capa com desenho de Newton Navarro e foi publicado pela Nordeste Gráfica em 1972. Surpreendente é a suprema exaltação, inclusive na dedicatória dos poemas: à Virgem Maria, a Shakespeare, a Hart Crane, a Alá, a Diógenes da Cunha Lima e a Krishna. A Brahman, o livro inteiro.
Dorian Gray o homenageou. Revela em poema: Mataste Cristo, negas Maria / na qual vias as noivas e tuas amantes / na poesia. “Lembro-me de ti em dias tão antigos / na infância. Um carnaval: o rosto coberto / por uma máscara e de repente o rosto / verdadeiro, único, primeiro o antecipa. / Volto a te ver anos depois; debaixo do braço / o livro preferido. Rimbaud te acompanha é teu / amigo. Conheces as estrelas de Verlaine / conversas com elas recitando. / São coisas de poeta e de pássaros. / São Francisco era teu irmão de pobreza, / Jó fazia-te companhia.”
Walflan de Queiroz, poeta do Brasil, surpreende a eternidade e se apresenta: “Não tenho a beleza de Rimbaud / nem o rosto torturado de Baudelaire / tenho sim, os olhos negros como os / olhos de Poe, minha pele... / tenho sal do mar e a cor / morena dos que são náufragos. / Minhas mãos são pequenas, tristes / como as mãos de alguém que / só as estendeu para o Adeus.”
Em mestrado, no curso de pós-graduação e estudo da linguagem da UFRN, foi laureado João Antônio Bezerra Neto com “Permanência de Walflan Queiroz: uma leitura da obra O Testamento de Jó.”
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