sábado, 24 de maio de 2014

Do xaveco na feira à doença: conheça a mulher que mudou a vida de Maguila

Maurício Dehò,
do UOL em São Paulo
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Maguila no Bate-Papo UOL, com a camisa do Corinthians Flavio Florido/UOL
Irani Pinheiro tinha 17 anos quando um corpulento sergipano teimava em lhe oferecer pastéis na feira livre da Ponte Rasa, em São Paulo. Professora de datilografia à época, ela fez jogo duro, mas acabou se deixando levar pelo xaveco do galanteador: o peso pesado de boxe Adílson Rodrigues, o Maguila. A história aconteceu há 31 anos. Hoje, Irani tem 48 e tudo mudou, exceto o fato de que segue lado a lado com Maguila, mesmo que desde o princípio tenha lidado com a desconfiança de que queria apenas se aproveitar do ex-lutador.
"O casamento é a cumplicidade, o companheirismo. Quando conheci tinha 17 anos, hoje tenho 48 anos, um filho de 24. A vida é assim, uma roda gigante, um dia está em cima e outro em baixo. E precisa estar junto. É difícil ver uma pessoa que era o Maguila de antes e ver como está hoje, você tem que tomar cuidado para não pirar. Isso abala a família'', conta Irani.
Rodrigo Capote/UOL
Maguila segue internado na Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo. De acordo com Irani Pinheiro, a sonda que o alimentava via nariz agora foi alterada para a barriga. "Ele está estável, ainda sem previsão de alta. E fazendo alguns exames. Não tem nada grave, e aguardamos os médicos para saber se poderá voltar para casa", afirmou a advogada. "Mas está consciente, falando um pouco. Ele vai permanecer até vermos qual é a condição dele na parte de deglutição. Ele engasga quando começa a se alimentar com a boca. É um quadro complicado, mas confio que ele vai sair dessa."
"Ela leva a sério esse negócio de na saúde e na doença", define o amigo do casal Josmar Bueno Junior, que está produzindo um filme sobre o lutador. Maguila sofreu altos e baixos, e a luta mais difícil que ele já travou acontece agora. Sofrendo com o mal de Alzheimer e a demência pugilística, ele está internado há 27 dias depois de um quadro de desidratação. Os problemas degenerativos prejudicaram sua deglutição, e ele está sendo alimentado por sonda desde então, numa batalha que começou há quatro anos, com o diagnóstico do Alzheimer.
Irani se acostumou a enfrentar batalhas para estar do lado de Maguila. O preconceito em relação ao relacionamento dos dois era algo bem próximo. O próprio pai dela não aprovava o namoro. "O velho era racista e não queria que a Irani casasse com um negão feio como eu", disse Maguila, na biografia "Maguila – A Saga De Um Cabra Macho Campeão", de Carlos Alencar, lançada em 1997. O sogro teria até ameaçado sacar uma arma contra o lutador. Eles acabaram se casando em uma fazenda e fizeram a entrada de charrete.
"A Irani tem personalidade forte, é vaidosa. Ela acabou assumindo os negócios, cuidou, organizou a vida dele… E as pessoas achavam que ela podia tirar algum proveito da fama e do dinheiro dele. Mas a história deles mostra que não. Mesmo na decadência, ela está do lado dele", disse o biógrafo do ex-lutador Carlos Alencar.
Irani sabe que as pessoas achavam que ela era uma aproveitadora. "Todo mundo falou, na época. Mas ainda eu estou aqui… Tudo o que falaram está respondido agora. Não vou dizer que tudo sempre foi maravilhoso, já tivemos situações complicadas. Mas mantivemos juntos as conquistas do Maguila e trabalhamos. Agora minha luta é fora do ringue, não tem round. É minha luta e do povo brasileiro. Recebi mensagens de Moçambique, do George Foreman, do Japão. A luta é essa'', diz.
No campo pessoal, Irani – na verdade a segunda mulher de Maguila, que fora casado anteriormente – ajudou a domar o jeito arredio do peso pesado, que sempre foi bruto em seu jeito de lidar com as pessoas.
Além disso, no campo dos negócios passou a negociar lutas e bolsas, além de ajudar com todos os projetos de Maguila fora do ringue – isso incluiu ter um posto de gasolina, ser comentarista econômico no programa "Aqui Agora", tentar a carreira de cantor de samba e também a abertura do projeto social Amanhã Melhor.
AgNews
Não foi fácil (conquistar Irani). Mas para mim o que é difícil é que é bom. Precisava arrumar uma namorada e demorei um ano para ganhar a Irani. Foi a luta mais difícil da minha vida, até porque ela é uma pessoa mais estudada e educada que euMaguila, ao livro "Maguila - A Saga De Um Cabra Macho Campeão"
"Ela foi muito importante. Se ele se manteve em evidência é porque ela sempre soube trabalhar isso", adicionou o autor e jornalista, acrescentando. "Ela poderia ter caído fora há dez anos, ele é muito tosco. Culturalmente ela é mais preparada, instruída. Se não gostasse dele, já tinha ido."
Para Josmar Bueno Junior, cujo pai era amigo de Maguila e por isso teve convívio pessoal com o lutador desde criança, Irani sempre soube lidar com o gênio difícil do marido. Mais do que isso, soube ajudá-lo no início da doença, um período complicado.
"Por muito tempo ela encarou sozinha tudo isso. O começo da doença tem picos na saúde e picos de agressividade, e ela lidou com isso na intimidade deles. Fora que sempre soube puxar o lado positivo dele. Ele é cabeça dura, é teimoso, então quando precisava ela dava dura mesmo", contou.
As maiores críticas em relação a Irani acabaram sendo pelo seu perfil centralizador, cuidando pessoalmente de tudo sobre a carreira do marido. Isso gerou muitas vezes afastamento da imprensa, mas funcionou bem em relação a Maguila, muito simples e carente de uma pessoa que tomasse as rédeas de sua carreira dentro e fora do ringue.
Irani acabou virando praticamente uma porta-voz de Maguila. Nos últimos anos, com o Alzheimer avançando, a fala do ex-lutador passou a ser com mais dificuldades. Ainda assim, ele ia a programas acompanhado da mulher, que dava as entrevistas. Agora com ele internado, Irani mais uma vez faz este relacionamento com a imprensa.
Segunda mãe em projeto social
Maguila teve dois filhos com sua primeira mulher. Com Irani eles receberam Adílson Rodrigues Júnior. Apesar de biologicamente ter apenas um filho, a advogada acabou ganhando outros pelo caminho, fruto do Projeto Amanhã Melhor, ONG criada pelo casal há alguns anos.
O projeto encontra dificuldades, passou um tempo fechado e reabriu nesta quinta-feira, com aulas de balé. Espera-se que ele volte a receber doações e reabra as práticas esportivas, entre elas o boxe.
Kethlyn Cardoso, de 16 anos, é uma das garotas que chama Irani de mãe – e inclusive a homenageou em seu Facebook recentemente, no Dia das Mães. "Eu os conheço desde os 8 anos e ela é muito amiga. No começo eu não gostava dela, porque tinha medo do Maguila", contou a jovem. "Ele é muito grande (risos). Mas com o passar do tempo aprendi a gostar".
A garota praticou boxe e caratê no projeto e, como as outras crianças, virou mais uma "filha" de Irani.
Serviço:
O Projeto Amanhã Melhor está em busca de doações. Mais informações no telefone (11) 97099-5683.
Leia mais em: http://zip.net/bpntpt

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