16/11/2014 - 14:35
Argemiro Lima/NJ
Machadinho, o nome afetivo do jornalista que durante trinta anos exerceu a função de repórter político e assessor de imprensa, conta que cansou do trabalho que é publicar uma obra
O jornalista João Batista Machado, 71, arquivo rico de informações e conhecedor profundo dos bastidores políticos do Rio Grande do Norte nas últimas sete décadas, vai parar de escrever livros. “Bastidores do Poder – Memórias de um repórter” é a derradeira de um conjunto de onze obras.
“Bastidores do Poder”, livro memorialista, será lançado na próxima terça-feira (18), às 18h, na Academia Norte-riograndense de Letras, onde João Batista Machado ocupa uma das cadeiras de imortais. Mostra a vivência do autor como repórter político com personalidades locais, regionais, nacionais e internacionais como foram os encontros com o ex-presidente de Portugal, Mário Soares, e com o Papa João Paulo II, em Natal.
Machadinho, o nome afetivo do jornalista que durante trinta anos exerceu a função de repórter político e assessor de imprensa, conta que cansou do trabalho que é publicar uma obra. “Livro agora só se for na próxima encarnação, se Deus permitir que eu volte”, diz.
“É muito estressante”, desabafa Machadinho sobre processo de fazer um livro até seu lançamento. “O que eu já tinha de contar, eu já contei”, complementa ele, que nas suas memórias faz um sumário de 41 acontecimentos que marcaram sua vida profissional e pessoal.
No primeiro capítulo de Bastidores do Poder, Machadinho conta com minúcias os acordos entre o governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, e o deputado federal Ulisses Guimarães, para a candidatura do primeiro à presidência da República em 1985.Revela detalhes das conversas de Tancredo Neves com os governadores do Nordeste do PDS, partido de sustentação do governo militar.
Os governadores da região eram maioria no Colégio Eleitoral e foram decisivos para a eleição do presidente da República, que marcaria dali em diante o fim do regime militar no país.O autor fala que depois dos entendimentos do mineiro Tancredo com jovens governadores como José Agripino (RN) e Hugo Napoleão (PI), o PDS dividiu-se em dois. A ala liberal do partido apoiava Tancredo e a conservadora, Paulo Maluf, candidato a presidente também.
A Nova República, que estabeleceu o fim da ditadura, nasceu do rompimento do PDS. Dos noves governadores do Nordeste, somente o paraibano Wilson Braga ficou com Maluf e os demais romperam com o presidente general João Batista de Figueiredo e criaram a Frente Liberal, a dissidência do PDS.Maluf, reporta Machadinho, veio várias vezes ao RN em busca de apoio. Ele era amigo de Lavoisier Maia.
Aqui, conta o jornalista, o paulista ameaçou José Agripino dizendo que quem era do PDS tinha que votar no PDS. Se assim não fosse, ele iria invocar a lealdade partidária, o que não valia para o Colégio Eleitoral, uma brecha que o regime autoritário deixou passar. Machado, na condição de assessor de imprensa de José Agripino, comparecia às reuniões da Sudene semanalmente e via Maluf tentar se aproximar dos governadores do Nordeste.
Teotônio Vilela, senador por Alagoas, conhecido como menestrel por sua posição em favor da redemocratização do país, também veio a Natal visitar uma sobrinha. Era o rebelde da Arena, Vilela. Com Machadinho, ele deixou os assuntos políticos de lado e falou sobre boemia e contou um fato que aconteceu em Brasília. Com um grupo de amigos, acabou em dez dias o grande estoque de bebidas que tinha em seu apartamento, encerrando o capítulo da bebida em sua vida.
Mas o primeiro contato que Machadinho teve com Petrônio Portela, foi em Brasília, acompanhado do senador da Arena, Dinarte Mariz, que fez grande pressão para os repórteres entrarem no gabinete dele, que estava mau humorado. Mesmo assim, ressalta Machadinho, Portela era um homem habilidoso com as palavras.
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