Ticiano Duarte
Escritor
Murilo Melo Filho, no seu livro, “Testemunho Político”, quando discorre sobre a eleição de 1950, da escolha do nome do candidato à vice-presidente, na chapa vitoriosa de Getúlio Vargas, revela detalhes importantes e esclarecedores de alguns fatos de bastidores até então desconhecidos.
Diz ele, por exemplo, que até hoje, não se sabe se era Getúlio quem não se candidataria se não tivesse o apoio de Adhemar de Barros ou se era Adhemar quem receava enfrentar Getúlio e dividir a área populista. O certo, como afirmou, é que Adhemar comunicou o seu apoio a Getúlio, reservando-se ao direito de indicar o vice. O seu preferido, inicial, era o cearense, Olavo de Oliveira, do seu partido, senador da república. Como o nome tinha pouca receptividade popular, resolveu indicar outro seu correligionário, também nordestino, do Rio Grande do Norte, o deputado João Café Filho. Este sim. Tinha popularidade pela sua atuação brilhante na Câmara dos Deputados.
Adhemar lançou o nome de Café num comício que realizou, em Natal, telegrafando a Getúlio que se encontrava, em Vitória, “com ameaça de rompimento caso não aceitasse a indicação”. Daí em diante, como relembra Murilo, aconteceu uma violenta campanha da Liga Eleitoral Católica contra o nome do nosso conterrâneo, que inclusive chegou a influir na restrição que o próprio Getúlio começou a fazer ao seu companheiro de chapa.
Em verdade, alguns admiradores do integralismo, infiltrados na chamada LEC não perdoavam o combate que Café fizera, no parlamento e na praça pública, contra os adeptos de Plínio Salgado e ao PRP (Partido de Representação Popular).
Murilo Melo Filho também recorda a passagem de Getúlio Vargas por Natal, na campanha de 1950, no famoso comício da Praça Pio X, em que o candidato fez questão de não mencionar o nome do seu vice, “na sua própria cidade, prosseguindo no plano de isolá-lo. E assim fez em vários comícios seguintes. Afinal, sabia-se que o seu candidato preferido à vice-presidente era estranhamente o impopular General Goés Monteiro” E esclarece adiante o autor de “Testemunho Político”: “Por quê? Para garantir que os militares não o deporiam novamente, como, aliás, terminou acontecendo? Até hoje se fazem estas perguntas”.
Diante desse quadro de rejeição e de incerteza, Café concorreu, também, à reeleição de deputado federal, saindo vitorioso nas duas disputas. Antes, porém, resolveu enfrentar Getúlio cara a cara:
- Tenho o direito de saber se o senhor me quer ou não como companheiro de chapa. Só não posso é continuar na situação em que me encontro, com tantas humilhações.
E é Murilo que relata: “Getúlio levantou-se, tomou-o pelo braço e foi à porta:
- Vamos para o comício, juntos.
E lá homologou publicamente a sua chapa com Café”.
A votação de Café foi surpreendente. Teve 2.520.790 votos, contra 2.344.841 votos dados a Odilon Braga e 1.649.309 a Altino Arantes, seus concorrentes. Nessa época, a legislação permitia que se votasse no vice, isolado do titular. Isto é, não havia vinculação de votos dos candidatos a presidente e vice. Eram votados separada e isoladamente.
Café Filho foi o primeiro vice-presidente, em toda a história do país, eleito pelo voto secreto, popular e direto.
Tribuna do Norte
Escritor
Murilo Melo Filho, no seu livro, “Testemunho Político”, quando discorre sobre a eleição de 1950, da escolha do nome do candidato à vice-presidente, na chapa vitoriosa de Getúlio Vargas, revela detalhes importantes e esclarecedores de alguns fatos de bastidores até então desconhecidos.
Diz ele, por exemplo, que até hoje, não se sabe se era Getúlio quem não se candidataria se não tivesse o apoio de Adhemar de Barros ou se era Adhemar quem receava enfrentar Getúlio e dividir a área populista. O certo, como afirmou, é que Adhemar comunicou o seu apoio a Getúlio, reservando-se ao direito de indicar o vice. O seu preferido, inicial, era o cearense, Olavo de Oliveira, do seu partido, senador da república. Como o nome tinha pouca receptividade popular, resolveu indicar outro seu correligionário, também nordestino, do Rio Grande do Norte, o deputado João Café Filho. Este sim. Tinha popularidade pela sua atuação brilhante na Câmara dos Deputados.
Adhemar lançou o nome de Café num comício que realizou, em Natal, telegrafando a Getúlio que se encontrava, em Vitória, “com ameaça de rompimento caso não aceitasse a indicação”. Daí em diante, como relembra Murilo, aconteceu uma violenta campanha da Liga Eleitoral Católica contra o nome do nosso conterrâneo, que inclusive chegou a influir na restrição que o próprio Getúlio começou a fazer ao seu companheiro de chapa.
Em verdade, alguns admiradores do integralismo, infiltrados na chamada LEC não perdoavam o combate que Café fizera, no parlamento e na praça pública, contra os adeptos de Plínio Salgado e ao PRP (Partido de Representação Popular).
Murilo Melo Filho também recorda a passagem de Getúlio Vargas por Natal, na campanha de 1950, no famoso comício da Praça Pio X, em que o candidato fez questão de não mencionar o nome do seu vice, “na sua própria cidade, prosseguindo no plano de isolá-lo. E assim fez em vários comícios seguintes. Afinal, sabia-se que o seu candidato preferido à vice-presidente era estranhamente o impopular General Goés Monteiro” E esclarece adiante o autor de “Testemunho Político”: “Por quê? Para garantir que os militares não o deporiam novamente, como, aliás, terminou acontecendo? Até hoje se fazem estas perguntas”.
Diante desse quadro de rejeição e de incerteza, Café concorreu, também, à reeleição de deputado federal, saindo vitorioso nas duas disputas. Antes, porém, resolveu enfrentar Getúlio cara a cara:
- Tenho o direito de saber se o senhor me quer ou não como companheiro de chapa. Só não posso é continuar na situação em que me encontro, com tantas humilhações.
E é Murilo que relata: “Getúlio levantou-se, tomou-o pelo braço e foi à porta:
- Vamos para o comício, juntos.
E lá homologou publicamente a sua chapa com Café”.
A votação de Café foi surpreendente. Teve 2.520.790 votos, contra 2.344.841 votos dados a Odilon Braga e 1.649.309 a Altino Arantes, seus concorrentes. Nessa época, a legislação permitia que se votasse no vice, isolado do titular. Isto é, não havia vinculação de votos dos candidatos a presidente e vice. Eram votados separada e isoladamente.
Café Filho foi o primeiro vice-presidente, em toda a história do país, eleito pelo voto secreto, popular e direto.
Tribuna do Norte
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