Do xaveco na feira à doença: conheça a mulher que mudou a vida de Maguila
Maurício Dehò,
do UOL em São Paulo
do UOL em São Paulo
Irani Pinheiro tinha 17 anos quando um corpulento sergipano teimava em lhe oferecer pastéis na feira livre da Ponte Rasa, em São Paulo. Professora de datilografia à época, ela fez jogo duro, mas acabou se deixando levar pelo xaveco do galanteador: o peso pesado de boxe Adílson Rodrigues, o Maguila. A história aconteceu há 31 anos. Hoje, Irani tem 48 e tudo mudou, exceto o fato de que segue lado a lado com Maguila, mesmo que desde o princípio tenha lidado com a desconfiança de que queria apenas se aproveitar do ex-lutador.
"O casamento é a cumplicidade, o companheirismo. Quando conheci tinha 17 anos, hoje tenho 48 anos, um filho de 24. A vida é assim, uma roda gigante, um dia está em cima e outro em baixo. E precisa estar junto. É difícil ver uma pessoa que era o Maguila de antes e ver como está hoje, você tem que tomar cuidado para não pirar. Isso abala a família'', conta Irani.
"Ela leva a sério esse negócio de na saúde e na doença", define o amigo do casal Josmar Bueno Junior, que está produzindo um filme sobre o lutador. Maguila sofreu altos e baixos, e a luta mais difícil que ele já travou acontece agora. Sofrendo com o mal de Alzheimer e a demência pugilística, ele está internado há 27 dias depois de um quadro de desidratação. Os problemas degenerativos prejudicaram sua deglutição, e ele está sendo alimentado por sonda desde então, numa batalha que começou há quatro anos, com o diagnóstico do Alzheimer.
Irani se acostumou a enfrentar batalhas para estar do lado de Maguila. O preconceito em relação ao relacionamento dos dois era algo bem próximo. O próprio pai dela não aprovava o namoro. "O velho era racista e não queria que a Irani casasse com um negão feio como eu", disse Maguila, na biografia "Maguila – A Saga De Um Cabra Macho Campeão", de Carlos Alencar, lançada em 1997. O sogro teria até ameaçado sacar uma arma contra o lutador. Eles acabaram se casando em uma fazenda e fizeram a entrada de charrete.
Irani se acostumou a enfrentar batalhas para estar do lado de Maguila. O preconceito em relação ao relacionamento dos dois era algo bem próximo. O próprio pai dela não aprovava o namoro. "O velho era racista e não queria que a Irani casasse com um negão feio como eu", disse Maguila, na biografia "Maguila – A Saga De Um Cabra Macho Campeão", de Carlos Alencar, lançada em 1997. O sogro teria até ameaçado sacar uma arma contra o lutador. Eles acabaram se casando em uma fazenda e fizeram a entrada de charrete.
"A Irani tem personalidade forte, é vaidosa. Ela acabou assumindo os negócios, cuidou, organizou a vida dele… E as pessoas achavam que ela podia tirar algum proveito da fama e do dinheiro dele. Mas a história deles mostra que não. Mesmo na decadência, ela está do lado dele", disse o biógrafo do ex-lutador Carlos Alencar.
Irani sabe que as pessoas achavam que ela era uma aproveitadora. "Todo mundo falou, na época. Mas ainda eu estou aqui… Tudo o que falaram está respondido agora. Não vou dizer que tudo sempre foi maravilhoso, já tivemos situações complicadas. Mas mantivemos juntos as conquistas do Maguila e trabalhamos. Agora minha luta é fora do ringue, não tem round. É minha luta e do povo brasileiro. Recebi mensagens de Moçambique, do George Foreman, do Japão. A luta é essa'', diz.
No campo pessoal, Irani – na verdade a segunda mulher de Maguila, que fora casado anteriormente – ajudou a domar o jeito arredio do peso pesado, que sempre foi bruto em seu jeito de lidar com as pessoas.
Além disso, no campo dos negócios passou a negociar lutas e bolsas, além de ajudar com todos os projetos de Maguila fora do ringue – isso incluiu ter um posto de gasolina, ser comentarista econômico no programa "Aqui Agora", tentar a carreira de cantor de samba e também a abertura do projeto social Amanhã Melhor.
"Ela foi muito importante. Se ele se manteve em evidência é porque ela sempre soube trabalhar isso", adicionou o autor e jornalista, acrescentando. "Ela poderia ter caído fora há dez anos, ele é muito tosco. Culturalmente ela é mais preparada, instruída. Se não gostasse dele, já tinha ido."
Para Josmar Bueno Junior, cujo pai era amigo de Maguila e por isso teve convívio pessoal com o lutador desde criança, Irani sempre soube lidar com o gênio difícil do marido. Mais do que isso, soube ajudá-lo no início da doença, um período complicado.
"Por muito tempo ela encarou sozinha tudo isso. O começo da doença tem picos na saúde e picos de agressividade, e ela lidou com isso na intimidade deles. Fora que sempre soube puxar o lado positivo dele. Ele é cabeça dura, é teimoso, então quando precisava ela dava dura mesmo", contou.
As maiores críticas em relação a Irani acabaram sendo pelo seu perfil centralizador, cuidando pessoalmente de tudo sobre a carreira do marido. Isso gerou muitas vezes afastamento da imprensa, mas funcionou bem em relação a Maguila, muito simples e carente de uma pessoa que tomasse as rédeas de sua carreira dentro e fora do ringue.
Irani acabou virando praticamente uma porta-voz de Maguila. Nos últimos anos, com o Alzheimer avançando, a fala do ex-lutador passou a ser com mais dificuldades. Ainda assim, ele ia a programas acompanhado da mulher, que dava as entrevistas. Agora com ele internado, Irani mais uma vez faz este relacionamento com a imprensa.
Segunda mãe em projeto social
Maguila teve dois filhos com sua primeira mulher. Com Irani eles receberam Adílson Rodrigues Júnior. Apesar de biologicamente ter apenas um filho, a advogada acabou ganhando outros pelo caminho, fruto do Projeto Amanhã Melhor, ONG criada pelo casal há alguns anos.
O projeto encontra dificuldades, passou um tempo fechado e reabriu nesta quinta-feira, com aulas de balé. Espera-se que ele volte a receber doações e reabra as práticas esportivas, entre elas o boxe.
Kethlyn Cardoso, de 16 anos, é uma das garotas que chama Irani de mãe – e inclusive a homenageou em seu Facebook recentemente, no Dia das Mães. "Eu os conheço desde os 8 anos e ela é muito amiga. No começo eu não gostava dela, porque tinha medo do Maguila", contou a jovem. "Ele é muito grande (risos). Mas com o passar do tempo aprendi a gostar".
A garota praticou boxe e caratê no projeto e, como as outras crianças, virou mais uma "filha" de Irani.
Serviço:
O Projeto Amanhã Melhor está em busca de doações. Mais informações no telefone (11) 97099-5683.
Leia mais em: http://zip.net/bpntpt
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