Por Eugênio Fonseca Pimentel, geólogo
Sobre o rio Açu, Marcgrav, famoso naturalista e astrônomo alemão, que veio ao Brasil em 1638 em
missão científica a convite do conde holandês Mauricio de Nassau, com a
colaboração de Guilherme Piso produziram a importante obra Historia
Natural do Brasil, Amsterdã 1648, na qual teceu considerações
importantes sobre os costumes e habitat dos Janduís. Confeccionou o mais
antigo desenho da nossa carnaubeira, palmeira nativa, genuinamente
brasileira e abundante nos municípios do Vale do Açu. Neste importante
documento histórico e geográfico Marcgrave escreveu este aspecto curioso
e interessante a respeito desta importante e histórica região do
Brasil:
“Este rio também chamado de Otshunogh, penetra, no continente, em direção ao Austro numa distância de mais de 100 milhas.
A uma distancia de mais de vinte e cinco milhas do litoral, acha-se o
grande lago Bajatagh, com grande quantidade de peixes. À esquerda deste,
em direção ao nascente, acha-se outro chamado de Igtug, pelos
indígenas, mas ninguém penetra nele, por causa dos peixes que mordem e
são muito inimigos dos homens. A este fica adjacente ao vale Kuniangeya,
tendo comprimento de 20 milhas e a largura de duas. Atravessa-o rio Otshunogh, abundante de peixes: aí se encontra grande abundancia de animais silvestre.
Correlacionando
com a geografia da região podemos concluir que o vale Kuniangeya
mencionada pelo cronista flamengo era rico em biodiversidade naquela
época. Este vale corresponde ao atual Vale do Açu. O rio Otshunogh é o
rio Açu ou Piancó/Piranhas-Açu. O grande lago Bajatagh é a lagoa do
Piató no município do Assu. O outro lago Igtu é a Lagoa Ponta Grande no
município de Ipanguaçu no Rio Grande do Norte. Os peixes que mordem e
são inimigos do homem é a espécie Piranha que com certeza influenciou na
denominação do grande rio Piranhas ou Açu.
A propósito é interessante esclarecer que geograficamente o rio Açu com seus 443,75 quilômetros de extensão, segundo recente confirmação da ANA. Nasce na
encosta ocidental do Planalto da Borborema, mas precisamente nas
cabeceiras do rio Santa Inês afluente do rio Piancó na Paraíba, na
divisa de Pernambuco com a Paraíba, onde desce rasgando o sertão daquele
estado e entra no Rio Grande do Norte com o nome de Piranhas, indo
desaguar no Atlântico Norte em foz do tipo delta, agora com o nome de
Açu, entre as atuais cidades de Porto do Mangue e Macau. Os riachos que
constitui as chamadas cabeceiras do rio Piancó-Piranhas-Açu, porção mais
ocidental daquela região fica relativamente próximo a região do Cariri
Velho, extremo de três estados nordestinos, Pernambuco, Paraíba e
Ceará..
Com a chegada dos
colonizadores europeus na terra potiguar e os conflitos decorrentes pela
posse de terra, os nativos Tapuias Janduís, depois de impressionante
resistência foram praticamente dizimados na Guerra dos Bárbaros,
Ocorrendo então que os poucos que restaram foram tangidos para o
interior, onde se embrenharam sertões adentro indo se estabelecer até
mesmo no longínquo interior do estado do Ceará e Piauí.
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