Por Geraldo Melo
Ele partiu, abatido pela covardia e crueldade sem limites de um câncer implacável e de uma infecção respiratória, capítulo final de um problema pulmonar que o acompanhou praticamente a vida inteira.
Se, por aqui, como é natural, a sua morte espalhou tristeza, onde ele agora vai morar deve ser um dia de alegria para Seu Nezinho e Dona Liquinha, para Aluízio, Zé Gobat, Expedito e Maristela. E também Aristófanes. Vai ser uma festa por lá.
A vida nos colocou ao lado um do outro e, de vez em quando, frente a frente. Convivemos à nossa maneira. Desde o curso primário no Colégio Marista até a visita que lhe fiz recentemente em casa quando nos falamos pela última vez. Ele doente, eu sabendo que tinha de sair para não incomodar demais, mas querendo ficar mais tempo com ele.
A essa amizade não faltaram aquele senso crítico de que ele nunca abriu mão, a mordacidade, a franqueza dura, alfinetadas (quase sempre) bem-humoradas, críticas severas de um ao outro. Nada disso comprometeu a continuidade da estima pessoal muito forte, nem o respeito, nem a admiração.
Lembranças estão hoje se acotovelando na minha memória – passam por um almoço em seu apartamento no Rio de Janeiro (era no Jardim Botânico? No Jóquei?): eu ainda solteiro, ele e Celina começando a fundar uma nova família. Naquele dia, por sugestão dele, marcamos um encontro para vinte anos depois, com a presença da mulher que eu ainda não tinha e dos filhos que esperávamos ter nós dois. Lembrança de viagens, de divergências maiores e menores, campanhas contra e favor, distância, aproximação. Amizade sempre.
Hoje ele se foi. Com a partida de Agnelo, começo a entender o significado de uma velha maldição chinesa, que dizem ser a mais cruel de todas: “sobreviverás a todos os teus entes queridos, a todos os teus amigos, a todos os teus parentes, a todos os teus conhecidos”. O problema é que não queremos ir e gostaríamos muito que eles também não fossem. Mas, não é assim.
Boa viagem, amigo
Nenhum comentário:
Postar um comentário