sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

UM POUCO DE JOÃO LINS CALDAS


Caldas como ele gostava de ser chamado era natural de Goianinha/RN onde nasceu no ano de 1888, porém de família assuense. Na cidade de Assu e em Sacramento atual Ipanguaçu/RN o poeta teria vivido parte da sua infância, toda a sua adolescência, começo da sua juventude e parte da vida adulta. No eixo Rio-São Paulo viveu o poeta entre 1912-33. Há informações que no Rio, Caldas teria morado na Rua Acre (setor portuário da terra carioca) Rua Dos Inválidos (Tradicional bairro da boemia carioca), Rua Do Rezende, em quarto de pensões. O bardo Caldas é considerado por alguns críticos de arte moderna no Brasil como o  "pai do modernismo" brasileiro, pois já em 1917 já escrevia anonimamente versos emancipados de métricas. O dramático poema intitulado A Casa, é um exemplo. Vejamos:

Fechai a casa, vós todos que estais dentro de casa.
A casa nos vai dar o seu segredo, a casa vai nos dizer o que é ela a nossa casa.
Aqui cresceram choros de criança
Os nascidos choraram
Embalaram-se da rede adolescentes
Velhos saíram nos seus caixões, esticados os pés, hirtos e mudos como tijolos levados.

Eu escrevi dos meus versos
Pensei dos meus pensamentos amargurados.
O cabelo comprido,
A barba pontiaguda, mal alinhada,
E das mesas, sobre as toalhas velhas
Os pratos fumegantes,
A incidência da luz sobre os armários.

Vamos, irmãos, tudo é entre sombras.
O medo
O cuidado
As mãos mortas,
O pavio do candeeiro,
Tudo é recordado.

... E ao comprido da rede que se balouça esticada,
Uma cabeça, uma cabeleira preta,
Pés que se estiram,mãos alongadas...
Vamos irmãos, eu que estou reparando, de retrato, esse quadro que se alonga ao longo da parede.

 
Nas décadas de 10, 20 e 30 conviveu com grandes nomes das letras nacionais como, por exemplo, o notável poeta brasileiro chamado Olavo Bilac. A sua poesia é grandiosa, extensa e bela.

Caldas tinha a certeza que se tivesse publica aquela toda sua obra constituída de mais de dez livros que tinham títulos que já valiam poemas, no entender de Celso da Silveira teria conseguido a consagração, estaria catalogado como um dos maiores da poesia universal. Ele tinha a certeza da sua intelectualidade e tem versos parecidos com Fernando Pessoa, senão vejamos o poemeto adiante sob o título O Amigo, que diz assim:


Na noite eu serei o amigo.
Como o vento, na noite,
Como a estrela, na noite,
Na noite eu serei o amigo.
Mas perdoa ao amigo.
Uma noite haverá e daí para talvez mais nunca em nenhuma outra noite
Em que eu já não serei o amigo.

E esse outro poema sem epígrafe que no meu entender é o orgasmo poético do poeta Caldas, não é uma joia de poema? Vejamos abaixo para o nosso deleite:

O teu mundo é novo. A tua carne é nova. Eu sou a velhice, o mundo abalado.
O teu mundo que me convida. O permanente mundo em flor da tua carne.
Beijar-te os olhos, acariciar-te os o0s dedos, ter nas mãos a doçura do teu cabelo, tua nuca, o teu pescoço roliço para acariciados...
Dirás que a vida é bela. A vida é bela!
Mas eu, amor, já agora tão triste e tão cansado.

Ontem que não chegou. Ontem que estava mesmo um dia amarelo...
Perdão, perdão, eu de mim mesmo é que já não sou tão belo.

Vai, e não leves de ti a tua desilusão...
O que me dói, o que ainda me dói...
(... E não ver essas roupas desmanchadas,
O azul desses olhos, a graça e a festa dessas mãos...)
Deixa que eu feche os olhos, e não te veja, e não veja mais nada...

Obrigado, e perdão.

Caldas quando jovem tivera vários relacionamentos amorosos que não deram certos. Morreu só como sempre viveu, numa modesta casa do bairro Macapá, da cidade de Assu, no final de uma manhã de 1967 logo que acabara de ler o livro da poetiza portuguesa Virgínia Victorino intitulado "Apaixonadamente".

 E o poeta "que tinha muito de Deus", escreveu:

Estou calçado para a eternidade.
Vesti-me de roupas de caminhar por toda a eternidade.
Onde houver um rasgão, certo que as minhas roupas estarão rasgadas.

Mas o homem é um clarão
Eu serei um clarão por toda a eternidade.

Fernando Caldas

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