Valério Mesquita*
Negativo. Não é o Big Brother Brasil, horrível e superficial. Nem coisas do Banco do Brasil ou do Banco do Nordeste. Quero me referir ao mais notável trio da política do Rio Grande do Norte, das décadas de cinquenta a setenta. Do tempo em que não existia marqueteiro, mas feiticeiro. O voto milagroso era do milagreiro. Conquistado mas, também, fabricado, produzido, trabalhado no mapismo, nos porões e no estrabismo do presidente da secção eleitoral. O trio B-B-B era soturno, noturno, taciturno, no segundo turno da apuração dos votos. Nasceram no mesmo ventre: O Partido Social Democrático, o velho PSD de Theodorico e Jessé. O partido majoritário, marca registrada de uma fase de eleições duvidosas mas de políticos verdadeiros.
Antes de revela-los, direi mais: o exercício do voto daquele tempo era superior ao processo da atual eleição norte-americana e, quiçá, ao virtual da urna eletrônica dos nossos dias. O triunvirato era Bessa, Bosco e Besouro. Prenomes simples: José, João e Assis. Três reis magos das boas novas, da brejeira anunciada em prol do sujeito oculto do sufrágio eleitoral. José Bessa, alto e simplório, escondia-se por trás de aparente timidez. Olhos miúdos mas penetrantes como se adivinhasse o dia de amanhã. O Grande Hotel do “majó” Theodorico era o quartel general. Ali, cedeu o cetro e a coroa ao jornalista João Bosco Fernandes, de fisionomia tensa e intensa, como se estivesse saindo permanentemente de noites indormidas. Era gordinho e, em pé, abria os braços costumeiramente para ouvir e envolver o problema do partido. E Assis Besouro, único sobrevivente dessa tríade, olheiro e vidente da política, foi estafeta de Jessé Freire e exorcista de capitulações impossíveis.
O curioso de tudo isso, é que escreveram em jornais. Expuseram suas idéias. Jornal do Comércio (da Ribeira, do PSD), Jornal de Natal, entre outros, foram veículos de seus pensamentos. Eram letrados, instruídos e não meros cabos eleitorais. Profetas das urnas e simuladores de resultados. Um trabalho, uma devoção e uma ação gratulatória. Hoje, bostalizaram a atividade política, da capital ao interior. A qualidade nostradâmica dos três expoentes da prédica eleitoral, da capacidade de orientar o líder maior, vaticinar, prognosticar, predizer sobre a eleição, o eleitor, o município e o chefe político – ela sumiu do mapa do Rio Grande do Norte. Porque eles agiam mais por convicção do que por conveniência.
Viviam para desarmar presságios e administrar as circunstâncias da política. Para eles a atividade era encarada como um fascínio. Tinham o senso da sobrevivência. Os três somados possuíam a força da mídia deles propriamente. Quando os antigos costumes políticos sucumbiram e a legislação eleitoral mudou, ficaram, todavia, nas paragens onde atuaram, em etapas diversas, passagens esparsas de vidas, que hoje relembro para aqueles que respiram o mesmo ar, pisam o mesmo chão e participam da mesma natureza. Registro a trajetória, rapidamente, da existência de José Bessa, João Bosco e Assis Besouro, como quem fotografa um instante de um universo perdido de sonhos, travessuras e ilusões. Uma canção ligeira em louvor de figuras simples mas sábias (e sabidas) – atualmente – sombras, nada mais. A todos: saudações pessedistas!!
(*) Valério Mesquita – Escritor e presidente do IHGRN mesquita.valeruio@gmail.com
http://www.pontodevistaonline.com.br/
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