terça-feira, 24 de março de 2015

100 anos: de estação ferroviária para o templo da cultura mossoroense

Edilson Damasceno - JORNAL DE FATO

Lá se vão 100 anos. A Estação das Artes Elizeu Ventania, que tem sua funcionalidade quase que totalmente voltada para shows artísticos, possui um valor histórico que, à primeira vista, não é devidamente reconhecido. Primeiramente pela questão econômica. Foi ali, no prédio construído em 1915, que Mossoró registrou seu primeiro meio de transporte de massa (leia-se popular). Sua estrutura permanece com os parâmetros iniciais, mas pouco se vê o resgate histórico do que aconteceu naquele local. Em 19 de maio de 1915, surgia a Estação Ferroviária de Mossoró, com linha inicial ao Porto Franco, para onde boa parte dos mossoroenses fugiu em virtude da invasão do bando de cangaceiros liderados por Lampião, em 1927. Hoje, Porto Franco é o atual município de Grossos, que era – à época, ligado à cidade de Areia Branca e esta fazia parte do vizinho estado do Ceará.



Ao longo do tempo, a Estação Ferroviária de Mossoró sofreu transformações. Não da sua estrutura. Mas por força do homem e provocadas pelo desenvolvimento da segunda maior cidade do Rio Grande do Norte. O trem que fazia a linha para Porto Franco foi levado à Paraíba algum tempo depois. Especificamente em 1940 e 49 anos depois foi desativada. Os trilhos arrancados e o seu objetivo esquecido. O que veio para fomentar a economia acabou sendo deixado de lado em nome de outros interesses.

Quem hoje observa a antiga Estação Ferroviária de Mossoró não pode perceber, diretamente, que dali partiu um dos avisos acerca da chegada de Lampião à cidade. É bem verdade que o aviso maior veio do sino da Catedral de Santa Luzia. Isso em 13 de junho de 1927. Antes disso, muita gente já tinha deixado Mossoró. E tais informações podem ser vistas no Memorial da Resistência, onde se conta toda a história relacionada àquele dia de junho de 1927.

A retomada, não da linha Mossoró/Souza, da importância da Estação para a cidade, se deu em 1999. Dez anos depois de sua desativação. Foi durante o governo Rosalba Ciarlini, prefeita à época, que veio a revigoração de algo esquecido e abandonado. E isso se deu através de parceria envolvendo a Prefeitura de Mossoró e a Petrobras. Ali, em meio ao esquecimento de sua história, surgiu o Museu do Petróleo, o qual apresenta as particularidades relacionadas à atuação da maior empresa de petróleo do Brasil na maior cidade do Rio Grande do Norte. Duas potências econômicas, pode assim dizer, que não têm o devido reconhecimento histórico, pois não se vê nenhuma ação para resgatar traços do passado e apresentar ao presente. Muitos não sabem o que representou a Estação Ferroviária para Mossoró. E os que sabem não têm condições de fazer tal registro.

Hoje, passados 100 anos, a Estação Ferroviária deveria fazer jus ao seu novo nome: Estação das Artes. Mas a arte que é inerente ao espaço é a comercial. Além, obviamente, de acomodar a estrutura de palco do projeto “Mossoró Cidade Junina”, maior festa popular do município.

Fonte: http://www.defato.com/noticias/46385/100-anos-de-estaa-a-o-ferrovia-ria-para-o-templo-da-cultura-mossoroense


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