João Lins Caldas
José Lins Caldas
O poeta
potiguar João Lins Caldas era extremamente contrário ao matrimônio. Certa vez,
recebera uma carta de José Lins Caldas seu único irmão que lhe pedira a sua
opinião sobre o seu casamento. E aquele vate solteiro convicto, respondeu
conforme transcrito adiante:
.
"(...)
Mas que posso eu dizer quando mamãe aprova o teu ato, quando parentes o
aprovam? Que vais bem encaminhado e... que fazes muito bem. Agora, se queres minha
opinião a respeito do casamento... esse laço de moral que prende a humanidade -
eu vou dar-te-á: Tolstoi, o grande Tolstoi da Rússia, diz que, para o homem se
casar, deve pensar vinte anos... Eu, porém, não posso deixar de, em parte, ser
contrário a essa opinião. Quando o homem é, como tu, sem aspirações superiores
às do sertanejo obscuro e trabalhador, o casamento deve ser o supremo ideal, o
laço que o lace, a alma que o prenda... O primeiro caso, o juízo de Tolstoi,
que aproveitem os loucos... Os iludidos das ilusões... Eu estou no caso. O
casamento para mim seria a paralisação dos trabalhos com que sonho rendilhar o
meu futuro distanciado e oculto... No teu caso, a mulher é o objeto principal,
no meu é o segundo.
Casa... casa
mas pensa... Mede os passos do passo que vais dar. Eu quase que não conheço a
menina a quem amas, contudo a casa em que se acha é para mim uma recomendação
suficiente. São regulares ou, mesmo boas, as informações que tenho tido a
respeito da mulher que me queres dar por cunhada. Felicito-te por isto, me
felicitando. Eu aceito-a como a uma irmã, de braços abertos. É preciso que
mamãe veja nela uma filha e que essa nossa mãe ela veja uma mãe. Isto é
necessário para que haja harmonia e na harmonia felicidade. Será assim? É só como
serve. Essa mulher que aí tens a despejar-te carinhos e a renovar-me preces,
vale a nossa preocupação mais constante. Ela continuará em tua companhia, não é
assim? Há de ser. Deve ser assim. Todo carinho para ela. Algum dia, quando eu,
o louco de há muito tempo e o louco de muito sonho, realizar o velho ideal que
o destino me emprestou no berço, hei de mostrar o muito que me vale essa mulher
coberta de luto, carcomida de lágrimas. Beija-lhe as mãos todos os dias, todos
os dias que te lembrares de mim. Por ora, vai cumprindo o teu dever. Reza o
evangelho do teu amor, realiza o teu sonho no dia em que poderes e, sê feliz,
se a minha benção vale.
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